Enquanto a confusão se armava no centro da vila, o imperador tigre estava junto a filha, ignorando tudo a seu redor. Só tinha olhos para a tigresa que estava a sua frente

– Filha, Lin, como é bom saber que você está viva. Como você cresceu - dizia Dishi admirando cada traço da felina e segurando o rosto dela entre suas patas - e ficou linda como sua mãe. Ela estaria orgulhosa de você de da guerreira magnífica que se tornou - acrescentou ele, deixando cair as lágrimas de orgulho e felicidade.

Tigresa ficou sem palavras e seus olhos ficaram marejados, não sabia o que fazer. Foi agarrada em um abraço novamente, uma braço protetor de seu verdadeiro pai que murmurava o quanto ela estava linda, o quão orgulhoso ele estava dela.

Po gostaria de ficar ali com ela, mas ele e Dishi deveriam parar a batalha que continuavam na terra dos pandas. Mais uma vez, uma guerra sem sentido contra esse pobre povo.

– Vamos, Po. Primeiro temos que parar os soldados do meu tio.

Po assentiu e ambos correram para a baderna tentando parar as lutas.

– Gente, ei pessoal! Parem de lutar - gritava Po - chega, acabou!

– Como assim, acabou? - Perguntou Shifu aparecendo ao lado do panda.

– Hui Nuan se rendeu - respondeu Dishi sorridente - e está se acertando com Lin.

– Bem, vamos parar com tudo isso - respondeu Shifu.

– Víbora, Macaco, segurem Hui Nuan - pediu Po.

– Mas e a luta? - Perguntou Macaco mandando mais um felino longe.

– Vou cuidar disso, agora vão antes que ele escape.

A serpente e o primata obedeceram ao pedido e correram até onde o imperador tirano estava abraçando apertado sua amiga. Surpreendentemente, ela estava correspondendo.

Tigresa estava feliz, completamente. Agora sabia que não foi abandonada por ser um monstro, na verdade, tinha essa certeza de ser amada por alguém que fosse uma figura significativa, a qual ela buscou a vida inteira em seu pai e mestre.

– Pai... - sussurrou a felina, ainda abraçada a ele.

– Repete, repete por favor - pediu o tigre liberando-a do abraço e segurando a filha pelos ombros.

– Pai - repetiu ela sorrindo.

Está certo que ele era mal, havia cometido vários erros, e embora fosse por amor a ela e sua mãe, deveria pagar. Ela sabia disso, inclusive que ele iria para a prisão de Chor Gum talvez pelo resto de sua vida, mas ela não pôde evitar de sentir essa felicidade de ter de volta o que a vida lhe tirou: parte de sua verdadeira família. Agora ela sabia de onde veio.

Tinha tantas perguntas e tantas preocupações, todas elas rondando sua cabeça, mas ela se ocuparia delas depois. Antes de seu pai ser enviado á prisão, queria aproveitar o pouco contato que teria com ele fora da cela.

– Ah, filha - disse Hui Nuan acariciando o rosto da filha - me perdoe por tudo que eu fiz... pra começar eu não deveria ter ido naquela reunião, se eu tivesse ficado em casa com você e sua mãe, nada disso teria acontecido.

– Eu não tenho que perdoar nada, tem que pedir perdão ao seu... nosso povo...

– Claro que tem - interrompeu ele - eu fiz coisas horríveis e nada justifica. Só quero que saiba que te amo e nunca vou deixar de amar. E também, o único perdão que me importa é o seu.

Dessa vez, foi Tigresa quem o abraçou.

Nisso, Víbora e Macaco chegaram para impedir que Hui Nuan tentasse escapar. Mas ele não iria a lugar algum, já estava onde queria estar, perto de Lin.

Os três então tentavam deter os ataques que ainda aconteciam. Mas sem sucesso. Se os mestres parassem de lutar, certamente iriam se ferir.

Então Dishi resolveu subir no altar onde Po se casaria com Ju e dali, olhou para todos os soldados, respirou fundo e rosnou alto. Aquilo chamou a atenção de todos que pararam do jeito que estavam. Então, o jovem príncipe deu uma boa olhada ao redor com o rosto mais sério que pôde fazer, um que nem os guerreiros do Palácio de Jade chegaram ver.

