O que a vida pode tirar de você

O retorno de Emily Prentiss


Narradora

Alguns dias após a explosão, Allison já estava recuperada e voltou a trabalhar, mesmo com ordens médicas que diziam para ela ficar em casa durante 15 dias, realmente os piores pacientes são os próprios médicos. Contudo, há algo de positivo nesse incidente, pois permitiu que Spencer apresentasse o caso de Ally para a UAC que investigou durante 2 semanas e descobriu o autor das mensagens: Ian Doyle. Todo esse trabalho seria poupado se o “garçom”, provavelmente capanga do mafioso, não tivesse fugido de Morgan no dia da homenagem a Dra. Prentiss.

Ao decorrer de 7 meses após a suposta morte de Emily Prentiss, a investigação sobre Ian Doyle havia avançado muito. Derek Morgan e Penélope Garcia dedicaram todo o seu tempo livre para encontrar o “assassino” de sua querida amiga, conseguiram pistas excelentes, até chegarem num beco sem saída... Por isso, decidiram compartilhar o trabalho deles com o resto da equipe e transforma-lo num caso oficial. Durante esse processo, obviamente, surgiu a tal pergunta de “1 milhão de dólares”: quem é Lauren Renyolds? Como a vida nunca é fácil, somente uma pessoa poderia responder esse questionamento e ela está “morta”. Hotch e JJ percebendo que era necessário revelar o segredo, decidiram trazer Emily de volta dos mortos.

Essa notícia foi chocante de diferentes formas para cada membro da equipe. Um misto de tristeza e felicidade dominou o grande coração de Derek, pois sua parceira não confiou nele o suficiente para compartilhar essa confissão, ele viu a vida deixando o corpo dela aos poucos, ficou ao seu lado nos seus aparentes últimos minutos. A raiva predominou em Spencer, apesar de ter ficado extremamente feliz ao vê-la, foi impossível não amargar com o fato dela ter permitido que o garoto sofresse por algo que não aconteceu, o mesmo sentimento se estendeu para JJ que viu o luto de Reid e fez parte dessa calúnia. O mais maduro, Rossi, sentiu como se um peso fosse tirado das suas costas e a loira de roupas coloridas estava soltando fogos de artifícios ao ver Em perfeitamente bem, Penélope estava ansiosa para contar todas as novidades sobre Sergio.

Após a breve reunião, voltaram ao trabalho e claro, mesmo com Emily, demorariam um pouco para localizar o criminoso, melhor dizendo, uma semana. Nesses 7 dias, Prentiss estava extremamente ansiosa e preocupada, pois queria rever a sua filha o mais rápido possível, mas nunca daria a chance de Doyle descobrir qual era a sua localização, passou 7 meses sem ver Allison, mais alguns dias não eram nada. Finalmente, havia chegado o momento em que foram colocadas algemas nos pulsos de Ian Doyle, escondido num apartamento alugado no Texas, nesse instante Emily se sentiu vitoriosa, poderia ter a sua vida de volta.

— Eu venci! Você vai passar o resto da sua vida na cadeia Ian e pode apostar que escolherei a melhor! – Prentiss diz com ódio para o homem algemado em sua frente que ri ironicamente.

— Ooh Emily... Acredite em mim quando eu digo... Você não tem a mínima noção do que está por vir – sorri maléfico a olhando no fundo dos seus olhos – Diga a Allison que mandei lembranças! – ela não pensa um segundo antes de agir e soca a mandíbula daquele maldito.

Com a prisão dele, as ameaças à pequena família Prentiss acabaram. No caminho de volta para Quantico, a morena decide conversar com o mais novo da equipe, ela tinha percebido o rancor que ele estava guardando.

— O que está lendo? – senta numa poltrona em frente ao gênio.

— Física quântica – responde objetivo não deixando espaço para continuar um diálogo, então ela tenta novamente.

— Amanhã a noite irei no Rossi, quero ver se ele realmente consegue cozinhar – a mulher solta uma risada fraca- Você também vai? – sorri amigavelmente.

