Dr. Spencer Reid

— 36.560 pessoas morreram em acidentes de carro na estrada e 2.710.000 ficaram feridas, em 2019. Então, você poderia pelo menos estar próxima do limite de velocidade?! – ela dirigia a 200 km/h numa pista de 120 km/h e obviamente estava agarrado ao cinto de segurança.

— Você arrisca sua vida constantemente quando vai atrás de um psicopata e está com medo de um excesso de velocidade. Por favor?! -fala no tom mais irônico possível.

— Sim, mas eu sigo protocolos que evitam alguns riscos à minha vida, principalmente os desnecessários -falo nervoso- E não mude de assunto, estar a 200 km/h é loucura e você sabe disso!

— Ok! -se da por rendida e diminui para 160 km/h- Satisfeito? -fala rindo da minha cara de medo.

— Você consegue ser pior que o Derek – digo mais calmo e ainda segurando no meu cinto.

— Eu até tinha pensado em ir de moto!

— Como? – pergunto com os olhos arregalados – Nunca irei na minha vida andar de moto com você!

— Era brincadeira, Spence. Agora fiquei ofendida -ela fingi estar chateada e depois começa a rir.

Com certeza, Allison Prentiss não é uma pessoa difícil de perfilar. Ao mesmo tempo que temos gostos parecidos para filmes e livros, somos bem diferentes na forma de se vestir e agir, principalmente quando se trata de atividades radicais. Depois que Ally fica confortável com alguém, ela se torna muito extrovertida, sempre fazendo piadas sobre algo e muito simpática. Fora do local de trabalho, você certamente vai ver-lá usando uma jaqueta de couro ou coturno ou all star preto sujo, como ela mesmo diz: “Não confio em alguém que use all star preto com a ponta dele limpa, exceto você Spence”. As vezes me pergunto, se Emily não tivesse morrido, talvez nunca nos conheceríamos e mesmo que nossos caminhos se cruzassem, não teríamos interesse em trocar uma palavra.

A nossa primeira conversa foi alguns dias após o enterro de Emily, quando fui visitar o túmulo dela e Allison já estava lá.

4 meses atrás, cemitério nacional de Quantico.

— Vim só deixar essas flores -coloco elas em frente a lápide e vejo a Dra. Prentiss completamente arrasada, encarando a lápide da mãe. Ela me responde com um aceno, sem se dirigir diretamente a mim. Quando começo a me retirar do local, ela me chama.

— Dr. Reid? -me viro para ela- Como vocês se conheceram?

— Na BAU, na época Gideon havia saído, o que não foi fácil porque ele era como um pai para mim -dou uma pausa e volto a ficar do seu lado, também encaro a lápide – Sua mãe ocupou a vaga e não lidei muito bem com isso, na minha cabeça parecia que ela roubou o lugar dele. Eu sei, fui idiota -soltei um riso leve, uma lágrima escorre na minha bochecha quando lembro da primeira vez que vi Emily e consigo ver um sorriso mínimo da Dra. Allison- Eu realmente não gostava dela no começo, mas aos poucos ela foi se tornando uma grande amiga... Vou sentir muitas saudades -tento controlar as próximas lágrimas que viriam – E como vocês se conheceram? – ela se vira para mim e inclina a cabeça em sinal de interrogação.

— Desde quando você sabe?

— Diferente de JJ, Emily não possuía sinais de ter passado por uma gravidez, porém percebi o seu instinto maternal forte em casos envolvendo crianças ou comigo mesmo, já que sou o mais jovem na equipe. Isso não indica diretamente que ela tenha um filho adotado, mas a linguagem corporal e suas microexpressões tem uma leve alteração em casos nos quais as crianças vão para o sistema adotivo indicando que ou ela mesma era adotada, não era o caso, ou mãe de uma criança adotada – diferente das outras pessoas, ela não se irritou, mas riu.

— Você realmente é um gênio! -ela volta o seu olhar para o pedaço de concreto e sua expressão é de tristeza- Bom... Em um dos casos que ela trabalhou pela Interpol... Eu tinha 5 anos na época... Meu pai... -uma lágrima escorre no rosto dela.