– Chega. Já não temos mais nada o que vingar.

– Mas e quanto ao que disse Hui Nuan? - Perguntou um leopardo.

– É, as outras espécies não nos respeitam... nos temem e nos expulsam de onde estivermos - reclamou um gato-das-montanhas.

– Nada disso vai acontecer de novo...

– E como você sabe? - Perguntou um lince fêmea, provocando que os outros felinos presentes se perguntassem o mesmo e duvidassem da palavra do príncipe.

Os guerreiros da Academia Lee Da e do Palácio de Jade apenas prestavam atenção ao que ele dizia.

– Eu sei porque nós acabamos com a verdadeira ameaça, era um panda ganancioso no qual ninguém mais acredita... e quero deixar claro que nem todos eles são assim - ele fez um sinal com a pata para chamar Po, que se aproximou - este é o Dragão Guerreiro. Eu tive a honra de aprender mais kung fu com ele, de lutar a seu lado e ouvir suas palavras sábias. Tenho certeza que ele nos ajudará falando pelo bem dos felinos, em especial pelos tigres que foram os mais prejudicados. Sei que fará isso para que qualquer um da China ouça e não duvide.

– Sim, eu vou fazer isso por vocês. Podem deixar.

– Mas e nosso líder, Hui Nuan? - Perguntou outra fêmea.

– Ele cometeu maldades às custas de vocês, independente do motivo, ele tem que pagar por seus crimes - respondeu o príncipe -. Hui Nuan roubou o lugar que era do meu pai, mesmo que ele fosse passar para mim... agora, eu sou o líder de vocês e peço que me aceitem e acreditem que eu posso trazer a paz de volta ao nosso povo.

Em alguns segundos, depois todos os felinos se entreolharam, sussurrando se deveriam acreditar ou no mínimo dar a chance a ele.

– Só... uma... chance - disse um tigre branco avançando entre o exército.

Depois disso, todos os mestres puderam relaxar.

- Bem, acho que é hora de procurar por Fa Huo, não é? - Disse Garça.

- Sim, vamos. Dishi, poderia mandar alguns soldados pra procurar por ele também? - Perguntou Po.

- Claro - então o príncipe chamou dois grupos, cada um com seis felinos para enviá-los à caçada de do panda.

Garça, Louva-a-Deus, Po e Tigresa, junto aos soldados correram para a floresta, deixando os guerreiros da academia Lee Da sob os cuidados de Jing-Quo.

- Senhor, posso fazer um pedido?

- Claro.

- Eu gostaria de saber se podemos passar a noite aqui, pra eu poder enviar mensagens até os outros locais ocupados pra parar com tudo isso e também pra que os soldados descansem antes de voltarmos pro sul.

- Podem sim. Vou pedir que preparem algumas tendas pra acomodar os soldados que não couberem nos quarto vagos da vila ou de Gongmen.

- Obrigado - respondeu o jovem tigre inclinando-se em respeito ao panda.

Enquanto Jing-Quo ajudava a preparar as tendas e Dishi escrevia para as outras tropas espalhadas à sul e oeste da China, a caçada por Fa Huo continuava. Po e Tigresa foram para um lado, Louva-a-Deus e Garça para outro, cada um dos grupos de soldados que Dishi enviou se dividiu também.

Todos procuravam por pistas do panda que correu como se fugisse da morte.

Ele estava parado, sentado em um tronco caído, tentando respirar normalmente. Estava tão bravo, queria tanto ter chegado a seu objetivo. Se viu obrigado a deixar a filha para trás porque, se a socorresse, os pegariam.

- Droga, droga, droga! Como sou burro! Deveria ter me livrado daquela tigresa meio macho. Se Lin não estivesse viva, eu poderia ter casado Ju com o Dragão Guerreiro sem preocupações... - dizia ele para si mesmo.

Mas seu devaneio foi interrompido quando ouviu soldados conversando.

- Olha! Achei uma pegada - disse um, seguido de um barulho - auch! Por que isso?

- Seu idiota, se ele estiver aqui vai fugir.

Os outros quatro soldados começaram a brigar com o primeiro. Nenhum deles se acalmava e à essa altura, o segundo felino estava certo. O panda fugiu como pôde e pra não deixar rastros, pegou um galho quebrado no qual ainda restavam folhas e as usou para varrer as pegadas enquanto passava.

