October

Disaster in Ohio


#3


Paul perdera a conta de quantas horas estava a observar seu bebê recém nascido dormindo naquele berço – agora devidamente montado por um profissional. Ele não conseguia desgrudar seu olhar vidrado daquela criança com traços angelicais nem por um segundo que fosse. Tinha se apaixonado por sua filha assim que pudera a pegar pela primeira vez no colo.

October era uma menina serena, com uma calma sobrenatural a qualquer criança, no entanto. Seu rosto era um mesclado de Paul e Brenna, porém aqueles olhos negros eram inconfundivelmente iguais aos do pai. Com apenas dois dias de vida, já participara de uma festa daquelas. É claro que nunca iriam dispensar um motivo daqueles para fazer uma comemoração, então caixas e caixas de cerveja haviam sido depositadas no congelador da residência dos Gray.

O volume alto vindo do som não incomodava nem um pouco a pequena October, aliás, a menina até parecia gostar.

– Ela é muito pequena, dá até medo de pegar. – Mick comentou. Brenna passara com cuidado o bebê para seu colo, mas como esperado diante daquele tamanho todo, a criança parecera uma formiga sobre aqueles enormes braços. Todos observavam com atenção a cena, já que Mick não tinha muito jeito. Depois de pequenos minutos com a criança em seu colo, decidiu devolve-la para sua mãe, mas antes mesmo que ele concluísse essa idéia, October agarrou com suas pequenas mãozinhas um dos dedos indicadores de Mick, o que ninguém precisou imaginar que o mesmo fosse se derreter por completo. Talvez não fosse tão durão assim quando se tratava de criancinhas com as bochechas rosinhas.

Depois desse feito de October o rapaz não queria mais soltá-la. Conseguiu ficar boa parte da festa com a pequena em seus braços, fazendo caretas - essas que a fazia sorrir ainda sem jeito. Nem parecia o Mr. Seven mascarado dos palcos, ou aquele homem de ferro dos backstages. A pequena Gray havia o conquistado, literalmente.

Depois de alguns minutos de brincadeira a pequena October se cansou, enfim dormindo no colo confortável daquele grandalhão. Paul com todo o cuidado que tinha, decidiu a levar para o berço por si só, e como se tivesse um objeto de porcelana em seus braços subiu os degraus com toda cautela.

E lá estava ele, ainda no quarto encarando sua filha. Não se importou de ter deixado sua festa seguir em diante sem sua presença, todos já eram de casa e se sentiam a vontade de qualquer jeito ali.

– Paul? – escutou três leves batidas na porta entreaberta. Corey, no entanto, sentira sua ausência e fora verificar se estava tudo bem. Apesar de ter achado a cena estranhamente distinta das que já vira com Paul, não mencionou nada a respeito.

Apesar de ter uma filha também, não sabia tão quanto queria saber sobre aquela sensação abobada de um pai marinheiro de primeira viagem. Não havia aproveitado muito bem os primeiros anos de sua filha, mas agora isso não o fazia mais importância. Estava aproveitando o tempo perdido o máximo que podia.

– Hey, Corey. Só fiquei vendo se ela não ia acordar... - tentou disfarçar o constrangimento ao ver seu amigo parado ali, com um sorriso maroto.

– Sei... E como ela está?

– Estou com medo de acordar e ninguém escutar... – disse preocupado, tirando risos do outro encostado ao batente.

– Relaxa Paul... Olha, ta vendo isso aqui? É uma babá eletrônica, ela serve para ocasiões como essa... – explicou como se tivesse ensinando Paul a contar. O mesmo olhara para o aparelho franzindo o cenho, a esposa não havia lhe explicado ainda a função daquele troço – na verdade, nem havia lhe contado que tinham uma.

Vendo que aquilo iria lhe favorecer um conforto paternal melhor, pegou a tal babá eletrônica e desceu com a mesma firme entre as suas mãos.

O rapaz realmente estava inseguro em deixar à pequena October sozinha naquele quarto, mas Brenna logo que o vira com o aparelho entre as mãos a todo instante, fez questão de ir imediatamente tranqüilizá-lo.

– Amor, não precisa ficar grudado com isso o tempo inteiro. Ela não vai acordar agora, está muito cansada.

