– Sejam bem-vindos... guerreiros e... filho - sorriu o panda á frente de todos que estava com um manto verde semelhante ao do Grão-Mestre enrolado sobre suas vestes. Ele brincavam com as próprias mãos enquanto dedicava um terno sorriso e tinha os olhos marejados, unicamente para o Dragão Guerreiro.

O panda sentia seu coração bater mais rápido e forte, de repente recuperou sua razão de viver, a via com carinho e mais que isso, também tinha orgulho. Orgulho do que seu filho se tornou, sabendo que o Dragão Guerreiro deveria ser alguém sábio e de bom coração, já tinha uma ideia de como era aquele a quem mais amava.

Com essas palavras, todos ficaram abobados com seus queixos quase no chão sem entender. Todos, menos Shifu e Shun. Afinal, como poderia? Po estava o pior de todos eles, estava em choque. Sentia surpresa e felicidade por saber que eu seu verdadeiro pai está vivo e não sabia como agir. Teve a lembrança daquele dia horrível quando seu pai ficou para trás para que ele e sua mãe pudessem escapar... então ele conseguiu deter os lobos e ainda escapar? Parece que sim.

– O... que? - Depois de alguns segundos de silêncio, essas foram as únicas palavras que Po conseguiu articular.

– Senti sua falta, filho - disse o panda agora chorando e abraçou Po, que foi pego de surpresa pelo ato de seu suposto verdadeiro pai, mas retribuiu e sorriu.

Ambos não podiam acreditar no que estava acontecendo e não conseguiram deter as lágrimas que desciam livremente. Assim ficaram um bom tempo, ignorando a atenção de todos. Nos rostos de Víbora, Shifu e Tigresa, formava-se um sorriso pela bela cena do pai e filho, mas dentro do panda vermelho havia algo... um desejo imenso de ter um momento assim, vergonha de não ser capaz de fazer o mesmo por sua filha e não era capaz pelo medo de rejeição. Ele olhou para ela e notou seu olhar especial para os dois pandas.

Em troca, Tigresa estava feliz por Po e se sentia conformada. Sabia que jamais teria novamente algum carinho de seu pai... digo, mestre. Só teve quando a levou do orfanato e à partir daí, nada mais e ignorava o ataque dele na noite anterior. Queria acreditar que aquilo aconteceu não porque Shifu tinha ciúmes paternos, mas sim porque estavam em missão ou não queria que alunos seus se envolvessem. "Bom, ele não deu motivos pra gente se afastar, então... acho que vou tentar", pensou ela aumentando mais o sorriso, coisa que foi notada por seu mestre.

– Bem, acho que já sabem meu nome - disse o panda mais velho se libertando do abraço e enxugando as lágrimas com o dorso de sua pata -, mas de qualquer forma, eu sou Jing-Quo, o líder do clã.

– É um prazer conhecê-lo pessoalmente Jing-Quo - Shifu inclinou-se em sinal de respeito.

Em alguns segundos, todos imitaram o mestre, inclusive Po que conseguiu reagir apenas dessa forma, ainda emocionado e surpreso.

– Não é preciso reverências, muito menos você, meu filho - disse o pai de Po, colocando uma pata sobre seu ombro pra chamar sua atenção e ele assentiu.

Po iria abrir a boca para perguntar, mas seu estômago foi mais rápido e grunhiu alto fazendo com que todos o olhassem. Ele corou. De ansioso que estava para falar com o tal líder que tinha coisas importantes a dizer, que mal estava disposto a comer no café da manhã.

– Vejo que está com fome. Vamos à sala de jantar.

Ele envolveu o filho pelos ombros com seu braço direito e Po se deixou levar. Pelo caminho até a sala de jantar os pandas trabalhadores da casa de Jing-Quo, olhavam ou boquiabertos ou com sorrisos. Estavam felizes por seu tão amado líder ter recuperado seu filho que era sua razão para seguir vivendo.

Chegando ao local, o líder sentou-se na ponta da mesa com seu filho a seu lado direito. Logo ao lado de Po, sentaram-se em ordem: Song, Macaco e Louva-a-Deus (este em cima da mesa). À frente dele, sentaram-se Tigresa que às vezes olhava friamente para a leopardo, ao lado dela estava sua amiga Víbora e depois Garça. Na outra ponta, Mestre Shifu.