"Já sei pra onde vou, só não sei quando volto. Espero que Ju aguente firme", pensava ele enquanto corria.

No mundo espiritual, isso tudo foi visto por Akame que olhava com desprezo para o panda, mas seu coração agora estava leve por seu filho e por Hui Nuan. Ela sentiu a mesma dor desse pai, quando se foi e deixou Dishi sozinho.

- Hm, bem, acho que agora você já está mais aliviada, não?

- Sim, Mestre Oogway, estou de fato. Mas, eu queria mesmo saber onde está Zhen De... se ele vai vir mesmo.

- Estou aqui.

Uma voz conhecia a fez se assustar, porque não esperava ouvi-la agora mesmo. Ao olhar pra trás, Akame se levantou e correu para os braços do tigre de pelagem alaranjada que estava parado com um sorriso acolhedor com uma tênue luz por seu corpo. Ambos se abraçaram por algum tempo apenas sentindo a presença um do outro.

Ao olhá-lo nos olhos, Akame estava à ponto de chorar e em vez disso, o beijou. Há quanto tempo não o sentia...

- Eu senti sua falta - disse Zhen De ao terminar o beijo - não sabe o quanto.

- Sei sim, eu senti muito sua falta também. Eu te amo e nunca mais quero te deixar - voltou a abraçá-lo - mas me responde, por que você pôde ir pra luz e eu não?

- Você não foi porque sua missão ainda não havia acabado - disseram em uníssono os espíritos Yin e Yang - e teve a chance de continuá-la. Se não resolvesse, você e ele voltariam para lá de qualquer maneira porque nossos pais alongariam a história dos envolvidos, pra que pudessem cumprir seu caminho e aprendizado.

- E agora, você poderá ir embora com ele - disse Oogway sorrindo para o casal.

- Mas, pra onde?

- Agora que você está em paz, vamos juntar nossa energia de novo, até quando precisarmos voltar pra aprender alguma coisa.

Dito isso, a tigresa entrelaçou sua pata à de seu marido e caminharam rumo a uma luz que esperava por eles, onde ficariam já sem dor, sem saudade, sem esquecer de seu filho esperando a hora certa de voltar para o que quer que fosse que os deuses do destino e da morte quisessem que eles aprendessem.

-

Na casa de Jing-Quo, ele e Dishi ajudavam os outros pandas a arrumar uma grande mesa com as comidas para que os felinos pudessem comer, bem como os pandas. O líder da aldeia decidiu dar a eles a comida do casamento, já que os visitantes e curiosos de Gongmen saíram correndo de volta para a cidade quando a confusão começou.

Dishi já pensava no que fazer. Ele estava estranhamente feliz e calmo, mais do que se sentia antes de tudo isso. Talvez porque as verdades foram reveladas e também porque agora estava agindo pelos outros, não por si mesmo e sentia que essa sim era a coisa certa a se fazer. Só um pensamento invadiu sua mente: ele ainda não tinha imperatriz. Para ele, no momento, só um alguém poderia ocupar esse lugar.

E esse alguém estava na floresta caçando o verdadeiro causador de tanto sofrimento e destruição.

Tigresa ouviu gritos e chamou a atenção de Po para que a seguisse, e ambos correram até o local. Quando chegaram encontraram os felinos discutindo.

- Desculpa.

- Desculpa nada, agora o chefe vai ficar muito bravo porque não encontramos esse panda e a culpa é sua.

- Hey, o que tá acontecendo aqui? - Perguntou Po.

Os soldados explicaram e ao término, Tigresa bateu com a palma da pata na própria testa. "Como é que Hui Nuan recrutou animais assim?", pensava ela, duvidando da sanidade mental do pai.

Passaram mais algum tempo procurando por ele, mas as pegadas acabaram em certa parte da floresta. Foi então que Tigresa teve outra ideia. Ao abrir a boca para falar, foi interrompida por um grunhido do estômago de Po, o que a fez sorrir.

- Vamos voltar.

- Mas ainda não conseguimos encontrar Fa Huo - disse Po.

- Mas já passou da hora do almoço, você está com fome, eles devem estar também e eu tive outra ideia.

- Eu não tô com fome... - o estômago o delatou novamente - ok, talvez um pouco.

