Na cozinha do Palácio de Jade estavam os guerreiros, Mestre Shifu, Dishi, Jing-Quo, Mei e Xiaoli reunidos para, finalmente, começar a comer sem interrupções. Antes de se sentar, Po colocou mais um prato para cada uma das irmãs de Víbora e depois de serví-las, foi a seu lugar.

- Espero que se sintam à vontade aqui no Palácio de Jade. Seu pai e eu temos sido amigos por muito tempo, desde que ouvir falar de sua irmã e o grande Mestre Víbora a trouxe para treinar conosco. Agora, gostaria de saber, por que demoraram pra chegar? - Perguntou Shifu.

- Bandidos - respondeu Xiaoli dando de ombros e provando a sopa do panda - isso está ótimo! - Sorriu mostrando suas presas.

- Concordo - disse Mei, sorrindo da mesma forma que a irmã.

- Esperem, não mudem de assunto. Como assim bandidos? Onde foi isso e como conseguiram derrotá-los?

- Bandidos... crocodilos, não eram grandes adversários. Foi ontem no meio do bosque, poderíamos ter chego na hora do casamento, mas depois de lutar nos cansamos um pouco e precisávamos comer.

- Deve ter sido o bando do Fung e se foi, realmente não são - disse Macaco rindo junto à Louva-a-Deus.

- Mamãe nos ensinou as danças que você fazia... lembra que você ensinou a ela pra poder ajudar o papai a defender nossa casa? - Perguntou Mei e sua irmã mais velha assentiu - então, os dois nos ensinaram.

- É, papai cuidou da parte de melhorar nossa nossa velocidade pra atacar e defender, nos ensinou a usar a força dos músculos e mamãe ficou com a parte da dança mesmo, praticando movimentos com fita e quando aprendemos, papai nos deixava usar alvos pra enrolar a fita, o corpo ou só dar golpes.

- Que show! - Disse Po, fazendo com que elas sorrissem.

- Bem, fico feliz que tenham conseguido derrotar os bandidos – disse o Grão-Mestre que terminara de comer e se levantou – depois de comer, quero que as levem pros quartos. Amanhã treinaremos desde cedo. Será assim, mesmo quando Po voltar para Yu Qin.

Dito isso, Shifu se retirou. Os demais terminaram e foram dormir cada qual em seu quarto. Antes que Po e Tigresa pudessem se afastar pelo corredor que levava a seu novo quarto, Mei e Xiaoli os chamaram.

- Precisam de alguma coisa? – Perguntou Tigresa dando u passo em direção às irmãs.

- Não, Mestre Tigresa. Só queremos pedir desculpas porque não pudemos comparecer ao seu casamento – disse Mei e se curvou, logo, Xiaoli a imitou.

- Não há problema.

- É, não precisam pedir desculpas – disse Po.

- Queremos dar uma coisa a vocês, que nosso clã dá a todos os recém-casados, nós mesmos fazemos, é o nosso voto de felicidade – Xiaoli entregou um pequeno saco branco à Tigresa – boa noite.

As serpentes foram para o corredor principal dos quartos onde Víbora as esperava para mostrar onde dormiriam. Po aproximou-se de Tigresa sem entender o que quis dizer a mais nova delas. Mesmo Tigresa não sabia o que quis dizer até que desfez o pequeno laço de fita rosa claro que o fechava e o virou para que o que havia ali caísse na palma de sua pata. Era uma escultura em uma pedra cor-de-rosa, era uma flor de pessegueiro esculpida. Havia uma notinha que dizia:

“Está pedra é Kanga Rosa, harmoniza relacionamentos, estimula bons sentimentos e o amor verdadeiro. Sejam sempre um. Atenciosamente,

Mei e Xiaoli.”

Ambos sorriram e foram para seu quarto. Chegando lá, Tigresa a colocou numa mesinha que havia à frente da cama. Depois de se trocarem, foram se deitar. A felina já estava debaixo das cobertas, o frio se fazia cada vez mais presente, já que se aproximava o meio do inverno e com ele o festival.

