Before I forget that

#12

Papéis de presente haviam tomado conta do carpete da sala dos Gray. Todos estavam ali, apenas observando October com os olhos brilhando, enquanto descobria seus novos brinquedos. Diga-se de passagem, estes que eram jogos; A pequena conseguira nascer com a intelectualidade que faltara em seu pai, quando este era mais jovem.

– Uau que tabuleiro perfeito! – ela abriu a boca ao ver que ganhara um deste de xadrez, novo. Era esculpido em madeira, perfeitamente envernizado, perfeito ar italiano.

– Fui eu quem escolheu... – Cristina disse, vendo o namorado cerrar os olhos. – Mas o Jim também ajudou vai... Se não ele entra em depressão. Só disse: Isso aqui é a cara da Tober! Mas o dinheiro mesmo foi o meu. – fechou a cara, vendo-o revirar os olhos.

As horas da manhã passarão num piscar de olhos para October. Não havia desgrudado dos recém chegados a Des Moines, e nem daqueles que a ajudavam num plano mirabolante.

– Você coloca três chicletes na boca e mastigue eles, mas mastiga bem! Quando estiver bem mole, você gruda no cabelo dela. Ela também vai ter que cortar o cabelo igual o seu depois. – Sid falava com toda a atenção que podia ter, enquanto Chris ao seu lado tentava não rir escandalosamente. Tudo o que menos queria era ensinar a menina se tornar uma vingadora, mas com o amigo ao lado aquilo iria se tornar meio que impossível. Também não podia negar que aquela garota irritante merecia.

– Eu já acho mais legal você pegar as roupas dela e colocar dentro da privada, quando estiverem na aula de Educação Fisíca. – disse enfim, recebendo olhares surpresos, tanto de Tober quanto de Sid logo ao lado.

– Chris, não sabia que você era malvado desse jeito! – o rapaz berrou, rindo. – Tenho que confessar que a idéia dele é mais legal, Tober!

Ela riu abertamente, sentando-se ao meio deles enquanto ignorava as perguntas do pai do porque daquelas risadas malignas vindas de ambos, ao canto da sala.

°°°

– Tem certeza de que você quer ir pra escola, filha? Pode ficar em casa se quiser... – Brenna dizia atenciosa, analisando a menina enquanto a mesma tomava café-da-manhã, já pronta para mais um dia de aula.

Mas, de fato, não era isso que a fizera acordar naquele dia. De algum modo – que um dia ela explicaria -, sentira mais segurança, e precisava colocar em prática sua doce vingança, apesar de não se tornar tão doce assim, se as conseqüência viessem à tona. Não podia negar que não estava se importando para aquilo, precisava mostrar pra aquela menina que não teria diversão sempre que quisesse, ou caso contrário ela também teria a sua. Sid Wilson e Chris Fehn lhe ensinando rebeldia numa tarde de Domingo, definitivamente não havia prestado.

– Olha só o corte novo da porquinha... A-d-o-r-e-i! – Casey já implicou, rindo e sendo acompanhado por outras duas. Ao contrário de sempre, October não abaixou a cabeça, e apenas se sentou em sua carteira, esta logo à frente agora.

– Oi Tober... – escutou aquela voz conhecida atrás de si.

– Oi Stacy. – respondeu indiferente, virando minimamente a cabeça para o lado.

– Você está com raiva de mim?

– Você é minha amiga de verdade?

– Eu sou. Minha mãe conversou com a mãe de Casey ontem, e adivinha só... Ela levou uma bronca. – Contou meio aos risos, vendo os da pequena logo ao lado também.

Mas aquilo não seria o suficiente para persuadir a raiva que ainda sentia daquela mimada. Seus cabelos novos ganhariam chicletes? Ou seu uniforme escolar ganharia odores ruins? Passara a noite inteira pensando em tais idéias, e não podia negar que ambas lhe atentavam muito. Não costumava ser vingativa, porém, quando vira que a cabeleireira não pode salvar nem aqueles fios mastigados a altura de seu pescoço, se enfureceu como jamais estivera.

