“Loving can heal
Loving can mend your soul”

—Chuck?- Sarah chamou ao entrar na sala. A resposta foi apenas um resmungo sonolento vindo do quarto. Ela tinha certeza que meio dia não era hora para Chuck ainda estar dormindo, principalmente pelo fato de ontem ele ter chegado e ido imediatamente para a cama.

Sarah caminhou até a porta do quarto de Chuck e hesitou um pouco antes de abrir a porta. Fazia uma semana e meia desde que eles jantaram com Morgan e depois daquela noite se tornou rotina jantarem juntos na quinta-feira; às vezes, ocasionalmente, eles se beijavam quando eles saiam juntos, ou até mesmo em casa assistindo algum filme, Chuck ficava um pouco tenso sempre nos começos dos beijos e acabava por tentar fazê-los o mais casto possível.

Quando abriu a porta a primeira coisa e pôde perceber foi o corpo de Chuck sobre a cama. Ele estava com a mesma roupa que chegou na noite anterior e parcialmente coberto com um lençol.

—Chuck?- ela sentou-se na cama, ao lado dele e pôs a mão em sua testa, Chuck estava queimando de febre, e o que ela achou ser resmungos na verdade eram tossidas. Ver ele em uma situação tão vulnerável a fez perceber o quanto tudo aquilo afetava ele.

O toque dela em seu rosto o fez despertar.

—Sarah?- a voz dele estava rouca e nasalada.

—Oi, estou aqui. Vou pegar um remédio para você, ok? Você consegue trocar de roupa?- ele assentiu com a cabeça. - já volto.

Ela voltou instante depois trazendo remédios para a febre e gripe. Chuck permanecia no mesmo lugar. Ela o ajudou a se sentar e tomar os medicamentos e quando terminou de beber a água já estava dormindo novamente. Sarah aproveitou enquanto ele dormia para fazer uma canja.

Ele apareceu por volta das seis da noite, enquanto ela estava assistindo televisão. Antes mesmo de se virar para ter a certeza de que ele estava na sala ela pôde sentir o cheiro amadeirado dele juntamente com o calor em suas costas.

Chuck estava de pijama, com o cabelo úmido e se servia de uma tigela de canja.

—Hey, como está?

—Minha garganta e minha cabeça estão doendo - ele senta ao lado dela com uma careta no rosto- e o corpo também. Obrigada.

—Você é bem vindo. -Ela se inclina para beijar-lo, mas ele se esquiva. – O que há de errado?

— Você pode ficar gripada também. – Chuck pisca para ela. – está muito boa a canja.

Eles passaram um pouco mais de tempo assistindo TV até que Chuck quase cochilou no sofá.

—Bem, acho que já está tarde... –ele olhou no relógio- são oito horas. Eu já... –ele fez uma careta novamente quando se levantou –vou dormir.

— Está com muita dor? Acho que posso resolver isso. Vou lhe fazer uma massagem.

Sarah o levou para o quaro dela e pediu para que tirasse a camisa enquanto procurava algo no armário, o corpo de Chuck tremia de frio.

Ela encontrou o que procurava e voltou para a cama onde Chuck estava deitado de bruços e tossia violentamente. Sarah passou o Vick vaporub nas mãos e começou a massagear o pescoço, o toque gelado o fez encolher, mas Sarah continuou fazendo movimentos circulares, passando das vértebras cervicais para as torácicas e das torácicas para as lombares. Ela estava sentada sobre as pernas de Chuck e mesmo ele não olhando para ela a proximidade era tão grande que o calor do corpo dele a estava aquecendo seu rosto. Enquanto passava as mãos em suas costas ela sentia os músculos tensos sob suas palmas. Ele estava emagrecendo sutilmente, ela percebia isso desde o dia na praia, ou melhor, desde o dia que voltara para esta mesma casa com a intenção de matar Chuck e... Agora eles estavam na mesma posição, apenas com os papéis invertidos.

—Sarah? –Chuck a fez acordar dos seus pensamentos e a fez perceber que estava com as mãos paradas sobre o pescoço dele, de uma forma quase assustadora. – tudo bem?

— Desculpe. Eu, eu... Desculpe-me. – ela se levantou e sentou ao lado da cabeça dele. – Desde aquele dia, sabe?O primeiro dia que te vi. Eu estou tentando esquecer algumas coisas, tipo naquela primeira noite em que estivemos juntos e você me massageou, lembra?- ele assentiu- eu estava com uma faca em baixo do travesseiro. Eu podia ter te matado Chuck.

—O importante é que estamos bem, e vivos. Não importa o que vem antes. –ele sentou na cama abraçando ela de lado, de uma forma em que apenas a cabeça dela ficasse em seu ombro.

—Me desculpe Chuck, mas parece que não conseguirei ser a Sarah de antes. Gosto muito de você Chuck, e me sinto mal por tudo o que houve com a gente.

Havia um caroço em sua garganta que a estava sufocando, ela soltou uma respiração que nem percebia estar segurando e lágrimas pingaram em suas bochechas, antes que percebesse, estava soluçando nos braços quentes de Chuck enquanto ele afagava seus cabelos. Ela queria que ele brigasse com ela, que falasse o quanto ela era uma pessoa má, ela queria ser condenada, talvez isso tornasse as coisas mais fáceis... mas tudo o que ela esperava não viria, por que ele é Chuck, ela pensou e chorou mais ainda. Quanto mais ela pensava sobre as ultimas semanas, mais ela chorava. Ela odiava chorar, principalmente com alguém assistindo, mas quando era com ele, ela se sentia segura de certa forma, chorar não era como uma vergonha ou uma fraqueza.

