Bem ao sul da China, Hui estava sentado no convés olhando friamente para a paisagem ao seu redor. Ele estava com a cabeça longe, imaginando onde seu sobrinho estava. Ele mandou matá-lo, mas de certa forma se arrependeu. Como não tinha herdeiros, queria que fosse Dishi a assumir o trono.

"... e seria ele, se Akame não tivesse aberto aquele enorme focinho. E ainda, esses idiotas o deixaram escapar com os pergaminhos... ou pelo menos uma parte deles", pensou ele com ironia olhando para partes rasgadas de papel que estavam em suas patas. Foi guardar em seu quarto.

Sentou-se em sua cama pensando na esposa. A quem ele poderia enganar? Sentia sua falta, aliás, de ambos os tigres de sua vida, os únicos com quem teve alguma ligação na qual se via, no mínimo, se chamar carinho.

– Senhor, chegaremos amanhã ao fim da tarde - disse um soldado a seu lado, com um grande sorriso. E Hui também sorriu, como há alguns dias não fez mais.

– Ótimo. Preparar o desembarque assim que aportarmos. Essa noite festejaremos a nossa volta.

No degrau mais aldo das escadas para o Palácio de Jade, uma grande figura recuperava o fôlego. Estava se acostumando com as escadas, aos poucos. Assim que voltou a respirar normalmente, correu a toda velocidade que tinha para a cozinha. Sabia que a essa hora sua mestre favorita estaria meditando.

Chegando, encontrou com Víbora e Garça que estavam arrumando o que Po pediu antes de sair.

– Oi gente - disse ele sorrindo - ah, já estão arrumando as coisas. Valeu.

– Oi, Po - Garça retribuiu o sorriso do urso.

– Tudo bem, Po. A gente sabia que você foi ver a Song e decidimos começar por você assim que Tigresa foi meditar.

– Ah, ótimo. Bom, vamos cozinhar... hehe.

– Vou no meu quarto buscar o seu pacote - disse a serpente saíndo da cozinha.

Víbora voltou trazendo uma pequena caixa e eles passaram minutos trocando receitas e decidindo o que seria melhor para os pratos de hoje. Entram na cozinha, Louva-a-Deus e Macaco e começam a fazer piadinhas sobre a tentativa do panda de comemorar o aniversário do tigre.

– Awn, mas que lindo! Po fazendo um jantar especial para a gatinha - brincou Macaco tentando mostrar uma carinha de criança, apelidando assim Tigresa enquanto não estivesse perto.

– Ela vai retribuir sabia? Não te usando como saco de pancadas amanhã - disse Louva-a-Deus fazendo seus amigos rirem.

O riso do panda dessa vez foi de nervosismo. Seus amigos não tinham jeito, sempre brincariam assim quando se tratasse dos dois mestres.

– Só espero que tenha algo assim também no meu aniversário - continuou o pequeno guerreiro, ele parecia falar sério e Víbora lhe deu uma chicotada com sua calda - ai! Era brincadeira.

– Ignore o Louva-a-Deus. Mas é muito gentil da sua parte fazer isso por ela - Víbora sorriu.

– Po, estou curioso, o que tem aí? - Perguntou o inseto, notanto a caixa.

Enquanto Po contava, eles estavam sendo ouvidos por seu mestre. Ao final da conversa, ouvindo o panda se aproximando do corredor levando com ele a tal caixinha, Shifu saiu para não ser pego por ouvir a conversa sem querer.

A tarde chegou ao fim. O céu tinha um belo tom de azul e estava cheio de estrelas. Tigresa já não meditava, estava sentada respirando lentamente para terminar por ali o seu dia.

"Mais um ano se passou. Mais um ano de kung fu", pensava ela. Embora na China, todos se considerem mais velhos quando chega o ano novo, era hoje, nesse dia que completava realmente seus 25 anos. Há 11 anos Shifu a levou de seu pesadelo e trouxe a ela uma vida completamente nova. Nos primeiros anos ele dava votos de felicidade, mas deixou de fazer isso quando ela pareceu não ligar mais.

Isso deu a ela uma pontada de tristeza. E uma coisa a fez ficar um pouco pior.

"Nenhum dos outros cinco me disse nada. Bom, Po não sabe que dia é hoje", Tigresa se deixou suspirar. Tinha seu semblante franzido, quando ouve alguns passos e pelo barulho, podia adivinhar quem era.

– Você não é nada discreto, Po - disse ela de costas para que não ele pudesse ver seu sorriso pelas pequenas trapalhadas do panda.

– Hehe, Tigresa, quero falar com você...

Ela apontou para o lugar a seu lado, o encarou tranquilamente e esperou para ouvir o que ele tinha a dizer. Po que escondia os braços nas costas, os trouxe para revelar a caixinha vermelha fechada com uma cordinha e uma linda flor do pessegueiro presa a ela. O que ele queria com isso?

– Pra você... feliz aniversário - disse e entregou timidamente o presente, deixando a felina surpreendida.

– Ah... Po, não precisava.

– Abre - ele parecia mais ancioso do que ela e estava agitado.

