— Por aqui, meninos — Jujuba disse depois de puxar uma alavanca que acendeu uma sequência de tochas não inflamáveis através de um extenso corredor.

Ela os havia guiado através de uma passagem secreta que levava até uma parte especial de seu laboratório, que ficava escondida no subsolo de seu castelo no Reino Doce. Finn e Jake a seguiram em silêncio durante os primeiros minutos, depois Jake começou a improvisar uma batida ritmada com a boca enquanto Finn fazia rimas sem sentido sobre a princesa Jujuba e suas missões especiais. Normalmente ela acharia graça na espontaneidade de seus amigos, mas estava estressada demais para isso naquele momento.

Jujuba gostaria de pensar que toda aquela tensão se devia única e exclusivamente ao fato de estar ansiosa por causa daquela missão e de seus projetos. Mas mesmo sendo capaz de mentir para qualquer outra pessoa, jamais conseguiria mentir para si mesma. O real motivo de seu lamentável estado de espírito agora tinha rosto e nome.

— O que é aquilo, Princesa? — Finn perguntou, tirando-a bruscamente de seu devaneio. Desembainhando sua Espada de Grama, ele apontou para algo que se moveu no escuro.

Os três pararam de andar durante alguns momentos. Ela também teve a impressão de ter visto algo como um vulto no breu, mas depois pensou que talvez tivesse sido apenas um efeito de ilusão causado pelas luzes artificiais do corredor. De qualquer maneira, estavam quase chegando ao laboratório.

— Não se preocupe, Finn, não deve ter sido nada — disse, soando convicta. — Ou talvez Ciência, a rata, tenha escapado novamente.

— Ah. — Ele tornou a guardar a espada, parecendo um tanto decepcionado.

Em poucos minutos estavam diante de uma parede sólida feita de tijolos de açúcar caramelizado maciço. Jujuba recitou algumas palavras estranhas, que faziam sua língua embolar, e fez uns movimentos esquisitos com as mãos. De repente, os tijolos tremeram e se abriram como num passe de mágica — não que ela acreditasse nessas coisas, pois tudo não passava de um mecanismo de segurança que ela havia projetado.

O laboratório parecia ter vida própria. Projetos em andamento e outros já terminados estavam dispostos em locais estratégicos, onde física e química se misturavam e trabalhavam em conjunto harmoniosamente. Aquela extensão do laboratório era o lugar favorito da princesa Jujuba, onde dedicava boa parte do seu tempo, dando vazão às suas ideias inventivas e também à matemática. Era onde ela relaxava e realmente se sentia em casa, principalmente quando tinha que lidar com seus conflitos internos e emocionais.

Era a primeira vez que levava Finn e Jake àquele lugar, e a expressão em seus rostos deixou evidente o quanto estavam surpresos. Na verdade, embasbacados.

—Jake, não toque aí! — gritou ela para o cão amarelo, que havia se esticado cerca de cinco metros para cima, prestes a pôr as patinhas em uma bolha de plasma brilhante, que assumia formas estranhas durante seu processo de fermentação. Se Jake a tivesse tocado antes de estar pronta, provavelmente precisariam conter uma terrível explosão.

— Desculpe, Jujuba — disse ele, encolhendo ao seu tamanho normal. Deu de ombros. — Eu não sabia que era errado...

Jujuba suspirou e balançou a cabeça.

— Tudo bem, apenas... Tomem cuidado.

Serpearam pelo lugar, desviando de uma ou outra invenção potencialmente perigosa – algumas nem tanto, mas que podiam causar uma tremenda bagunça — até chegarem a uma área mais isolada. Jujuba parou e encarou seus cavaleiros.

— Eu preciso ter a total atenção de vocês agora. — Os dois a encararam com os olhos vítreos e somente então ela prosseguiu: — Eu precisarei viajar para um dia específico do passado e vocês vão ficar aqui para garantir que nada coloque a minha missão em risco. Deve ser simples e rápido, não vou demorar. Mas se alguma coisa afetar a minha segurança, posso ficar presa no passado e o futuro, por consequência, também ficará comprometido. Fui clara?

Jake ergueu uma das patas lentamente, como se quisesse fazer uma pergunta.

— Princesa, poderia explicar novamente? Eu me lembrei da minha música de panquecas de toucinho e... — ele riu. — Acho que estou com fome.

No instante seguinte, Finn também ria. Jujuba suspirou pesadamente e coçou as têmporas. Não tinha tempo para isso.

— Vocês só precisam me manter segura enquanto eu estiver ausente — ela tornou a tentar explicar. — Não deixem que nada interfira com a máquina do tempo ou nosso destino será catastrófico!

Pela expressão em seus rostos, eles finalmente pareciam ter entendido.

— Pode deixar, minha Princesa! — Finn exclamou e bateu continência, como um soldado.

— Ótimo. — Ela sorriu aliviada.

Virando-se para o suporte onde havia deixado a máquina do tempo, respirou fundo e puxou a manta que cobria sua invenção. Contudo, seu coração bateu forte uma vez e então pareceu parar, pois...

— O que?! Não está aqui! — gritou perplexa. — Mas... Mas... O que aconteceu?

Uma risada estridente ecoou pelo laboratório e um clarão chamou a atenção de todos. Viraram-se num salto, Finn já tinha sua espada em punho e Jake, atrás dele, rosnando.

— Rei Gelado! — Finn gritou para o velho que flutuava logo acima deles, a alguns metros de distância.

Jujuba sentiu seu sangue ferver de raiva ao ver o Rei Gelado com sua mais nova invenção em um dos braços, enquanto a outra mão soltava pequenos raios e faíscas, transbordando seu poder congelante. Aquilo era muito, muito pior que ser sequestrada e presa em uma jaula na montanha de gelo onde ele residia. Ela estava furiosa!