O sinal batera logo após, era aula de educação física por pura coincidência ou apenas obra do destino. Não iria mascar chicletes para grudar em seu cabelo, não mesmo. Ter as roupas afogadas dentro do vaso sanitário iria ser bem mais impressionante; Original. Ainda mais quando se tratava do uniforme escolar – agasalho de inverno. Iria morrer de frio com aquelas suas pernas secas de fora, em conseqüência da roupa despojada que vestiam para praticar a aula prática.

Caminhou com as demais garotas de sua sala até o vestiário. Trocou suas vestes pesadas de frio para as mais leves de malha, verificando se Casey já havia saído dali.

– Tober, você não vem? – Stacy perguntou assim que estava pronta.

– Já estou indo... Preciso fazer uma coisa antes. – falou simplesmente, vendo a nova amiga franzir o cenho.

– O que vai fazer?

– Ér.. Xixi! Estou apertada. – falou rapidamente, se trancando dentro de uma cabine. Seus ouvidos depois disso ficaram mais alheios do que jamais foram.Ao ouvir os passos de Stacy se distanciarem ainda mais, saltou para fora do lugar, observando o local ao ser redor.

O uniforme impecavelmente limpo e passado de Casey estava pendurado nos cabites que lhe serviam justo para este propósito. October estava com medo, medo de que alguém chegasse a qualquer instante, mas ao pensar em tudo que passara, o ano inteiro, deixou de lado. Poderia passar dos limites também se quisesse.

Pegou o blazer acompanhado da saia de pregas e a camisete branca de botões. Aquele uniforme típico de escola particular iria estar submerso em questão de segundos, e foi exatamente em menos de um minuto que October afundara a roupa em seu fim não muito agradável, aquilo iria feder por um bom tempo.

Arrumando as madeixas curtas, voltou para a quadra, onde o aquecimento já acontecia, fingindo estar despreocupada, por mais que seu coração palpitasse a todo instante.

°°°

– Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah! – o grito estridente de Casey fora dado pela extensão do vestiário inteiro, fazendo com que October engolisse os risos. – Quem fez isso com a minha roupa?! – continuara histérica, recebendo atenção da professora, que correra para ver o que estava acontecendo.

– O que aconteceu aqui? – perguntou autoritária.

– A October afundou minha roupa ali! – disse apontando para o vaso sanitário transbordado por roupas.

– Gray isso é verdade?

Ao encarar os olhos claros de sua professora ela sentiu a barriga dar uma cambalhota, agora estava sentindo medo das conseqüências. Assentiu devagar, encarando os pés.

– Porque você fez isso October?!

Ela não respondeu, preferiu se silenciar desta vez; Seja qual fosse sua punição, não importaria naquele momento, sua vingança estava feita e nada mudaria aquele fato. Estava se sentindo satisfeita apesar de tudo, no fundo todos sabiam o motivo de sua revolta, até mesmo a professora, que instantes depois a carregou para diretoria.

A olhava com pesar enquanto contava para diretora o que ocorrera na aula de Educação Física. Entendia a fúria da menina, mas simplesmente descontar não ajudaria seus cabelos crescerem novamente, e fora essas palavras que a sabía gestora de sua escola lhe aconselhara, antes de discar os números de sua casa.

...

Encarando os próprios pés, ela escutava as vozes de Brenna e Paul na sala logo atrás de si. Aquele corredor espesso, repleto de armários, e o banco onde estava sentada a fazia se sentir distante. Mais a frente, vira de relance Casey coberta por um roupão, tremendo de frio. Riu pra si, era satisfatório.

Ao saírem da sala principal, Paul pegara na mão de October e caminhara a passos firmes com ela até o carro.

– Desculpe. – disse fraca, recebendo a atenção de ambos, já sentados aos bancos da frente.

– Eu acho que ela mereceu... – Paul disse sorrindo, vendo Brenna o estapiar logo após, repreensiva. – Ah qual é, isso foi histórico!