Ao abrir a caixinha, viu um medalha com o símbolo do Yin Yang, Yin prata e o Yang pintado de preto. Ela era suspensa por um cordão negro e tinha um feicho também em prata. O tigre segurou e olhava feliz para seu presente simples, e tentando colocá-la:

– Po, é lindo. Obrigada.

– Naah, nem precisa agradecer. Deixa eu te ajudar - ele se levantou para prender de vez seu presente ao pescoço dela - é pra você não esquecer que eu to sempre aqui.

"Ah, ela gostou. Shoow!!"

Ambos sorriram e ele se lembrou a surpresa armada de seus amigos. Agarrou a pata de Tigresa, mal deu tempo para que se levantasse e pegasse a caixinha.

– Vamos, tem mais uma coisa que fizemos.

– "Fizemos"? Quem?

Se deixou levar, e chegando à cozinha...

– FELIZ ANIVERSÁRIO, TIGRESA! - Gritaram juntos os outros membros do Cindo Furiosos.

A felina se assustou, mas manteve a postura para não demonstrar e abriu um sorriso, um pouco maior do que eles estavam acostumados a ver. Dentro da cozinha enfeitada com algumas fitas rosa que Víbora comprou e algumas lanternas vermelhas, Po a guiou para a ponta da mesa e se sentou entre as amigas. Tigresa passou seus olhos pela mesa farta onde havia seu delicioso tofu, o macarrão especial de Po, entre outros pratos, um bolo simples bolinhos de pasta de feijão branco e bolinhos com mel.

– De quem foi a ideia? - Perguntou ela presunçosamente olhando para todos, em especial para Víbora, mas a serpente tratou de se defender.

– Foi dele - apontou para Po com sua calda, e ele corou um pouco - ele nos deu a ideia e o ajudamos com o jantar, queríamos comemorar seu aniversário pela primeira vez.

– Sempre quisemos, mas não sabíamos se ia gostar - disse Macaco e observando o cordão de Tigresa, cutucou Louva-a-Deus - aaah, esse é o verdadeiro presente do Dragão Guerreiro, ein?

Eles tiraram risadas de todos, menos de Tigresa, de quem só conseguiu uma sobrancelha levantada, como se estivesse indignada.

O jantar passou normalmente com as brincadeiras, mas dessa vez, até Tigresa brincou. Estava feliz, com tão bons amigos que tinha e que ela sabia, fariam tudo uns pelos outros. Eram sua família.

Shifu estava sozinho no Sagrado Hall dos heróis, meditando diante da piscina de reflexão, com o bastão de Oogway. Se sentia triste e o controle de sua paz interior fugia dele nesses momentos. Não se sentiria bem entrando no jantar que tinha preparado para sua filha, quando ele não fez nada mais que deixá-la crescer fria.

– Mestre Oogway, preciso de um conselho seu. Não sei exatamente o que fazer para me aproximar - dizia ele de olhos fechados observando a escuridão - mesmo achando que já é tarde demais, gostaria de tentar...

Suas palavras foram interrompidas por uma forte luz e visualizou um belo lugar, estava sentado na grama quando percebeu, imaginou o que o levou até lá e se levantou. Vagando pela campina, encontrou o que procurava.

Naquela noite, os mestres estavam em seu quarto, já dormindo porque o treinamento foi duro e ainda correram para preparar o jantar. Mas um certo panda que estava na cozinha terminando de lavar os pratos, indo para seu quarto. Se deteve na porta a frente da sua e chamou.

Dela saiu o tigre, ela estava quase dormindo, antes de ele aparecer. Ele apenas deu um rápido abraço nela.

– Feliz aniversário de novo, Tigresa.

Para o espanto do panda, ela retribuiu o abraço mesmo estando muito sonolenta. Não tinha porque não fazer isso desde que Macaco e Louva-a-Deus não estivessem por perto para fazer piadas e deixá-los constrangidos. Tigresa se acostumou com a liberdade do amigo para a abraçar, ela começou com isso em Gongmen.

– Boa noite.

– Boa noite, Po - fechou a porta. Deitou-se e começou a pensar.

Como ele poderia ser tão bom amigo, mesmo depois de como o tratou? Fazia tempo, sim, mas ela ainda se sentia culpada por isso e também por ele quase morrer há um tempo atras. Mas ela sempre o protegeria, apesar de ser um mestre ainda era um pouco desajeitado e era um amigo importante.


A noite passou e o sol estava prestes a nascer, quando se ouviu uma batida no portão do palácio. Todos os guerreiros, inclusive Shifu, foram para o pátio. O Grão-Mestre abriu as portas e deixou cair um vulto à sua frente. Era grande e estava coberto por uma capa esfarrapada, ofegando, sentou-se diante dos mestres que estavam em posição de batalha.



– Quem é você? Está bem?


– Sim, de certa forma - disse a figura revelando seus braços e sua camisa azul claro com cortes e arranhões. Sua pata estava à mostra e todos viram a cor de sua pelagem, e ficaram em choque, em especial Tigresa.

– Vamos para a infermaria. Falamos depois que for atendido... - Shifu puxou o ser mas ele se soltou.

– Antes, eu preciso saber uma coisa - deixou caír o capuz revelando ser um tigre de bengala surpreendendo à todos que deixaram a guarda baixa - aqui mesmo é onde vive o Dragão Guerreiro?