- Vamos.

Começaram a caminhar de volta á vila em silêncio e foram encontrados por Garça e Louva-a-Deus.

- Gente, não conseguimos nada. Eu voei pra tentar achar ele do alto, mas a floresta é muito fechada - disse a ave.

- E eu não vi sinal nenhum dele no chão - continuou o inseto.

- Tudo bem, vamos voltar. Vou pedir que enviem mensagens à cidades e vilas próximas naquela direção, ele não pode ter ido tão longe.

Os guerreiros apenas assentiram e fizeram seu caminho de volta.

Dishi que estava terminando de colocar a mesa para o almoço, olhou na direção dos guerreiros quando os percebeu chegar. Olhou diretamente para quem lhe interessava. Tigresa chegava ao lado de Po com os outros guerreiros e seus soldados. Ela olhava discretamente para o panda e desviava o olhar quando ele parecia sentir esse ato, que não passou despercebido por Dishi.

Tigresa, no fundo, queria que ele a perdoasse, queria que voltassem a ter algo, mesmo que fosse uma amizade, mas pensava que nada disso iria acontecer.

Por outro lado, Po sentia que deveria falar com ela, se acertar, mas por uma decisão que tomou pra não deixar os pandas em perigo, ele não poderia iludir a felina que mais amava. Iria falar com seu pai e então com seu mestre.

- Oi gente - disse Po chegando perto - pai, posso falar com você?

- Tem que ser agora? Pode ser depois do almoço? - Perguntou o panda mais velho que trazia uma panela de comida feita por Tao Li e Ho e Po apenas assentiu - vem, sentem e almocem, depois a gente conversa.

Então o almoço começou e Shifu, Víbora e Macaco chegaram. O panda vermelho estava todo esse tempo conversando com Mestre Xiaoxi e o ajudando a cuidar de seus alunos. A serpente e o primata levaram Hui Nuan para a mesma ala onde Ju estava, ela aguardando julgamento pelo conselho dos mestres e ele aguardando ser levado á Chor Gum.

Depois do almoço, Tigresa pediu permissão à Shifu para ir visitar Hui Nuan, tinha dúvidas que precisavam ser tiradas e pediu à Víbora que fosse com ela para ser uma testemunha do que seu pai falaria.

Ao chegar à prisão de Gongmen City, Tigresa e Víbora foram paradas por javalis que apontaram suas lanças em sua direção.

- Quem são vocês e o que querem aqui? - Disse o primeiro.

Tigresa estava por abrir a boca quando um dos outros javalis a reconheceu e abriu passagem, apesar do olhar torto dos outros.

Ao entrar, Tigresa se viu no mesmo lugar no qual tinha brigado com Po para que ele ficasse longe de Shen há algum tempo. Ela e a amiga passaram seu olhar pelas celas para achar o pai da felina, que estava olhando para elas. Toda vez que a porta da prisão se abria, Hui Nuan se levantava para ver se era Lin e todas as vezes foi alarme falso, até agora.

- Pai - disse ela chegando ao lado da cela.

- Filha - respondeu ele passando a pata por uma das barras laterais para acariciar o rosto dela já que não podia abraçá-la.

- Eu disse que viria - sorriu.

Ambos olharam para Víbora que os encarava.

- Ah, desculpem, só vou ficar aqui pra evitar que alguém interrompa o assunto de vocês.

- Eu tenho algumas perguntas e eu gostaria que me respondesse... a verdade - disse a felina e ele apenas assentiu para que ela continuasse, ainda com a pata no rosto da filha - bem, é verdade que você, mandou... você sabe, acabar com os filhotes de tigre usando o ataque dos outros clãs pra disfarçar? Fazendo a culpa cair sobre eles?

Hui Nuan estava agora realmente envergonhado. Não queria admitir tudo o que fez, porque realmente era ruim e sabia que pagaria por tudo isso. Olhou para o chão e deixou sua pata cair. Sem olhar para ela, abriu a boca algumas vezes sem que som algum saísse de sua boca, até que a felina segurou a pata do pai dando segurança para que falasse.

Olhou para Lin e reconheceu que ela era incrivelmente parecida com sua mãe, parecia ver Yi no rosto da filha.

- Sim, eu fiz isso. Mas o único filhote que eu não podia matar era seu primo.

