— Mamãe... - deixou as lágrimas rolarem. - Eu também te amo!!!

Victória a soltou e a olhou nos olhos com a emoção tomando conta de todo seu corpo e ela fraquejou sendo segura por Maria e logo por Heriberto que a pegou nos braços e a levou para a cama a deitando.

— Está sentindo dor?

Ela sorriu com lágrimas nos olhos.

— Não, estou bem!!! - olhou a filha que estava próxima a cama e segurou a mão dela e com a outra segurou a mão de Heriberto. - Eu tenho tudo que preciso pra estar bem e vou ficar ainda mais para poder cuidar de vocês dois!!! - sorriu e eles retribuíram o sorriso e logo a abraçaram forte sabendo que ela estaria de pé em poucos dias. A grande Sandoval estaria de volta em breve...

(...)

CINCO DIAS DEPOIS...

Por fim Victória tinha conseguido sua alta e ido para casa, estava caminhando aos poucos como uma criança que começa a aprender seus primeiros passos, ela queria andar rápido por toda aquela casa e sentir o chão sobre seus pés, estava tão agradecida por Deus ter li dado uma segunda chance que apenas agradecia todos os dias pelas manhãs e nas noites antes de dormir. Heriberto seguia sem exercer sua profissão para continuar a cuidar de seu amor porque ele sabia o quanto ela era teimosa e se a deixasse com uma enfermeira, ela faria o que lhe desse vontade e ele achou melhor então ficar junto a ela.

Era fim de tarde de uma sexta feira e ela esta sentada no jardim, os pés tocando a grama sentindo um pequeno frio percorrer seu corpo pelo gelo em seus pés, ela sorria de olhos fechados sentindo a vida correr em seu corpo. Para Victória era quase que um ritual fazer aquilo todos os dias e ela sorria sozinha com seus pensamentos quando sentiu que alguém vinha correndo em sua direção e ela abriu os olhos preocupada e se virou dando de cara com Maria que chorava muito e ao chegar perto dela se ajoelhou deitando a cabeça em suas pernas preocupando Victória de imediato.

— O que aconteceu? - tocou os cabelos dela e Maria só chorou em silencio. - Maria, você está me assustando!!!

Maria soluçou e depois de alguns minutos em silencio, levantou a cabeça e a olhou nos olhos.

— Diz pra mim que não está mentindo e que você não me abandonou porque quis...

Victória sentiu seu corpo todo tremer, tinha chegado a hora de conversar com sua menina e se ela estava assim tão desesperada era porque Bernarda certamente a tinha enchido de mentiras mais uma vez. Ela puxou Maria para que sentasse a seu lado e limpou suas lágrimas acariciando seu rosto, os olhos vermelhos de um choro profundo a fez ferver de ódio pela pessoa que a tinha feito chorar, ou melhor, seu ódio era todo destinado aos Iturbide.

— Primeiro me explique o que aconteceu para que eu possa entender e começar a explicar como as coisas aconteceram!!! - tentou ser firme, mas já sentia o corpo tremer.

— Eu não sei em quem acreditar, eu não consigo entender as coisas e não quero mais julgar... - soluçou. - Você é minha mãe, quase morreu e eu... - não conseguia nem completar pelo choro engasgado na garganta.

Victória entendeu naquele momento que era a hora de começar a falar, Maria já tinha sido envenenada demais por Bernarda e estava na hora de colocar os pintos nos "is" e ela começou a dizer.

— Eu era uma menina quando comecei a trabalhar na casa de seu pai, ele era um homem predestinado a Deus, mas eu me apaixonei e uma noite antes dele ir ao seminário... - pausou respirando fundo. - Eu me entreguei a ele e na manhã seguinte ele seguiu seu caminho. Bernarda quando soube que eu estava grávida, me bateu até que eu confessasse quem era o pai daquela criança e quando eu o fiz...

Victória deixou que suas lágrimas rolassem por seu rosto assim como Maria ao ouvir aquelas palavras, estava confusa, tinha ouvido tanta coisa que não conseguia mais acreditar em nada até aquele momento ao ouvir as palavras de sua mãe.

— Bernarda me jogou na rua e meu inferno começou, procurei emprego em tantos lugares, mas ninguém queria aceitar uma mulher grávida, passei fome até que encontrei Antonieta e ela me ajudou a ter um teto sobre a minha cabeça e alimento para poder seguir com a gestação. - fungou limpando o rosto por um momento. - Foi aí que começou a nascer a rainha da moda, dei tudo de mim e costurei como louca até uma noite em que fui entregar uma encomenda e você quis nascer, não me deu tempo de chamar ajuda ou algo do tipo e você nasceu ali embaixo de uma árvore. - tocou o rosto de sua menina.

— Mamãe...

— Eu sempre te quis e quando vi seu rostinho a primeira vez, eu entendi que tudo na minha vida eu faria por você e foi o que eu fiz a minha vida inteira mesmo depois de você ter sumido. - Eu vivi os primeiros anos da sua vida na mais completa felicidade, tive muito que batalhar, mas a cada novo sorriso que recebia de você era a minha fortaleza e o meu motivo para seguir em frente. Bernarda nunca me perdoou por ter tirado João Paulo do caminho dele, mas somente foi uma vez, uma única vez e nunca mais nos vimos até ele regressar a pouco tempo.

— Ele nunca soube de mim?

— Eu deixei uma carta para ele e achei que ele soubesse e que simplesmente tivesse me abandonado a própria sorte já que tinha seu caminho a seguir, mas Bernarda mais uma vez fez das suas maldades e nunca permitiu que ele soubesse de sua existência. - falou com rancor.

— E por que eu fui parar naquele convento?

