O caminho de volta

As árvores guardam mais segredos que as pessoas


Capítulo 1 – As árvores guardam mais segredos que as pessoas

Não acredito que estou aqui novamente. Depois do fim do colegial, eu só voltei aqui uma vez, no funeral dos meus pais. Eu não gosto dessa cidade, ela é muito pacata e sem emoção. Então, você deve estar me perguntando por que eu estou aqui, bem, tudo começou há uma semana.

1 semana antes

–Sakura... – quem está me chamando? – Sakura!!

– Hmm... Só mais cinco minutos... – eu ouvi alguém bufar e outra pessoa sussurrar algo.

– Sakura... – era uma voz masculina familiar. – Você está atrasada para o trabalho. – MAS O QUÊ????

Pulei da cama e quando tentei sair correndo pro banheiro para me arrumar, senti uma fraqueza nas pernas e uma leve tontura. Se alguém não tivesse me segurado, eu teria caído de cara no chão.

– Mulher complicada... – ouvi quem me segurou dizendo e reconheci sua voz finalmente, era Sasuke, meu noivo. – Tenha mais cuidado!

Ele me ajudou a voltar para a cama, quando me deitei, olhei atrás de Sasuke e lá estava minha madrinha, Tsunade, com uma cara de poucos amigos, provavelmente devido à ressaca, a noite anterior, ela tinha me chamado para beber, acabei não indo por causa do trabalho.

–Tsunade-sama, o que você está fazendo aqui? – perguntei confusa, ela nunca aparecia, só quando estava bêbada.

–Me ligaram hoje de manhã do hospital, uma das melhores médicas do meu hospital tinha desmaiado em pleno hospital.

Então as coisas começaram a fazer sentido, eu estava andando pelo hospital, esperando o horário de cirurgia quando desmaiei de repente.

Ouvi a porta fechando e o barulho me fez acordar. Sasuke havia saído do quarto.

– Sinto muito, Tsunade-sama. Eu já estou melhor, então devia voltar para hospital e terminar as cirurgias de hoje...

– Não, Sakura. – ela disse. – Você vai entrar de férias agora. Seu desmaio foi por estresse, você precisa de um descanso mais longo.

– Mas eu tenho cirurgias marcadas... – tentei convence-la a não me deixar.

– Já remarquei suas cirurgias e as mais urgentes, eu mesma as farei. Então você não tem desculpa. – Ela sempre tem que pensar em tudo... – Eu já até escolhi um local pra você relaxar. – “Tudo menos aquele lugar, tudo menos aquele lugar...” comecei a recitar na minha cabeça. – Konoha.

– Por que Konoha? Não tem outro lugar? – comecei a perguntar em desespero.

– Porque sim, você precisa de férias e eu não conheço lugar mais tranquilo que lá. – ela disse pondo um ponto final na discussão.

E assim, minhas férias foram decididas sem minha opinião. Com Tsunade não existe a possibilidade de negociação.

Presente

E aqui estou. Em 1 mês, eu estaria de volta em cada e por mais que eu não seja fã de Konoha, era melhor que ficar em casa com Sasuke. A verdade é que nosso relacionamento está mal, estamos nos distanciando cada vez mais e cada vez ele está mais frio. Eu não sei se o amo ainda, noivamos há um ano e a partir do noivado as coisas começaram a ir de mal a pior. Ele passava cada vez mais tempo no escritório de advocacia, no começo, eu ficava o esperando até altas horas da noite, depois eu desisti e para amenizar minha solidão, comecei a dar plantões cada vez mais longos, até chegar a esse ponto.

Estava esperando Hinata vir me buscar na estação. Hinata era minha amiga desde que entrei no colegial, ela voltou para Konoha depois de ter terminado o ginásio no exterior, ela tinha pegado um sotaque engraçado, então todos riam dela, eu vivia protegendo-a deles. Hoje, aquela garota tímida havia crescido e se tornado uma professora do primário aqui em Konoha e estava noiva de um amigo de infância meu, Naruto. Eu ouvi que foi uma briga para que eles o aceitassem como noivo dela, ela era de uma família tradicional e rica e ele era apenas um órfão que trabalhava nas fazendo do velho pervertido (ou Sr. Jiraiya). Mas no final, conseguiram a bênção e estavam pra casar dali 7 meses.

De repente, meu celular começou a tocar, era Hinata.

– Alô, Hinata? – atendi.

