O Verdadeiro Lar

Início do Caminho e o Amor de Mãe


Tigresa ainda pensando no que sentia ao redor, olhou fixamente para um beco onde chegava. Não havia nada mais que caixas. Deu de ombros e resolveu tentar esquecer.

– Onde estamos indo?

– Já estamos chegando à loja, vou comprar uma sombrinha pra mim. Vai comprar alguma coisa?

– Sombrinha? – Levantou uma sobrancelha entrecerrando os olhos, isso a fazia lembrar das Damas de Sombrinha, dançarinas que se revelaram ladras e que sua amiga, juntamente com Garça e Po derrotaram e mandaram para longe há um tempo atrás.

– É, e você vai comprar alguma coisa? – perguntou novamente ignorando a expressão da amiga.

– Ah... claro que não – disse tentando disfarçar o nervosismo por sua lembrança. Estava tentando se desviar do que ela mesma provocou, mas Víbora insistindo e insistindo, até que...

– Mas vai experimentar ou vou ter que te chantagear?

– Ah, está bem! Está bem, mas não faça nada! – cedeu enfim, com um grunhido, entrou na loja feminina seguida por sua amiga. “Sabia que ela tentaria isso, e ainda vim. Ela não me chantagearia na frente dos outros”, pensou ela.

– Se acalme, não vou contar a ninguém sobre isso.

Se alguém a conhecia esse alguém era Víbora. A mestre acabou indo de encontro à fitas. Sentia falta de dançar com elas... então se decidiu por uma sombrinha em vermelho com desenho de flores em dourado e por fitas de um leve tom de rosa.

Esperava que sua amiga saísse para ver como estava. Ao sair de um quartinho, Tigresa estava em um kimono de seda na cor vinho com acabamento em cetim verde jade que contornava a borda, bem como das mangas largas. Tinha um padrão espiral em verde não muito longo contornado com um fino bordado em dourado, que se encontrava nas extremidades. Havia uma faixa do mesmo tom de verde, abaixo do busto. A parte superior era justa ao corpo dela e a inferior era ligeiramente mais larga. Víbora sorriu, sua amiga estava linda.

– Na verdade eu quero dá-lo de presente a você – o tigre olhou para ela com dúvida – isso é pelos seus 25 anos.

Consideravam seu aniversário na data em que Shifu a adotou como filha, apesar de seu comportamento não ser exatamente o de um pai desde que ela começou a treinar. Seria dali a dois dias. Ela sorriu e agradeceu e como era quase hora do jantar, se dirigiram ao restaurante do Sr. Ping.

Os meninos estavam apostando e se divertindo, arrancando Po de barraquinhas de bonecos. Se sentaram nas escadarias que davam para o palácio para conversar. Foi então que o panda perguntou quando seria o aniversário de Mestre Tigresa e quando lhe contaram sobre a data e que ela não era de comemorar, ele decidiu planejar algo que pudesse ser simples mas seria de coração.

– Bom, estou pensando em visitar uma amiga quando as coisas estiverem mais calmas – Garça mudou de assunto, depois de observar alguns amigos andando a frente deles.

– Que amiga? – perguntou Macaco olhando para ele.

– Mei Ling. Devo muito a ela, inclusive visitas, porque prometi que quando estivesse tudo calmo por aqui eu iria. Ela está lá treinando novos guerreiros, pelo menos foi o que disse sua última carta.

– Uh, Garça recebendo cartinhas de Mei Ling... – Louva-a-Deus zombou do amigo com olhar malicioso, cutucando Macaco e Po que riram – e você ainda está aqui fazendo o que? Nós damos conta dos ladrões, não é preciso esperar.

– Não seja bobo, somos apenas amigos. E eu estou esperando pra ter certeza de que não há mais nada, porque da última vez que pensei em ir até ela, tivemos que ir para Gongmen. Não tive sorte.

– Mas isso não significa que algo vá acontecer de novo – disse Po.

– É você tem razão, vou esperar que o Mestre Shifu volte e vou pedir permissão... e falando em amiga, olha quem está ali Po.

Quando Po olhou para onde Louva-a-Deus apontava, era alguém que há muito tempo não via. Ela vinha em direção a ele, que se levantou.

– Ela é confiável agora, certo, Po?

– É sim, Louva-a-Deus. Ela não é mais uma ladra, agora é a líder show de bola de um grupo de dançarinas – respondeu o panda com um pequeno sorriso.

– Ih, não vai dar certo se Tigresa descobrir que ela está aqui – disse Macaco, já imaginando como a mestre reagiria a isso.

– E por quê?

– Porque ela demora pra confiar nas pessoas...

– Especialmente em quem já foi mau – Garça terminou a frase por Macaco e Po apenas engoliu em seco.

Os amigos saíram de perto e deixaram Po junto a Song, sentados na escada conversando sobre o que aconteceu depois da última vez que se viram. Ela estava de passagem, logo iria para uma longe dali para fazer apresentações com seu grupo em uma comemoração. Po teve então a ideia de convidá-la para jantar com seus amigos, pensou que não faria mal algum.

Em uma clareira longe dali, Mestre Shifu ia ao encontro de um ser encapuzado, era grande e aproveitando o entardecer, saiu de traz das árvores que se encontravam ao redor do local.

– Olá, Mestre Shifu.

