Oathkeeper
Jaime
O dia estava mais quente que o normal, principalmente com o inverno chegando. Isso pode ser um mau presságio, pensou Jaime ao encarar o céu azul. Talvez o último dia de verão.
Quando o Lannister abriu os olhos, Brienne parecia estar acordada a um bom tempo. A encontrou sentada em um tronco de madeira, afiando sua espada. Jaime se permitiu ficar sentado na grama por alguns segundos, apenas observando-a. Sempre tão séria, pensou. Um sorriso começou a desabrochar de seus lábios.
– Bom dia, Brienne.
Quebrou o silêncio, e Brienne o olhou. Parecia que não tinha percebido que o leão já havia acordado. Deu um sorriso tímido e continuou afiando sua espada.
Jaime se levantou devagar e foi ao seu encontro, dando um beijo leve na bochecha da dama que havia a cicatriz. Ela se virou e selou seus lábios com os dele.
– Temos que continuar. - Disse, e se pôs em pé, em direção ao seu cavalo.
Jaime a seguiu e ambos subiram em seus respectivos cavalos.
Cavalgaram por mais de quatro horas, até que encontraram uma humilde estalagem perto do começo de um pequeno rio. Jaime e Brienne concordaram que deveriam comer algo descente e passar a noite em uma cama macia, para variar. Deixaram seus cavalos nos estábulos e entraram.
Dentro da estalagem, haviam três homens com três meretrizes no colo, bebendo e jogando cartas, e um velho quase dormindo sentado em outra mesa próxima. Demorou alguns segundos até que o Lannister também reparou em um homem na ultima mesa, sentado imóvel, com um capuz cobrindo seu rosto.
– Duas tortas e duas cervejas, por favor. - Jaime pediu para uma garota que não parecia ter mais de quatorze anos, entregando-lhe um dragão de ouro. A menina virou-se apressada para entregar-lhes o pedido.
– E então, quais são os nossos planos agora? - Perguntou Brienne. - Depois do jeito sutil que você cuidou das coisas, é praticamente impossível encontrarmos Sansa agora.
– Fale baixo, mulher. - Jaime sussurrou, olhando para os lados para se certificar que não havia ninguém ouvindo. - Não sei. - Continuou. - Precisamos de alguém que possa se infiltrar no castelo, raptá-la durante a noite. - Parou alguns segundos para pensar. Eu nasci para lutar, não para criar estratégias. - Bufou. - Não sei - Repetiu.
– Bom, precisamos de um plano. - Começou Brienne, que foi interrompida pela menina trazendo duas canecas com cerveja forte e tortas. - E rápido. - Continuou. - Logo Petyr vai descobrir que fugimos. E logo a notícia de que Stannis morreu chegará ao Reino. Alguns homens devem estar atrás de minha cabeça agora.
– E outros atrás de você para agradecê-la. - Jaime abriu um sorriso. - Ambos somos Regicidas agora, isso não soa lindo?
Brincou, mas Brienne não pareceu gostar. Fez uma careta antes de responder:
– Nunca cometi regicídio. Stannis não era meu verdadeiro Rei.
Jaime engoliu em seco. Renly, Renly. Sempre o viadinho do Renly, se pegou pensando, amargurado. Está com ciúmes de um morto, rapaz? Tome vergonha na cara.
Terminaram de comer e ambos se levantaram, indo em direção à uma mulher baixa de cabelos vermelhos e sardas na bochecha, encarregada do balcão.
– Boa noite, gostaríamos de dois quartos. - Começou Brienne.
– Dois não. - Jaime a interrompeu. - Apenas um. - Ele a fitou por alguns segundos. - Pensei que já tínhamos passado por essa fase.
Sussurrou para a Beleza de Tarth, a mesma parecia um pimentão antes de responder:
– Força do hábito. - Deu um sorriso.
Brienne entregou para a moça duas moedas de bronze e agradeceu, pegando as chaves do quarto com uma cama de casal que, a mulher prometera, estava sem pulgas. Jaime fitou o estranho homem de capuz sentado, ainda imóvel.
– Pode ir subindo. - Disse para Brienne. - Eu já vou.
A mesma não fez perguntas, apenas assentiu. Jaime respirou fundo e foi de encontro ao estranho sujeito. Sentou na frente do mesmo, com apenas a mesa à separá-los, e disse:
– Boa noite.
Esperou alguns instantes até ter certeza que o homem não responderia.
– Perdeu a língua? - Perguntou. Como estava mais perto, podia ver um pouco do rosto do homem. Parecia um pouco deformado de um lado, e seus olhos pareciam quase negros.
– Não.
Respondeu apenas uma palavra, de maneira grosseira e com a voz rouca, provavelmente pelo pouco uso. Mas apenas um "não" era suficiente para Jaime reconhecer.
– Então Sandor Clegane ressurgiu das cinzas? - Perguntou o Lannister em voz baixa. O homem pareceu arregalar os olhos, mas apenas por alguns segundos.