- É? Por que?

- Porque eu prometi à mãe dele. Antes de conhecer sua mãe, Yi Jie, eu e meu irmão nos apaixonamos pela mesma tigresa, Akame e ela se casou com Zhen De. Eu fiquei com raiva porque ele era sempre o mais querido dos irmãos, eu sempre fui deixado de lado pelo seu avô e sua avó tentava dar a essa atenção que eu não tinha. Então conheci alguém que me fez esquecer tudo isso.

Ele contou a ela que naquela noite, tão tenebrosa, Fa Huo ele ainda era o líder panda e de fato Jing-Quo não pôde comparecer à reunião por motivos de saúde, foi ferido por um lobo que o encontrou na floresta e tentou levá-lo à Shen.

Fa deu a entender que Jing queria a credibilidade dos outros clãs para ser clamado imperador da China, por isso os convenceu de uma ordem que Jing-Quo jamais deu e assim, acendeu a ira do tigre.

O único filhote que não pôde matar era seu sobrinho. Jurou à sua nova esposa que não o machucaria se ela continuasse a seu lado, já que ameaçou deixa-lo depois de descobrir que ele encomendou a morte do próprio irmão. E entraram em um acordo de que se ele fosse o tal guerreiro, o fizesse ser leal à Hui, caso contrário, teria o mesmo destino dos outros tigres nascidos antes e depois dele. E sempre que se lamentava de saudade de Yi Jie e Lin, a mãe de Dishi o encontrava e o consolava. Contou sobre tudo que fez desde o massacre dos filhotes, culpando os outros animais, até o que seus soldados faziam com os cidadãos.

– E foi isso... sei que vou apodrecer na cadeia por mais que tenha me arrependido e esteja envergonhado.

– Pois é, mas logo eu e os outros vamos levar você até Chor Gum e eu vou visitar sempre que puder.

Passaram algum tempo com Hui Nuan perguntando sobre ela, queria muito conhecê-la. Perguntou sobre o treinamento, sobre como foi a vida no palácio, com Shifu e mestre Oogway. Sobre suas amizades e se ela já escolhera um companheiro. Tigresa não sentia vergonha em se abrir com ele, como sentia com os outros, mesmo com Víbora. Afinal de contas, era seu pai e apesar de tudo se sentia segura e sentia o apoio dele. Então contou sem detalhes o que fez com Po.

– Mas, repito: um panda? É sério?

– Pai! Eu... realmente gosto muito dele.

– Estou brincando - riu ele, fazendo a felina rir um pouco também - dou a minha benção. Espero que ele te perdoe e se quiser, traga-o aqui pra que eu possa conversar com ele e ele te perdoe.

– Não precisa, seja o que os deuses quiserem. Há mais uma pergunta, por curiosidade - ela nem deu tempo para que ele permitisse algo - você tem o mesmo colar que eu. O que significa?

– Isso é da família da sua mãe, é herança dela. Eu uso porque me uni a ela, e pelo que eu saiba, é porque vocês tem o poder sobre o equilíbrio, o que muitos buscam. A família da sua mãe é a guardiã do equilíbrio e só restou você, porque com os ataques dos animais depois de sua mãe fugir com seu tio e você, acabaram com os outros. Deve ser por isso que você é a Guerreira Prometida, eu deveria ter pensado nisso antes - Hui franziu o cenho olhando para o chão.

"Então, eu protejo o Yin Yang... eles estão no meu colar?", pensou a felina.

– Pensei que isso acabou e joguei esse colar no rio - acrescentou o tigre voltando a encará-la -, mas pelo visto, o panda o encontrou nas mãos de um vendedor - sorriu ele - ainda bem. Agora você sabe de onde veio e pra quê.

Garça entrou pela porta e chamou por Tigresa e Víbora. Mestre Shifu queria ver todos os alunos.

– Bem - ela suspirou -, tenho que ir, mas prometo não demorar.

– Está bem filha - ele estendeu a pata para fora da cela para acariciar seu rosto.

Depois disso, os três foram embora.

Um pouco mais cedo, novamente em sua sala, Jing-Quo estava com seu filho conversando sobre aquilo de tão importante que Po queria.

– Pode me dizer.

– Então pai - disse Po se sentando numa cadeira à frente de Jing - eu, eu quero ficar aqui pra governar com você.

