October

Jones Fehn Junior


#8

October tentava, mas não conseguia simplesmente ignorar aquelas risadinhas debochadas perto de si. Ela bem que tentou colocar em pratica os conselhos de seu pai e sua mãe, mas eles pareciam não serem nenhum um pouco eficazes no momento em que se sentou na sua carteira, esta que se tornou a dela lá no fundo da sala de aula. Queria se distanciar o máximo possível daquelas garotas que tinham algum problema com ela – esses aparentemente sem motivo algum. Mas não conseguiu o que tanto queria ao trocar de lugar, no entanto. Lá estavam elas ao seu lado de novo.

O sol era fraco, entrava pelas frestas das cortinas batendo sobre o rosto de Tober, impedindo-a de enxergar a lousa logo à frente. A professora parecia distante demais com sua explicação para perceber que algo estava errado com algum de seus alunos ali.

– Hey October, minha mãe me disse que crianças que perdem os dentes são as que não escovam eles depois de comer doces. Não sabia que você era porca! – debochou infantilmente, empinando o nariz e fazendo um som parecido com do animal.

– Me deixa em paz, Casey! – ela pediu, se enterrando sobre a carteira.

– Me deixa em paz Casey! – ela imitou afetando a voz enquanto gesticulava qualquer coisa com as mãos. - Você é horrível Gray e eu não vou te deixar em paz nunca.

October não fez nada ao não se encolher ainda mais contra a parede. Queria chorar, mas apesar daquele nó em sua garganta apertar cada segundo mais, ela o reprimiu. Era orgulhosa demais para deixar que aquelas meninas vissem suas lágrimas descendo.

– Estive pensando October... – frizou o nome da menina enquanto continuava com a petulância num tom de desprezo – Stacy irá fazer uma festa do pijama no sábado, você quer ir?

– Casey! Você sabe que festas dos pijamas é apenas para garotas bonitas, ela é porquinha. – outra que estava sentada logo atrás disse no mesmo tom de deboche.

– Ah é verdade! Estava até me esquecendo.

October desta vez não conseguiu segurar e algumas lágrimas ainda sem jeito escorreram por seus olhinhos negros. Queria seu pai e sua mãe com ela naquele momento, só eles poderiam transmitir conforto e segurança para ela ali.

– Professora, a October está chorando! – a menina loira disse apontando para Tober, fingindo surpresa com o choro reprimido da garota ao seu lado, esta que ela mesma havia feito chorar com palavras tão imaturas e secas.

– O que aconteceu Gray? – a professora perguntou preocupada, se aproximando.

– Acho que estou doente... – disse enfim, tentando contornar a história. Tinha medo de contar a verdade.

– Está sentindo dor em algum lugar?

Ela assentiu, limpando as lágrimas com as mangas do blazer do uniforme escolar.

– Irei ligar para sua mãe, ok?


°°°

– O que foi Tober? – Brenna desatou a perguntar, assim que adentrou a secretária da escola onde foi buscar a filha, totalmente preocupada.

– Nada... Vamos embora, mamãe? – perguntou doce, vendo-a assentir.

Com um pouco de dificuldade, não se importou se a filha já era grande demais, apenas a pegou em seu colo e saiu de lá o mais rápido que pode. Sabia que havia algo de errado com October, conhecia muito bem sua filha. E por assim comparar, uma parte que contribuía para toda aquela ligação que tinham era porque, em algumas partes, October conseguia ser exatamente como seu pai. A personalidade era distinta, claro, mas havia coisas que não podia simplesmente ignorar... Fazia lembrar Paul. Como isso, por exemplo: Ela não estava bem, mas fazia de tudo para que esse incomodo a afetasse somente. Não queria deixar a mãe preocupada, não mais do que já estava.

Adentrou seu carro, pedindo para que October colocasse o sinto de segurança. Ela o fez, se sentindo mais aliviada por estar livre daquela escola, daquelas meninas.

– Pronto... Agora pode me contar o que aconteceu, não pode Tober? – Brenna voltou a perguntar, encarando a filha pelo retrovisor.

Mas October ainda tinha suas inseguranças, tinha medo de contar para sua mãe e fazê-la perder a paciência a ponto de querer ir conversar com as mães daquelas garotas. É claro que toda criança se sentiria assim, só iria contribuir com o medo de que sua situação piorasse, se é que podia diante de seus conceitos.