— Você não precisa me contar -interrompo, pois aparentemente aquele assunto a machucava.

— Está tudo bem, quanto mais você falar sobre algo, mais fácil fica, certo? – ela sorri de lado.

Naquele dia, soube como mãe e filha se conheceram. Admito que demorei para digerir aquela informação, Ally filha de um serial killer... Ela não me contou muita coisa, somente do dia no qual a Prentiss encontrou-a. Por conta do envolvimento de Emily, as informações do caso são confidenciais, é uma lembrança ainda muito dolorosa para Ally. Pode ser errado, mas desejo que aquele desgraçado volte a ativa novamente para podermos prendê-lo de uma vez por todas e , assim, minha amiga ficaria totalmente segura. É claro que eu amo ela, somente como uma amiga, porque eu sei que ela me vê dessa forma. E para mim está tudo bem, eu só quero a felicidade dela. Não importa se for com outra pessoa...

— Ei, meu gênio favorito! No que você está pensando? Está tudo bem? -fala preocupada.

— Sim, nada de mais -dou um sorriso.

— Hummm. Ok, quando você quiser falar sobre isso, estou aqui... Sempre – Ally segura na minha mão e sinto aquela sensação estranha, novamente.

— Digo o mesmo -olho para ela e sorrio.

— Bom... Chegamos! – estaciona o carro em frente a um hotel.

Depois de algumas horas, terminamos de arrumar nossas malas em nossos respectivos quartos, em seguida, nos encontramos na recepção para irmos almoçar num restaurante, fizemos nossos pedidos e enquanto esperávamos Ally tomou uma taça de vinho e eu uma água, com certeza irei voltar dirigindo. Fazia algum tempo que estávamos aguardando por nossos pratos, conversávamos sobre coisas aleatórias e eu começo a reparar nela. As vezes não entendo como podemos nos dar tão bem, sendo completamente diferentes. Posso debater com ela sobre qualquer assunto durante horas, sem ouvir reclamações sobre eu ter ficado muito animado ou ter falado muito rápido ou ter achado o assunto inútil, porque ela também é assim. Não que eu me incomode com isso, mas ela realmente demonstra se interessar por nossas conversas, o que me deixa extremamente confortável ao seu lado. De alguma forma, ela me completa e faz eu me sentir bem e normal.

— O hidromel é uma bebida alcoólica cuja maior parcela dos seus açúcares fermentáveis são provenientes do mel, independentemente dos adjuntos usados na preparação do mosto. Por se tratar de uma bebida alcoólica fermentada, seus teores alcoólicos variam de acordo com as leveduras adotadas na produção. Produtores artesanais alcançam teores alcoólicos que beiram 20 %v/v -começo a explicar e ela complementa.

— Sim, e muito apreciada desde a antiguidade, passando pela Grécia Antiga, Roma Antiga, Leste europeu, francos, eslavos, anglo-saxões, celtas, saxões, viquingues etc. Um fato interessante, entre os vikings era tão apreciada que a própria Mitologia Nórdica explicava seu surgimento e sua preciosidade. Também era conhecido o consumo de uma bebida similar pelos maias... -ela para de falar quando nossos pratos chegam e o garçom entrega-lhe um bilhete.

Ally abre o pedaço de papel e o fica encarando por muito tempo... As suas microexpressões indicavam medo, pavor, raiva e ansiedade.

— Ally? – a chamo, mas parece não escutar- Allison? -toco no braço dela e me encara com os seus olhos avermelhados exalando medo - O que está escrito? É alguma ameaça? -pergunto preocupado.

— Nada... Não é nada... Tenho que ir ao banheiro -ela se levanta rapidamente, levando o papel junto com ela.

Não tive tempo de tentar a impedir, ir atrás dela também não adiantaria, pelo menos agora. Avisto o garçom que a entregou o papel e o abordo.

— Você leu? -pergunto sem paciência

— Eu-eu não – o encaro, estava mentindo – Ok... Eu li.

— O que estava escrito? – ele hesita em falar, mas depois diz qual era o conteúdo do bilhete.

Eu prometi que iria te encontrar, querida Rose”