Capítulo único

"São nos pequenos infinitos na vida, que aprendemos o que é realmente viver..."

M.V.

O mundo parecia está inerte, não existia mais formas, rostos, vozes; apenas a vastidão azulada de energia que o cercava. Noção de tempo e espaço havia se desvairado.

Ele apenas corria para o infinito sem saber para onde iria, talvez chegasse ao seu destino, mas qual destino seria esse? Artemis não estava mais com ele, seus amigos o deixaram para trás. Wally estava sozinho correndo para frente sem rumo, mergulhado em lembranças de um passado que não o pertencia mais.

A sua mente divagava no rosto angelical de Ártemis, tentando lembrar qual era a cor do seu cabelo e até mesmo o formato de suas bochechas. Mas tudo era apenas borrões sem nexo algum, suas memórias não faziam mais sentido. Aos poucos esquecia dos momentos bons que viveu com Artemis, Dick.

Ele sentia saudades de suas conversas com Dick pela manhã na caverna, o cheiro de café que exalava da caneca jogada sobre a mesa, a risada descontraída de seu melhor amigo ecoando por todo local, do perfume amadeirado que o ex-robin insistia em usar para agradar Bárbara. Recordava de todas as vezes de como o cabelo de Dick ficava arrepiado, do corte desconexo que ele insistia em usar, mesmo que todos rejeitam o estilo capilar.

Eram boas lembranças. Lembranças essas que não o acompanhavam mais no infinito, a solidão tornou- se a única companheira naquele lugar estranho.

Wally apenas queria parar, voltar para perto do calor dos braços de sua mãe, ouvir os gritos de sua tia pela casa, ver seus primos correndo e crescendo. Ele desejava ter a oportunidade de ver o casamento de Barry e Iris. Barry fazia falta com o seu senso de humor ruim, as piadas infames na hora errada e sua mente brilhante trabalhando junto a ele.

Megan e Conner finalmente teriam reatado o romance? Ele via que ambos ainda se amavam verdadeiramente, apenas estavam tentando disfarçar o que sentia um pelo outro se enganando. Ele gostaria de ter assistido o desenrolar daquela história mal resolvida.

Queria ao menos ter abraçado o seu amigo Roy, o visto pela última vez.

Eram tantos arrependimentos que sentia, que mal cabia em seu peito. Deveria ter dito eu te amo mais vezes, passado mais tempo com sua família, vivido mais.

Para quem sempre vivia correndo, certas coisas pareciam despercebidas. O nascer do sol era um delas, nunca tiveram ao menos o apreço para assistir o laranja preencher o azul profundo, ver as estrelas apagando - se uma a uma diante dos seus olhos; sentir a brisa matutina bater contra o rosto trazendo o cheiro de grama molhada. Ou como era incrível ver a belíssima mulher que dormia ao seu lado acordar e dizer: Bom dia Wally.

Artemis era sua vida, tudo passou a fazer sentido com a sua chegada. Ela mostrou a ele que, nada mais era importante que as pessoas que o cercam, o ensinou o verdadeiro significado do que é amar. A felicidade havia batido em sua porta.

Os dias foram perfeitos ao lado dela, ele nem ao menos conseguia lembrar como era a vida sem sua preciosa arqueira. Queria ao menos ter cumprido a promessa de levá-la àquele jantar chique.

"Wally seu idiota!" Gritou com toda a força que seus pulmões podiam. "Pelos uma vez na vida pensasse nas consequências."

Wally havia perdido tudo na mesma velocidade que havia conquistado. Agora amarga com a perda, e o restava para além do vazio do infinito?

Talvez Jason o aguardava no final daquilo tudo, estaria impaciente pela sua demora.

"Para um homem que pode quebrar a barreira do som, você sempre chega atrasado!" A voz juvenil zombaria sem piedade.

Jason iria sorrir como todas às vezes que o via chegar ofegante, bater em seus ombros. Seria como nos velhos tempos.

Havia muito o percorrer até o seu destino final. Jason teria que esperar um pouco e desculpá-lo por demorar a vir.