Nelson ainda não tinha ideia de como encararia Cris depois de tudo. Mesmo assim, apesar de só se conhecerem há poucos dias, parecia estranho não acordar ouvindo a voz do assistente. Ele me ligou nos últimos dias… e conseguiu me acalmar… ah droga… como vou encarar ele?

Embora fosse domingo, o nadador acordou no mesmo horário e fez o mesmo aquecimento matutino. Porém, dessa vez, ele levou o celular consigo, conferindo a tela de minuto em minuto. Não é como se eu estivesse esperando uma ligação dele, pensou. Se não tem trabalho, não tem por que ele ligar… Ainda que sejamos amigos, não é como se a gente fosse… Ele balançou a cabeça para ignorar a ideia e mexeu as pernas mais rápido.

Quando terminou, voltou para o dormitório masculino, tomou uma ducha e foi para o refeitório. Mas não conseguia se concentrar na comida; ficava olhando em volta, esperando encontrar o, agora bastante, familiar rosto que o ajudou tanto nos últimos dias.

— Bom dia, Nelson — chamou uma voz fofa e cheia de energia.

O nadador arregalou os olhos e prendeu o fôlego por um momento. Não importa se fosse desconfortável ou não para ele, Nelson queria ver Cris. Queria conversar com ele, se divertir com ele, trabalhar com ele, queria chegar ao topo com a ajuda de seu assistente. Depois do que pareceu ser uma eternidade, ele virou a cabeça na direção da voz.

Cris mostrava um sorriso alegre enquanto acenava para o nadador com uma mão e equilibrava a bandeja com café da manhã com a outra.

— B-b-bom dia —gaguejou o outro, acenando e sorrindo de forma desajeitada para seu assistente, o rosto vermelho.

Cris riu enquanto caminhava até a mesa. Ainda sorridente, ele sentou na frente de Nelson.

— Se continuar agindo assim, não tem como eu parar de rir das suas reações.

Nelson olhou para aquele rosto por um momento antes de um sorrisinho aparecer em seu rosto. Apesar de tudo, já é divertido só de ficar do lado dele, percebeu.

— Tem razão. Vou tentar. — Ele assentiu e voltou sua atenção para a comida.

Por mais quieto que estivesse, não era um silêncio constrangedor. Aliviado em saber que estava tudo bem entre eles, Nelson percebeu o quão faminto estava. Pensando bem, não como nada desde…

— Então, sobre ontem…

No instante em que Cris falou, tudo aconteceu de uma vez. O nadador ficou vermelho, engasgou, arregalou os olhos e derrubou seu copo, derramando leite por toda a mesa. O assistente nem tentou esconder o quanto aquilo o divertia, rindo de novo enquanto ajudava a secar o leite com guardanapos.

— Já falei que não precisa agir dessa forma. A menos que goste de me fazer rir assim. Nesse caso, valeu — disse, o sorriso aumentando.

Cris pegou outro guardanapo e foi limpar o resto de comida no queixo de Nelson. Isso fez o nadador ficar ainda mais vermelho, porém ele ficou quieto e desviou o olhar, deixando o assistente fazer como bem entendesse.

— E quando eu disse ontem, não falei de nosso momento de prazer no vestiário. A menos que queira experimentar minha boca de novo. Sendo assim, só me diga o local e horário.

Nelson engasgou com a comida de novo e olhou em volta para se certificar de que ninguém escutava. Isso só fez Cris rir mais. Eu não deveria baixar a guarda enquanto estou com ele, pensou o nadador, bebendo o que restava do leite para limpar a garganta.

— Que bom que está se divertindo. Pena que seja às minhas custas — disse com a voz rouca.

— Ah, qual é. Não é culpa minha — disse o outro, balançando a cabeça. — Você quem fica agindo como se eu tivesse feito algo que não se possa ser falado em público com você.

— E como você chamaria… aquilo. — Ele abaixou a voz na última palavra, as bochechas ficando quentes de novo.

— Eu só dei uma recompensa pra você. Pela sua recuperação e a nossa aposta. — Cris mostrou um grande sorriso que não deixava Nelson ficar bravo. Então mudou sua expressão, quase como se estivesse magoado. — Ou está dizendo que não gostou?

