— Venha! - Disse Ilormu após as três figuras misteriosas desaparecerem sobre a estrada.

Ele conjurou outro portal há alguns metros de onde eu estava, aparentava estar cansado e contorcia a face quando exercia força com o membro ferido. Em seguida, atravessei a passagem e ele surgiu alguns segundos antes de ela se fechar.

A nova paisagem era bastante semelhante à anterior, o chão estava coberto por grama seca, os pinheiros pareciam doentes ou mortos e havia um grande lago à nossa frente, cortado por uma grande ponte e um arco construídos por humanos.

Ilormu desabou atrás de mim e se pôs de joelhos, com a mão esquerda trêmula sobre a ferida próxima ao ombro direito, seus braços estavam cobertos por sangue seco e sua bandagem improvisada parecia ineficaz. Agachei ao seu lado, analisando sua ferida enquanto ele tirava a tira de roupa ensanguentada de seu membro. O corte horizontal se estendia por quase toda aquela porção do braço e não era tão profundo, mas não apresentou melhora alguma nos últimos dias, caso continuasse assim iria infeccionar.

Observo o lago na direção oposta por alguns instantes, a água era transparente e refletia o azul do céu limpo daquele dia. Volto minha atenção novamente ao intendente, ele me encara com lábios apertados e respiração tensa. Aproximo-me dele e o ajudo a se locomover até o lago, onde poderia lavar a ferida e se livrar do sangue impregnado em sua pele. Ele se deitou de bruços, mergulhando seus braços na água não tão rasa da borda. Seu rosto transpareceu alívio e, em seguida, ele mergulhou a cabeça na água e posteriormente o resto do corpo mesmo com roupas. Volto-me para o lado oposto e sento no chão avermelhado há alguns metros de distância.

Após alguns minutos, ele saiu da água livre das vestes que cobriam o seu tórax. Seus cabelos castanhos e longos estavam soltos e molhados sobre os ombros e costas. O corte em seu braço continuava a sangrar e ele se sentou próximo a mim com o corpo e as vestes restantes ensopadas.

— Temos que voltar ao presente para que você possa se tratar. - afirmei para ele.

Ilormu rapidamente recusou com o rosto e um sinal negativo com sua mão esquerda.

— Não, não.- disse ele. - Estamos perto.

Olhei para ele, confuso e falei:

— O passado vai continuar aqui, amigo.

Ele respondeu com um sorriso apreensivo.

— É uma terra de praga, será difícil cicatrizar por aqui, ainda mais nessas condições.- Insisti.

— Mas também há luz... - ele apontou com a mão direita e trêmula em direção ao leste.

Estreitei os olhos ao observar na direção indicada. Uma pequena construção entre pinheiros era visível, pois estava em um relevo um pouco mais elevado. Ao seu redor haviam pessoas circulando e pequenas tendas espalhadas e a fumaça cinzenta, oriunda de fogueiras, subia aos céus.

— Pensei que você conhecesse melhor essas terras...

—... Afinal... - ele continuou, mas foi rapidamente interrompido.

— A capela da esperança da luz!- digo.

Ele sorriu enquanto concordava com a cabeça.

"A Aurora Argêntea! Sim, eu conseguia avistar a capela da fortaleza Áquerus."

Ilormu voltava a apresentar uma feição desconfortável enquanto encarava seu corte, mas rapidamente voltou a olhar em outras direções.

— Quanto tempo desde a última...?- Perguntei, voltando a encarar a capela.

— Algumas semanas.

— Eles devem ter algo que seja útil para isso.- Apontei para a ferida.

O intendente observou-me com um olhar desconfiado. Ele se levantou com o auxílio do braço sem feridas e espremeu suas vestes com dificuldade para livrá-las da água. Após isso, sentou-se abaixo de um conjunto de pinheiros próximos que lhe forneciam uma boa sombra contra o sol da tarde.

— Não aconselho roubar deles... - disse ele. suas sobrancelhas estavam tensas, indicando sua preocupação.

— Não sou a melhor pessoa para receber alguma lição de moral agora. - Eu falei.

— Estou falando da interferência que isso pode causar... é diferente.- ele respondeu um pouco confuso.

— É nossa melhor opção, já que você não quer voltar para o templo das revoadas. E se o Vesnoshir dessa época está aqui há algum tempo, já deve estar curado o suficiente para que algumas bandagens a mais não façam-lhe falta.