Quando eles chegaram, alguns ursos se apressaram á trazer comida. Macarrão, tofu puro, tofu recheado, chun juan, yang zhou chao fan, brotos de bambu, shari, feijão fermentado, entre outras iguarias salgadas e de sobremesa, bolinhos de feijão e de lua. Trouxeram chás de vários sabores. Começaram a comer em silêncio que era interrompido apenas por murmúrios e "que delícia", da parte de todos os recém-chegados.

– Então, seu nome é Po, certo? - Perguntou timidamente.

– Huh, sim... antes de eu me separar de vocês, eu não sei que nome me deram, mas meu pai me deu esse nome e... - soltou os chopsticks e tapou a própria boca. Esperava que Jing-Quo ignorasse essa parte, mas ao contrário do que todos pensavam, ele riu.

– Tudo bem, filho, não precisa se preocupar, sei que você deve ter crescido com alguém que tem muitos valores e honra para ensinar tanto e te fazer ser o que é – disse com um pequeno sorriso, mas se notava o pesar – eu e sua mãe sonhávamos em ver seus primeiros passos, suas primeiras palavras... mas vamos deixar isso de lado. Já passou. O importante é que te salvamos e hoje, você salva a todos. E não vou mudar seu nome, porque é quem você é.

Po sorriu pelas palavras de seu pai, assim como todos, mas ele ainda tinha uma pequena dúvida.

– Como soube que eu estava vivo?

– Mestre Oogway.

– O que?! – Todos se surpreenderam.

– Eu conheci Mestre Oogway algum tempo antes da profecia do Dragão Guerreiro ser revelada, ele viajou até a aldeia dos pandas atrás das montanhas, foi nos visitar depois de tantos anos... ele esteve conosco quando chegamos. E ele fazia visitas regulares de três em três anos, aproveitando que passava pelas montanhas para chegar à muralha e levar sua sabedoria a quem necessitava. Em um desses momentos eu precisei, foi quando ele chegou...

Chegaram num vale entre as montanhas geladas cerca de uma semana depois da tragédia, Jing-Quo pediu que procurassem por seu filho e ninguém se recusou. Encontraram somente o corpo de sua esposa em um estado que não se deve comentar, então ele deduziu que também perdera seu único filho. Mas sentia que ele ainda vivia e assim que não houvesse mais perigo para os pandas, buscaria novamente. Também tinha ainda um outro motivo pelo qual viver, que era proteger os seus.

Ele guiou o povo panda até achar em um vale encantador, pacífico e isolado onde poderiam se esconder enquanto Lord Shen seguisse vivo.

Alguns dias depois, chega à nova vila, uma velha tartaruga pedindo permissão para passar uma noite, já que por ali era seu caminho antes de os pandas aparecerem e o líder concedeu. Deram um quarto a ele e o convidaram à jantar. Durante esse tempo conversaram, não muito animadamente sobre o que Oogway faria quando chegasse próximo à muralha e evitando entrar no assunto dos últimos acontecimentos. A tartaruga percebeu que tinha algo errado com seu novo amigo.

Um pouco depois, mal tendo tocado em sua comida, Jing-Quo se dirigiu para a varanda da casa e depois de alguns segundos, Oogway o seguiu e o encontrou sentado na grama, diante da sua simples casa. O semblante da tartaruga se entristeceu e ele foi agachar-se ao lado do panda.

– Você, meu amigo, perdeu alguém pelos caprichos desse príncipe banido?

– Sim – suspirou Jing se esforçando para não desabar como fazia todas as noites -, eu perdi sim, meu filho e minha esposa.

– Eu sinto muito, foi uma grande perda.

– Não tem porque sentir, já é passado. Ainda tenho a esperança de que meu filho esteja vivo, mas estamos muito longe da nossa antiga casa, ficou tempo demais longe, já o procuramos enquanto Lord Shen voltou para o palácio, sem encontrar nenhuma pista ou rastro do meu filho e não vamos mais encontrá-lo. A China é grande demais.

Jing abaixou a cabeça tentando esconder seu rosto, as lágrimas de novo desciam por ele. Estava cansado de chorar, apesar de as mudanças bruscas serem tão recentes. Queria ser forte para quem estava ali com ele.

– Agora tenho que ajudar os que dependem de mim, já que quem ficou para trás e conseguiu deter os lobos para salvar a maioria que está comigo hoje, foi eu – acrescentou o panda.

