As nuvens passavam diante dos olhos de Taylor enquanto suas mãos, como sempre rígidas, se agarravam ao controle daquele helicóptero que ela estava testando para a força aérea. Desde pequena a garota de cabelos loiros e temperamento forte sempre gostou de estar no ar, até mesmo morou em uma ilha flutuante por algum tempo enquanto cumpria sua árdua missão de ser a ranger amarela, mas isso fazia parte de seu passado.

Claro que às vezes enquanto se sentava no helicóptero sentia falta de sua amiga zord águia veloz, das risadas que teve com a equipe, de enfrentar alguns ogros, mas principalmente ela sentia falta de uma certa pessoa que costumava usar uma faixa vermelha sob a testa. a piloto sempre achou fofo a paixão de Cole por se manter conectado a suas origens, mesmo que sua vida tivesse mudado por completo. Foi a primeira coisa na qual ela prestou atenção, bom nisso e nas hipnotizantes pérolas azul que o garoto das selvas possuía no lugar dos olhos.

A última vez que viu o ex guardião do zord leão vermelho, por quem seu coração batia mais forte desde o primeiro instante estava cravada em sua memória:

Todos já haviam se despedido em um abraço coletivo emocionante puxado por Alyssa, e quando ela notou para o seu desespero só ela e Cole estavam ainda ali. O ex-ranger vermelho colocou as mãos no bolso parecendo nervoso e durante alguns instante evitou olhar para a companheira de batalha nos olhos, o que ela não sabia se era um bom ou mal sinal.

— É garoto das selvas, no fim você deu conta do recado.

Cole soltou uma risada enquanto se aproximava de maneira tímida.

— É e eu fiz isso sem seguir nenhum regulamento — Provocou se aproximando ainda mais o que fez Taylor sentir os pelos se seu braço arrepiarem.

— Ah não, de novo isso, você é muito irritante, sabia. — A piloto resmungou cruzando os braços enquanto repassava em sua memória a maneira gentil e corajosa com que Cole havia recuperado seu corpo do ogro câmera.

— É, você me falou isso algumas vezes, mas eu já até tomei como um elogio.

— Convencido.

— Mas mesmo sendo implicante, eu vou sentir sua falta! — Admitiu , pegando a ex -ranger amarela de surpresa.

— Não acredito que vou dizer isso, mas eu também vou sentir a sua, sabe? Nós formamos uma boa dupla.

— Com certeza!

Evitando dar o primeiro passo. Taylor encarava o chão tentando disfarçar a bomba que havia se instalado em seu peito naquele instante, essa ficou perigosamente perto de explodir quando Cole ficou centímetros.

— Eu, sei que não devia, mas fiz um presente para você.

— Ah não….

— Fecha os olhos.

— O que? Como eu vou saber que não é uma pegadinha? — Indagou mesmo sabendo que confiaria sua vida ao garoto das selvas se fosse preciso.

— Tudo bem… Cedeu.

— Estica o braço. — Pediu Cole

Taylor obedeceu e alguns segundos depois sentiu aquele toque mágico em seu pulso, como era possível que suas pernas estivessem tremendo mais do que gelatina?

— Pode abrir!

Taylor abriu um sorriso involuntário ao ver uma bela pulseira com pingentes vermelhos e pretos amarrados no pulso que havia se arrepiado apenas alguns instantes atrás.

— Nossa, Cole é linda!

— É uma tradição no meu povo você dar uma pulseira de presente para alguém que você admira muito e Taylor eu te admirei desde a nossa primeira batalha juntos.

Enquanto as palavras chegavam a seu ouvido a ex-ranger amarela sentiu lágrimas se formarem, em seus olhos, mas ela não podia se mostrar emocional, não naquele instante.

— Eu adorei e a admiração é recíproca, vou guardar com muito carinho essa pulseira da amizade! — Exclamou para se arrepender alguns segundos depois, claro que não era uma pulseira da amizade embora ela não quisesse admitir nem para si mesma.

— Ah, por favor Taylor, você sabe que entre a gente… — pigarreou visivelmente nervoso enquanto mexia os dedos da mesma maneira que sempre fazia quando estava ansioso — O que eu quero dizer é que na verdade a tradição do meu povo é dar essa pulseira para alguém que…

Cole quebrou a curta distância que ainda havia entre eles fazendo a bomba no peito de Taylor chegar ao limite. Contudo antes que ele pudesse tocar seus lábios no da guardiã da águia amarela. Uma doce voz familiar os trouxe à realidade.

— Ainda estão aí? vamos todos os outros estão esperando para irem buscar as coisas no no Animarium! — Explicou a princesa Shayla antes de com as bochechas vermelhas perguntar — Me desculpem, eu interrompi alguma coisa?