– E se a gente não ouvir...

– Sid, pode abaixar um pouco o som!? – Brenna gritou e o mesmo assentiu já abaixando o volume. – Tudo bem agora? Se ela acordar, a gente com certeza vai escutar...

– Eu que o diga amigão, se você pensa que por ser apenas um bebê não vai a escutar quando chorar... Pode ficar tranqüilo. Eles são ferozes! – Shawn brincou, arrancando risos dos próximos. Com os seus três filhos, já tinha experiência o bastante para confortá-lo.


...

Sem intervalos para respirar, a casa já estava lotada. Não só por aqueles que já estavam acostumados está dentro de seu paradeiro, mas sim por familiares mais próximos e velhos amigos - todos muito ansiosos para conhecer a pequena October Gray. Entretanto, não tiveram sucesso de imediato, ao não ser por aquelas tias corujas que fizeram questão de ir até o quarto ver a pequena ainda dormindo.

– Eu queria... Eu queria fazer um brinde. - Corey pediu batendo um garfo na garrafa de cerveja, arrancando atenção de todos ali presentes. – Até pouco tempo atrás eu fui testemunha da ansiedade desse homem em pedir uma mulher em casamento... Lembro-me como hoje que estávamos em plena turnê, cansados pra caralho enquanto esse filho da mãe aqui – disse apontando para Paul com Brenna em seu colo. – ficava zanzando feito zumbi por aquele ônibus. Eu não sei que porra acontecia com ele, sério... Mas depois de alguns desastres tudo ficou claro. Ele tinha perdido o anel de noivado que ia dar pra Brenna no dia seguinte. Desculpe Paul se a Brenna não sabia... – direcionou sua atenção mais uma vez para o casal, vendo Paul esconder o rosto entre as mãos e Brenna fingir incredulidade com o queixo caído.

Apesar de muitos ali ainda estarem rindo da cena, Corey decidiu continuar com o discurso espontâneo. – Enfim... Aconteceu que nosso senhor das mulheres aqui, Sid Wilson, ao chegar ao quarto em que estava dividindo com Paul, viu a caixinha em cima de uma mesa por lá e deu pra prostituta que tinha carregado junto. Eu nem quero imaginar o que ele disse pra ela quando resolveu fazer aquilo... Sinceramente. – mais risos.

– Ela não era prostituta! Uma velha amiga apenas... – gritou.

– Aham e eu transei com a mulher do Barack Obama aquele dia também... – risos - No dia seguinte acordamos com uma ressaca do cão e com Paul gritando no meio do corredor, assim como se estendeu até à hora de entrarmos no ônibus de uma vez. O anel tinha custado caro... Só pra constar.

– Yeah! E eu tive que comprar outro, só pra constar! – gritou divertido, lançando um olhar mortal para Sid que ria.

– Mas eu paguei a metade, nem vem! – se defendeu por fim.

– Então hoje eu vi a união desses dois em forma de gente. E Paul... Caprichou! – brincou piscando. - Quero brindar a eles, enfim! - Corey terminou, batendo na garrafa de pessoas mais próximas, assim como no mesmo segundo todos o faziam.

...

Canton - Ohio

– Qual é, Paul. Vai ser ótimo pra descansar um pouco, não paramos desde Detroit.

– Eu sei... Mas eu realmente tenho que fazer uma coisa.

– O quê? – perguntaram curiosos.

Paul pensou por um instante, coçando a nuca. Querendo ou não, tinha que dar um motivo para seus amigos.

– Vou comprar o anel de noivado da Brenna... - confessou, escutando logo após assobios vindos de todos ali.

Ainda tímido decidiu ignorar as brincadeiras alheias e seguiu caminho pelo centro agitado.

Com o capuz lhe cobrindo parcialmente o rosto e as mãos dentro do bolso da calça jeans surrada, parou em frente a uma joalheria finalmente, onde um anel de diamantes lhe chamara a atenção. Era sem dúvidas de orçamento alto, mas ele não se importara, no entanto. Aquele anel iria ficar lindo na mão de sua namorada e futura noiva/esposa.

