Os pés pequenos mexian sem jeito, um sobre o outro enquanto estava ali sentado. Os fios escuros cobriam um pouco o rosto enquanto ele olhava para o chão, como se algo ali fosse interessante. Esperava ansioso pela chegada dele, mas e se ele não viesse? Já estava acostumado a promessas desfeitas. Suspirou, mas não saiu dali, via outras crianças correrem animadas, ou brincando entre si, mas não se moveu um centímetro que fosse daquele banco.

Fechou os olhos e lembrou de quando o viu pela primeira vez, não confiava nele, mas o jeito como sorria e a forma carinhosa que falava o fez perder o medo, fazendo um meio sorriso brotar nos lábios pequenos. Afastou um pouco os fios castanhos dos olhos, fixando o olhar naquela sala, era tão diferente estar ali agora, já não lhe parecia tão monstruoso.

Quando chegou ali, foi muito complicado, tinha acabado de perder a mãe, a única pessoa que tinha, e como não tinha mais ninguém, foi deixado ali, era arredio, calado, mas de temperamento forte, ficava bem afastado dos outros e explodia facilmente, não era fácil lidar com ele. O orfanato era grande demais em comparação a sua casa. Havia um banheiro grande com alguns chuveiros, um dormitório, um refeitório e uma área onde podiam brincar. Não era um local com muitos recursos e precisava sempre de ajuda e alguns voluntários sempre ajudavam.

Entre eles havia um que em especial sempre lhe dava atenção. Ele era professor de natação, não que ali tivesse piscina, mas ele os levava para uma piscina não muito longe dali, duas vezes na semana, as crianças adoravam estar na água. E com ele não era diferente,mas o que mais o fazia esperar era o jeito que o professor lhe tratava, ele o havia ajudado a perder o medo da água. Mas ele estava demorando muito,ele sempre chegava um pouco depois do café da manhã.

— Ele não vem hoje Ikuya, a tia Gou disse que ele não vem. O que tá pensando? Ele não vem seu idiota!

Ikuya que estava sentado o olhava frio. Seu olhar, porém, fervia, ele apertava as mãos a fim de evitar explodir. - E já que sabe tanto, ele não vem por que? - A pergunta saiu antes que pudesse pensar, enfrentava o outro apenas com o olhar. - Você não sabe de nada!

Enquanto respondia aquilo, uma das auxiliares do orfanato se aproximou dele. Estavam na área das brincadeiras, havia ali um parquinho, com um balanço, uma casinha de bonecas, muitos brinquedos espalhados, os quais as crianças eram orientadas a guardar em um armário quando a brincadeira acabava. Para Ikuya nada lhe chamava a atenção. A mulher que tinha se aproximado dele sentou no banco e falou branda.

— Vem comigo Ikuya, o diretor quer falar com você!

O menino a olhou desconfiado, não tinha feito nada para ser chamado. Mas assentiu e levantou do banco, lançou a mulher um olhar significativo e os dois seguiram para fora daquela sala. Se perguntava o que tinha feito para falar com o diretor, mas logo saberia.

A porta da sala abriu e um tanto receoso o pequeno entrou olhando tudo. Tinha ido ali apenas uma vez, era uma sala climatizada, com um sofá verde Musgo, persianas fechadas na janela, uma estante com livros e alguns objetos referentes ao orfanato, a mesa do diretor tinha o tampo de vidro e duas poltronas a frente, um computador e alguns papéis. O menino olhou para a mulher que o levou ali e dela para o homem que tinha uma pasta na mão.

— Diretor Mikoshiba, aqui está o menino! - Falou tranquila, olhando para o homem que levantou o olhar para os dois.

Ikuyia o encarou por um tempo, aquele homem era um pouco estranho, ele tinha os cabelos alaranjados, lembrava um pouco o fogo, era alto e tinha uma expressão um pouco difícil de decifrar, no primeiro momento parecia com raiva, as sobrancelhas franzidas e o cenho cerrado, o que fez o menino se encolher um pouco, mas logo depois de dar uma boa olhada no pequeno, pareceu preocupado, antes de abrir um sorriso gentil. - Senta Ikuyia, vamos conversar um pouco! - O diretor falou gentil. - Sente ele aí nessa cadeira Srta. Amakata.

O menino não gostou muito daquilo, afastou-se um pouco e respondeu emburrado. - Não sou bebê, eu sei sentar sozinho! - Tinha o rosto virado para o lado, e o cenho franzido.

O diretor pareceu espantado com a resposta do pequeno. Ele era bem genioso, será que teriam paciência com ele? Esperava que sim. - Claro, claro, sente então! - Falou observando o jeito arredio que ele mostrava ter.