Po ainda estava de pé buscando algo em seu armário e Tigresa se sentou na cama intrigada com isso.

- Aconteceu alguma coisa?

- Não, não, é... eu tenho uma coisa pra... te dar.

Depois de pegar o que queria, se sentou ao lado dela e abriu sua pata.

Qual não foi sua surpresa quando viu um cordão de fita verde que suspendia uma pequena pedra em algum tom de azul e formato de estrela, a cor da sabedoria presa à uma fita da cor da esperança.

- É a Lán Xīng, uma pedra antiga que é dada à um grande guerreiro em uma ocasião especial.

- Nossa Po, é lindo – disse ela olhando embobada para a o presente -, mas por que isso? E ela não é exatamente azul... parece, verde.

- É, é um tom engraçado de azul he he.

- E que ocasião especial é essa? – Olhou para o panda com um sorriso e guardou o presente em uma caixinha de madeira que estava no criado mudo ao seu lado da cama.

- É pra quando esse guerreiro pra quando ele seja pai.

Tigresa abriu os olhos a não poder mais e seu corpo enrijeceu. Eles não podem ter filhotes, é impossível! Sem conseguir impedir, sentiu uma ponta de tristeza, já que não seria capaz de gerar um herdeiro.

- Mas, Po, não podemos ter filhotes...

- Eu sei, mas a gente pode adotar – sorriu – eu, ah... a gente não precisa passar nosso show de bolice tendo um bebê, mas a gente pode fazer isso quando adotar alguém e ajudar esse filhote a crescer, ser os pais dele.

Ela pensou um pouco nisso olhando para o cobertor vermelho. No caso dela, a adoção foi uma ótima ideia, mudou sua vida, apenas os deuses sabem o que haveria acontecido caso ela tivesse crescido sem aprender os ideias de nobreza, justiça e honra que carregava agora, mas por outro lado, houve Tai Lung na vida de seu pai. Já era passado, mas temia não conseguir ser uma boa mãe.

No caso de seu esposo, ele teve todo o carinho que um pai poderia sentir por um filho enquanto crescia, talvez por isso estivesse mais conformado com a ideia de adoção. Ele seria um bom pai. Mas, sinceramente, jamais havia pensado em ser mãe.

Po, percebendo isso, se cobriu e a abraçou para que ela se deitasse com a cabeça em seu peito. Assim poderiam dormir.

- Olha, você não tem que pensar nisso agora, eu só dei isso pra você agora, porque logo eu vou voltar pra Yu Qin e...

- Tudo bem, eu... a gente pode adotar sim, algum dia – interrompendo Po – só não quero que você demore pra voltar.

- Quando você estiver pronta – disse ele e depois lhe deu um beijo na marca central de sua testa – eu vou voltar logo, mas deixa isso pra lá agora. Boa noite, Ti.

- Boa noite, Po.

Ambos dormiram, embora a felina ainda estivesse um pouco em choque com dito presente.

No dia seguinte, o Grão-Mestre recebeu uma carta enviada da Cidade Proibida pedindo para que fossem apressados os procedimentos de proteção de sua filha mais velha. A coroação fora antecipada porque ela achou um pretendente e ali também foi explicado que a data seria na primavera por conta de o imperador Zhi não querer forçar sua filha a se casar com um completo estranho, o qual ela poderia nunca amar.

O panda vermelho comunicou seus alunos e eles não poderiam estar mais felizes, voltariam a ver seu amigo mais cedo e conheceriam a cidade imperial e Po planejava secretamente voltar com eles, ou seja, colocar outro em seu lugar antes que se fosse de lá.

Mais cinco dias de duro treinamento se passaram e com eles cinco belas noites para os recém-casados, nas quais aproveitaram para ficar juntos o quanto podiam, embora em alguns dias houvesse uma garoa gelada que logo deu lugar à neve que cobriu o vale, não importava para eles. Se divertiram juntos nas poucas horas restantes do dia antes do jantar, assim como seus amigos.