—Ei, vai ficar tudo bem. –ele sussurrou em seu cabelo- vai ficar tudo bem...

Ele estava doente e mesmo assim era ela que estava sendo cuidada. Seus olhos já cansados de chorar estavam quase se fechando de sono, estava tarde, ela sabia, mas ela não queria se despedir de Chuck. Não hoje.

—Chuck?Você pode ficar aqui essa noite?- ela perguntou em seu peito. Ele parou de mexer no cabelo dela. Respirou fundo.

—Tem certeza?- Chuck recomeçou a acariciar novamente. Ela assentiu. –Não quero que você faça isso só por que está triste. Quero que você realmente queira.

Ela se afastou e olhou nos olhos de castanhos de Chuck, ele parecia um pouco temeroso e ao mesmo tempo ansioso para o passo que iriam dar. -Tenho certeza, Chuck. Eu quero muito isso.

Ela sorriu e ele devolveu-lhe um sorriso melancólico; aqueles que se dão quando o coração está se implodindo em um milhão de pedacinhos, ou quando é uma manhã bem fria e ao dar o primeiro gole de café quente o corpo arrepia.

Ele suspirou e levantou para apagar as luzes da casa, quando voltou Sarah já estava deitada do lado dela da cama. Chuck deitou ao seu lado e ela instantaneamente, como coreógrafos que ensaiam por muito tempo, o abraçou e moveu seus pés para junto dos dele. Depois de muito tempo ela quebrou o silencio: - Antes de tudo isso acontecer, a gente tinha noites como essas?- ela pensou que ele já estava dormindo e já ia fechar os olhos quando ele respondeu.

- Não muitas, a gente costumava conversar bastante. Sobre tudo. Você no começo era muito fechada em relação a isso, e eu sempre fui muito conversador, nós meio que nos equilibramos. A gente falava como foi o nosso dia, fazia palavras- cruzadas... Estar com você, até mesmo em silêncio me faz bem, sabe?

—Isso me faz bem também.

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Chuck acordou tendo uma crise horrível de tosse. Enquanto tentava se controlar, percebeu que não estava só na cama. O corpo de Sarah estava enroscado no seu como se fizessem parte de um único ser. Ela o estava segurando pela camisa, mesmo que amasse acordar dessa maneira ele teve que se levantar para ir ao banheiro. Ele voltou e deitou-se na cama, ela já estava acordada.

— Como está?- ela perguntou.

— Só um pouco mal. E você, como foi a noite?

—Ótima. Você teve febre durante a noite, seu corpo ficou muito quente. –Ela sentiu o rosto queimar ao declarar isso. ”Pare com isso, você é uma adulta”, mas com ele, ela podia jurar que era uma adolescente, em um romance de escola, ele a fazia sentir borboletas no estômago só de estar no mesmo ambiente, imagina dormindo juntos, na mesma cama, abraçados. O rosto de Chuck começou a corar também e ele estava balbuciando desculpas, mesmo ela sabendo que não havia culpa alguma por parte dele em ter febre. O cabelo dele estava desalinhado de uma forma tão convidativa que ela não resistiu a passar a mão.

—Chuck?- ele olhou para ela, seus olhos inchados de tanto chorar na noite anterior- podemos recomeçar?Desde o começo?

—Podemos recomeçar quantas vezes você quiser, é uma promessa.

Ela se inclinou para beijá-lo mas Chuck virou o rosto no ultimo momento e Sarah beijou a bochecha dele.

— O que...

—Ainda estou gripado. – ele sorriu da confusão dela.

—Mas...

—Mas... Nada. Eu disse não... Mulher.

Sarah ficou apoiada nos cotovelos e olhou para Chuck, sério mesmo que ela acabou de ouvir isso? Chuck lhe disse um não? Ela estava totalmente perplexa. No rosto de Chuck dava para ver que ele também estava surpreso com o que tinha acabado de dizer.

—Me desculpe, eu... - ele começou sem jeito.

Antes que ele terminasse a frase, Sarah segurou seus braços (o que foi uma tarefa muito simples visto o quanto ele estava magro somado o seu estado atual de saúde) e o imobilizou na cama, Chuck tentava inutilmente se desvencilhar, mas depois de um tempo percebeu que estava fadado ao fracasso e relaxou. Sarah agora estava em cima dele, sentada em sobre suas pernas e prendia suas mãos ao lado do seu corpo.

— O que dizia Chuck?

—Sarah, sinto muito, mas é só por alguns dias. Não quero que você fique doente ou coisa do tipo e...

Sarah fechou o espaço que separava seus lábios, e o beijou. Chuck tentou ser consciente e resistir, mas a razão não foi ouvida e ele se rendeu. O corpo febril de Chuck fazia com que ela quisesse ficar ali para sempre, os dedos longos dele estavam repousados sobre sua face e sua boca a beijava com delicadeza como se ela fosse um sonho e pudesse evaporar a qualquer momento. Por fim os movimentos foram se tornando mais suaves e eles tiveram de parar para poder respirar.

- Você é perigosa. – ele disse maliciosamente para ela. Ela sorriu e piscou para ele. – bem, hum... Você poderia se levantar? Vou fazer o café.

Ela percebeu que ainda estava em cima de Chuck e levantou-se.

— Pode deixar que eu o farei, Chuck. Vou falar que está doente para Morgan, descanse mais um pouco.

Sarah saiu do quarto deixando-o, sorrindo feito uma criança na manhã de Natal, em cima da cama.