– São aquelas meninas de novo, não é?

Mas ela não podia se deixar levar por aquelas brincadeiras, lembrava muito bem das palavras sabias de seu pai no dia anterior, quando estava voltando da casa de Clown com seu primeiro dente de leite sobre as mãos. October assentiu, vendo a mãe bufar.

– Você acha que eu devia ir conversar com sua professora, mais uma vez?

– Não mãe!

– Calma Tober... Eu só não quero que elas te façam se sentir mal mais.

– Eu não estou me sentindo mal, mãe. Eu só quero ir pra casa...

– Aé? Sei...

– É... Eu estava pensando de pedir pro papai comprar um cachorro pra mim. – tentou parecer que estava realmente bem, arranjando qualquer assunto diferente. Brenna obviamente não acreditou na filha, mas resolver parecer que sim.

– Um cachorro? Desde quando você gosta de cachorro?

– Desde que vi o do tio Tony!


°°°

– Eu estou me cansando dessa escola, Brenna. A gente já reclamou mais de cinco vezes sobre as implicações dessas meninas com a Tober! – Paul conversava com Brenna dentro de seu quarto, tentando falar o mais baixo possível para que a filha não escutasse. Mas foi definitivamente inútil. Ela se manteve do lado de fora, escutando perfeitamente pelo vão da porta que estava entreaberta.

– Eu sei Paul... Mas não podemos fazer mais nada.

– Claro que podemos! Irei com você na próxima reunião de pais, e então conversaremos pessoalmente com os pais dessas menininhas. – perdeu a paciência.

– Não é tão fácil assim Paul, você sabe disso. Escola particular, meninas mimadas, pais que se acham donos do colégio. Já imaginávamos isso.

– Então esperaremos mais uma semana no máximo! Se October voltar chorando para casa mais uma vez, eu vou mudar ela de escola, sem mais!

Terminou enfim, dando passos para a saída do quarto. October escutando saiu em disparada para o seu, logo ao lado. Jogou-se sobre sua cama, fingindo que estar brincando com um de seus jogos ali.

– Tober... – Paul chamou cantarolando. – Fiquei sabendo que você está afim de um cachorro, é sério?

Ela assentiu com um sorriso aberto, mostrando sua janelinha para o pai.

– O que você acha da gente chamar o Chris e o Craig para irem com a gente? Eles estão com saudades de você.

Naquele momento ela não pode segurar mais a empolgação e saiu em disparada para seu banheiro trocar de roupa. Paul soltou uma gargalhada, pendendo a cabeça pra trás.

– Te espero lá embaixo, ok?

°°°

– Como é mesmo a raça desse cachorro? – Paul perguntou a filha, fazendo uma careta.

–É Lhasa Apso, pai. – respondeu entediada. Não era a primeira vez que tinha que lhe responder essa pergunta.

– E como será o nome dele? – Chris perguntou, vendo a bola de pelo sobre os braços da pequena.

– O que você acha de abominável cachorro das neves? – Craig perguntou, rindo e fazendo todos ali também.

– É muito grande. – falou soltando-o sobre o chão da praça em que pararam. October seguiu o cão, que saiu em disparada para algum canto do lugar. Ele subiu sobre o gramado, fazendo suas necessidades fisiológicas como se estivesse reprimindo a vontade há horas.

– Não! Tober, não o deixe fazer isso aqui! – Paul se alterou, correndo atrás do bicho.

– Acho que sei o nome do côco dele pelo menos. – ela disse divertida, vendo-os franzirem o cenho.

– O quê? Vai dar um nome pro côco do seu cachorro? – Chris perguntou arqueando as sobrancelhas.

– Casey.

– Han? Ele é uma menina então?

– Lá da minha escola... – disse se divertindo particularmente. Colocou as mãos da boca para rir, ainda tinha vergonha da sua recém janelinha aberta.


Depois de mais algumas horas com o cachorro ali naquela praça mesmo, na companhia de seu pai, Chris e Craig... Decidiram finalmente o nome dele.

Jones Fehn Junior. Com a humilde ajuda dos amigos de seu pai, claro. E tem as fezes, que ficou como Casey Williams, diga-se de passagem.