A manhã do sexto dia chegou e o primo de Tigresa, líder de Hu Yong, deixou o vale dois dias antes alegando que tinha que cuidar de suas terras.

O detestável dia da despedida chegou.

Na porta do Palácio de Jade estavam todos os alunos de Shifu, do lado de dentro. À frente deles, os pandas, o pai de Po e o próprio guerreiro que deixaria o vale e um de seus bens mais preciosos.

- Bem, eu tenho que ir, mas logo vocês vão encontrar a gente pra irmos pra cidade imperial – disse ele.

- Sim, logo depois do festival de inverno.

- Ah, Po, vai ser uma pena que você não esteja no festival de inverno de novo... – disse Víbora.

- É, eu até dividiria meus biscoitos especiais com você – disse Macaco.

- Não se preocupem, no ano que vem eu vou estar aqui com vocês. Cuide bem da minha esposa – disse ele para Hui Nuan que estava a seu lado com as malas prontas.

- O que? Achei que eu voltaria pra prisão...

- Não, eu você vai ter como consertar todo o mal que fez, mas não daquele jeito. Já se arrependeu e o verdadeiro culpado ainda está solto – depois, aproximou-se de Tigresa e a beijou – até logo, Ti – sorriu tentando esconder que não queria ir.

- Até logo, Po – escondeu perfeitamente que queria pedir a ele pra ficar.

- Não se esqueça de cumprir com seu dever para voltar logo pra casa – disse Shifu.

- Não vou me esquecer.

O Dragão Guerreiro se virou e começou a descer as escadas ao lado de seu pai, deixando todos perplexos com o que ele disse à Hui antes de ir.

-

Três dias mais tarde, na Cidade Proibida, Ayra não podia estar mais feliz que seu pai permitiu seu casamento e adiantou a coroação, para que pudesse estar com seu noivo e ambos serem apresentados à China.

Por outro lado, estava preocupada com Xue. Estava cada vez pior, suas dores a estavam impedindo de sair de seu quarto tanto quanto gostaria e não conseguia fazer suas atividades. Quando a dor surgia, era carregada a seu quarto, não conseguia se quer caminhar.

Os melhores médicos da região a examinaram e não souberam dizer o que ela tinha. Ninguém descobria e até a família de Hai Li estava preocupada com ela e se ofereceram para fazer remédios com plantas medicinais e flores. Se alguém conhecia essa medicina, eram eles. E de certa forma, mantinham a dor de cabeça da jovem pantera branca controlada, pelo menos a ponto de ela poder descansar e dormir sem problemas.

Zhi andava de um lado para outro na sala do trono com seu amigo Fa Huo sentado na escada o encarando.

- Por que você está assim?

- Minha filha... olha o estado em que ela está? – Disse ele parando em frente ao panda.

- Logo ela melhora...

- Melhora?! A mãe dela, An, teve a mesma coisa e se foi. Não quero que isso aconteça.

- Se eu pudesse ajudar... – disse ele. “Eu poderia ajudar a melhorar, mas se ela é mesmo como a mãe eu não quero que ela viva, não uso meus poderes com ela”, pensava ele.

- Está tudo bem.

- Eu tenho que ir.

- Ir aonde?

- Para meu lugar... onde eu estava. Quero que cuide de minha filha enquanto eu não voltar – disse Fa Huo se levantando.

- Por quê? Eu...

- Olhe, logo os mestres do Vale da Paz estarão aqui para a coroação e eu não quero me dar ao azar de encontrar com eles, ao menos, não agora.

- O que você vai fazer?

- Só fazer o que fui destinado a fazer, e você cumprirá sua parte que é fechar os olhos, como fez antigamente.

Não houve resposta. Zhi ignorou e se sentou derrotado em seu trono com a cabeça baixa.

