Mamãe, eu sinto a sua falta todos os dias.

Não se preocupe, eu não choro nem machuca tanto quanto antes. O tempo enxugou meus olhos e curou meu peito, mas como pagamento, ele cobrou a lembrança do seu rosto e o calor do seu corpo. Por sorte, eu ainda tenho em memória os seus lábios discretos sorrindo e a sensação da sua mão firme em meus cabelos.

Eu me tornei um homem crescido. Eu visto ternos caros e sorrio pouco, quase nada. Papai cuidou de mim todos esses anos, mas ele também cobrou um preço. Eu vendi minha felicidade, mamãe. Ao menos, essa é a impressão. Para ter o reconhecimento de um homem distorcido, eu vendi os meus sonhos. A responsabilidade é minha, minha culpa; tudo bem adicionar um pouco mais ao que já está em minhas costas. Essa carga toda ou me destruirá ou me deixará mais forte. Não me importo com qualquer das duas opções.

Quando olho para a minha vida e as coisas que eu gosto, eu imediatamente vejo você. Você que me ensinou a cozinhar e me levou a Grande Construção de Tokio pela primeira vez onde eu me apaixonei pela arquitetura. Você que era simples e forte, e é como eu tento levar a minha vida, embora às vezes eu falhe, principalmente em ser simples; creio que herdei a mente complicada de seu antigo amante, sinto muito.

Eu sinto a sua falta todos os dias, mas a verdade é que eu já não sei quem você é. Eu nunca soube. Não houve tempo.

Mas ainda assim eu sinto aquele sentimento pela memória do que você poderia ter sido.

Eu gostaria de ter tido um abraço quando estava com medo. Eu queria poder ter sido acalentado quando caía e ralava os joelhos. Ou ser cobrado quando tinha uma nota baixa. Eu aceitaria até mesmo um puxão de orelha muito bem dado quando te desobedecesse. Mas, sabe mamãe, eu sempre venci meu medo sozinho, sempre me levantei rápido quando caía e não chorava, nunca tirei notas baixas e fui obediente.

Isso diminuiu a minha necessidade de ti? Nem um pouco.

Eu não sei que dia é hoje ou que horas são. Sei que é bem cedo ainda, eu estive dirigindo a noite toda para vir te visitar na pequena cidade onde você nasceu (e morreu). Faz alguns anos que eu não venho tão longe e, novamente, não se preocupe. Não estou aqui por que alguma desgraça me aconteceu... Parece ser humano procurar os outros, mesmo os mortos, em momentos de aflição, não é? Mas eu vim até aqui... Não. Me trouxeram até aqui para te trazer uma alegria (ou o início de uma, não sei).

Mamãe, eu estou amando outra pessoa.

Desde que tenho consciência de mim, você foi à única que preencheu meus desejos mais íntimos de afeto e amizade. Mas ultimamente algumas coisas mudaram. A princípio eu tive a ajuda de um pequeno amigo para me livrar das teias criadas por meu pai e, embora não tenha abandonado minha vida apática, voltei a investir nos meus projetos de arquitetura. Na verdade, eu alcancei um nível maior que o do Presidente e me tornei Diretor da Companhia Usami. E depois eu descobri onde o sol nasce mamãe. Eu descobri que a felicidade esteve debaixo do meu nariz o tempo todo. Agora que eu a agarrei bem forte, não vou deixá-la fugir.

Eu estou meio que "junto" de alguém, e mesmo tendo muitos medos e sabendo das muitas dificuldades, eu desejo permanecer com essa pessoa. Quero fazer com que ela me ame também e quero ter filhos... Ah, isso é constrangedor de se dizer em frente a um túmulo. Espero que a minha felicidade a faça feliz também.

Sempre fui exigente comigo mesmo, mas nunca antes esperei ou exigi qualquer coisa da vida, mãe, mas agora... Eu espero e exijo ter a felicidade e fazer aquela pessoa feliz. Deseje-me sorte.

Eu vou deixá-la repousar.

Obrigado tudo mamãe...

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.