— Não tenho certeza se conseguirei ir – volta a prestar atenção no seu livro. Decepcionada, Emily desencosta do seu acento e inclina seu corpo para se aproximar de Spencer, apoiando o braço na mesa entre os dois.

— Reid... – o mesmo volta a sua atenção para ela – Eu sei que você está amargurado com nós porque não contamos o que realmente aconteceu e... – faz uma pausa e olha nos olhos dele, o mesmo evita o contato visual- Eu entendo, mas eu prometo que não tivemos escolha... – fica em silêncio durante um tempo- Você sofreu a perda de uma amiga... Eu sofri a perda de seis e uma filha – solta um suspiro ao ver que o jovem doutor não reagiu positivamente ao seu pequeno discurso- Tudo isso me deu uma dor de cabeça, por favor não me dê outra... – solta o ar dos seus pulmões- Você vai no Rossi amanhã? – já estava desistindo de tentar convencê-lo.

— Nós vamos ver... -diz o garoto prodígio sem olhá-la.

Com mais algumas horas, o jatinho pousou na terra dos agentes. Hotch, assim que chegasse na UAC, iria preparar a papelada para a reintegração de Emily na agência, mas só iria permitir isso após 15 dias, afinal, ela precisa recuperar o tempo perdido com a filha e reorganizar a sua vida. Então a mãe não perdeu um segundo, assim que chegaram no prédio do FBI, pegou o seu carro e foi direto para o hospital, Penélope já a tinha informado que Allison estava de plantão hoje (não há necessidade em dizer como a hacker conseguiu tal informação). A mãe dirigi o mais rápido possível (mas claro, não é pior do que sua descendente), chegando ao local em poucos minutos, estaciona, desce do seu carro e encontra uma médica de cabelos curtos distraída saindo pela porta do prédio.

— Ally? – Emily fala alto para chamar a sua atenção e paralisa no mesmo segundo que ouve a voz de sua mãe, seu primeira pensamento foi de que estava enlouquecendo, não era realmente ela.

— Mãe? – Allison diz não acreditando no que está vendo e a mais velha vai se aproximando com as lágrimas já molhando as suas bochechas – MÃE! -fala mais alto como se precisasse confirmar para ela mesma que Emily Prentiss estava de volta, então corre até ela e a abraça.

— Eu disse que era temporário – diz a Prentiss mais velha chorando e afagando os cabelos da jovem.

— Eu senti a sua falta... – a médica fala com a voz embargada – Espera! Você pegou ele? – desfaz o abraço – Você está bem? -há certo pavor em suas palavras.

— Pegamos Doyle, ele que mandava as mensagens para você... Está segura agora, nós duas estamos -sorri para a sua filha, mas depois fica séria – Me desculpa por tudo isso... Se houvesse outra forma eu teria feito, mas er... – limpa o rosto molhado dela.

— O importante é que você está aqui agora! – Allison a interrompe e retribui o sorriso – Mas nem pense em fazer isso de novo, pelo amor de Deus! – fala um pouco exaltada e ambas riem.

No mesmo lugar onde houve desespero, tristeza, medo e dor, também teve reencontros, felicidade e alívio. Essa é a dupla personalidade de um hospital, um edifício que pode tirar as pessoas mais importante da sua vida ou trazê-las de volta.


Allison

— Henry! Acorde! – sentia o desespero tomando conta de mim - Por favor... Henry! – logo depois veio o medo- Você não pode me deixar agora! – a insegurança e as lágrimas já se faziam presentes - Nós vamos... Só aguente mais um pouco – a dor no peito que poderia fazer um coração parar de bater e seus pulmões esquecerem de respirar...

A forte luz que invade o meu quarto me faz despertar do meu sonho, na verdade pesadelo, Loki, que estava deitado junto comigo em minha cama, também não está nenhum pouco feliz em acordar essa hora e são exatamente... 6:30 da manhã? Oi? O mundo enlouqueceu? Espera... Minha mãe está de volta! Nós ficamos conversando até as 2h da manhã, contei sobre a minha amizade com Spencer, como eu me aproximei da família dela, a minha nova invenção, alguns problemas que tive com seus pais... Tudo o que aconteceu em minha vida durante esses 7 meses. Ela não quis ir para a casa dela, a qual eu mantive intacta antes de saber da sua falsa morte, então Em preferiu dormir aqui mesmo.