- Foi o que pensei... já me despedi das meninas e de Ju. Adeus, amigo – deu a volta e se foi.

Chegando à entrada, tomou sua capa e se cobriu para sair. Poderia demorar dias, mas estaria próximo a seus espelho e prisioneiros. Deveria manter as coisas sob controle. Voltaria quando os guerreiro já houvessem deixado o lugar para tomar a pedra de Tigresa e realizar o que ele acreditava ser destinado a fazer.

A noite chega e o céu de inverno, sem nuvens e cheio de estrelas cobre toda a China. O ar frio incomodava e muito, mas felizmente, a maioria poderia acender fogueiras em suas casas e os que não podiam, eram abrigados por aqueles com condições de ajudar.

Em Yu Qin, Po estava se preparando para deitar. Já há dias não dormia bem. Sempre tinha aquele mesmo pesadelo, desde que se separou de sua esposa. Aquele pesadelo horrível em que um dragão negro matava uma fêmea de sua própria espécie e depois a ele, que no sonho era um tigre branco.

Não entendia o motivo desse sonho e não se atrevia em contar a ninguém. E naquela noite, sonhara o mesmo. Acordou no meio da noite e não conseguiu mais dormir. Sentia algo ruim no ar, talvez fosse apenas a agonia de não conseguir tirar essa ideia ridícula, essas imagens horríveis da cabeça. De certa forma, temia o que via ao dormir. Ele apenas não sabia que estava acontecendo algo que concretizaria esse sonho de uma outra maneira.

Na cidade imperial, Xue acordou no meio da noite. Sentou-se na cama, sua dor havia passado. Se sentiu muito feliz com isso, sentiu fome e se levantou. Não quis incomodar ninguém e foi buscar algo. Chegando à cozinha agarrou um prato de bolinhos deixados ali e chá verde para voltar a seu quarto.

Sentou-se na cama e comeu um pouco, tomou alguns goles. Ao deixar novamente o copo sob o criado mudo, ouviu um leve barulho atrás de si e ao se virar, não viu nada. Ignorou e terminou com seu lanche.

Ouviu novamente o barulho e então, não viu nada atrás de si novamente. Quando virou-se de volta, sentiu uma pontada em sua cabeça e resolveu se deitar. De olhos fechados, enterrou a cara no travesseiro e ouviu alguém chamar. Volteou na cama e ficou de barriga para cima e ao abrir os olhos, viu sua irmã...

“O que ela está fazendo?”, pensava Xue.

Ayra estava entrando num quarto, um dos que era oferecidos a hóspedes. Assim que entrou revirou gavetas e a bolsa de alguém. Achou o que queria e abriu um sorriso. De uma gaveta, retirou coletes vermelhos com padrões de videira dourada, retirou também um cordão negro com símbolo do Yin Yang e correu para se encontrar com uma grande figura encoberta por uma capa negra que estava na área dos serviçais.

“O que... ? Ayra, está roubando? Isso só pode ser um sonho...”, pensava ela. Então voltou ao normal. A visão daquele quarto de hóspedes deu espaço ao seu próprio, à escuridão que se encontrava, levemente iluminado pela luz prateada da lua.

- O que foi isso?

A dor de cabeça havia deixado Xue assim que ela começou a ver o “roubo” de Ayra. Teria tido um sonho acordada? Uma imaginação idiota?

Bem, talvez. Ignorou e voltou a dormir, feliz que estava melhor.

-

Nos dias que se seguiram, tudo ia normal, inclusive o frio e a neve que aumentava nas ruas.

O treinamento das irmãs de Víbora progredia. Tigresa estava se sentindo estranha e culpava a saudade por isso, embora não admitisse para seus amigos e seus pais. Combateram bandidos e tudo o mais.

Po tentava melhorar a vida de seu povo, pensando em apresentar logo seu sucessor. Queria saber como faria para que os aldeões o aceitassem juntamente à sua companheira.