Ele me observou por alguns instantes e cedeu:

— Tudo bem... - o meio-elfo tentou se levantar, mas seu rosto se contorceu após sua ferida liberar mais sangue para seu braço.

— Melhor você ficar aqui.

— Mas o que?- ele me encarou inicialmente confuso, mas rapidamente mostrou compreender a situação. - Bah! Tudo bem. Só... espere um momento, vou fortalecer o feitiço de invisibilidade.

Com uma sequência de movimentos trêmulos, a áurea arcana imbuída em areia dourada e fina ao nosso redor se tornou mais nítida por alguns instantes e desapareceu.

— Não demore muito.- disse Ilormu.

Assenti com a cabeça e iniciei minha caminhada apressada em direção à capela. Em alguns minutos, o acampamento e a construção se tornaram nítidos. As tendas eram de cor cinza e pouco numerosas, haviam algumas fogueiras no centro, com fatias de carne espetadas em varas de madeira cozinhando lentamente.

O chão estava sem grama cobrindo-a em uma grande porção do acampamento, por onde transitavam alguns argênteos de raças e perícias com armas variadas, mas todos trajavam o mesmo tabardo negro com o sol branco e amarelado estampado em seu centro. Próximo à capela estava uma anã de cabelos ruivos que jogava alimentos ao alto e rapidamente os grifos estendiam suas cabeças para pegá-los, batendo suas asas e erguendo as patas dianteiras. As árvores ao redor pareciam mais vívidas que as demais das terras pestilentas, a maioria daquele lugar sequer aparentava o tom avermelhado e morto, pelo contrário, estavam verdes e pareciam saudáveis.

Há poucos metros de distância das tendas mais afastadas, observei o lugar em busca do que parecesse útil para minhas circunstâncias: medicamentos e bandagens para Ilormu. Após alguns minutos, encontrei em minha observação uma tenda ligeiramente maior e aberta, com caixas e sacolas de provisões.

"Mais rápido do que imaginei, deve haver algo lá além de comida."

Caminho cautelosamente entre as tendas espalhadas no terreno para que meus passos não sejam audíveis aos argênteos que andavam por ali. Noto uma orquisa com vestes ligeiramente mais negras que a armadura padrão da Aurora Argêntea e um elfo superior de cabelos loiros e presos sentados diante de uma fogueira, com pedaços de carne em mão e discutindo algo. Mais adiante percebo duas figuras treinando em um duelo, uma elfa com um cajado em suas costas assistia a cena com braços cruzados e concentração.

Aproximei-me da cena em questão, a elfa superior era a mesma que havia salvado meu eu mais jovem. Seu rosto era jovial e familiar e seus cabelos castanhos e lisos repousavam soltos sobre seus ombros. Vestia o tabardo negro sobre um vestido branco sem mangas. As figuras em um combate entre si eram um humano de armadura negra e dourada, lutava com uma espada e um escudo e sua barba escura e curta era uma das poucas coisas que seu elmo transparecia, e um elfo superior, que usava duas espadas gêmeas, ligeiramente curvadas, forjadas pela sociedade élfica, pouca armadura e bandagens nos braços e em parte de seu tórax.

"É, ele não vai precisar de muitas bandagens."

A cabeça do jovem Vesnoshir não estava coberta por um elmo e seus cabelos perolados se mostravam maiores desde o ataque de Arthas a Luaprata. Ele lutava habilmente, mas sem usar magia, era mais ágil que o humano, entretanto este sabia como defender-se na hora certa com o escudo e quando atacar com a espada. O elfo se esquivava tão rápido quanto atacava, suas espadas se moviam de forma coordenada e precisa. Todavia, a experiência do homem de armadura negra era inegável pela forma como ele reagia aos ataques.

Após alguns minutos o combate acabou. Vesnoshir começou a secar o suor da face com uma toalha pequena que a elfa o forneceu. O humano retirou seu elmo e se virou para o jovem com um sorriso esperançoso e entusiasmado na face.

— Você é bom. - disse o elfo.

— E você é... peculiar, jovem. - respondeu o humano com um sorriso simpático e contido no rosto.

A elfa que os assistia começou a rir.

— Qual é, George! Não finja que essa foi fácil.

"Essa voz...Eonys...?!"-Pensei de repente.

— E-eu... o que? - respondeu George com uma expressão confusa, mas logo ele cedeu com uma risada, acenando com a mão em aceitação. - É, você me pegou, Eonys.