– Sim, um bravo ato, tentando defender os seus, seus amigos e família e seguir em frente para eles – lhe sorriu Oogway tocando seu ombro com delicadeza, fazendo com que o panda olhasse para ele e então continuou – sabe, nem tudo é como a gente quer. Na verdade, é como um rio. Alguns nascem do mesmo lugar porém tomam rumos diferentes. Podemos jogar pedras, toras e assim obstruir sua passagem e obrigá-lo a ir por outro caminho, mas ele transbordará antes que se possa perceber e continuará por onde sempre deveria ir. Mas se deixarmos que ele corra seu curso, um dia ele se reencontrará com o outro rio que veio da nascente, e juntos, chegarão ao mar.

Jing parou de chorar no ato e olhava com admiração para o sábio que se encontrava ao seu lado, se esforçou para entender e acreditou que conseguiu. O tempo e o destino trabalhariam juntos para reunir quem foi separado.

Com o tempo, o sábio ancião visitava esse vilarejo quando deveria ir á vilas e cidades longínquas para passas sua sabedoria aos guerreiros, sejam de palácio ou MoGun. Assim, quando viajava, ensinava aos pandas alguns golpes de luta que poderiam ser úteis e também a arte do Tai Chi, para que pudessem exercer domínio sobre seu chi e talvez atingir a paz interior, podendo conhecer a simples e bela sabedoria que possuía Grão-Mestre do famoso Palácio de Jade.

– Sua última visita foi cinco meses antes da chegada do Dragão Guerreiro e então não soube mais dele. Há um tempo, estava angustiado e fui meditar. Fui parar em um lindo lugar que parecia a aldeia onde estamos hoje, mas havia felinos, pandas e outros animais vivendo em paz, e foi onde encontrei Mestre Oogway próximo a um lago, ali ele me mostrou você, salvando a China que eu saiba, pela segunda vez e sobrevivendo de novo – sorriu ao filho.

Shifu estava com uma sobrancelha levantada e uma pata em seu queixo. “Agora sim entendo por onde Mestre Oogway passava e demorava, e também sei para que”, pensou ele sorrindo para si mesmo.

– Quer dizer que você foi me procurar?

– Sim, eu fui, você e sua mãe eram, são e sempre serão as coisas mais preciosas em toda a minha vida e eu nunca desisti de ter você comigo outra vez. E agora meu sonho se tornou realidade.

Depois do almoço, Jing-Quo foi mostrar a cada um seu quarto.

Hui Nuan estava em sua cabine, deitado, mal saía dali.

Em suas patas, segurava uma pintura. Ele estava ali vestido de vermelho e dourado junto a uma tigresa de bengala vestida com um q’pao vermelho. Ela segurava um filhote que usava roupas verdes e douradas em seus braços e ao lado deles, o irmão daquela fêmea adulta que trajava colete e calças folgadas azuis. Jamais esqueceria que seu nome era Yi Jie, e o de seu irmão era Yun. Ele escolheu o nome do bebê, Lin.

O que ele sentia vendo as várias pinturas semelhantes a essa, não tinha preço, não tinha nada igual. Era um verdadeiro turbilhão de sentimentos onde se lembrava da felicidade que tinha em suas garras, a felicidade de ser pai e ter alguém que o tinha escolhido para receber junto a ele tamanho presente que era construir uma família. Sentia saudades disso, do irmão de sua esposa irritando o casal e dos barulhinhos que o bebê fazia, o seu bebê.

O que ele sentia por Akame era diferente do que por sua esposa. Por ambas chorava, mas só uma delas dedicou sua vida a ele, por mais curto que tenha sido esse tempo. Só uma dedicou verdadeiro amor a ele.

Junto a tudo isso, veio a ira e a imagem de sua Yi Jie fugindo com seu irmão e o bebê em meio a um incêndio, Hui Nuan pediu que corressem para se salvar. Depois disso, não teve mais notícias de nenhum dos três e acreditava que tinham sido mortos e o ódio tomou conta de seu ser.

"Aquele... aah! Tinha que começar usar o idiota do meu irmão, ele tinha que acreditar que seu plano de paz daria certo!", pensou ele com lágrimas nos olhos.

Sentou-se na cama soltando a pintura e apertando os punhos, cheios de rancor. Ele continuaria a se vingar, terminaria o que começou. Jamais perdoaria os que pensava que eram os culpados pela morte de sua filha.