— DEVOLVA MINHA INVENÇÃO, SEU BUNDÃO! — berrou ela, pondo-se à frente de seus guerreiros, sem se importar com o que ele pudesse fazer a ela.

Prontamente, Finn atacou. O garoto subiu em uma cadeira, depois foi para cima de uma das mesas e então saltou na direção do Rei Gelado; a mira de sua espada era certeira! Porém, bastou um movimento com a mão e o grito de Finn foi silenciado quando ele ficou preso em um grande bloco de gelo. Jake, ao ver o irmão sendo atacado, latiu e se esticou até o Rei Gelado, tentando enroscar-se em volta dele, desviando dos raios de gelo.

— Jake! Cuidado com a máquina! — Jujuba gritou em desespero.

Vários dos objetos em seu laboratório foram acertados durante a briga, Finn permanecia congelado no chão enquanto Jake e o Rei Gelado travavam uma batalha que envolvia socos, raios, flocos de neve e palavras mal educadas. Jujuba já estava perdendo a paciência, quando outra voz interveio.

— Simon!

Todos pararam imediatamente e olharam em direção à voz. Um pequeno morcego batia suas asinhas perto de uma das passagens de ar do laboratório. Em questão de segundos o animalzinho se contorceu e se transformou na bela jovem vampira que todos ali conheciam muito bem.

— Marceline? — Jujuba estava realmente surpresa ao vê-la ali, mas não desapontada. — O que faz aqui?

— Simon, nos poupe dessa brincadeira — disse ela para o Rei Gelado, ignorando completamente a princesa.

— M-mas eu preciso frustrar os planos desses dois bocós! — protestou ele. Em seguida, apontou na direção de Jujuba. — E ela me chamou de bundão!

— Você roubou a minha invenção! — ela gritou de volta.

— Eu não roubei nada! — atalhou ele. — Eu só queria chamar a sua atenção. Eu levaria essa coisinha pra casa, você viria atrás de mim, eu te prenderia numa suíte especial e nós poderíamos fazer alguma coisa juntinhos, como um lindo casal, você sabe. Algo como...

— Simon! — Marceline o censurou, já no limite de sua paciência e cruzou os braços, lançando para ele um olhar reprovador.

— Ah, está bem! — Ele grunhiu, contrariado. Voou para baixo e, passando pela princesa, deixou a esfera de cristal sobre o mesmo suporte onde havia encontrado. Lançou um beijo soprado na direção de Jujuba, que apenas mostrou a língua, enojada. —A propósito — falou antes de voar para fora do laboratório — Eu só ia dizer que poderíamos fazer bordado juntos.

Jujuba soltou o ar pesadamente pela boca e revirou os olhos.

O Rei Gelado finalmente havia saído, deixando para trás um rastro horroroso de bagunça e coisas quebradas. Jake tentava descongelar Finn, que permanecia imóvel no chão, e Jujuba se viu diante de Marceline, sem saber o que dizer.

— Oi — foi só o que ela conseguiu falar após alguns minutos de silêncio incômodo. — Escuta, eu... Queria dizer...

Pff... Nos poupe disso, Geloba Jurubeba — disse a vampira, estendendo uma mão para calar a outra.

— Por que nos seguiu até aqui então? — Jujuba contornou a mão estendida para seu rosto, a fim de encarar a vampira, que tinha uma expressão desgostosa.

— Eu não segui vocês — atalhou, os olhos se acenderamem um tom forte de vermelho e voltaram à tonalidade normal. — Eu segui o Simon até aqui. Ele seguiu vocês. Não quero ter nada a ver com seus planos super inteligentes e científicos.

— Na verdade, você até que seria bem útil... — A Princesa encolheu os ombros timidamente e tentou esboçar um sorriso simpático. Porém, Marceline não retribuiu.

— Útil — ela repetiu a palavra com frieza; seu olhar, porém, tinha um brilho intenso e cortante. — É disso que se trata? Utilidade? — Ela não estava nem um pouco contente. — Até ontem eu não era sequer bem vinda ao seu castelo idiota!

— Eu não quis dizer isso! — Jujuba protestou.

— Mas foi o que você disse!

As duas se encararam durante poucos segundos, mas a tensão entre elas fazia com que parecesse uma eternidade. Jujuba foi a primeira a ceder. Cansada, deixou os ombros caírem e baixou o olhar.

— Marceline, me desculpe — disse, sem coragem de olhar a velha amiga nos olhos. — Eu tenho estado tão exausta, as responsabilidades do Reino, tudo isso é muito para mim às vezes. Sinto-me culpada por não estar cumprindo meu papel como amiga e acabo tentando afastar todos vocês e...

Suas palavras foram sufocadas por soluços, lágrimas escapavam de seus olhos sem permissão e Jujuba se sentiu tão boba por isso, exposta e vulnerável. Estava tão acostumada a ser forte o tempo todo que aquelas explosões emocionais eram inaceitáveis para ela. Mas o que a surpreendeu mais ainda que a súbita crise de choro foi o abraço que recebeu.

— Você é tão estranha, Princesa — Marceline disse ao seu ouvido, arrancando dela um sorriso entre as lágrimas que ainda rolavam.

— Eu não mereço isso — disse Jujuba, com sinceridade. Tentou esconder o rosto na curva entre o pescoço e o ombro da vampira, aproveitando a oportunidade para curtir um pouco mais o contato, inspirar o perfume que era tão familiar...

Porém, Marceline interrompeu o abraço, afastando-a apenas o suficiente para que pudesse encarar Jujuba nos olhos.

— Também estou com saudades — a súbita confissão fez com que as bochechas da vampira corassem imediatamente. Mas seus olhos se iluminaram com satisfação quando ela sorriu. — Então... Em que posso ajudar?