O que o amor não faz

Primeiro dia como criança


Acordo com alguém me cutucando mas não abro olhos , acho que nunca dormi tão bem em toda a minha vida .

Devagar vou abrindo os olhos e acordo com um lindo par de olhos azuis me observando .

— Bom dia dorminhoco , você dorme que nem pedra .

— Então realmente não foi um sonho - falo pra mim mesmo - Bom dia - respondo ainda sonolento , percebo que Ana esta arrumada como se fosse sair para algum lugar.

— Fiz seu café da manha , esta em cima da mesa . Você se importa de ficar sozinho (pergunta)

— Por que , pra onde você vai (pergunto) - o desespero na minha voz é evidente ,não sei por que mas começo a ficar com medo , com aquela sensação de abandono , e tenho a leve impressão que já senti essa sensação antes .

— Ei calma , não vou te deixar , é só que eu trabalho de manhã , e não posso levar você comigo .

Por alguma razão , eu amei o fato de ela falar que nunca vai me deixar , por isso o alivio na minha voz é notável .

— Tudo bem , mas que horas você volta (pergunto)

— Na hora do almoço , tem alguns papéis e uma caneta se quiser desenhar , e uma televisão caso queira assistir algum desenho .

Franzo o cenho mas as vezes esqueço que ela me ver como uma criança de 4 anos , então tudo que eu faço é concordar .

— Olha vou deixar meu celular com você , caso precise de alguma coisa é só ligar para o meu trabalho , deixei o número anotado em cima da mesa . Você primeiro liga o celular , depois aperta aqui ...

— Eu sei mexer num celular não se preocupe - rolo os olhos pra ela mas acho fofo ela querer me ensinar .

— Ta bom senhor sabe tudo , eu já vou pois estou atrasada e se precisar de alguma coisa é só me ligar . E quando eu voltar a gente tenta procurar seus pais .

— Antes de sair , você pode me dizer aonde a gente ta , quero dizer a cidade - ao longo da noite , percebi que não sei nem a cidade em que estou .

— Detroit

E fecha porta . Pela primeira vez em muito tempo não tenho absolutamente NADA pra fazer . Praticamente fiquei a manhã toda assistindo jornal na televisão .

Depois de 5 horas fazendo porra nenhuma , finalmente escuto alguém subindo as escadas e começo a ficar ansioso .

— Que merda , nunca fiquei ansioso por nenhuma mulher , por que isso agora .

A porta se abre e lá esta ela , apesar da aparência um pouco cansada , ela esta linda .

— E então aprontou muito (pergunta)

Fico olhando pra ela com cara de indignação , como se tivesse mil coisas pra fazer nesse minúsculo apartamento .

— Tá bom mal humorado , então não responde . Olha , eu tava pensando na gente ir numa lan house aqui perto , talvez a gente possa procurar seu nome no site de crianças desaparecidas para ver se achamos alguma coisa . o que acha (pergunta)

— Pode ser , mas não no site de crianças desaparecidas , eu vou falar mais uma vez NÃO SOU UMA CRIANÇA , me transformaram numa .

Ela rola os olhos pra mim , odeio quando fazem isso - Tudo bem , vamos fazer do seu jeito .

Depois de meia hora procurando , a única coisa que achamos foi sobre um cara chamado Christian Grey que esta desaparecido á um dia , acho coincidência mas o cara mora em Seattle e eu estou em Detroit , então não ligo muito .

— Então , o que fazemos agora (pergunta)

— Não sei - estou começando a ficar mal humorado de novo e com medo de ficar nesse corpo de criança pra sempre .

— Podemos ir no parque , você pode brincar um pouco lá .

— Nãããão , vamos pra casa só quero ir dormiiir - respondo com uma voz mais manhosa do que eu queria mostrar .

— Vamos logo pequeno rabugento

Ana pega a minha mão e vamos em direção ao parque . Estou começando a gostar desse negócio de segurar a sua mão , gosto desse contato com ela .

Quando chegamos vejo um monte de crianças gritando , chorando , rindo , de tudo quanto é tipo . Não sei como alguém tem um desse , mas pensando melhor EU SOU um deles .

— Vamos lá , do que você quer brincar (pergunta)

— De ir para casa e dormir ate eu acordar no corpo de adulto

— Christian , acho que vou começar a te chamar de pequeno rabugento . Vamos la vai ser divertido .

Ela pega uma bola que estava abandonada no meio das crianças e chuta pra mim .

— Agora chuta pra mim

Fico olhando alguns segundos pra ela mas no final acabo fazendo o que ela quer , vejo que ela fica feliz quando eu me comporto como uma criança normal , então porque não fazer ela sorrir um pouco . Fico feliz que sou eu a razão pelo qual ela estar sorrindo .

Depois de ficar o final da tarde todo jogando bola e ficar correndo pro lado e pro outro , finalmente vamos pra casa , mas eu admito , me diverti com Anastasia , fazia tempo que não me sentia tão relaxado assim .

— Já para o banho

— Você vai me dar banho não vai - pergunto esperançoso pois eu realmente queria que ela me desse banho .

—Sim eu vou - ela me dá um meio sorriso como se tivesse achando graça daquilo - agora vai logo tirando a roupa enquanto eu encho a banheira .

Amo quando ela massageia meu cabelo desse jeito , o ruim é que agora to começando ficar exitado quando ela faz isso , não sabia nem que criança podia sentir essas coisas . Então para tentar me distrair , pergunto :

— Então , no que você trabalha (pergunto)

— Trabalho num restaurante aqui perto , as vezes eu lavo louça ou limpo chão.

Me pergunto como uma pessoa tão linda como ela mora nesse apartamento e tem um trabalho desses .

— Cadê seus pais , eles te ajudam (pergunto)

Ela me olha com um sorriso meio triste e responde :

— Meus pais me abandonaram quando eu tinha 12 anos , nós não tinhamos condições de nos sustentar e minha mãe ficou grávida , e acho que na cabeça do meu pai eles não podiam cuidar de dois filhos , então tiveram que escolher um , então acho que está claro quem eles escolheram - um conjunto de lágrimas começa a se formar em seus olhos - me desculpa , eu não queria soltar tudo isso em você , você é só uma criança , não sei se vai entender essas coisas .

Estou com uma puta raiva , mas não de Ana e sim de seus pais , como uma pessoa abandona outra sem deixar ao menos nada . Quando eu voltar ao meu corpo normal , eu vou matar esses pais desgraçados por terem abandonado esse lindo anjo .

— Não precisar se desculpar , eles não merecem você - digo porque é a verdade - prometo que quando eu voltar ao normal , eu vou te ajudar , vou te dar uma casa e um emprego na minha empresa .

Ela ri quando eu falo isso mas eu amo esse som , mesmo ela não acreditando

— Ta bom , senhor rabugento vamos tirar você da água porque você já esta ficando com mãos de velho .

Dessa vez sou eu que rio , mas resolvo fazer uma coisa que não faço a muito tempo , a abraço , mesmo estando molhado e nu , sei que ela precisa disso . Ficamos assim por uns 20 segundos , até ela me soltar mesmo eu não querendo .

— Afinal das contas você não é tão rabugento assim - amo o som da sua risada

— Não vá se acostumando

Dessa vez estou usando um pijama do homem de ferro , nunca me imaginei vestindo um desses mas eu até rio com esse pensamento .

— Pronto vamos dormir .

Depois de ela se deitar comigo , coloco minha cabeça em seu peito e ela começa a fazer cafuné em mim , parece que a cada dia , estou começando a amar as simples coisas que ela faz comigo . E com esse pensamento vou fechando os olhos e adormeço .