Capítulo 5

Em meio ao tintilar dos talheres e das risadas suaves, Taylor sentia a cabeça girar diante da situação mais estressante de sua vida, bom pelo menos era uma situação estressante quando esse alguém não era Cole, porque se esse fosse o caso seria natural. Contudo, esse era exatamente o problema. Como ela poderia dormir na mesma cama que Daniel e corresponder ao seu sorriso pela manhã sendo que ela queria ver o sorriso de outra pessoa desejando bom dia? Como poderia deixar que uma aliança dourada entrasse em seu dedo, quando único acessório de compromisso que queria estava guardado em sua primeira gaveta? Por mais que soubesse dos perigos que essa decisão pudesse acarretar, não podia ser tão ruim quanto sua ansiedade a levou a acreditar.

Afinal, mesmo que investigassem seu passado ,não havia provas concretas da existência do Animarium e nem de sua missão. Além do mais, ela sabia muito bem que a importante ilha a qual referia como lar poderia sim se proteger, princesa Shayla, os zords animais e muito menos o poderoso Animus permitiriam a aproximação de uma pessoa ou se querer pensar e colocar os pés na grama sagrada do Animarium. Talvez ela não precisasse sacrificar sua felicidade por essa causa.

A ideia de não se entregar sentimento e aceitar um casamento seu amor em nome de cumprir sua nobre missão de defensora do Animarium do planeta Terra, era mais um truque de sua mente para que ela evitasse enfrentar seu verdadeiro medo: o de se machucar. E se Cole não a quisesse de volta? E tudo tivesse sido uma ilusão? Caso iniciassem uma relação, será que ela duraria? Ou seria curta porque ambos mudaram muito desde aquela época. E suas doces lembranças de momentos tão incríveis fossem arruinadas caso ela se arriscasse e nada saísse conforme suas expectativas?

Talvez esse lindo romance não concretizado que experimentou anos atrás devesse ficar no passado como um combustível para que ela enfrentasse o mundo real.

Como peito doendo, Taylor sentiu seus lábios formarem a palavra “sim”, porém antes que elas saíssem. A ex- ranger amarela perdeu a linha de raciocínio ao ver aqueles olhos verdes a encarando novamente. A expressão de Cole demonstrava a mesma tristeza de quando ele pronunciou a palavra “namorado" apenas alguns minutos antes, talvez ele estivesse lá pra que eles finalmente tivessem a chance de recomeçar de onde pararam anos atrás.

Talvez esse romance finalmente se consolidasse! Seus olhos encontraram os dele e nesse instante Taylor sentiu como se uma onda puxasse de volta para o mar, a verdade era que a loira até podia tentar arrancar Cole de sua mente, contudo não importava o quanto se esforçasse, ele sempre voltava como a onda que a arrastava de volta para o mar de seu destino. Não havia mais dúvidas, a piloto podia correr, fugir e negar, porém deu encontro naquela noite com o garoto das selvas estava escrito nas estrelas.

— Taylor? — indagou Daniel ainda ajoelhado.

Pela primeira vez ao olhar para o tenente, ela esbanjava alegria.

— Eu sinto muito Daniel, mas não posso continuar com isso. Não sou quem você precisa…

Daniel se levantou com os olhos arregalados.

— Como assim?

— A minha resposta é não! Você é incrível Daniel e eu queria te amar como você merece, mas não posso então, espero do fundo do meu coração que seja feliz. Guarde esse anel para quem realmente o queira!

Obrigada pelo jantar, mas preciso ir. — Afirmou enquanto suas mãos tiravam o colar de diamantes.

A maioria das garotas podia não concordar, mas quando os dedos de Taylor tocaram o pescoço nu, ela percebeu que se sentia muito melhor.

As mãos de Cole suaram embaixo das luvas que as cobriam. Taylor não havia aceitado o pedido, não queria se casar. Será possível? Alguns minutos atrás ele viu os belos olhos da águia veloz brilharem quando encontraram os seus. Quem sabe o amor de sua vida não sentia o mesmo e havia desistido de tudo para dar a chance ao que os dois não conseguiram viver no passado. O coração palpitava ao imaginar a possibilidade de ter Taylor em seus braços.

Este mesmo coração o dizia que ir atrás do ex colega era seu destino. Acostumado a escutar seus instintos, o leão vermelho correu para fora do restaurante tentando ser discreto, porém não o bastante para evitar um par de olhos rancorosos.

Os cabelos loiros da ex - ranger amarela se esvoaçavam pela noite estrelada enquanto seus pés reclamavam de dor. Maldito salto alto, sem pensar duas vezes a piloto tirou aquelas armas mortais e as jogou para longe. Seus pés a agradeceram. Mas mesmo agora com os pés livres, ela os controlou para que não andassem tão rápido… tudo na esperança de ouvir uma voz chamar seu nome.

— Taylor!

Não controlando o sorriso ela se virou e lá estava aquele por quem havia esperado durante todos esses anos.