"Não..." - afastei minhas lembranças e continuei a observá-los.

George virou-se novamente para Vesnoshir, com o elmo entre o braço solto e o tórax e falou:

— Você leva jeito para isso, rapaz. É de família ou um talento emergente?

O jovem elfo abaixou o rosto melancólico por alguns segundos e o humano pareceu preocupado por suas palavras em consequência, mas ele o reergueu com um sorriso sem dentes.

— Minha família concedeu inúmeros soldados a Luaprata, então sim, é de família.

George pareceu aliviado com a resposta e assentiu. Aproximou-se do jovem e pôs a mão esquerda sobre seu ombro esquerdo com um olhar afirmativo.

— Logo você será um combate importante para a Aurora Argêntea e uma força íntegra de vingança contra o flagelo.

O elfo acenou positivamente com a cabeça, ligeiramente esperançoso. De repente, um anão de cabelos castanhos presos em tranças, face desconfiada, armadura cinzenta e com uma espada embainhada em sua cintura se aproximou e disse:

— Senhor! - ele prestou continência enquanto o humano se virava para ele.- Lena quer falar com você.

George pareceu curioso e respondeu:

— Nenhuma prévia do que poderia ser?- Ele arqueou a sobrancelha direita e gesticulou para tonar sua dúvida ainda mais expressiva.

— Hum... - o anão pôs a mão sobre o queixo pensativo.- Deve ser por causa da visita que o senhor Tyrosus recebeu. De resto, não sei o que ela tá querendo contigo, mas melhor ir logo.

— Entendo. - Disse George ainda mais confuso. - Hum... vamos lá descobrir quem ou o que ela quer.- Ele se virou para Vesnoshir e Eonys. - Até mais, Eonys. E, Vesnoshir?! Continue treinando!

Os elfos assentiram em resposta. Em seguida, Eonys pareceu concentrada com o rosto baixo em minha direção e ergueu-o aos poucos, até alcançar a altura da minha face. O jovem Vesnoshir pareceu desconexo e se aproximou dela.

— Eonys? - disse ele. - Tem... algo de errado?

Ela ergueu o braço para que ele não se aproximasse mais e ele pareceu ainda mais preocupado.

— Sinto... uma presença estranha... como a do flagelo...

— Bem... Estamos nas terras pestilentas, estamos rodeados pelo flagelo.- Ele respondeu inocentemente.

Ela o encarou com os olhos estreitos por alguns momentos. Aproveitei sua distração e voltei ao curso de meu objetivo. Caminho cautelosamente até a tenda central, mas a voz dela ainda é audível.

— Mas e se... Houverem espiões? Lacaios ou necromantes disfarçados, temos que estar preparados.

— Hum... é, você pode ter razão, mas o flagelo mal sabe de nossa existência, não é? - disse o jovem elfo. Sua voz ficava mais baixa a cada passo que eu avançava.

Alcancei a grande tenda cinzenta e adentrei-a. Haviam sacolas de grãos, caixas com frascos de líquidos e itens variados e comida em seu interior. Separo uma caixa com frascos cuja o sinal em seu exterior indicava algo medicinal e algum tipo de bandagem. Após alguns minutos, achei um tônico curativo na terceira caixa em que procurei. Retirei um e guardei na pequena bolsa em que levei plantas para o Kirin Tor há semanas. Em seguida, descobri alguns rolos de bandagens em uma sacola isolada aos pés de uma pilha de caixas, retirei dois deles e os guardei juntos ao tônico. Fui cuidadoso para deixar as caixas e os sacos em suas posições originais e, após finalizar a tarefa, deixei o local e o acampamento o mais rápido que pude.

Encontrei Ilormu próximo à beira do lago, observando a paisagem crepuscular e claramente perdido em pensamentos. As vestes que antes lhe cobriam o tórax estavam ao seu lado secando com os ventos. Ele me notou apenas quando aproximei-me há alguns poucos metros de distância e acenou para mim com a cabeça. Sua feição estava séria e imparcial, seu braço esquerdo estava sobre os joelhos dobrados diante de seu peito, já o direito estava solto e sua mão repousava na grama avermelhada.