Ikuya sentiu-se na poltrona, olhava para o lado, não encarava exatamente o diretor. Estava um pouco ansioso, voltando a mexer os pés que estavam pendurados, respirou fundo e ergueu o rosto em silêncio esperando o homem falar. Seus orbes castanhos, mostravam-se um pouco opacos, mostrando que o menino não tinha ideia do que tinha ido fazer naquela sala. O senhor Mikoshiba levantou apoiando as mãos na mesa, a fim de olhar melhor para o garoto. Pigarreou limpando a garganta, começando a falar.

— Ikuya, você veio para cá há dois anos, nós te recebemos e cuidamos, mas nossa missão é encaminhar vocês, crianças, a um novo lar, com pais que vão amar e cuidar, dando a vocês uma nova família. - Começou explicando num tom um tanto solene, o menino o olhava calado, não expressava qualquer reação, o que incomodava um pouco o ruivo. Ele expirou o ar devagar continuando a falar. - Então, um casal queria um filho e eles gostaram de você! Isso Significa que você está sendo adotado, sabe o que significa Ikuya? - A pergunta ficou no ar, O que fez com que ele mesmo respondesse, quem ouvisse a conversa imaginava que fosse um monólogo do senhor Mikoshiba, já que o menino estava no mais completo silêncio.

A medida que o diretor falava Ikuya sentia seu coração diminuir no peito, como assim adotado? Claro que ele sabia o que significava aquela palavra, e sabia que muitos ali queriam aquilo, ter pais e mães para amar e cuidar deles, mas ele não, ele só queria estar junto do seu professor, só confiava nele, somente nele. Seus orbes acompanhavam as mãos do diretor que começava a se mover com mais frequência.

— Entendeu Ikuya? - Perguntou vendo o menino apenas lhe encarar sério. - Bem, acontece que existe algo diferente no casal que te adotou, mas com certeza eles vão te amar muito. - Disse mostrando-se um pouco receoso de falar. - Bem, você foi adotado por um casal de homens, sabe, eles moram juntos e o mais importante, eles se amam e vão cuidar de você!

O menino o olhava sério, parecia que sua respiração estava presa, “dois homens” ele disse, e isso deixou o pequeno com a pulga atrás da orelha. Ele abaixou um pouco o rosto pensando, procurava ele mesmo uma resposta. Mas parecia não encontrar, ouviu a voz do diretor um tanto aflita se dirigir a si.

— Algum problema Ikuya? Disse algo que não entendeu? Quer perguntar alguma coisa?! - Mikoshiba perguntou observando o desconforto do menino, agora sim estava preocupado, primeiro que o casal não estava ali ainda, e que o menino não parecia estar gostando. Antes que pudesse falar mais alguma coisa, ouviu uma batida na porta e a Srta. Amakata logo a abriu.

— Eles chegaram, posso mandar entrar? - Ela falou com um sorriso gentil nos lábios.
A pergunta fez acordar o pequeno Ikuya que se virou para a mulher, querendo ver algo. E seus olhos se arregalaram quando viu um homem de fios escuros entrar na sala, ele tinha orbes azuis e um jeito sério de olhar, um tanto assustador, o que fez o menino se encolher um pouco, escondo o rosto nas vistas da poltrona, deixando apenas os olhos a vista. “É, esse não tinha, então talvez o outro tivesse,” mexia no próprio queixo como quem tem dúvida de algo.

— Ikuiya, esse é Sosuke Yamazaki, ele e seu companheiro estão te adotando, eles vão ser seus pais agora. Não é mesmo senhor Yamazaki?! - A pergunta era a deixa para que o homem ali falasse algo. Talvez isso ajudasse o menino a se soltar ou entender melhor a situação.

Sosuke era policial, tinha um jeito que parecia arrogante e frio, mas no fundo ele conseguia ser uma pessoa carinhosa, protetora, amorosa. Amava seu companheiro, e sabia o quanto aquilo era importante para ele. Lembrava dele desde a escola, Tashibana era amigo de todos, sempre muito gentil, procurava compreender todos ao seu redor, embora ele tivesse uma queda, adeus ver, pelo melhor amigo, acabou conseguindo conquistar aquele coração. E desde que eles decidiram morar juntos, que conversavam sobre “ter uma família”.

Makoto Tachibana era assim, família, cuidava dos irmãos, da mãe e dos amigos, e agora alimentava o sonho de poder adotar uma criança e criar com seu companheiro. Sosuke foi se convencendo com o tempo, de tanto o ouvir falar, passou a imaginar como seria uma criança morando com eles, eles têm nua até dado entrada nos papéis, tinham feito um cadastro, se colocado na fila, mas até então nada tinha se resolvido, Makoto havia até se acalmado mais, ele tinha sempre esperança de quem um dia o telefone fosse tocar e a assistente social os chamasse para falar de uma criança. Mas não foi o que ocorreu, e até então esperavam. Estava perdido nesses pensamentos quando ouviu seu nome, e olhou na direção que escutará.

