''Bem-vindo a Silent Hill''.


A placa que sinalizava a entrada na pacata cidade do interior já havia ficado algumas horas para trás. Maria, vinda de longe - de uma grande cidade, Nova York -, aos poucos se acostumaria com aquele lugar esquecido pelo resto do mundo, com menos de vinte mil habitantes. Já leu um pouco sobre o local, em outras oportunidades, mas pouco prestou atenção na história dali e sobre tudo que rodeava Silent Hill. Lembrava-se apenas os desagradáveis primeiros anos que sua vida que ali havia passado, com pessoas que, inevitavelmente, ainda faziam parte de sua vida. E se refugiaria naquele local por, provavelmente, alguns meses.


Moveu-se direto aos apartamentos Woodside, conseguindo um lugar no quarto 305. O lugar parecia ter um clima agradável, embora nada ali fosse de alto padrão ou ao menos se destacasse. De fato, o que acontecia era exatamente o contrário: Nos três andares, a pintura descascada parecia corroer-se cada vez mais, assim como a parede que a carregava estava um tanto rachada, o suficiente para que aquilo fosse notado. Embora a limpeza parecesse não ser a prioridade dos donos do local, os quartos eram extremamente bem organizados e simples, com poucos móveis, uma televisão e cama. Maria parecia não se importar com tamanha simplicidade.


Pouco depois de entrar em seu quarto e deixar todos os seus poucos pertences em sua cama, colocados em duas malas nem tão grandes, Maria observava a rua pouco movimentada da janela do cômodo, vendo poucos carros no lado de fora e tendo uma visão mais ampla daquela cidade, podendo visualizar alguns pequenos negócios e casas locais, embora desse pouca atenção aos mesmos.


'' Pelo visto, Silent Hill ainda segue a mesma ''.


Teve sua atenção inesperadamente chamada pelo barulho da campainha, um som alto e incômodo que se repetiu mais duas vezes. Refletiu, por um momento, se atenderia quem havia lhe chamado em um momento tão incomum, logo quando ela não conhecia nenhum vizinho e nem suas malas estavam abertas ainda. Pensando nisso, Maria achava claro que se tratava de alguém dos quartos ao lado querendo lhe dar boas-vindas. Já perto da porta, Maria pôde observar no ''olho mágico'' de quem se tratava, e viu um homem de olhar preocupado em sua expressão facial, parecendo estar em seus quarenta anos ou um pouco mais, com cabelos escuros penteados para trás com algum tipo de gel.


Abriu a porta.


– Sim? - Perguntou Maria.
– Ah... - ele parecia completamente confuso - Você é Maria, não? A moça de Nova York que se mudou cá? Bem... Eu...
– Sim, meu nome é Maria. E quanto o seu?
– Joseph. - O tom de voz do homem demonstrava certo temor ou preocupação com algo, uma voz baixa e trêmula. - Você viu minha filha? Ela disse que ia dar um ''oi'' para a nova vizinha, sabe, coisa de criança. Ela não veio aqui? Faz um tempo que ela está fora e estou começando a ficar preocupado.
– Achei que você tinha vindo aqui dar um oi... - Parou de falar por um momento e abaixou a cabeça, logo retomando o diálogo com o homem. - Desde que entrei, não vi nenhuma criança por aqui.
– Ah, desculpe por gastar seu tempo. Obrigado, Maria. Se souber alguma coisa sobre a Amber, me avise, por favor.
– Tudo bem, eu aviso. E por favor, se achar ela, me confirme que está tudo bem. Não quero preocupar você, mas não é bom deixar uma criança sozinha por Silent Hill.


Joseph se retirou, decepcionado por não encontrar sua filha com a mulher que havia recém chegado nos apartamentos Woodside. Enquanto descia as escadas, refletia um pouco sobre o que a mulher havia dito sobre a cidade não ser tão segura, e isso o deixava ainda mais preocupado com o paradeiro de sua pequena Amber, assim como mais ansioso para achá-la e acabar com a confusão de uma vez por todas. Maria entrou e fechou a porta do 305.


A infância não era uma das coisas que Maria queria lembrar no momento, alguns flashes de imagens desconexas a deixavam com certa dor de cabeça enquanto lembrava de seus primeiros anos de vida que passou ali mesmo, naquela Silent Hill que parecia não ter mudado nada. Preferiu fugir de seus problemas e focar em outra coisa, embora não conseguisse se distrair com pensamentos fúteis para esquecer a época de criança que revivia em vagos e desagradáveis pensamentos. Iria sair e visitar um pouco a cidade para esquecer um pouco de tudo, também para se certificar de que tudo estava em seu devido local.


Lembrou, já saindo do apartamento, de uma ligação que havia recebido ainda no caminho para a cidade, de Dário Leone, dono do Heaven's Night, a chamando ao seu local de trabalho no primeiro momento em que tivesse tempo de ir lá. Maria conhecia o sujeito de épocas distantes e, ignorando alguns desagradáveis encontros, conseguiu um emprego provisório no local enquanto se ajeitava com a nova vida de cidade pequena.


No momento, ignoraria o convite de Dário e iria descansar um pouco no Neely's Bar, mesmo que tivesse de andar mais um pouco até lá. Além de Dário, Maria ignorou o tempo nublado e uma ameaça de chuva a qualquer hora.


Por um momento, queria esquecer de tudo. Tanto sua infância quanto o dono do Heaven's eram as piores coisas com que podia dar de cara ao chegar ali. Havia esquecido de ambos na estadia em Nova York e só ela, até então, sabia o quão difícil tinham sido seus anos naquela cidade.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.