Foi a vez de Taylor e Cole sentirem suas bochechas arderem.

— Não, imagina, só estávamos conversando — se apressou em explicar Taylor tentando acreditar nas próprias palavras.

— E, só estávamos nos despedindo como amigos… completou Cole.

— Ótimo! Então vamos porque o Max do que tem um bolo na geladeira e quer comê-lo antes do Danny. A voz de princesa Shayla soou doce ao contrário daquele momento.

Depois da festa de despedida todos seguiram caminhos diferentes, mas ela não conseguia deixar de se perguntar o que teria acontecido, se Cole tivesse terminado, a frase será que ao invés de uma pulseira ele a teria presenteado com uma aliança alguns anos depois, será que ele ainda pensava nela?

— Águia amarela, aqui é o comandante, relatório - A voz grossa soou rápido arrancando Taylor de suas memórias.

— Aqui é a águia amarela, capitão, na escuta.

— Águia amarela, qual a situação?

— Os controles do helicóptero são potentes e não tive problemas com o motor então vou dizer que ele está aprovado.

— Excelente, prepare-se para o retorno!

— Entendido capitão, águia amarela retornando! — Afirmou enquanto cruzava as nuvens brancas do céu em direção à base.

O pouso havia sido suave e ocorrido sem problemas, assim que desceu do helicóptero Taylor retirou o capacete revelando seu rabo de cavalo amassado.

A sua frente estava o capitão Grayson com seu bigode grosso e feição séria.

— Águia amarela se apresentando, senhor! — A loira o saudou

— Excelente trabalho águia amarela! Dispensada.

Taylor bateu outra continência antes de caminhar de maneira automática até o refeitório do quartel onde um par de olhos castanhos, nem de longe tão brilhantes quanto os de Cole, a esperava.

— Você chegou! — Exclamou Daniel com um sorriso no rosto.

— Pois é, me desculpa a demora, o helicóptero demorou para chegar então a decolagem atrasou e…

— Imagina, não tem problema, vem senta eu peguei espaguete pra você! — Ele apontou para os dois pratos em cima da mesa.

— Você sempre tão atencioso.

— Imagina, só o melhor para a minha águia amarela!

Taylor forçou um sorriso antes de colocar a primeira garfada na boca. Sua relação com Daniel havia começado por conveniência. O namorado da ex ranger amarela havia chegado em Turtle city transferido de San Diego, ele era um especialista nos novos tipos de modelos tanto de aviões quanto de helicópteros que a força aérea estava começando a usar, por isso a pedido do comandante deu aulas específicas sobre isso para todos os os esquadrões de pilotos. Quando o viu pela primeira vez, Taylor até o achou bonitinho, talvez porque na época ele usava seu cabelo de um jeito parecido com o de Cole. O primeiro convite para um encontro veio depois das duas primeiras semanas de aula. Taylor respondia todas as perguntas com precisão e sua paixão pelos aviões e determinação atraíram a atenção de Daniel, que não demorou muito a perceber que a loira tinha algo especial e chama -la para um passeio ao museu de aeronaves de Turtle city.

A princípio, Taylor não aceitou, por mais que a inteligência de Daniel fosse impressionante e sua aparência física a atraísse, ela nunca tinha realmente gostado de ninguém depois de Cole, pelo menos não da mesma maneira. Antes do garoto das selvas entrar na sua vida, a piloto não sabia o que realmente era amar alguém, o que era sentir seus joelhos bambos toda vez que vê certa pessoa se aproximava, ao querer consolá-la de todo jeito por não aguentar vê-la tão triste. Cole a havia feito experimentar todas essas sensações da melhor maneira possível. Ela tentou, tentou muito encontrar alguém que a fizesse se lembrar como é estar apaixonada, porém não obteve sucesso, afinal toda vez que tinha um encontro, sua mente teimava em lembrá-la de que aquilo não era nada perto do que ela poderia ter vivido com Cole.

Entretanto, depois de mais de três tentativas por parte do professor , ela acabou cedendo . Daniel sabia conversar, tinha conversas interessantes e ao contrário de Cole era sofisticado e compartilhava de sua paixão por estar nos ares, porém nada disso era o suficiente, pois a muito tempo Taylor havia descoberto que não queria alguém que fosse igual a ela, mas alguém que fosse capaz de tirar seu melhor e balançar seu mundo e isso só o ex-ranger vermelho era capaz de fazer.