O nadador olhou para sua comida como se fosse a coisa mais interessante do mundo.

— Não é que… não gostei… — murmurou sem erguer os olhos. Mas, no segundo seguinte, ele olhou de esguelha para Cris.

O assistente tinha um sorriso alegre. Então ele cruzou os braços e assentiu.

— Claro, eu já sabia. Não tem como um cara dizer que não curtiu um dos meus boquet…

— Fala baixo! — sussurrou Nelson com uma voz apressada, tapando a boca de Cris e olhando em volta, desesperado.

Debaixo de suas mãos, Nelson sabia que o que dissera só fez o sorriso do assistente crescer. O nadador olhou em volta de novo para se certificar de que ninguém prestava atenção neles. Cris lambeu os dedos que cobriam sua boca.

O nadador arregalou os olhos e tirou a mão imediatamente, seu rosto um tom alarmante de vermelho.

— Dá pra parar de me deixar com vergonha? — pediu no mesmo sussurro.

— Sem chances — disse Cris com um sorriso genuíno. — É você quem deveria parar com essas reações hilárias. Mesmo assim, duvido que eu pararia com as provocações.

Nelson respirou fundo e abriu a boca para responder, porém desistiu no meio ao ser encarado por aquela expressão. Ele soltou um suspiro de derrota e balançou a cabeça.

— Tá. Vou tentar — disse com uma voz cansada. A manhã mal começou e já estou exausto, pensou, tentando se focar no resto do seu café da manhã.

— Mas você sabe que não é minha culpa, né? Você devia aprender a escutar até o fim antes de reagir de um jeito engraçado.

Nelson olhou para ele, descrente na falsa expressão de inocência no rosto do seu assistente.

— Eu ia dizer que, ontem, o pessoal do departamento médico decidiu aplicar mais coisa na sua recuperação.

Aquilo atiçou o interesse de Nelson. De repente, o Cris que se divertia provocando ele sumira, substituído por Cris, o assistente.

— O que é?

— Conhece o termo Scrum? — O nadador balançou a cabeça. — É tipo um sistema que otimiza um time. Para consegui o dobro com o mesmo tempo ou menos.

— Tá… e o que isso tem a ver comigo? — perguntou Nelson, o rosto mostrava que ele não entendia a relação.

— Vou explicar, calma. Ontem, criei um grupo com todo mundo do DM trabalhando contigo. Toda manhã, eles dirão o que planejam para você e vão informar aos outros como você reagiu ao tratamento do dia. Assim, podem fazer um plano mais interativo.

— Parece… interessante…

— Espero que seja. Não tenho ideia se fará diferença, mas precisamos fazer de tudo agora pra acelerar sua recuperação. Até um dia antes já fará toda a diferença.

Nelson ficou mudo enquanto olhava para aquele rosto.

O rosto feminino que pertencia a um garoto e poderia ser legal como um cara e fofo como uma menina. Aquele rosto podia mostrar um sorriso malicioso e ficar sério quando era para ajudar Nelson. Antes que soubesse, o coração dele bateu mais rápido. O nadador ignorou isso com um balançar de cabeça.

— Valeu… eu nunca pensei nesse tal de Scrum…

— É meu trabalho. Como seu assistente e amigo. — Cris mostrou um sorriso para ele. O genuíno e cheio de alegria.

Só como amigo e assistente…?

— O que você tem planejado pra hoje? — Cris mudou de assunto do nada.

Nelson pensou um pouco por um segundo.

— Nada demais. Não fiz quaisquer planos. Talvez uns exercícios e alongamento…

Cris ergueu um dedo e o levou até os lábios de Nelson. Então ele mostrou um sorriso malicioso.

— Que tal ir comigo à um local interessante e fazer algo divertido?

Nelson tomou cuidado com aquelas palavras. Mesmo assim, ele estava interessado. Não importa a situação, qualquer coisa ficava mais legal com Cris por perto.

Com o dedo do assistente ainda nos lábios dele, o nadador assentiu.