Dando graças a Deus por já estar descalça e poder correr, acelerou até que estivesse a centímetro do ex - líder que também exibia o sorriso mais lindo do mundo. Sem acreditar que aquilo era real, a águia amarela explorou seu rosto com seus dedos, sentiu os fios da recém descoberta barba que o deixava ainda mais atraente.

— Eu tive que vir atrás de você!

—- Eu sei, ainda bem! — Foi tudo que disse antes de fazer o que deveria ter feito a muito tempo. Em um misto de alegria e adrenalina, a piloto juntou seus lábios aos do garoto das selvas em um beijo apaixonado.

O calor da fogueira acendida por Cole se misturava ao vento trazido pelas ondas do gelado mar da noite gerando um misto de temperaturas indescritível, porém não se comparava ao arrepio que os dedos do leão vermelho colados aos seus a causavam. Era tão surreal que depois de ano, eles estivessem ali, aproveitando o mar enquanto seus corpos desfrutavam do calor. Na verdade, olhando para o elemento, ela não pode deixar de pensar que Cole era o fogo de sua vida. Antes de ele voltar tudo era atormentado pelo frio, mas agora que ele estava ali ela se sentia aquecida e não queria nunca mais voltar ao que era antes.

— No que está pensando? — Cole indagou.

— Em quanto tempo nós demoramos para estar aqui. — Sua voz saiu reflexiva e serena ao mesmo tempo.

Se aproximando para acariciar os fios de ouro que nunca saíram de sua mente, Cole admitiu.

— Nem me fale, eu sempre quis te dizer como eu me sentia.Taylor você foi a minha perdição desde o primeiro instante.

A fala fez a garota dar uma risada tão leve como não fazia a anos.

— Jura? Desde o primeiro instante? Eu te dei um soco no soco no estômago. —Recordou sentindo as bochechas corarem de vergonha.

— E foi um soco muito bem dado, mas quando esses seus lindos olhos me encararam com aquela ferocidade, eu soube que meu coração estava domado.

—Admito que eu peguei muito pesado com você. Eu fui uma ogra. Não literalmente, sabe?. — Taylor soltou o segundo trocadilho da noite que só os dois entenderiam.

— Você sempre teve garra , sempre lutou pelo que acreditava e principalmente sempre esteve certa do que queria e batalhava por isso. Você nunca hesitou. Eu já te disse isso, mas te digo um milhão de vezes se quiser. Eu te admiro muito Taylor.

Enquanto Daniel às vezes a mandava controlar seu temperamento, Cole a respeitava e amava por quem ela era, mais uma vez um sorriso genuíno formou nos lábios de Taylor ao perceber o quão certa havia sido sua decisão.

— Ah você está dizendo isso só para fazer eu me sentir melhor, sabe, eu sempre fui amiga amiga tão distante, não só para você, mas para todos os outros também… — Lamentou.

— O que? Você pode falar o que quiser de si mesma mesmo que seja uma amiga ruim. Taylor, quando eu estava triste, pensando nos meus pais, você foi a única que se preocupou em se aproximar e tentar me alegrar de algum jeito. Quando eu perdi minha memória e estava confuso, você foi quem me deu certeza e forças para me lembrar de quem eu era, ao mesmo tempo em que tentou me proteger. Naquele mesmo dia quando me vi devastado por aquela maldita manchete de jornal você foi a única que me deu esperança.

— Uma pena que não foi real…

— Ei, pode não ter sido real, mas foi o que eu precisava naquele momento. Você era o que eu precisava naquele momento.

— As vezes eu penso o que teria acontecido se eu tivesse escutado a Alyssa e tivesse te deixado lá. Será que teria se casado com aquela fazendeira oferecida?

— Ela me ajudou quando eu estava vulnerável e foi muito gentil.

— Ah, por favor, você estava sem memória, não cego, não vai me dizer que não reparou o jeito que ela ficou insinuando para você naquele celeiro,com aquela risada irritante que dizia: Ah Cole Você poderia ficar aqui para sempre, eu ia adorar.” — Imitou

Foi a vez de Cole começar a rir.

— O que foi?

— Nada é que você fica ainda mais linda quando está com ciúmes… – Provocou.

Outra vez sentindo suas bochechas corarem, Taylor retrucou:

— O que? Você acha que eu senti ciúmes? Daquela fazendeira sem sal? Por favor.

— Foi o que pareceu.

— Impressão sua.

— Tudo bem, mas mesmo que você tenha tido, foi totalmente desnecessário porque mesmo desmemoriado eu só tinha olhos para você.

— Mesmo?

— Claro, logo depois que aquele ogro tirou minha memória, a Alyssa tentou se aproximar, mas eu estava confuso e então sai correndo. Mas naquela fazenda, quando eu te vi, algo despertou dentro de mim eu senti que te conhecia, que podia confiar plenamente, mas acima de tudo, mesmo sem me lembrar, eu sabia que te amava.

Não haviam dúvidas quanto aos sentimentos do garoto das selvas, porém Taylor Em forma de provocação e curiosidade, colocou o cabelo para trás antes de indagar:

— Você me amava?

— Não, eu não te amava Taylor, eu te amo. E sempre vou te amar, eu achei que a segurança em pessoa já tivesse percebido isso.