Retiro os objetos de minha bolsa e coloco-as diante dele. Ele se vira em minha direção e pega o tônico com a mão esquerda, analisa-o por alguns instantes e trás seu braço direito e trêmulo em direção à tampa, com o objetivo de abri-lo. Chamo sua atenção com a mão direita e aceno negativamente com a cabeça, tomo o frasco de suas mãos e, após retirar sua tampa, devolvo-o ao meio-elfo. Em seguida, ele começou a despejar o líquido do frasco sobre seu ombro direito, com sua face ligeiramente contorcida.

Após isso, parti a fita de um dos rolos ao meio e enfaixei a ferida do intendente rapidamente, finalizando a atividade com um nó.

— Obrigado, amigo. - ele disse.

— Não precisa agradecer, eu fiz isso a você. - respondi.

Fomos até um terreno ligeiramente elevado, onde estava o pequeno conjunto de pinheiros que antes forneceram sombra ao meio-elfo. Sentei-me e apoiei minhas costas e cabeça no tronco atrás de mim, observando o céu. Ele olhou na mesma direção após se sentar próximo a outro pinheiro e disse:

— Já está escurecendo por aqui.

De fato, as primeiras estrelas já surgiam no céu. O som das folhas secas e saudáveis era uma das poucas coisas audíveis ali, bem como o cheiro da fumaça oriunda do acampamento argênteo.

— Sabe. - Ele soltou uma risada abafada. - Não me entenda de forma errada, mas você é, de longe, o cavaleiro da morte mais gentil e estranho aos olhos de outros mortos-vivos que já vi.

Sorrio levemente com a percepção de como aquela frase soava familiar para mim. Observo meu corpo coberto pela armadura de placas cobalto, pensativo.

"Quem diria... que você iria fazer falta agora, Serix, jovem serpe gélida..."

Volto meu olhar para o intendente por alguns instantes e digo:

— É, talvez.

Ele vira seu rosto para o céu e observa as estrelas aparentes.

— Dormi há menos de cinco horas.- Disse ele.- Que tal você tentar, só para variar?

— Eu? Não preciso dormir e não o fiz desde que... me trouxeram de volta.

— Bem, creio que não seja saudável que fiquemos nos encarando pelas próximas dez horas. O que me diz? Não fiquei de guarda ainda.

—Não estou ferido e precisando descansar, Ilormu.

Ele bufou e sorriu.

— Você ouviu quando eu falei que não faz nem um dia que eu dormi? Sou um dragão, não um bebê, garoto. Aliás, em comparação a minha idade você quem é um recém nascido em comparação a mim.

— Bah! Poupe-me desses detalhes.

— Então durma um pouco. - disse ele.

— Tudo bem então, já que insiste tanto e não tenho nada melhor pra fazer mesmo. - respondi entediado.

Ele assentiu e voltou a olhar para o céu. Deitei-me rígido sobre a grama seca e pensei:

"Dormir? O que poderia dar errado?"

Fechei meus olhos e permaneci lúcido por duas horas, mas permaneci imóvel para que o meio-elfo insistente não se pronunciasse em relação a mim. Após esse tempo custoso, comecei a perder-me em pensamentos e lembranças antigas e o nevoeiro do sono me alcançou.

Uma cena formou-se em minha mente, nítida como em outros tempos, mas turva como uma lembrança. Era uma memória que eu havia evitado o dia inteiro, uma recordação infeliz.

Eu estava subindo uma estrada de terra até o topo de um pequeno morro, onde havia uma capela com telhados vermelhos em chamas. A grama e as árvores que a rodeavam eram bem cuidadas e próximos à construção estavam três figuras cobertas em armaduras e capuzes negros, um humano e um draenei mortos-vivos que lançavam tochas em direção à capela, atiçando ainda mais suas chamas, e um homem sobre um cavalo revivido que lançava ordens aos dois seres com tochas em mãos.

Alcancei os mortos-vivos com alguns passos. O cavaleiro líder virou-se para mim e disse.

— Ah, Vesnoshir. Até que enfim você chegou. Venha, tenho uma tarefa para você.

Assim o fiz e ele prosseguiu:

— Nós chegamos, destruímos o lugar e rumamos em direção à prisão.- o cavaleiro apontou com a mão esquerda e enluvada para um casebre atrás dele.- O que encontramos lá nos surpreendeu. Parece que a Cruzada anda bem ocupada. O lugar está cheio de prisioneiros da Aurora Argêntea.- ele suspirou, desapontado.- A maioria já estava morta quando chegamos, mas alguns ainda respiravam. Eu estava indo lá para executar o resto, mas talvez você deva fazer as honras.- por baixo de seu elmo negro, notei um sorriso malicioso. - Particularmente, um dos prisioneiros é uma elfa problemática que, suponho, você terá bastante prazer em executar.

