Luaprata, a bela cidade do reino de Quel'thalas, reluzia com o sol da manhã. Alguns habitantes transitavam graciosamente na porção noroeste da cidade, a qual possuía um centro de comércio ligado a um porto.

As notícias trazidas em sussurros de além das fronteiras aparentavam ser assombrosas. Aqui ou ali, eu conseguia encontrar feições preocupadas e contidas. Todavia, como os magísteres e o rei não haviam recebido declaração alguma da Aliança de Lordaeron, a população da cidade encarava tais informações como eram de fato: boatos.

Eu e o intendente Ilormu caminhamos cautelosamente sob um feitiço de invisibilidade, o qual não permitia que ninguém nos visse além de nós mesmos, até o porto fora dos principais muros da cidade. Lá, em um lugar mais afastado e discreto, estava um cais repleto de caixas de madeira e malas. Ele estava cercado por poucos barcos relativamente pequenos, mas que seguiam o padrão refinado dos altos elfos, um tanto plano composto por madeira de cor praticamente branca com partes pintadas em azul.

Dentro deles, alguns marinheiros armavam as velas, também azuis enquanto outros depositavam as malas e caixas do cais. Um aglomerado de elfos se distribuía entre ele e o barco mais próximo à direita, conversando entre si e despedindo-se de seus parentes e amigos.

Aproximo-me de três deles, um jovem elfo discutia desacreditado com um casal.

— Vocês deixarão mesmo tudo para trás? Por que? - disse o jovem de cabelos castanhos e longos que trajava roupas de tecido, verdes e simples.

— Não, rapaz. É apenas uma viagem de negócios. Queremos que você cuide da nossa loja, és o nosso melhor funcionário. - disse um elfo de roupas de tecido vermelhas aveludadas com adornos prateados, claramente mais rico que o anterior.

— Mas...em Kalimdor?

—Sim, pretendemos ir para a cidade noctiélfica, lembra daquele comprador? Ele mora lá. Não sabemos se seremos tão bem vistos, mas não creio que seja um problema, já que não passamos de simples mercadores. - disse a companheira, de cabelos louros que trajava um vestido dourado com alguns adornos. Seu rosto retorceu em desprezo quando ela citou o povo altaneiro. - Mas antes, temos que parar em... como se chama o lugar, querido?- ela olhou para o companheiro em busca de respostas.

— É uma fortaleza recém construída, creio. Guardanorte, se não me falha a memória.

A conversa prosseguiu com mais perguntas do fucionário, entretanto eu decido dar continuidade à minha cuidadosa caminhada. O intendente, sempre observador, me acompanhou tentando prestar atenção em todos os detalhes que o aglomerado de elfos lhe fornecia.

Prossigo mais solitário até o barco mais próximo do cais, procurando não encostar em nada ou ninguém. Alguns quel'dorei se organizavam no convés, prontos para partir, outros simplesmente desceram para o adar inferior do barco de tamanho mediano.

Observo aqueles que ainda não adentraram na embarcação, até que encontro um elfo de rosto um tanto belo, cabelos longos de cor pérola e com a armadura de placas de guardião de Quel'thalas. Tinha uma lança e um escudo preso nas costas. Ele abraçava fortemente uma criança elfa, uma garotinha com um vestido azul claro e cabelos da mesma cor que o do elfo mais velho e presos em uma trança um tanto curta.

Após isso, a pequenina virou-se rapidamente para abraçar outro elfo, de fisionomia parecida em relação ao anterior, mas com aparência mais jovial, cabelos curtos da mesma cor que o do guardião e uma armadura de couro, malha e poucas placas azuis. Em suas costas estavam duas espadas gêmeas de tamanho médio cruzando-se no formato de um x.

"Ele é o filho mais velho, e eu... em uma outra vida."

A pequena elfa foi de encontro à sua mãe, uma bela elfa de cabelos preto-azulados que usava um vestido longo violeta, e agarrou-lhe a mão.

Meu antigo eu se ajoelhou perante a garota e pôs as mãos em seus ombros.

— Cuide bem de nossa mãe, Vesneci. - ele olhou para sua mãe e sorriu, recebendo outro sorriso de volta por parte dela e voltou a encarar sua irmã.- Não a desobedeça, sim? Em breve estaremos juntos novamente.- eles se abraçaram novamente.

— Sim, Vesno.- a elfa respondeu abraçando-lhe fortemente com os olhos fechados.

Em seguida, foi a vez do jovem Vesnoshir e sua mãe se abraçarem.

— Você tem certeza? - ela indagou.

— Sim, mãe. É o dever do meu pai e logo será o meu também. Vou proteger nossa cidade com ele.

Quando o abraço se findou, a elfa o encarou pondo a mão direita em seu rosto com certo pesar.

— Se cuide, meu filho.- ele assentiu em seguida. Estava amargurado, porém determinado.

— Anora...

Ela e seu companheiro se aproximaram.

— Nós nos veremos novamente, meu amor.- disse ele.

— Só espero que não demore tanto, Liuthas.

— Não.. não vai demorar. Enviarei uma mensagem para vocês quando for completamente seguro retornar.

Ela assentiu e como um ato de despedida, eles se beijaram rapidamente.

— Cuide do Vesno, dalah'surfal.- ela afirmou, sorrindo.

—Cuide da Ves. Shorel'aran, meu amor. - ele respondeu com a mesma feição.

Após isso, as duas elfas subiram no convés do barco, alguns minutos depois ele e os demais partiram . Vesnoshir e seu pai permaneceram imóveis enquanto observavam o pequeno conjunto de barcos até eles sumirem de vista no vasto oceano.

Distancio-me do cais e encontro Ilormu sentado de braços cruzados olhando para baixo e concentrado em pensamentos em cima de um caixote de tecidos.

— Intendente?

Ele me encara em seguida, voltando sua atenção para o suposto presente.

— Sim?

— O que aconteceu com esses elfos que partiram? O que aconteceu com minha mãe e irmã?

Ele me olhou com uma feição confusa.

— Ah... Eu não sei o que houve com eles, desculpe.

"Claro, não era obrigação dele saber... E por que esse assunto me interessaria?"

Encaro-o mais uma vez.

— Nunca sequer ouviu falar delas? Vocês me encontraram aleatoriamente, por que não elas?- Insisto.

— Hum... não foi aleatoriamente.- Ele gesticulou enquanto estreitava os olhos. - Talvez... talvez eu já tenha ouvido falar do nome Vesneci, mas não recentemente, sinto uma vibração oriunda do futuro... Todavia, é de fato um nome familiar. Quando acabarmos aqui posso procurar mais a respeito e lhe informar, caso queira.

Eu assenti, um tanto contido e confuso, mas me limitei a olhar para o horizonte. O jovem Vesnoshir e o seu pai Liuthas já haviam partido e o porto estava estranhamente vazio.

Lembro-me aos poucos dos fatos que ocorreram nas últimas semanas e visões do passado que eu revivi.

"As vozes do Lich cessaram... Isso está funcionando? Ainda me sinto confuso."

Inúmeras memórias dos meus dias servindo ao Lich Rei nas terras pestilentas irromperam minha mente, mas eu rapidamente as suprimi. Aquelas memórias profanas serão guardadas por enquanto, ao passo que eu tentarei desenterrar aquilo que ficou submerso para eu sobreviver em Áquerus.

O intendente pigarreou, trazendo-me de volta à realidade.

— Quer ir para a próxima?

— Claro.- respondo-o irônico.