Nexus, o lar dos antigos dragões azuis. O lugar está repleto de neve cobrindo toda a ilha e as montanhas que a cercam nas margens, além das árvores, das estranhas plataformas flutuantes azuis e uma grande fonte de energia meridiana em seu centro, a qual estava cercada por mais construções e rochas pairantes, formando o que parecia ser uma grande torre.

Além disso, vários dragões de quase todas as idades e, sobretudo os mais velhos, percorriam os céus enquanto draconianos quadrúpedes e corpulentos, que nitidamente não tinham aptidão para o voo, estavam na superfície, cuidando de ovos, realizando procedimentos arcanos variados e patrulhas.

Abaixo-me para recolher uma pequena planta retorcida, pálida e com poucas folhas, que se disfarçava bem na neve. Enquanto realizo a tarefa, mergulho em pensamentos que se mostraram persistentes nas últimas semanas.

"Aqui estou, ajudando um grupo de magos que fazem parte do famoso Kirin Tor. Seja lá quais forem as suas intenções, esses arrogantes engenhosos conseguiram adentrar um território ancestral para a magia que eles tanto esbanjam, um lugar que se ousassem pisar antes, morreriam em questão de minutos."

Coloco a planta cuidadosamente numa bolsa de couro que carrego na cintura, em seguida, procuro outra à vista na neve e após alguns segundos acho-a cerca de cinco metros à frente da minha localização.

Durante a caminhada, uma grande quantidade de neve cai de uma árvore próxima e, desconfiado, me aproximo. O silêncio durou alguns segundos e a grande árvore rapidamente se revelou um anciente branco, o qual iniciou uma rápida investida para me atacar com os galhos que supostamente formavam seu braço e mão direitos.

Recuei para desviar do ataque e empunhei minhas lâminas gêmeas. Avancei um pouco e então a árvore vivaz começou a repetir o mesmo movimento realizado anteriormente, mas com os membros esquerdos. Percebendo isso, fiquei parado por alguns instantes e logo recuei erguendo minhas armas. Após a mão gigante passar diante de mim, acometi abaixando as espadas para, em seguida, amputar o membro do anciente. Ele não demonstrou dor, mas se aproximou raivoso a passos largos, estranhamente rápidos e pesados.

O anciente tentou novamente me golpear com o braço direito em um movimento ascendente, mas abriu caminho para que eu me aproximasse e cravasse uma e depois outra espada em seu peito. A criatura pendeu para trás, o estalado da madeira era notável, ao passo que eu concentrava minhas forças para congelar seu suposto coração, sua essência, através das lâminas gêmeas.

Pouco tempo após isso, o estranho ser arbóreo se encolheu, soltando um fraco rugido, perdendo o brilho que iluminava seus olhos vazios e morrendo. Abri a ferida em seu peito e arranquei uma esfera que deixava de brilhar aos poucos. A detentora da vitalidade do anciente irradiava pouca energia, que se assemelhava à grande fonte meridiana que ocupava o centro do Nexus.

Coloco a esfera na bolsa e continuo minha caminhada até a próxima planta. Olho para os meus passos na neve e mergulho novamente em pensamentos. A imagem novamente se forma em minha mente.

Um mago havia me pedido para torturar um cultista para obter informações acerca do paradeiro de uma maga de relativa importância para o Kirin Tor, então, quando eu estava prestes a realizar a tarefa, a voz do Lich ecoou em minha mente, tão presente como quando eu ainda fazia parte das forças do flagelo. A voz me ordenava a matá-lo sem piedade, repetia suas ordens cada vez mais alto, logo as memórias dos inocentes que matei ao som desses comandos invadiu minha mente e não consegui realizar a ação.

Aquilo mal fazia uma semana, e eu me perguntei todos os dias até então o que causou aquilo. Temo que a força do Lich Rei volte a ser efetiva sobre os antigos lacaios que perdera, como eu e meus irmãos da Lâmina de Ébano, outros iguais a mim, embora eu ache que seja pouco provável. O que está acontecendo afinal?

Cesso minhas lembranças e colho a próxima e última planta necessária embaixo de um pinheiro coberto de neve. Após isso, inicio meu percurso em retorno à procura da minha serpe gélida. Eu havia deixado-a me aguardando cerca de cem metros de onde eu estou, escondida sob um pinheiro.

Ao chegar ao meu destino, encontro-a repousando com a cabeça sobre as grandes garras descarnadas. Quando eu me aproximei, ela levantou a face em minha direção, acaricio levemente sua cabeça. Ela se levantou e sacudiu o corpo de forma brincalhona enquanto a neve que nela estava era expulsa para todos os lados.

"De longe o dragão mais gentil e estranho aos olhos de outros mortos-vivos que já vi."

Subo em seu dorso frio e aviso-a para alçar voo. Preciso ser cauteloso aqui, não sei o plano do líder dos azuis, Malygos, o suficiente para ter certeza de que ele é ou não amigável com o flagelo e claramente ele detesta os mortais do Kirin Tor. Além disso, dois mortos-vivos, sendo um deles um dragão, voando nas terras de uma poderosa e orgulhosa revoada dragônica não é algo muito seguro.

De repente, ouço um rugido estrondoso e alarmante, algo até comum nesse lugar, mas esse foi próximo demais, quase como se dissesse que me via. Seja como for, seria melhor para ele se não tivesse me avisado.

Minha serpe percebeu o perigo tão rápido quanto eu e por um instante pensamos como um só. Ela fechou as asas e mergulhou enquanto um grande dragão azul logo atrás de nós permaneceu no alto. Minha serpe possuía maior resistência em suas asas que os dragões vivos, isso é uma boa vantagem para sairmos daqui.

