Capítulo único

O Ultimo Adeus

Lá estava ele.

Apesar do longo tempo que não o via meu coração bateu desesperado em meu peito, como se subitamente voltasse a vida. Meus olhos brilharam ao encontrar os dele. Meu corpo começou a tremer notavelmente sem que eu conseguisse controlá-lo. Meus sentidos se perderam.

Entrei em transe.

Sua expressão séria e sem emoção estava mais marcante do que nunca, tentando esconder as cicatrizes que o tempo deixou, e aquele olhar fuzilador continha uma tristeza que me machucava profundamente. Machucava-me porque eu sabia que toda aquela tristeza era por minha causa.

Queria abraçá-lo, consolá-lo.

Se por um momento eu tivesse parado para pensar. Se por um momento eu não me deixasse levar por chantagens emocionais. Se por um momento eu escutasse o que meu coração tentava me dizer. Hoje, talvez, todos nós não sofreríamos tanto.

Mas agora isso tudo era inútil.

Kaname estava ao meu lado observando atentamente todos os convidados. Inclusive ele.

Meu nervosismo era evidente, mas não pude controlar. Eu queria sair correndo e dizer tudo o que sentia a Zero.

Eu não podia fazer nada.

Era tarde demais. Depois de tudo o que fiz, tudo o que sacrifiquei, eu não podia simplesmente abandonar Kaname e ir até Zero, dizer tudo o que se passava dentro do meu frágil e estúpido coração. Eu não sabia como Zero reagiria.

Ele caminhou vagarosamente até nós.

Por tantas vezes imaginei essa cena, mas em meus sonhos Kaname não estava presente. E não estávamos em uma festa para vampiros. Éramos apenas Zero e eu, em um lindo cenário, campos floridos, noites estreladas, pores-do-sol. Sempre românticos.

Parou em minha frente.

- Yuuki – chamou-me seriamente – Posso falar com você.. a sós?

Olhei para Kaname um pouco apreensiva mas com um desejo de aceitar sem medir consequências.

- Não demore Yuuki – disse-me Kaname estampando um sorriso gentil.

Apenas assenti. Zero agarrou minha mão e me levou para fora do salão.

Eu o olhava assustada enquanto ele se posicionava em minha frente para olhar-me nos olhos.

- Não se preocupe, eu não irei te machucar – assegurou-me soltando minha mão.

- Quanto a isso não tenho medo. – informei-o convicta.

- Do que tem medo então?

- Eu tenho medo... de perdê-lo novamente Zero.

Sua expressão mudou drasticamente ao ouvir o que eu sentia. Seu semblante sério e seu olhar fuzilador deixaram sua face dando lugar àquele sentimento de tristeza que ele, com todas as forças, tentava esconder.

Agora parecia que tudo daria certo.

Meu coração pesou em meu peito e meus olhos se encheram de lágrimas. Como eu pude ser tão má? Zero estava assim por minha causa, nada me fazia sofrer mais do que vê-lo assim. Mas agora tudo iria se resolver.

- Foi você ,Yuuki, quem escolheu me perder.

A primeira lágrima escapou dos meus olhos e rolou por minha face. Era quente como fogo me queimando e fria como a lamina de uma adaga me rasgando, mostrava-me a verdade e tirava-me o fio de esperança que havia se tecido dentro de mim.

Eu estava enganada.

- Zero, eu não...

- Eu apenas queria lhe avisar que partirei em uma missão. Então... Adeus Yuuki.

Ele retomou seu semblante sério e seu olhar agora era sem emoção alguma.

Meu coração caiu em um abismo profundo que puxava-o mais e mais. E eu não queria tirá-lo de lá.

Zero esticou sua mão até tocá-la em meu rosto e enxugou minha lágrima. Depois desta outras começaram a rolar sem parar.

Com um suspiro ele se virou e fez menção de ir embora. Parou por um segundo para me olhar e saltou da sacada onde estávamos.

Ele se foi.

Gritei desesperada seu nome, mas quando me apoiei no pilar para olhar para baixo não o encontrei. Fiquei ali tentando enxergar além das minhas lágrimas e sentindo meu coração morrer a cada batida lenta.

Esse foi mesmo nosso último adeus?