– Quem é a porra de Sandor Clegane?
– Não pode me enganar. Por muitos anos você foi o Cão de Joffrey, não esqueceria seu rosto ou a sua voz assim tão fácil. Mesmo que esteja usando um capuz e falando o menos possível.
– O que você quer? - Cão de Caça perguntou, irritado.
– Até que veio a calhar neste momento. Preciso de você.
– E o que te fez acreditar que eu vou te ajudar?
– É muito importante.
– Foda-se. - O Cão disse, se levantando. Jaime continuou:
– É sobre Sansa Stark.
Sandor Clegane congelou no momento que ouviu aquele nome. Virou-se para Jaime, carrancudo, e sentou-se na frente do mesmo.
– Fale.
Pediu, e Jaime abriu um sorriso antes de começar a explicar a situação e qual o importante papel do Cão para poder, finalmente, levar Sansa Stark para um lugar seguro.
Após Jaime pagar um quarto para Sandor e fazer o mesmo prometer que estaria na frente da estalagem à espera quando o sol nascesse, o Lannister subiu as escadas, ansioso para encontrar sua Beleza de Tarth.
A mesma parecia ter adormecido, e Jaime se juntou à ela na cama com todo cuidado para não acordá-la. Ele abraçou suas costas e beijou sua nuca. Tenho um plano, Brienne. Estamos muito próximos de finalmente resgatar Sansa Stark.
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– O que?! - Exclamou Brienne, confusa. Tinha acabado de acordar, e seus olhos ainda piscavam para se acostumar com a luz que entrava pela janela do quarto. - E você acredita que Cão de Caça pode ser confiável?
– Nesse caso, sim.
– Isso é tão estranho. - Comentou Brienne. - Conheci um homem que me disse que havia enterrado Sandor.
Nesses tempos, estar morto e estar vivo não significam muita coisa, lembrou-se que Brienne ouviu isso de uma garota uma vez. Aquela frase ainda perturbava a dama de vez em quando, e sabia que ela estava pensando nisso agora.
– Bom, mas ele não está. - Retrucou Jaime. - Como disse, nesse caso ele pode ser confiável. Você confia em mim?
– É claro que confio. - Disse Brienne, fitando-o com seus olhos de safira. - Não confio nele.
– Não se preocupe.
Jaime segurou a mão de Brienne e a puxou para si, pressionando seus lábios no dela por alguns segundos, antes de abrir a boca e introduzir a língua, para sentir o gosto que tanto adorava da Beleza de Tarth.
– Gostaria de continuar, mas precisamos ir. - Sussurrou Jaime entre o beijo, e deu um sorriso.
– Sim, precisamos. - Respondeu Brienne, olhando-o nos olhos, e também sorriu.
Chegando na porta da estalagem, Sandor Clegane os esperava com três cavalos. Não usava mais o capuz, e agora homens, mulheres e crianças o olhavam assustados, reparando na marca de queimadura que havia em seu rosto.
Os três se cumprimentaram, embora não com muita cortesia. Seguiram o caminho até o Ninho da Águia completamente em silêncio.
De noite, ou Jaime ou Brienne fazia a vigia. Não confiavam em Sandor, e ele sabia disso, mas não parecia se importar.
– Sabe, - começou Sandor, com sua voz trovejante, quebrando o silêncio. - Arya ainda está viva.
Ouvir aquela afirmação fez Jaime prender a respiração. Ainda há esperanças para as duas garotas Starks, afinal.
– Arya não é vista desde que o pai foi morto. - Brienne interveio.
– Eu a vi. Beric Dondarrion a viu. Ela está viva. - Respondeu.
– E aonde ela foi parar? - Perguntou Jaime.
– A vadiazinha me deixou para morrer depois que fomos atacados. Não faço ideia para onde foi.
– Podemos procurá-la, depois que levar Sansa para casa. - Disse Brienne, esperançosa.
– Casa. - Sandor soltou uma gargalhada. - E aonde é a casa dela? Winterfell está em ruínas.
– Se os nortenhos souberem que Sansa Stark está viva, se juntarão à causa dela. Então recrutaremos homens para ajudar a reconstruir a fortaleza.
– É o que esperamos que aconteça. - Jaime disse.
– Vai acontecer. - Brienne teimou. - Sansa é a Stark mais velha, e quando souberem que ela está viva, se juntarão à ela.
– Então vocês já tem tudo planejado. - Caçoou Sandor.
Após quatro dias cavalgando, finalmente avistaram o Ninho da Águia, e então o Lannister falou:
– Eu e Brienne montaremos um acampamento aqui na floresta. Você seguirá até o castelo. - Sandor olhou para Jaime, sem expressão facial. Apenas assentiu. - Te darei quatro dias para retornar, Sandor. Está bom?
– Retornarei em dois. - Prometeu o homem.
Então, sem despedidas, Jaime e Brienne começaram a montar o acampamento, ansiosos, enquanto o Cão de Caça ia de encontro à sua Rainha do Norte.
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