No dia seguinte eles fizeram um teste de gravidez. A tensão desde ontem chegava a ser palpável.

Depois de ele ter confirmado que ela poderia estar grávida a única coisa que disse para ele foi: “Boa noite Chuck” e saiu deixando Chuck confuso. Ele passou o resto da noite em claro, pensando em como a vida deles será a partir de amanhã, e se ela estiver realmente grávida? E se for o caso, e se ela não quiser ter o bebê? A noite foi resumida em vários “E se...”s, já estava amanhecendo quando ele percebeu o quanto estava cansado e sonolento. Ele levantou-se e começou suas atividades matinais: escovar os dentes, tomar banho, preparar o café. Estava fazendo esta última quando Sarah entrou na cozinha.

—Bom dia. –Chuck disse. Ela tentou dar um sorriso, mas o máximo que conseguiu foi fazer uma careta. –Como foi a noite?

—Não consegui dormir. – agora que olhava diretamente para ele, Chuck percebeu o quanto os seus olhos estavam vermelhos e com olheiras.

—Está tudo bem?- ela não respondeu. - Sarah... Eu...

—Pare! Ok?! Eu estou muito cansada agora e não quero discutir com você, tive uma noite horrível, posso estar grávida e não lembro nem de algum dia querer ter um filho! Nem me lembro do nosso casamento!- ela parecia tristee estava falando mais baixo agora- Então, Chuck, por favor, não venha me perguntar se estou bem.

—Desculpe.

—Pare de pedir desculpas também, não é culpa sua eu ter perdido as memórias. – ela parou por um momento e sorriu- Mas você terá metade da culpa se eu estiver grávida.

—Metade? Eu devo ter no máximo 25%. - Eles riram, corando um pouco. - Você quer fazer o teste agora, ou quando eu chegar do trabalho, ou... prefere fazer sozinha? – Chuck disse ficando sério. Ele terminou de preparar o café e sentou na cadeira de frente para ela.

—Pode ser agora pela manhã.

Agora sentado ali na borda da banheira, esperando alguns minutos para ver o resultado, Chuck percebe o quão diferente eles estão agora em relação há alguns meses atrás em que estavam nessa mesma posição. Olhando para o rosto de Sarah ele tenta decifrá-la como conseguia fazer, mas agora, há momentos em que ela é como a Sarah de cinco anos atrás: totalmente livre de qualquer coisa que denuncie o que sente. Ela se levanta e pega o teste que estava na pia. Ela olha.

—Negativo. – Sarah diz quase que mecanicamente, sem nenhuma emoção visível. Os olhos de Chuck estão quase saltando das órbitas. – Chuck, qual é o nível de certeza desses testes?

—Eu- Ele percebe que esteve prendendo a respiração e expira. - eu não sei, por quê?

—Bem eu não estou certa de que ele está certo, sei que parece loucura de minha parte, mas eu realmente estou me sentindo grávida. – Ele levanta e a abraça- Estou parecendo louca, pensando assim?

—Claro que não, querida. Mas quero que saiba que estarei sempre aqui para você, não importa o que aconteça, está bem?

—Ok.

Chuck deu um rápido beijo em sua testa e se despediu para ir para o trabalho.

—Cara, você está horrível. O que houve? – Morgan perguntou quando ele chegou ao trabalho. Eles agora trabalhavam em uma empresa de softwares e firewalls que era basicamente onde foi o antigo ‘Orange Orange’, a parte do castelo estava agora ocupada por uma turma de quinze nerds e centenas de computadores ligados. A sala principal tinha uma mesa redonda, bem estilo Senhor dos anéis e no canto estava o fliperama do Pac-man; onde havia o antigo arsenal, agora estavam as ferramentas principais para a manutenção do hardware além de cabos e HDs externos reservas, onde eram as selas antigas agora eram salas individuais, cada uma decorada de acordo com o gosto de cada um. A de Morgan, por exemplo, era no estilo de Star Wars, ele até tinha uma lixeira com a forma de R2D2! A de Chuck era quase uma sala normal, mas se prestasse bastante atenção perceberia que fazia várias referências ao filme Tron, se as luzes estivessem apagadas as bordas da mesa, das cadeiras e dos quadros ficavam fluorescentes, afora isso era uma sala comum. Morgan estava seguindo-o desde que chegou, Chuck pegou o notebook e sentou em sua cadeira. Morgan sentou-se em um sofá pequeno que tinha no fim do cômodo.

—Eu não consegui dormir essa noite. - Chuck relatou o ocorrido para Morgan.

—Cara, e como ela está, digo, com tudo isso...

—Bem, creio que ela quer que eu ache que está tudo bem com ela, mas sei que a Sarah está bastante triste, e tem vezes que eu não sei o que fazer, pois ela não quer que eu faça coisa alguma. Ela tem tido pesadelos desde quando chegou e até hoje ela não me conta o que são para que eu tente ajudá-la.