Durante seu primeiro beijo com Daniel, ela não pode evitar imaginar como seria se aquela boca que tocava seus lábios pertencesse a outra pessoa. Era uma tortura, uma tortura com a qual ela havia aprendido a conviver durante esses meses , afinal Daniel era um cara ótimo, e ela não podia ficar presa a fantasias do passado, porque era isso que Cole era uma ilusão, representava o passado, no presente ela era uma piloto renomada precisava de alguém ao lado que compartilhasse seus sonhos compreendesse. Todos os dias ela afirmava tudo isso para si mesma na esperança de começar a acreditar…

- Você está bem?- Indagou Daniel percebendo o quanto os pensamentos da namorada estavam longe.

— Eu? Estou sim Claro, tudo maravilhoso, só estou cansada. Mentiu lutando para manter a voz firme.

Daniel deu um suspiro antes de estender suas mãos em direção as de Taylor, aqueles dedos grossos já haviam tocado os da ex-ranger amarela milhões de vezes e não a haviam feito arrepiar em nenhuma sequer.

— Eu imagino, você trabalha demais porque não vai para casa?

— E se precisarem de mim? —Indagou.

— Eu dou um jeito nisso.

Dessa vez o sorriso no rosto de Taylor foi espontâneo.

— Já falei que você é maravilhoso?

— Hoje não!- Zombou fazendo Taylor se sentir ainda pior.

— Eu já vou indo então. Eu te ligo mais tarde! — Sua voz saiu fraca.

Os pés da ranger amarela se recusaram a obedecê-la enquanto suas mãos trêmulas suavam com a possibilidade de Daniel descobrir que nunca será seu verdadeiro e único amor. Obviamente ela nunca havia nem sequer mencionado o nome de Cole, no início do namoro e até os dias atuais, ela dizia que tinha dificuldades em se aproximar, mas atribui isso sempre a sua criação e não ao ex ranger vermelho. Seu passado ranger era um mito entre o esquadrão águia.

Quando Taylor voltou alguns desconfiaram de sua importante missão, visto que haviam escutado certos boatos, porém sempre negava, afinal o Animarium não podia ser conhecido por pessoas comuns, seria um desastre. Era difícil não poder desabafar com ninguém sobre seus verdadeiros sentimentos, dizer quanto tentava sentir por Daniel o mesmo que havia sentido por Cole chorar falando sobre suas noites em claro pensando no que o garoto das selvas estaria fazendo naquele instante. Porém a única pessoa com quem podia contar para superar o passado era ela mesma, mas às vezes tinha medo de que não fosse o suficiente.

Com as pernas já um pouco mais firmes, caminhou até a sala de descanso no quartel, onde seu armário fechado encarava como se estivesse perguntando o que ela estava fazendo da vida. Seus colegas não sabiam, mas além de suas roupas de treino, aquele armário também guardava algo valioso.

De maneira automática, a ex -ranger amarela o abriu com os dedos frios e pegou a única lembrança que possuía de seu glorioso passado. Uma foto tirada no dia em que a equipe celebrou a derrota dos ogros, todos usavam chapéus de festa, naquele instante por mais que tentasse comemorar, Taylor sentiu seu coração apertado ao pensar que nunca mais veria Cole, como se escutasse seus pensamentos o garoto das Selvas se aproximou.

— Ora se não é a pessoa que começou tudo isso! — Exclamou de maneira sincera a fazendo corar..

— Ah! Que isso. Eu não teria chegado nem perto de conseguir se não fosse por vocês, principalmente você Cole.

Ele arregalou os olhos.

— Como é?

— Eu não queria admitir, mas você fez um ótimo trabalhado nos liderando até a derrota do mestre ogro.

— Bom, eu aprendi com a melhor.

Taylor abriu um sorriso espontâneo, como ela sentia saudades disso.

— Eu proponho um brinde ao nosso sucesso e ao que nós dois aprendemos um com o outro! - Cole esticou o copo de refrigerante em suas mãos.

— Saúde! Respondeu Taylor imitando o gesto.

Se dependesse da loira, essas lembranças poderiam entregá-la por horas, mas o som de aproximando a trouxeram de volta ao presente.

Não dava tempo de esconder a foto, em um ato de desespero ela se enfiou no banheiro fechando a porta.

— Você não sabe o que aconteceu ontem! — Começou Gina, uma das companheiras de esquadrão de Taylor com a voz de quem estava prestes a contar uma fofoca.

— O que? — Respondeu Edgar, outro piloto.

— Eu fui visitar minha prima que começou um trabalho novo na loja de joias e sabe quem eu encontrei enquanto estava lá? O tenente Daniel. — Sussurrou como se estivesse cometendo um crime.

Vendo que o nome de seu namorado estava na conversa Taylor esticou os ouvidos.

— Mentira!

— É verdade! Ele não me viu, ainda bem, depois eu perguntei a garota que o atendeu e ele estava procurando alianças. Acho que ele pretende pedir a tenente Taylor em casamento!

A ex ranger amarela sentiu seu estômago embrulhar com a informação.