Assenti com a cabeça e caminhei em direção ao casebre que a Cruzada Escarlate chamava de prisão. Havia, ao lado dela, uma plataforma para enforcamento com dois humanos vestindo trapos mortos com cordas envolvendo seus pescoços levemente roxos. Os corpos pendiam e balançavam com a brisa pacífica do lugar.

Adentrei o casebre e me deparei com uma dúzia de argênteos de raças variadas sem suas armaduras e armas, apenas com poucas roupas e com seus inconfundíveis tabardos negros. Próximo à porta estava meu alvo: uma elfa agachada presa ao local por correntes em seus punhos e tornozelos.

Coloco-me diante dela enquanto ela se levanta para me observar com um olhar desafiador e raivoso.

— Você veio terminar o serviço, não veio?- disse ela.

Ao observar minha face parcialmente coberta por um capuz negro, sua feição tornou-se surpresa e horrorizada.

— Vesnoshir?

Olhei para ela, curioso. Como ela sabia meu nome? Era o que meu eu se perguntava naquele momento.

— Vesnoshir, eu reconheceria esse rosto em qualquer lugar... - ela prosseguiu, seu rosto transparecia angústia. - O que... O que fizeram com você?

Ela me observou, ainda mais angustiada e engoliu em seco.

— Você não se recorda de mim, não é? Sou eu... Eonys...- Sua feição se tornou sombria novamente.- Maldito flagelo... Eles tentaram despojar você de tudo que o tornava... uma força íntegra de vingança contra o flagelo... como George disse uma vez... - ela analisou minha aparência e ergueu a face em minha direção.- Lembre-se, Vesnoshir. Tente se lembrar de Luaprata, do seu lar, da sua família. Você já foi um jovem digno, você não é assim!

Eonys olhou em sua volta e disse, em um tom mais baixo.

— Escute, por favor... Você tem que lutar contra o controle que o Lich Rei exerce sobre você, ele só quer ver este mundo, o nosso mundo, destruído. Não deixe que ele controle você!

A última frase ecoou em minha mente, tal como aconteceu naquele momento.

—O que está acontecendo aí? - gritou o cavaleiro fora do casebre. - Por que está demorando, Vesnoshir?

Eonys se ajoelhou com os lábios trêmulos.

—Não... não me resta mais tempo. Mate-me logo ou eles nos matarão. Vá em frente! - ela ergueu o tórax e abriu levemente os braços. - Acabe com isso de uma vez.

"Eu..."— A voz de meu pensamento naquele momento ecoava em minha mente.

Segurei as lâminas rúnicas, contendo-me. Meus braços tremiam levemente com a força que eu depositava nas espadas.

"Não! Não faça isso!" — tal voz era minha, mas não ecoava como o pensamento anterior, era nítida e presente, mas ele não a ouvia. Não era o pensamento dele, nunca seria e isso foi selado pelo tempo.

Ele ergueu a espada em direção ao coração da elfa.

"Não! Não!"

Após alguns segundos, ele desferiu-lhe um golpe certeiro com a lâmina esquerda que atravessou seu corpo e rapidamente retirou-a.

— Seja lá quem você for. - eu disse. - Descanse em paz.

"NÃO!"

"Eu..."- o pensamento do passado ecoava novamente. - "Monstro...sou um..."

— Ah até que enfim. - disse o cavaleiro na entrada do casebre.

"Eonys... Não!"

—Eonys! - acordei de repente, sentando-me rapidamente em seguida.

—Vesnoshir? - disse Ilormu. - O que houve?

Apoio minhas costas novamente no tronco do pinheiro, o dia já havia se iniciado. Respiro pesadamente e fecho meus punhos sobre a grama.

— Deve ser por isso que não dormimos, afinal.- afirmei.

Ilormu não parecia menos confuso com essa afirmação, mas evitou retornar ao assunto.

"Maldição. Aonde isso tudo vai me levar...?"

— Hum... Já estou me sentindo bem o suficiente para irmos juntos hoje, não acha?

Encarei-o e assenti levemente.

— Melhor irmos logo.- ele afirmou.