Ayra, Zhi e Xue, assim como os conselheiros estavam ocupados com os preparativos da cerimônia e a mais velha das panteras igual ao urso negro, estavam estranhados com a melhora repentina da felina.

Xue foi até a estufa do palácio e sentou-se em um banco para relaxar aproveitando a tarde. Distraída com as flores do casamento da irmã que foram plantadas ali por sua ordem e não reparou quando alguém se aproximou dela.

- Bom dia, minha jovem – disse uma rouca voz feminina.

- Ah! Quem é você? – Se assustou ao ver uma senhora a seu lado.

- Meu nome é Fala Macia e sei que você precisa de ajuda.

- Ajuda? Como...

- Eu sei? Acredite ou não, eu posso ver... o futuro e descobrir o passado.

- Como você entrou aqui?

- Sou uma abrigada do palácio, passo aqui em viagem. Há alguns como você que precisam da minha ajuda.

- Como eu?

- Sim. O que você teve, o que você tem, é um dom.

- Dom?

- Sim, você vê coisas, não vê? Assim como eu...

Com essa afirmação da cabra, Xue ficou intrigada. Ela realmente sabia?

- Você tem um dom e sua dor era apenas por tentar resistir à isso. Não tem porque temer.

- Eu mal me lembro o porque eu tenho medo disso, mas tenho. Me assustei ainda mais quando senti dores, minha mãe as sentia e...

- Eu sei, querida – colocou uma pata no ombro da pantera -, não fique assim. Talvez um dia se lembre exatamente o porque você tem medo disso. Estou aqui para ajudar e dizer que não tenha medo. Tudo o que quiser, pode me perguntar e eu a ajudarei.

A felina não estava certa se contava sobre sua irmã ou não. Resolveu deixar de lado e apenas agradeceu a anciã.

- Quanto tempo vai ficar?

- Até que você desenvolva um pouco mais e esteja segura de que isso não lhe fará mal.

- Não tenho tanta certeza...

- Não é quem ou o que você vê que fará mal, é o uso que se faz e as decisões que se toma á partir disso.

Xue começou a pensar e sorriu. Confiaria nessa senhora e precisaria já que quem poderia tê-la ajudado antes, não quis.

Ele apenas se recusou a dizer que poderia melhorar o estado de saúde da jovem. O panda já chegara ao castelo, a antiga fortaleza das irmãs Wu. Já havia visitado seu prisioneiro.

Ele estava novamente conversando com o espelho, mais precisamente com quem estava lá, de quem ele usava para arrancar as informações que podia. Um oráculo, de certa, forma muito especial.

- Sabe... tudo o que você fez, todo seu sacrifício, não valeu de nada. Desde o início dessa história, desse ciclo... – dizia enquanto andava de um lado para outro na torre do espelho e ele brilhava normalmente – soube que a luz se tornou muito forte enquanto eu estava fora. Talvez eu não tenha evitado que eles estivessem juntos, mas evitarei que a história continue – sorriu satisfeito.

Saiu do quarto depois de saber o que queria, enquanto deixava o ser do oráculo com o coração em pedaços. Há anos, ao aprisionar outra pessoa no espelho para usá-la dessa mesma forma, viu o que aconteceria num futuro que era distante e agora, era o presente. Era a união dos guerreiros lendários, a Guerreira Prometida ou Fênix e o Dragão Guerreiro ou Guerreiro Verde-Jade, aquele que herdaria o Chi dos Heróis. Por experiências e sua pureza, também conquistaria a paz interior e a sabedoria da tartaruga verde, por isso o apelido pouco dito de “Guerreiro Verde-Jade”. E por não gostar dessa ideia, queria saber o porquê sentia tanto ódio pela união dos dois, mas seu oráculo escapou porque seu companheiro a resgatou dando sua vida em sacrifício para que a pedra a libertasse.

Logo, conseguiu um substituto e descobriu as origens de sua vontade de cortar os laços. Não poderia evita-los, alguma hora se reforçariam, mas era apenas uma questão de tempo para terminar o que começou.

