Eu sabia que ela ia acabar aparecendo, minhas visões nunca falharam desde que tinha 11 anos. Naquela época eu entrava em pânico quando via alguma coisa desagradável, ou até agradável, mas com o tempo me acostumei com aquilo. Afinal eu havia adquirido aquele dom e deveria carregar até meu último suspiro. O que acabava comigo era ver o meu irmão de criação naquele estado lastimável, as crises estavam cada vez mais frequentes e eu não sabia mais o que fazer; Felizmente um anjo a envio aqui para acabar com essa dor agonizante.

DongWoon a chamou pra sentar ao nosso lado,eu sentia que ela estava um pouco tensa do que quando vi a última vez. Eu sabia que ela estava assim por sentar ao meu lado, pelo modo como eu a estudei anteriormente e eu dou razão para ela; as minhas expressões faciais tendem há serem um pouco severas, e assim as pessoas se afastam de mim por medo. Isso é bom. Assim ninguém chega perto, não se preocupa, não há necessidade de responder perguntas e ter que mentir. Isso é muito bom mesmo, pelo menos pra mim. Ao contrário de mim, Woonie atraía a atenção de um monte de gente, pela sua carisma e simpatia.

Eu sabia que a qualquer momento ele teria uma crise, bem na frente dela, o meu medo é que ele a machucasse. Comecei contar os minutos na minha cabeça, para tentar chutar para longe aqueles pensamentos ruins da minha mente. Olhei ao redor da sala, via todos com expressões de cansaço pela noite passada. Se eu soubesse que aquilo teria acontecido, nunca teria saído de casa, nunca teria deixado sozinho, nunca teria me focado em uma visão boba minutos antes e ido atrás averiguar. E o pior foi quando eu cheguei, eles estavam com expressões de terror no rosto, então sabia que meu irmãozinho havia tido uma crise e eu não estava para ampará-lo. Culpo-me até hoje por tentando fugir dessa grande cruz que eu tenho para carregar, mas não adiantou fazer isso, tinha visões horrorosas com ele e decidi voltar antes que elas se concretizassem.

Estava tão perdido nos meus pensamentos que quase não vi, quando ele se levantou rápido e se encaminhou para a rua depressa. Eu levantei depressa e o segui. Eu sabia que ia acontecer, fiquei aliviado ao ver ele se encaminhar para a rua e não tentasse machucar a Flávia, e nem um dos outros que já haviam levado um susto noite passada.

X-X

O frio havia se intensificado repentinamente, mas para mim aquilo não era nada, pois por incrível que pareça eu não sinto frio. Claro eu não sou um ser normal, minhas loucuras sempre deixaram muito claro isso.

DongWoon aumentou seu passo ao perceber que eu o seguia,ele sempre fazia isso,odiava que eu o visse naquele estado.Para ele isso era um tipo de fraqueza,ele odiava se sentir vulnerável,odiava ter alguém por perto ao se sentir assim.E mesmo ele me renegando toda vez,eu não podia deixar que ele superasse isso sozinho,afinal eu era o irmão mais velho dele e eu era a única família dele.-SAI DAQUI DOOJOONIE!-Woonie gritou comigo sem olhar pra trás, caindo de joelhos na neve fria. -Você sabe que eu odeio que me siga. –Ele disse por fim. -Eu nunca vou te deixar Woonie,você é minha única família nessa droga de mundo.-Eu disse me aproximando cuidadosamente dele,me ajoelhando na frente e percebi que seus olhos estavam mais negros do que o normal.Mesmo assim continuei firme na minha decisão.-Agora...-Fui interrompido ao sentir os dentes de DongWoon cravados no meu pescoço.A dor era como se tivessem me ficando agulhas sem dó algum,segurei qualquer barulho que acusasse que eu estivesse me remoendo de dor,porque se eu fizesse isso ele iria se assustar e fugir como aconteceu uma vez.E mais um misto de dor,ao sentir ele arrancar um pedaço de minha carne.

X-X

Demorou alguns minutos para que ele se acalmasse, seus olhos voltaram a ficar normais, e a expressão de desespero havia se tranquilizado. Nossas roupas estavam sujas de sangue, o que era de se esperar, já que ele havia tirado um pedaço de mim. Não que eu me importasse muito com isso, mas fico pensando o que falaremos ao entrar em casa, sujos de sangue? Provavelmente a visita iria se assustar e nunca mais voltar a nos ver; o que era ruim para ambas as partes.

Ouvi barulhos de galhos secos se quebrando, sabia exatamente quem estava fazendo esses barulhos. Como ela já tinha visto um pouco. Vou atrás antes que ela fuja e nunca mais á veja novamente. A cada passo que dava sentia o sangue escorrer e pingar no chão, por causa do ferimento que ainda estava aberto. Ao avistá-la percebi que ela tinha aumentado o passo, como não sou bobo eu dei uma pequena corridinha, agarrando de imediato o braço da donzela curiosa.

–As crises dele têm aumentado a cada dia. E só você pode resolver o problema. -Falei calmamente ainda segurando o seu braço. -Q-Quem precisa de mim?E o seu pescoço...?-Ela virou para olhar pra mim, seus olhos estavam amedrontados e estava mais pálida do que uma pessoa morta. -Não se preocupe comigo, essa ferida irá logo fechar. Meu irmão precisa de ti nesse momento. - Ela ainda estava um pouco agitada. -P-porque?-Flávia me perguntou tentando soltar seu braço de minha mão, mas eu apertei mais ainda, ouvindo um gemido baixo vindo da boca dela. -Não tenho tempo pra contar. Só digo que ele precisa de você, então faça o que digo e venha comigo. -Eu disse olhando firme para ela. -Eu nem conheço vocês. Como alguém pode precisar de mim se nem me conhece? –Ela cuspiu as palavras na minha cara demonstrando raiva na voz. -Por favor, eu imploro venha comigo!-Eu disse quase chorando para ele.

Eu sabia que ela não ia ceder nem se eu dissesse que iria me matar, pois conhecia a mulher com quem estava lidando. Então antes de ela falar mais alguma coisa, eu a puxei pelo braço arrastando-a até a onde eu havia deixado DongWoon.

De longe eu o avistei, ele estava deitado na neve suas roupas ainda estavam ensanguentadas, mas achei estranho ele estar deitado. Chegando mais perto, uma mistura de angústia e tristeza se formou no meu peito. Seus olhos estavam fechados, seu corpo estava pálido e mole. Eu sacudi seu corpo para tentar acordá-lo e não houve sinal. O virei de um lado para o outro, e então notei um ferimento um grande ferimento no seu pescoço.