—Já levou ela para sair desde quando voltaram? – Perguntou Morgan. - Sei que você disse que não quer pressionar ela de qualquer maneira, mas ir a um encontro não vai fazer mal nenhum para os dois.

—Não sei Morgan...

—Chuck, vocês vão chegar, pedir a comida, comer e voltar para casa, se conversarem um pouco já será um bônus! Ela pode estar tensa dessa maneira, por que ainda não te conhece direito, imagine, você sabe tudo sobre ela, e o máximo que ela sabe sobre você é onde mora, sua rotina, e como gosta dos ovos fritos pela manhã.

— Obrigada, Morgan, vou falar com ela quando chegar em casa. Acho que pode ser bom, de qualquer maneira.

O resto do dia se passou tranquilamente, mas demorou, já que ele estava ansioso para chegar em casa.”Boa sorte” Morgan lhe desejou quando ele estava saindo.Chuck sabia que iria precisar essa noite.

Em casa, Chuck fez o convite que foi aceito instantaneamente. Chuck se arrumou rápido e ficou sentado no sofá assistindo o noticiário. Os seus olhos foram perdendo o foco bem devagar, depois ele os fechou ouvindo apenas as vozes dos jornalistas e o som do chuveiro no quarto. Mas o som das vozes e do chuveiro era demasiadamente hipnotizante e gente, que estofado macio esse sofá tinha! Tinha alguém chamando seu nome, mas estava tão longe; a voz foi ficando mais alta, parecia de alguém que ele conhecia, era como a voz de... Sarah!

—Chuck!

Ele abriu os olhos rapidamente e percebeu a mulher que o estava sacudindo de leve e chamando por seu nome. Sarah estava com um lindo vestido preto de alças e um leve decote, a maquiagem se resumia em tons suaves nos olhos e um batom vinho, o cabelo estava preso em um coque alto que dava a ela um ar de boneca Barbie. Ela estava linda. E ele estava ali, deitado no sofá, babando.

—Chuck? Você está ok? Se estiver muito cansado a gente pode ir outro dia...

—Não, eu só... Wow! Você está incrível! Deixa-me só me ajeitar um pouco, limpar... -Ele entrou no banheiro e saiu segundos depois, pronto novamente. –Me desculpe por isso, vamos nessa!

Chuck tinha reservado uma mesa próxima a uma enorme janela de vidro, do outro lado dava para ver a praia, a mesma praia em que eles estiveram semanas antes. Parecia ter passado tanto tempo... Ela estava divagando tanto que nem percebe que ele está olhando para ela e dizendo algo

—Chuck, desculpe. Pode repetir?

—Ah, só estava perguntando sobre como foi o seu dia.-Ele sorriu, como pode ser tão encantador?

—Eu fiz outro teste depois que você saiu. - O sorriso dele fraquejou um pouco “E então?” ele disse. – Deu negativo, de novo. Sabe, por um lado estou feliz, pois sei que o momento agora está bastante complicado entre nós dois e, o nosso relacionamento está confuso, um bebê agora iria deixar a situação ainda mais delicada, mas por outro lado, estou muito triste por não estar grávida, eu...eu acredito em tudo o que você me disse, e você prova que tudo é real com o nosso convívio, em algum lugar lá no fundo eu queria ter um filho seu.-Chuck permaneceu calado, olhando fixamente para ela.- Por favor, Chuck, não quero que fique algo estranho entre nós, pelo menos não em relação a isso.

—Não está estranho, pelo menos não para mim. Bem, já que hoje quase descobrimos que estávamos grávidos, acho que seria bom se nos conhecêssemos melhor. Pode perguntar o que quiser para mim.

Ela sorriu. –Tudo bem.

Ela começou com perguntas simples, como qual a co preferida dele, o sabor preferido de sorvete, ele queria congelar aquele momento, eles estavam tão confortáveis, por um segundo parecia que nada havia acontecido com eles, por um segundo eles eram só Chuck e Sarah, um casal normal em um jantar. Estava tão animado em estar conversando com ela, que só percebeu o quanto ela estava bebendo depois que a segunda garrafa de vinho estava pela metade, e ele só havia bebido uma taça.

—Sarah, vamos para casa? – Ele não queria soar preocupado, mas já era realmente tarde.

Ele pagou a conta e foram em silêncio para casa. Quando ele estacionou em casa percebeu o porquê ela estava tão quieta, ela estava dormindo.

—Sarah? Vamos, acorde. – Ele levantou e ajudou ela a sair do carro.

—Obrigada Chuck, acho que bebi um pouco demais, minha cabeça está estranha, pode me ajudar a chegar ao quarto?

Ele a pôs no colo, Sarah com os braços ao redor do pescoço de Chuck. Ele a deitou na cama e retirou os saltos dela, cogitou em ajudá-la a trocar de roupa, mas percebeu que ia parecer que ele estava se aproveitando da situação e decidiu deixá-la daquele jeito mesmo, a cobriu com um lençol e saiu.