— Senhor Yamasaki?! - O diretor o chamou novamente. - Estava dizendo que o senhor e seu companheiro vão adorar o Ikuya, não é?!

Sosuke olhou para o menino ali sentado, ele tinha um olhar intenso. Parecia um homenzinho. Então era ele, aquele garoto havia conquistado o coração do seu Makoto. Sim, desde que o vira que seu companheiro não falava em outra coisa, apenas Ikuya era o assunto principal das conversas, “como ele era inteligente, como aprendia rápido, como nadava bem.” fez um barulho com a boca e deu um discreto sorriso de canto. - Sim, é verdade sim, nós estamos te adotando.

O menino se manteve calado todo tempo, apenas observava o homem como se estudasse seu comportamento. Cada expressão ou comportamento. Seu olhar ia do diretor Mikoshiba para Sosuke. Mas se eram os dois, onde estava o outro? Por que só tinha um ali? Bufou e sentou na cadeira de novo, pensou em perguntar, mas antes que o fizesse, a porta se abriu e Makoto entrou na sala, Ikuya virou-se de olhos arregalados ao ver seu professor ali, ele o tinha esperado tanto.

Makoto por sua vez mostrava-se bem surpreso, quando chegou ao orfanato, procurou pelo menino, tinha prometido sair com ele, afinal, era seu aniversário é queria muito que Ikyua almofadas comigo e conhecesse Sosuke. Mas lhe informaram que o menino estava na sala do diretor e que disseram que ele tinha sido adotado, e o coração do Tashibana disparou, não podia ser, não ele não, ele era seu filho, não podiam levar ele, correu até a sala de Mikoshiba para tentar impedir aquilo, e qual não foi sua surpresa ao ver seu companheiro ali. Queria falar, mas nada saia.

— Makoto, se sente bem? - O diretor perguntou, mas os olhos do outro estavam sobre o policial.

— O - O que faz aqui Sou? E.. Sim, estou bem! Mas o que está havendo aqui?! - Perguntou sem sair da porta. Esperava uma resposta, esperava entender o que era aquilo Tudo.

Ikuya estava calado, olhou do professor para o outro homem ali, o tal Sousuke, eles se conheciam? Por que eu estava tão irritantemente confuso?! Primeiro ia ser adotado por dois homens, e agora seu professor entrava ali correndo como um louco, será que ele tinha bebido? Esperava que alguém dissesse algo.

Sousuke então se moveu e foi até Makoto que estava parado a porta da sala do diretor. - Makoto, então... Eu estou aqui por quê os papais da adoção saíram, a assistente ligou, e eu conversei com ela para não te dizer nada logo, queria que fosse uma surpresa. Você conseguiu amor, o menino agora é nosso filho, Ikuya agora vai poder ir pra casa conosco!

Os verdes de Makoto não podiam se arregalam mais, e ele abaixou a cabeça chorando, chorando de felicidade. - Finalmente, finalmente! - Disse tendo agora Sosuke abraçado a si e escondeu o rosto em seu peito.

Ikuya pareceu então entender tudo, seu professor era casado com aquele outro cara lá, e eles o estavam adotando, era Isis mesmo? Mas se era então? Mordeu o lábio inferior, procurava dentro de si uma resposta, uma explicação para algo que o estava perturbando.

Makoto saiu dos braços de Sosuke, agora ele precisava ver os documentos e assinar uns papéis, mas antes ele foi até o menino e com um sorriso - Então, quer ir morar comigo Ikuya? Huh? Vamos almoçar juntos e vamos nos divertir. - Ele falou é assanhou um pouco os fios dele. Fazendo o pequeno franzir ainda mais o cenho. E logo depois, mesmo sem resposta do menino, ele foi assinar os papéis.

Compenetrados no que faziam, nenhum deles prestava atenção ao menino que agora estava com a não no queixo. Que ia ser adotado entendia, que era seu professor que seria seu pai, entendia, mas havia algo que não entendia, e estava dispositivo a perguntar.

Papéis assinados, a pasta na mão do Sosuke, agora só faltava levar o menino com eles. Makoto o chamou. - Vamos Ikuya, vamos para casa! - Ele chamou mais o menino não se moveu do lugar, seus orbes castanhos olhavam para os dois homens e então finalmente deu voz sua pergunta.

— Qual dos dois é a mãe?!

Sosuke arregalou os olhos e Makoto tínhamos rosto corado. Mikoshiba coçou a cabeça e por fim, todos três acabaram rindo daquilo, é eles teriam muito que explicar ainda. Mas agora o Makoto estava feliz, ele tinha ganhado o melhor presente de todos no seu aniversário, e nada nunca poderia superar tal coisa.


***FIM***

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.