— Você viu que horas são? -pergunto um pouco irritada e sonolenta, Loki deita em cima de mim – Eu sei, ela é má em fazer isso com a gente – falo para a bola de pelos pretos enorme e o acaricio.

— Sim, hora de treinar! – vejo minha mãe pronta, segurando uma xícara – Capuccino? – ela me entrega.

— Eu realmente não senti falta disso – digo sentando e tomando a bebida quente.

— Ah, você sentiu sim! -diz rindo – Saímos em 20 min!

Depois dela ter corrido por 12 km, isso mesmo, pois só consegui correr 6 km, para minha sorte não teve luta hoje, segundo ela estava “fora de forma” e “queria voltar aos poucos”, não quero estar presente quando isso acontecer. Finalizado o exercício, voltamos para casa e tomamos um banho, Emily tinha alguns assuntos para resolver e eu iria tomar café da manhã com Spencer na Cafeteria Vintage.

— Como estão as coisas com a sua mãe? – ele pergunta quando nos sentamos em uma mesa.

— Ela me acordou as 6:30 da manhã para correr por 12 km... Então, está tudo bem – respondo objetiva, não queria conversar muito.

— Tem alguma coisa te incomodando? – ele sempre percebe.

— Pesadelos, nada de mais - Spence entende que não queria prolongar aquele tópico, depois o observo e vejo que a cara dele não é das melhores – O que está acontecendo com você? – há um tom de preocupação em minha voz e ele descontrai um pouco.

— Eu deveria te pedir desculpas por não ter te contado sobre sua mãe assim que eu soube, tinha que ter ligado ou mandado alguma mensagem sem que o resto da equipe não soubesse, porém se eu fizesse eu estaria desobedecendo ordens diretas do meu superior e... – ele nota que estava falando rápido demais, respira fundo e continua – Eu sinto muito, briguei com a JJ por ela ter feito a mesma coisa comigo... No final, não fui tão diferente com você – diz arrependido, eu sei, deveria falar para ele que eu soube disso a 4 meses atrás e se alguém deveria estar se desculpando, essa pessoa sou eu e em nenhum momento ele deveria sentir-se mal.

— Spence... – pego na sua mão e sorrio- Está tudo bem, você estava cumprindo ordens, não precisa se desculpar por estar fazendo o seu trabalho. Ok? Além do mais, eu estou pensando mais no fato de eu ter minha mãe de volta no que todo o resto... – eu não consegui falar toda a verdade. Além do mais, algumas coisas não precisam ser ditas e ninguém é 100% sincero, todos nós temos segredos, coisas que deixamos de dizer das mais banais até as mais complicadas por n motivos. A frase “ fulano é um livro aberto”, na verdade quer dizer “fulano é um mentiroso”... Não estou criando desculpas, mas é uma pequena mentira que fará mais bem do que mal.

— Obrigada Ally – ele sorri de volta para mim.

— Ei... Você pode me prometer uma coisa? – tenho a nítida impressão do meu olho ter ficado vermelho e ele pede para eu continuar – Você promete nunca me abandonar?! – uma lágrima escorre e ele rapidamente a limpa me olhando no fundo dos meus olhos.

— Allison, isso nunca passou pela minha cabeça, mas eu prometo -ele acaricia minha mão - E você me promete ser mais aberta comigo? Eu me importo com você, lembra daquele dia em Richmond?! – era uma pergunta retórica, mas eu acenei com a cabeça confirmando – Você disse que voltaria a falar comigo sobre seu passado, mas você nunca fez isso... – antes que eu pudesse contradizê-lo, ele continua- Não estou querendo te forçar a dizer algo para mim, mas também não quero te ver carregar todo o peso sozinha, você pode reparti-lo comigo -respondo com mais um aceno afirmativo e limpo algumas lágrimas que teimavam em cair.

— Você vai no Rossi hoje? – mudo de assunto.

— Sim