— Eu só queria te ouvir falar, porque a verdade é que… Eu também te amo Cole, com todo meu coração! Nossa é tão bom finalmente dizer estas palavras.

— Ah, eu aposto que você as disse para o seu namorado —Provocou Cole querendo entrar entender mais a fundo qual a profundidade do antigo relacionamento da amada.

— Ex namorado. — corrigiu — Claro que não, você me conhece melhor do que ninguém. Devia saber que eu não sou esse tipo de pessoa.. Ele já me disse algumas vezes, mas eu sempre fiquei sem reação porque não parecia certo. Quer dizer, ele não era nem nunca foi a pessoa certa para mim.

— É mesmo? E quem seria?

— Um tal garoto criado nas selvas que às vezes é irritante…

— Ele parece um cara legal. — brincou o ex- ranger vermelho.

— É ele é sim o mais legal que eu já conheci, mas vai perder feio uma corrida até o mar.

— Ah é? Você acha que eu vou perder?

— Acho não, eu tenho certeza.

Em meio às provocações, o casal começou o caminho até o mar. Os pés de Taylor correm o mais rápido que conseguiram, mas não foi suficiente para superarem a velocidade dos de Cole.

— Aha, eu ganhei. Agora como compensação por ter ferido minha hora, eu exijo uma reparação! — Começou Cole tentando fingir um tom sério.

— É mesmo? E o que você quer?

— Sua reparação pode ser paga na forma de um milhão de beijos.

— Sendo assim, acho que quero quitá-la agora! — Afirmou Taylor entrando na brincadeira enquanto juntava mais uma vez seus lábios nos do amado. Sentir o beijo de Cole era uma experiência totalmente diferente de quando sentia o de Daniel, quando o ex namorado beijava, ela precisava forçar a si mesma aproveitar e dizer que tudo estava certo, porém com o leão vermelho, a loira não precisava mentir para si mesma, até porque aproveitar seus lábios no dela era mais do que natural.

— Na verdade, acho que encontrei outro jeito de pagar.

— Ah é? Como?

— Assim.

Afirmou antes de jogar um pouco de água para cima, arruinando o smoking do amado.

— Ah, se é assim eu decreto que sua dívida está aumentando. — Cole entrou na brincadeira.

— Você não seria capaz. — Foi o que Taylor conseguiu dizer antes de ter seu vestido molhado.

— Agora é guerra. Antes de sair correndo em meio a risadas.

— Volta aqui.

Por alguns segundos o tempo pareceu parar enquanto eles corriam por aquele mar no meio da noite como duas crianças. Assim que a piloto se sentia quando estava com Cole, como se sua infância tivesse voltado, no melhor sentido possível,se sentia leve, feliz e livre para fazer o que bem desejasse sem nenhuma pressão. Era tão bom saber que a vida podia ser assim, cheia de alegrias e não um misto de obrigações sem fim.

Depois de um tempo,devido ao frio em seus corpos,o casal voltou para perto da fogueira, onde olhou para as estrelas deitadas lado a lado.

— Será que a princesa Shayla consegue nos observar? — Indagou a águia amarela realmente curiosa.

— Talvez ,eu não sei,você sente muita falta dele do Animarium não é?

— A princesa foi como uma mãe para mim e o Animarium o meu lar.

— Eu sei, sinto o mesmo. Quem sabe algum dia não possamos voltar para lá?

— Seria incrível , não acha?

— Ia ser legal, mas eu não me importo de ficar aqui, ainda mais agora…

— Por quê ainda mais agora? — Indagou a loira se fazendo de desentendida.

— Porque eu reencontrei você.

A garota se virou de lado e acariciou a barba que em poucas horas havia aprendido a apreciar tanto.

— Sabe Taylor, o Animarium é sim maravilhoso nossos poderes também, mas eu sinto que quando nós dois estamos juntos, não há nada maior, você é minha força, muito mais do que qualquer zord leão ou moto especial, apesar de que elas eram mesmo bem legais.

A observação fez a garota rir.

— É, tem razão, agora que você está aqui comigo, minha vida está completa de novo. Não sinto mais como se alguma parte estivesse faltando.

— Digo o mesmo. Esses anos foram os mais difíceis da minha vida. Eu posso ter me formado na faculdade de veterinária, mas segurar o diploma em cima daquele palco não teve tanta graça porque você não estava na plateia para me aplaudir.

— A Força aérea também . Não vi mais sentido em voar, sendo que a única direção para qual eu queria ir era para a que me levasse até você.

Cole beijou os dedos de Taylor com ternura ainda sem acreditar que ela estava ali na sua frente lhe dizendo tudo que sempre quis ouvir sair de sua boca, se aquilo fosse um sonho não queria acordar nunca mais,contudo para sua alegria, era bem real.

— Promete que nunca mais vamos nos separar?

— Claro que prometo, mas também vou fazer melhor do que isso.

— É mesmo?

Exibindo um sorriso um sorriso malicioso, a tenente o puxou para si enquanto em meio aos beijos, fazia algo que queria desde quando o viu naquele restaurante mais cedo, se livrar daquele maldito vestido.