Próxima ao chão ela abriu bruscamente as asas, mas não foi o suficiente para impedir o contato com o chão rochoso. Assim, ela empurrou-o com as garras traseiras fazendo-se possível ouvir o som de leves estalos. Visávamos atravessar a cordilheira que findava a ilha através de uma corrida de obstáculos para atrapalhar nosso perseguidor.

Em paralelo a isso, o azul havia iniciado uma larga descida em diagonal enquanto ainda mergulhávamos. Agora ele estava próximo de nos atingir pela frente ou lateral.

"Ele é experiente, mas eu já estou morto mesmo."

Enquanto o dragão se aproximava, ergui minha espada direita em sua direção. Em uma fração de segundos, um grande escudo de gelo oriundo da neve que percorria a atmosfera e de magia rúnica gélida se formou diante do dragão, que estava há poucos metros de distância.

Ele foi forçado a mergulhar para desviar e se esforçar em dobro para ganhar altitude novamente. Ganhei tempo com isso, mas quando olhei para trás as asas dele o erguiam pesadamente logo atrás de nós novamente e então ele soltou um daqueles rugidos poderoso de dragão de revoada milenar azul.

Chegamos ao fim da ilha com uma rápida descida após atravessarmos as cordilheiras. Em questão de segundos estávamos sobrevoando o oceano de Nortúndria. Todavia, o azul ainda nos perseguia e estava vencendo a distância entre nós.

— Sugiro que não resista, morto-vivo. - declarou o dragão com uma voz um tanto áspera e estranhamente jovial.

Indico para a minha serpe o que fazer, começamos a descer e voamos baixo em zigue-zague, próximos ao mar calmo e por fim subimos novamente.

"Os motivos para um azul me perseguir são tantos..."

Avisto uma ilhota achatada composta de uma rocha de mesma cor das poucas não cobertas por neve em Nexus. Ela era uma plataforma de tamanho razoável e cercada por outras ilhotas ainda menores, dentre as quais algumas eram agulhas no oceano.

Decido então pousar na ilha-plataforma, o dragão pousou à minha frente e sacudiu o grande corpo levemente.

"Menos hostil do que imaginei."

O azul revelou sua forma mortal: um meio humano e meio elfo com cabelos azuis na altura dos ombros. Usava roupa de couro e tecido branco, uma capa azul aveludada e botas também de couro. Ele me lançou um olhar curioso semelhante ao daqueles metidos a espertos de Dalaran e em seguida iniciou uma caminhada calma em minha direção com uma feição apreensiva no rosto.

Desço rapidamente da minha serpe, que erguia a cabeça para o estranho e soltava pequenos rugidos entre os dentes, aparentemente desconfiada.

— Creio que não fui muito convidativo - ele parou poucos metros diante de mim. - Minhas sinceras desculpas - curvou-se um pouco e ergueu-se novamente para mim.

— Quem é você? - pergunto.

— Meu nome é Kalecgos, da Revoada Dragônica Azul.

"Claramente uma novidade."-pensei com sarcasmo acerca da declaração sobre a revoada.

— Se não me quer totalmente morto, quais são suas intenções? - Ele soltou uma risada descontraída e respondeu, atencioso:

— Vim lhe pedir um favor, uma troca para falar a verdade, Vesnoshir.

— Como você...?

— Escute-me e saberá- Estreito os olhos e ele prossegue.- Estamos tendo sérios problemas no centro do Nexus, mas não podemos resolvê-los como queremos agora, já que nosso líder Malygos está...- Ele parou subitamente e parecia estar refletindo sobre algo, angustiado.-O lugar em questão foi invadido e agora está quase completamente violado, preciso que você, se possível, se reúna à outros quatro aventureiros e soldados como você que consegui recrutar nas últimas semanas.

"Trabalho em grupo é?"

— Qual é a minha parte na troca?

— Lapso temporal, um tipo de paradoxo não muito significativo que pode afetar sua linha temporal e... - ele fez uma pausa imaginando que sua explicação estava confusa e sorriu.-Ah... Bem, alguns membros da revoada dragônica de bronze, responsáveis pelas linhas temporais, estão preocupados com pequenos lapsos temporais recorrentes e aparentemente inexplicáveis que podem ser evitados com ajuda. Eles sussurraram nomes, um deles foi o seu.

— Corrigir um lapso temporal? Um erro?

— É bem mais que isso. - ele gesticulava enquanto falava, apresentava uma feição otimista e séria. - É uma oportunidade para relembrar seu passado, para descobrir como você chegou ao que é hoje e se é isso o que quer.

"Por que eu deveria me preocupar com aquele passado?"

Olho para o chão enquanto as ondas que quebravam na plataforma eram visíveis.

"Entretanto, o turbilhão de memórias e pensamentos que me atingiram nos últimos dias estavam buscando essa frase, não me lembro como é estar vivo, mas também não sei como devo agir na morte-viva."

Aceno positivamente com a cabeça e ele esboça um sorriso com os lábios.

— Limpo o Nexus para você e ganho minhas lembranças. Entendi.

— Exatamente. - ele me analisa por um breve momento. - Você e os outros deverão se reunir amanha pelo início da tarde. Quando terminar, venha falar comigo no templo do repouso das serpes. Ah, e... obrigado.

Aceno novamente com a cabeça, concordando. Em seguida, subo no dorso da serpe e sinalizo-a para levantar voo enquanto Kalecgos se transforma novamente em um dragão. Erguendo voo, nos voltamos em direções opostas.

O sol está se pondo atrás de mim e colorindo as nuvens com um tom alaranjado ao passo que a uma boa altitude acima do mar me aproximo da costa. Observo a paisagem por um momento e uma voz conhecida invade minha mente como um eco.

"Me desobedeça e você perecerá"- Arthas.