E então é dia...
Mais uma vez me deparo com um prato de comida, envolvido numa folha de papel alumínio e ainda quente. Uma garrafa de água e um pão.
Hoje irei matar a fome.
Ah muito tempo toda minha família morreu numa explosão de um bujão de gás,
minha mãe, meu pai, meus dois irmãos, minha mulher e minha filha recém nascida, todos se foram.
Tudo aconteceu há cinco anos, desde então vivo sozinho e sem rumo.
Meu nome é Mac Taylor, e sou morador de rua.
E essa é a minha história. Vocês estão convidados a entrar num mundo onde a loucura e a sanidade andam lado a lado.

– Mac Taylor.

(...)

22 de dezembro de 2011...

Faltam dois dias para o tão esperado natal, eu sei que hoje é vinte e dois de dezembro por que vi por uma vitrine arvores e luzinhas piscando coloridas e brilhantes.
Não que isso vá mudar algo, ainda sou morador de rua, ainda me olham como se eu fosse lixo, ainda jogam garrafas em mim enquanto estou deitado nas calçadas, ainda pensam que eu sou um Nada.
Não quero que pensem que sou um coitado, nem que sou um vagabundo, eu cato lixo e consigo algum dinheiro, quase nada...
Mas, o que eu gostaria de falar é sobre o anjo da noite.
Ela me visita duas vezes por semana, geralmente na segunda e na quinta, ela nunca me deixou ver seu rosto, também deve ser por que eu finjo estar dormindo quando ela vem, tenho medo.
Mas ela sempre afaga meu rosto com sua mão macia e deixa a comida ao meu lado, ela age nas sombras me trazendo a luz.
Ela não ajuda só a mim, ela ajuda a todos que pode, ela vem das sombras e compartilha luz para todos. A chamamos de anjo da noite.
Hoje consegui um lugar mais legal pra dormir, em frente a uma loja, já arrumei uma trouxa e pus embaixo da cabeça, me enrolei com papelões e o frio atinge minha cabeça e meus pés. Não tem problema, hoje ela vem.
Meu palpite é que já é de madrugada por que não tem quase ninguém, estou de olhos semi-abertos, posso ver apenas sombras se mexendo, poucas sombras.
Quando estou quase pegando no sono ouço passos, os reconheço, é ela.
– Boa Noite meu bem... – ela diz baixinho e coloca embrulhos ao meu lado.
É agora! Abro os olhos lentamente e ela parece assustada, arregala os olhos e se afasta.
Ela é tão linda, olhos esverdeados apesar da escuridão, cabelos cacheados e corpo bem modelado. Ela é perfeita.

– Não se assuste! – digo me levantando.

– Não estou assustada, estou surpresa – ela fica de pé e me olha com os olhos ainda arregalados – eu pensei que você estava dormindo.

– Eu queria... – abaixo o olhar e continuo – eu queria agradecer – aponto pra comida e ela sorrir sem jeito.

– Não há de quê, espero que goste.

Dou um passo em sua direção e para minha surpresa ela não se afasta como os outros.

– Posso beijar sua mão? – pergunto.

Ela sorrir e me puxa pra um abraço. Nossa! Isso me surpreendeu tanto que fico sem reação. Ela cheira a hortelã e eu a lixo, mas mesmo assim ela continua com os braços em volta de mim. Nossa! Ela é mesmo um anjo.

– Obrigado. – digo me desvencilhando do abraço.

Ela franze a testa confusa.

– Obrigado pelo que? – ela pergunta.

– Por não ligar por eu estar sujo, obrigado por me abraçar mesmo assim. – sorriu – obrigado pela comida.

Ela da um passo em minha direção e passa a mão no meu rosto.

– Tem gente mais sujo andando por ai de terno e gravata, e pode ter certeza que esse tipo de pessoa eu nunca abraçaria. Eu fico muito feliz por ter te abraçado.

Naquele dia conversamos por mais alguns minutos, mas ela recebeu uma ligação e voou pra longe de mim, e era como se as sombras me engolissem de novo.
Não sei o que estão pensando mais eu sei o que senti aquela noite.
E espero que um dia alguém possa sentir o que encontrar um anjo pode causar.
Por que eu posso dizer com todas as letras: Meu anjo da noite se chama Stella Bonasera, e eu não vou perde-la.