– Olá. Aqui está minha resposta à sua mensagem, qualquer sinal de ataque é preciso que me avisem o mais rápido possível, não podemos permitir tal massacre. Ainda não acredito que isso seja real.

– Não se preocupe, avisaremos ao Palácio de Jade, obrigada por nos indicar reforços – a grande figura curvou-se e respeito e agradecimento, e após uma pausa – e isso sempre foi real, não foi lenda ou boato nem por um minuto. Agora devo voltar e levar a resposta a meu líder. Adeus.

– Adeus.

“É difícil acreditar nisso. Quando Mestre Oogway contava esta história para o povo do vale, nunca mencionou essa parte. Por que ele nunca disse isso ao povo?”

O que Shifu não sabia, era que se parte da história fosse contada, um de seus alunos seria expulso pelos aldeões e tudo porque seria procurado para que o massacre imposto pelo imperador tirano tivesse fim.

Akame estava sentada em uma pedra esperando que os soldados levantassem acampamento, enquanto seu marido traçava estratégias de invasão, próximo ao barco. Aparece o lince perto dela e se afastam.

– O que conseguiu descobrir?

– O Dragão Guerreiro está realmente no Vale da Paz, ele é um panda, o único que vi.

– Isso trará muita raiva ao meu marido – sussurrou Akame para si mesma – algo mais?

– Sim, eu vi um tigre-fêmea, como a senhora, parecia ter a idade do príncipe. Quase me descobriu. E tendo encontrado uma sobrevivente, eu diria que isso põe à prova a teoria do imperador sobre Dishi ser o Guerreiro Prometido.

– Ele não é, eu sabia, um motivo a menos para que Hui tenha medo de meu filho. Devo conversar com ele e você cumpra minha última ordem, fuja para longe e avise àquelas pobres criaturas que eles foram descobertos. Seja livre longe daqui ou senão meu marido matará você.

Nenhuma palavra a mais foi dita, o lince somente obedeceu.

Ouviu-se uma batida à porta.

– Entre.

– Boa noite meu filho, já aportamos e todos desceram para levantar acampamento por essa noite e abastecer a dispensa.

– Ah, está bem – Dishi respirou fundo – mãe, posso te perguntar uma coisa?

– Claro, e assim que eu responder, devo lhe contar algo antes que Hui volte.

– Ok, então... o que você e ele tem escondido de mim este tempo todo? Desculpe por ter ouvido a conversa de vocês, mas eu preciso saber.

– Dishi, era isso que eu queria ter dito todo esse tempo, ouça-me atentamente. Não sei nem por onde começar, mas vamos lá... – tomando fôlego ela disse de uma vez – Hui Nuan não é seu verdadeiro pai, e eu só me casei com ele para poder te proteger de sua ira quando ele assumiu o trono... ele teria matado você ao nascer e me mantido viva para carregar esse fardo. Por favor, me perdoe por isso – caiu ao colo do filho, em lágrimas.

– Como pode ser? Mãe... que história é essa?! – À medida que ele perguntava, Akame ficava mais desesperada para tirá-lo logo dali.

– Não posso te contar tudo, você deve ir embora e seguir seu destino. Tome, isso é seu, seu aniversário era só daqui a um mês mas você deve saber agora o que te espera e está tudo escrito aqui.

– E esse segundo?

– Este é do Guerreiro Prometido, só posso dizer que ele salvará nosso império que um dia já foi de paz. Está tudo escrito aqui o que aconteceria para que ele surgisse, e ele deve estar ao lado do guerreiro mais poderoso de toda a China...

– O Dragão Guerreiro – sua mãe apenas assentiu com um sorriso -, mas como farei pra encontrá-lo?

– Ele está no Vale da Paz, para o soldado que eu mandei foi rápido porque ele era veloz, mas é de um a dois dias de viagem – ela parou de falar ao escutar passos partindo em direção ao lado de fora do barco – não há mais tempo para nada. Vai, vai logo! Saia por lá – apontou para uma porta nos fundos do corredor.

– Mas, e você mãe? – Parou antes de se afastar de seu antigo quarto, seus olhos castanhos já deixavam cair algumas lágrimas. Não queria deixá-la.

– Nunca se esqueça que eu estarei sempre com você. Eu te amo, meu filho.

Os dois se envolveram num abraço que não durou muito, ela entregou a ele uma capa negra e mandou-o para fora.

Hui Nuan entrou no corredor que dava para os quartos, e viu a porta dos fundos aberta. Foi encontrar sua esposa em seu quarto, sentada olhando para nada, calada. À essa altura já não lhe importava o que aconteceria consigo, só se importava com seu filho e ter feito com que ele soubesse a verdade. Sua consciência estava limpa, enfim.

– Eu acreditei em você! Por que você me traiu, Akame?! – Resmungava o imperador tirano, estava extremamente furioso.

– Porque eu sei que você não cumpriria sua parte do acordo. Estamos empatados.

– Agora eu vou cumprir com a parte que diz que em caso de traição, eu poderia cometer certo sacrifício como acerto de contas. E acredite que Dishi não está em total segurança, meus guardas vão cuidar dele.

Ela não se arrependeu de nada, e ainda tentou golpeá-lo. Hui pegou Akame pelo braço e a levou para fora. Pronunciou sem emoção alguma a última coisa que ela ouviria.

– Adeus, meu amor.