- Me aguarde, Dragão Guerreiro – disse ele enquanto se dirigia para seu quarto no castelo e riu sozinho anunciando ao jovem crocodilo que já era hora de ajudar seu novo amigo.

-

À tarde, os guerreiros continuavam com seu treinamento em duplas divididos pelo pátio. Tigresa contra Macaco, Louva-a-Deus contra Garça, depois eles trocariam de duplas. Víbora estava com suas irmãs e Mestre Shifu orientava o treinamento das novatas. Hui Nuan ajudava com os afazeres do palácio.

Na hora do jantar, antes que eles se dirigissem à cozinha, o panda vermelho pediu a atenção de todos.

- Sei que está frio e vocês devem estar com fome, mas quero instruir vocês. Amanhã será o festival de inverno. Espero que vocês se divirtam. Terão o dia de folga, mas na hora do festival, devem estar de olho em toda e qualquer ameaça aos cidadãos do vale.

- Sim, mestre – disseram os guerreiros.

- Então, tudo bem. Podem ir.

Todos se curvaram e se dirigiram até a cozinha. Macaco cozinhou e serviu alguns rolinhos recheados aos amigos junto à porções de tofu e chá. Quis aprender a cozinhar para quando os empregados do palácio estivessem muito ocupados, já que Po não estava ali.

Tigresa mal tocou em sua comida. Apenas pensava no quanto era ruim ter um quarto enorme sem ter um panda bobo derrubando as coisas quando acordava e despertar sem estar deitada na confortável barriga dele, usando-o como almofada. Basicamente um urso de pelúcia gigante. Mas tinha coisas dele para se lembrar, como o bonequinho que pertencia a ele quando bebê, o qual ela mantinha junto ao travesseiro, o colar para o filhote que adotariam assim que ele voltasse e seu colar, que de certa forma, foi um presente dele e de seu pai Hui Nuan.

- Tigresa? – Chamou Hui Nuan.

- Hm? – Saindo do transe.

- Você está bem? Mal tocou na comida, uma guerreira forte e adulta como você não deve ficar sem comer...

- Ele tem razão – disse Mestre Shifu, com um pouco de ciúme notável em seu tom de voz.

- Não estou com tanta fome.

- Depois de comer tudo aquilo no almoço, nem eu estaria com fome – brincou Louva-a-Deus.

- A verdade é que você não aguenta comer nada – respondeu Macaco – você é muito pequeno – riu.

- Não diga isso de novo... sou pequeno mas sou bom guerreiro e forte. Tamanho não é documento.

- Bem, eu vou dormir. Amanhã eu prometo comer direito – disse a felina se levantando.

- Claro, amanhã é o festival, vai ter muita comida boa – disse o primata.

- Boa noite.

- Boa noite, Tigresa – disseram todos.

Víbora ficou preocupada. Sua amiga já não estava normal depois que o panda foi embora, agora estava um pouco pior. Antes, quando ele ficou um ano longe e Tigresa ficou sem saber se ele ainda a amava, ela se comportou de maneira parecida, então a serpente pensou que não deveria se preocupar muito. Logo ela voltaria ao normal, assim que se acostumasse com a saudade.

No quarto, a felina se trocou e foi deitar, não sem antes pedir aos deuses que tudo estivesse e terminasse bem, independente de quando terminasse.

Deveria descansar, o dia seguinte seria cheio de surpresas como em todos os festivais e também atarefado por conta do festival. E já estava exausta e com preguiça apenas de imaginar o quanto teria que andar para atender todos os seus amigos, o povo do vale e ajudar na organização como queria fazer, além de ir para a casa de seu sogro ver o que poderia fazer, já que Po não estava.

Mas só de imaginar o delicioso macarrão daquela loja, já se sentia melhor. Ela sabia cozinhar, mas não sabia tanto. Seria bom aprender para surpreender seus amigos cozinhando no festival.