Victória deixou que mais lágrimas rolassem por seu rosto, era sempre assim quando se recordava daquele momento, momento em que perdeu o mais precioso de sua vida e sua respiração faltou um pouco a fazendo tossir pelo modo como faltava o ar e seu coração batia acelerado. Maria sabia que ela não podia ter grandes emoções e no mesmo momento a abraçou forte mostrando que estava ali com ela e que não iria embora sem ouvir e aceitar a única verdade a qual deveria ouvir e se negou por um longo tempo.

— Se precisa de um tempo, eu posso espertar para ouvir!!! - Maria disse com calma.

— Eu quero contar. - afastou seu corpo do dela e segurou suas mãos. - Estávamos voltando da pracinha quando um carro veio em alta velocidade para cima de nós, meu instinto fez com que eu te pegasse e jogasse na calçada, mas não me deu chance de sair a tempo e eu fui atropelada. - chorou mais. - Quando acordei no dia seguinte, no hospital a primeira coisa que procurei foi por você, mas Antonieta me disse que você tinha sumido... Sumido de tal maneira que eu passei dias depois que sai do hospital buscando por você naquele ponto onde tínhamos sido atropeladas, mas você não estava e eu dediquei cada minuto da minha vida e do meu tempo pra te buscar, mas nunca tive sucesso até encontrar aquele crucifixo sobre sua mesa e foi ali que eu te descobri...

Ela estava desgarrada assim como Maria que prestava atenção em cada um dos detalhes que ela falava, sua mãe tinha sofrido tanto com a vida e com sua avó. Avó essa que fazia de tudo para que ela entendesse que Victória não era uma boa pessoa e que nunca a tinha querido, mas ali nos olhos de sua mãe entendia que não era verdade.

— Mais uma vez eles me tiraram o direito de ser sua mãe mais uma vez eles sabiam da verdade e nunca me contaram. Maria, eu não estou aqui para diminuir a culpa pelo que te fiz passar, eu quero que você entenda como as coisas aconteceram de fato e eu entendo perfeitamente o seu ódio por mim e assim como lutei pra te encontrar todos esses anos. - beijou as duas mãos dela. - Eu vou lutar para ter o seu perdão e por fim poder ter o amor da minha Maria.

Não precisava ser dito mais nada para Maria e ela apenas abraçou sua mãe a quem tanto guardou rancor ao longo dos anos pelo abandono que ela não era culpada, ela tinha sido arrancada dos braços de sua mãe por alguém maldoso, Victória não tinha culpa por elas terem sido separadas. Victória a abraçava forte beijando onde conseguia e dizendo o quanto a amava e ambas sabiam que tinham um longo caminho pela frente, mas naquele momento a maior mágoa já tinha sido curada pela verdade de um sentimento de mãe e filha.

— Você é a coisa mais perfeita que eu tenho em minha vida!!! - falou segurando o rosto dela. - Eu vou te provar todos os dias que te amo e vou conquistar seu perdão pelas coisas horríveis que fiz com você!!

— Eu só quero que fique ao meu lado e não me abandone!!! - falou como uma criança assustada.

— Meu amor, eu nunca o fiz antes e não o farei agora!!! - sorriu. - Você é a minha pequena Maria, sempre vai ser e a partir de hoje quero que viva aqui comigo e Heriberto!!!

— Eu não quero atrapalhar vocês, acho que ele não gosta muito de mim pelo modo como te tratei... - falou sentida.

Victória teve que rir acariciando o rosto de sua menina, era tão bom tê-la ali ao seu lado.

— Heriberto te buscou junto a mim todos esses anos e tenho certeza que o que quer que tenha acontecido entre vocês, foi porque você é teimosa como eu e as vezes ele precisa puxar nossa orelha!!! - as duas começaram a rir porque era a mais pura verdade.

Maria voltou a abraçar a mãe e deitou em seu peito ouvindo seu coração ainda bater acelerado naquele abraço que era o seu mundo todo. Heriberto veio comendo uma maçã e sorriu para aquela cena que confortava tanto seu coração e disse:

— Reunião de família sem mim? - chamou atenção e as duas de imediato o olharam.

— Chegou cedo meu amor!!! - Victória falou com um lindo sorriso.

Heriberto se aproximou e beijou primeiro a testa da filha e depois deu um beijo gostoso nos lábios de Victória que Maria teve que fazer cara feia e se afastar dos dois.

— Ecaaaa é assim que pais fazem sempre?!

Os dois começaram a rir e Heriberto a olhou.

— Vai se acostumando que eu não gosto de dar beijo de velho em sua mãe não!!!

Victória soltou uma gargalhada e seu rosto ficou tomado pela vergonha das palavras dele e Maria se levantou.

— Acho melhor então eu buscar as minhas coisas e deixar vocês dois aí namorando que nem adolescente!!!

Ele riu alto do jeito dela e sentou ao lado de seu amor, Victória tinha o coração acelerado, ela tinha aceitado sua proposta de viverem juntos e sorriu mais ainda. Maria os beijou e caminhou rumo a saída e Heriberto olhou seu amor.

— Ela vai viver aqui conosco? - falou cheio de amor.

Victória o olhou e tocou seu rosto.

— Conversamos e ela vai sim viver com a gente!!! - tomou os lábios dele em um beijo ainda mais gostoso e ele a segurou em seus braços cheio de amor para dar. - Me leva para o quarto que quero fazer amor com você!!!

— Victória...

— Amor, eu preciso de você dentro de mim!!!

Não era preciso mais nenhuma palavra e a maçã foi ao chão assim que ele a pegou no colo e entrou em casa para terem o seu momento de amor...