Com a caixinha de veludo preto dentro dos bolsos seguiu caminho de volta para o hotel onde estavam hospedados, e já prevendo que ainda por ser cedo não encontraria ninguém lá, passou em seu quarto para guardar aquela preciosidade extremamente cara. Palpitou por deixar em cima do criado mudo, onde algumas de suas coisas também estavam. Vendo que já podia finalmente se divertir, trocou de roupa e seguiu para o bar que não ficava muito distante, ansiando por bebida.

...

Sid tropeçava nos próprios pés quando adentrou aquele corredor espesso repleto de portas distinguidas a números. O seu então, 144, parecia se destacar ainda mais sobre seus olhos- talvez pelo fato de estar acompanhado de uma loira, particularmente, realmente bonita. O álcool exaltado em ambas as correntes sanguíneas só o faziam rir atoa, perder parte da consciência, aliás.

Adentraram o cômodo exclusivo com rapidez, ansiando para o que tanto queriam: diversão para o resto da noite.

Mas algo, estranhamente, pareceu reluzir ainda mais sobre os olhos de Sid quando deitou cegamente a mulher sobre a cama pertencente a seu amigo.

– Olha só o que temos aqui... - disse se enrolando com a própria língua. Pegou a caixinha delicada de veludo que havia acabado de ser comprado por seu amigo. Abriu-a, vendo a jóia brilhar, ainda mais sobre os olhos da moça ao seu lado.

– É lindo. - comentou.

– É seu. - disse, colocando em seu dedo.

Naquela altura, nem mesmo racional ele tinha. Talvez se tivesse bebido um pouco menos da tequila, teria evitado aquele desastre.

E esperando uma atitude daquelas, ou talvez não, a mulher logo que o viu adormecer sumiu por entre a porta, olhando atenta para os lados. Ela não queria o ver arrependido pela manhã, pedindo aquela raridade de volta.

...

– SEU FILHO DA PUTA! O QUE VOCÊ FEZ COM O MEU ANEL? – Paul perguntou/gritou, assim que percebeu o desaparecimento.

Tinha acordado pela manhã, arrumado suas coisas para pegar estrada mais uma vez. Mas ao ir apanhar alguns pertences sobre o criado mudo, apenas a caixinha estava ali presente.

Não teve nem sombra de dúvidas que o autor daquela proeza era aquele ser largado em cima de sua cama.

– Han? - perguntou confuso, tentando se levantar.

–O quê você fez com o anel que eu ia dar pra Brenna?

Sid apertou os olhos imediatamente, tentando controlar aquelas apontadas na cabeça, essas muito bem conhecidas como ressaca. Forçou a memória logo em seguida. Então se viu dando o anel para aquela mulher que o acompanhara até o hotel noite passada, nem mesmo o nome conseguia se lembrar.

– Oh fuck! - exclamou enquanto se levantou rapidamente, tentando colocar as calças jeans.

Antes que Paul tivesse mais um ataque de histeria, Shawn e Chris adentraram o quarto, ambos com as caras sonolentas e um tanto assustadas também. Era de se esperar que os gritos nervosos de Paul acordassem a vizinhança.

– Esse moleque do caralho fodeu minha vida! - xingou.

– Calma Paul... – Shawn falou tentando tomar controle.

– Me desculpa cara, eu estava muito bêbado!

– Não me interessa! Aquele anel custou quase metade da nossa turnê toda!

Os dois ali na porta, agora acompanhados por Corey e James analisavam a discussão alheia, tentando inutilmente acalmar aquele Paul distinto do que realmente era.

Mas aquilo ainda durou por um bom tempo. Este que foi cronometrado quase a viagem inteira. Ao chegarem novamente em Des moines, no entanto, Sid pagou metade do valor de outro anel que Paul comprou, resolvendo metade do problema.

Porque, aliás, Paul ainda estava nervoso com a atitude imatura e irresponsável de Sid.

O Dj era o mais novo da banda, porém não era motivo para que fizesse coisas como essas. Ambos os nove apesar de tudo mantinham um respeito entre eles, e atitudes como aquelas de Sid tinham sido no mínimo antiquada demais aos conceitos de Paul. Porque, aliás, ele era o dono do equilíbrio existente ali, desde bem estar até a própria integridade, e ver um deles afetando a si próprio o chateou demais, por mais que tivesse sido inconseqüente.