– Sakura-chan? Que bom que atendeu! Eu preciso avisar a você que vou me atrasar se quiser vindo a pé não tem problema, acabei me esquecendo de que hoje era dia de visita dos pais e eu tenho que ficar aqui.

– Mmm... Eu vou andar um pouco pela cidade, então não me culpe se demorar, hein! – disse dando uma risadinha, Hinata era extremamente organizada com as coisas, porém quando esquecia algo, só lembrava na última hora.

– Haha, tudo bem. Só não chegue muito tarde, viu? – disse Hinata.

– Então tá, até mais tarde.

– Até. ela desligou.

Comecei a caminhar, se me lembrava corretamente o “centro” da cidade ficava a mais ou menos 40 minutos a pé da estação. Resolvi andar até lá, o que eu não esperava era que meus saltos começassem a doer no meio do caminho, o que não era normal para mim, estava acostumada a ficar horas andando de salto no hospital, mas aqui apenas 30 minutos e meus pés já doíam e estavam cheios de bolhas. Foi quando eu notei algo que eu não havia antes, mesmo que a mala fosse de rodinhas, eu ainda tive que fazer esforço e o terreno era irregular, o que fez a jornada mais desgastante para os meus pés.

Não havia nenhuma árvore na distância, o sol estava subindo e a temperatura não parava de aumentar. Eu tive que andar mais 10 minutos até achar uma árvore alta que eu reconheci na hora.

Era a árvore onde meu romance com Sasuke havia começado. Depois do funeral dos meus pais, eu fiquei desesperada e me sentia sozinha, fugi para cá de baixo de uma chuva forte e impiedosa onde Sasuke me encontrou...

Eu não queria descansar logo embaixo dessa árvore, mas eu não via outra no horizonte e meus sapatos me matavam. Então sentei ali mesmo, aproveitando a brisa e a sombra, acabei adormecendo e sonhando com aquele dia chuvoso que ocorreu quando eu tinha 19 anos.

7 anos atrás.

“Por quê? Por que eles tinham que morrer? Por que tinham que me deixar sozinha?” eu repetia as mesmas coisas várias e várias vezes na minha cabeça, sem chegar a uma conclusão. Eu havia encostado minha cabeça na árvore e não conseguia parar de chorar. Eu queria parar de me importar, parar de ligar... Eu queria simplesmente me desligar. Um carro parou atrás de mim.

– Sakura? – alguém me chamou, eu não me mexi, só estava esperando aquela pessoa ir embora.

Eu ouvi a porta se abrindo e alguns passos vindos em direção a mim. Quando ele chegou perto, a gotículas frias da chuva pararam, ele havia me coberto com um guarda-chuva. Eu me virei para ver quem era e me surpreendi com quem encontrei segurando o guarda-chuva, ninguém menos que Uchiha Sasuke.

–Você está toda molhada. Há quanto tempo está aqui? Vai acabar pegando um resfriado. – ele disse num tom tão gentil que eu não conseguia acreditar que era ele.

Tínhamos estudados juntos no colégio e eu sempre tive uma paixonite por ele, mas ele nunca me deu bola. Ele parecia só querer sair dali, o que ele fez logo depois que terminou o colegial, entrou na melhor faculdade do país. Todos se referiam a ele como uma pessoa arrogante e fria, mas ele estava sendo gentil comigo.

– Venha comigo, vamos sair dessa chuva. –sua mão quente encostou em meu ombro gelado. – Vamos, você está congelando.

Ele tentou me puxar pelo ombro, mas eu continuava com a cara virada para parede, eu não queria que ninguém me visse naquele estado patético.

Ficando sem paciência, ele me virou com força e gentileza, segurando meu rosto em suas mãos. Eu fiquei vermelha, nunca ninguém tinha chegado tão perto do meu rosto que nem ele chegou, ele encostou a testa na minha para checar a temperatura e constatou que eu estava em estado febril.

– Você já está doente... – sussurrou contra meu rosto.

E eu abri meus olhos, ele olhando fixamente para mim e eu também não conseguia desviar o olhar. Não sei quanto tempo perdemos naquele contato, mas pareceu uma eternidade até que ele resolveu quebra-lo e roçar os lábios gentilmente nos meus. Eu congelei naquele momento, percebendo isso, ele saiu de perto de mim, tirou o casaco e o colocou sobre meus ombros.

– Vamos. Senão eu também vou pegar um resfriado e a culpa vai ser sua.

E eu o segui.

FIM DO PRIMEIRO CAPÍTULO~~