– Não precisa, filho, você pode voltar pro palácio e... pro seu pai. Não tem porque ficar e se afastar de tudo o que você ama.

– Eu quero, porque eu quero te ajudar a arrumar tudo. Não sei se fico por muito tempo e nem se volto pro Vale da Paz, mas quero ficar.

– Está tudo bem então. Você vai me ajudar a escolher alguém pra te substituir, não quero estragar sua vida...

– Não vai estragar. Se ninguém quiser ficar ou se ninguém for bom o suficiente, eu fico.

Dada por encerrada essa discussão, ambos saíram da sala para se arrumar para o jantar e depois, Po falaria com mestre Shifu. Mais tarde, todos estavam reunidos, jantando. O Grão-Mestre foi o primeiro a terminar e pediu que seus alunos se reunissem com ele no jardim depois de comer.

Ao se levantar Dishi esperou afastado que Tigresa fizesse seu caminho para o jardim e pediu para falar com ela.

– Fala.

– Quero te perguntar uma coisa sem fazer nada, sem forçar e sem tentar atrapalhar qualquer coisa - disse ele, a felina apenas o observou e então Dishi continuou - eu, quero saber se, você aceita ser minha imperatriz - olhou no fundo dos olhos da felina.

– Olha Dishi, eu não posso aceitar porque, em primeiro lugar, sou uma guerreira e precisam de mim, em segundo, meu coração não pertence à você e você sabe, e também depois de tudo que fez, eu não posso aceitar. Seria contra o que eu defendo e acredito.

– Entendo - o tigre abaixou a cabeça - bem, espero que um dia você possa me perdoar e saiba que eu sempre vou estar com você e esperar por você se quiser.

– Não faça isso, viva sua vida - disse ela de forma seca antes de seguir seu caminho.

Ela ouviu a aproximação de seus amigos, junto à Jing-Quo e não queria que nenhum deles ouvisse a conversa. Dishi ficou parado onde estava quando os outros guerreiros do Palácio de Jade e o imperador panda passaram a seu lado.

Ao chegar nos jardins, Shifu os esperava com um semblante calmo, mas sua voz entregou que o que ouviriam não seria uma coisa boa.

– Por favor, Po, diga a eles - não conseguiu olhar para seus alunos.

Todos prestaram atenção ao Dragão Guerreiro, em especial, Tigresa. Ele se colocou à frente de todos e deu a triste notícia, tirando a parte de que seria algo temporário, não queria dar esperanças à ninguém. Todos ficaram calados por um momento, olhando atônitos para ele, com uma mistura de tristeza e raiva por ele deixar seus amigos.

– Como assim vai nos deixar? - Perguntou o primata.

– Mas, como vamos fazer agora?! - Exclamou o inseto colocando as pinças sobre a cabeça - isso não é legal, cara - disse lançando um olhar chateado á Po.

– Eu vou visitar vocês e vocês podem vir me visitar... não vou deixar de ser amigo de vocês, mas preciso ajudar meu pai. Mestre - chamou olhando o panda vermelho - entregue à meu pai quando chegar - deu um pergaminho.

Shifu apenas assentiu e olhou para os alunos.

– Vamos partir amanhã para levar Hui Nuan para a prisão de Chor Gum e voltar ao palácio. Estão dispensados, vão descansar porque vamos sair cedo.

Tigresa fez o possível para segurar suas lágrimas e conseguiu, embora a angustia por isso permanecesse. Ela andou lentamente, deixando que seus amigos a passassem e Po ficou parado observando-os. Chegando a seu quarto, a felina fez o que não fazia desde pequena, chorar escondida como chorava quando Shifu não reconhecia o bom desempenho que tinha. Fez isso até que se trocou e se deitou para dormir.

Na manhã seguinte, Shifu acordou os alunos e chegou ao quarto da filha, percebendo o que ela fez. A abraçou para consolá-la e pediu que ficasse firme, isso passaria.

Depois do café da manhã, a despedida.

Po, ao lado de seu pai, via como os amigos se afastavam. Tigresa seguia ao lado do pai biológico e olhou uma vez mais para trás e viu o panda com um sorriso triste. Voltou a olhar seu caminho com uma respiração profunda que resultou em um suspiro.