Po entrou na casa de seu pai o acompanhando até seu próprio quarto, disse à Jing que precisava descansar e então o líder panda, preocupado, iria conversar quando seu filho estivesse já deitado.

Jing-Quo tinha receio de ter que falar com seu filho sobre isso agora, mas era necessário, uma vez que o povo panda e ele mesmo não achava seguro que não houvesse herdeiro algum.

– Entra pai - disse Po sem se esforçar para parecer bem.

Na cabeça do Dragão Guerreiro ainda ressoavam as palavras de Tigresa. Ela falou de um jeito... foi tão fria com ele. Foi pouco tempo mas depois de tudo que foi dito, ela estava falando a verdade?

"Se é assim, até pra mentir ela é show", pensou Po. Depois que seu pai entrou, fechou a porta às suas costas e se deitou. Jing se sentou no mesmo lugar onde antes a felina esteve para cuidar do panda.

– Fala pai, algum problema?

– Bem, talvez seja um problema - Jing-Quo brincava com os dedos, mas tomou uma respiração e continuou - é algo que eu acho que você pode escolher, mas o resto do povo panda pensa que não.

– E o que é? - Po perguntou sem entender onde o pai queria chegar.

– Você é meu filho e com isso, você tem responsabilidade como herdeiro das terras e tem que cuidar do povo.

– Nah, não esquenta pai... eu posso cuidar deles, sou o Dragão Guerreiro.

– Não é bem assim que você deve cuidar, meu filho.

– Então, como é?

– Você deve ficar, se casar para ter herdeiros e acho que isso implica em deixar de ser o Dragão Guerreiro.

Po ficou em choque diante das palavras de seu pai. Casar? Não tinha mais Tigresa, iria se casar com quem? E o que mais o surpreendeu... por que deixar de ser o Dragão Guerreiro, não que ele sempre tenha cobiçado esse título, mas é que foi a melhor coisa que aconteceu em sua vida, agora ele era um guerreiro como sempre sonhou e lutava ao lado dos amigos que nunca pensou em ter, apesar de sonhar com isso também.

Essa posição, o título, trouxe a ele a maior felicidade que poderia desejar, assim como o trouxe mais perto de Tigresa, embora agora já não houvesse mais nada.

– Mas... por que... deixar de ser o Dragão Guerreiro?

– Porque você ficará aqui e vai colocar em risco a vida de sua esposa e filhos. Se você não aceitar, tudo bem, eu vou escolher outra família que possa cuidar de tudo em seu lugar, mas isso seria em primeiro lugar pra você por seu meu único filho. Pense bem nisso.

O panda não esperou resposta e se levantou, sabia que independente da escolha de seu filho, seria a escolha certa. Po era bom, justo e não o desapontaria, seguiria o coração, o que é esperado do Dragão Guerreiro desde que se sabe que ele é esse panda.

Jing-Quo se sentia mais aliviado em por opções para Po mesmo que o conselho dos pandas e todo o resto do povo não quisessem isso. Não poderia obrigar seu filho a fazer algo que não quer. Quando já estava na porta, foi detido pela pata do filho em seu ombro.

– Pai.

– Sim? - Virou-se para encará-lo.

– Eu vou ficar e herdar as terras.

– Você tem certeza disso?

– Sim, só não sei com quem vou casar, não tenho mais namorada... - Po olhou para os lados, pensando em como resolver isso.

– Quem era sua namorada? Por acaso era aquela tigresa que cuidou de você aqui?

Era justamente isso que martelava na cabeça do panda. Ela cuidou tanto dele, agrediu Hui Nuan de forma brutal quando ele feriu Po e agora o deixou. "Ou ela gostava de mim e tem algo por trás ou ela só estava com pena de eu ser um panda idiota."

– Sim, era ela.

– O que aconteceu?

– Ah, eu... acho que hm... não quero falar disso... hã hã.

– Hm, está... bem. Enfim, com isso você não tem que se preocupar... - disse Jing passando um braço pelos ombros do filho.

– Não?

– Não, temos alguém que será perfeita pra você, filho. Vem cá, vamos conversar com o pai dela e avisar de sua decisão.

– Não queria me casar assim, não acho legal casamento arranjado, mas se é o único jeito pra poder cuidar de todos aqui...

– Eu esperava sinceramente que você tomasse outra decisão, porque isso vai tirar de você o que mais ama que é o kung fu, o seu título honorário que é ser Dragão Guerreiro e eu não te quero infeliz. Independente do que escolhesse, sei que jamais iria me decepcionar com você, me orgulho de ter você como filho.

– Obrigado pai. Mas pelo jeito não tem como eu fazer outra coisa, não posso estragar tudo o que você fez pelo nosso povo.

– Há uma maneira, mas você tem que escolher alguém que vá governar tão bem quanto você faria para ficar em seu lugar e o prazo é até a data de seu casamento, mas não vamos falar nada disso para Fa Huo ou então ele vai espalhar para os cidadãos e eles vão fazer um alvoroço para serem escolhidos ou então para que você fique.

– Tá, não vou falar nada.

No Vale da Paz, os cidadãos estavam tentando constantemente fugir, sem sucesso algum. Eram ameaçados e feridos. Até mesmo quando Sr. Ping tentou voar para Gongmen para buscar ou alertar o filho, mas foi pego mesmo já estando a metros do chão. Um dos gatos-da-montanha pulou de um telhado e o derrubou no chão. Depois foi levado imediatamente para o centro do vale e preso em uma espécie de cela deixada ali como exemplo para que ninguém mais tentasse nada.

– Mei Ling?

– Sim, Chao.

– É seu turno no calabouço, junto com eles - apontou para outros felinos.

– Sim, senhor - curvou-se com uma reverência e o cumprimento do kung fu para logo se retirar acompanhada dos outros.

Mei Ling iria agir agora. Já havia treinado com esses mesmos guerreiros e ganhado deles. Hoje libertaria seu mestre e seus companheiros, os outros deveriam esperar. Não conseguiriam fugir com todos e protegê-los com tantos soldados ali.

Chegando ao calabouço, os outros cinco guardas que estavam lá os cumprimentaram e se retiraram para descansar. "É agora ou nunca", pensou ele já parada em seu lugar de guarda e olhou para os outros analisando suas possibilidades. "Vamos ver, quatro contra um... injusto, mas não impossível".

Com sua cauda, chamou a atenção de seu mestre e de seus companheiros. Já os alertou sobre o plano de fuga, só precisava agora que eles prestassem atenção a ela e fizessem sua parte.

Os irmãos rinocerontes entenderam.

– Auch! - Reclamou um - Por que você me bateu?

– Só porque é culpa sua da gente estar aqui.

– Não é!

– É sim.

– Calem a boca! - Gritou outro companheiro.

– Não se intrometa! - Gritaram os irmãos em uníssono.

– Ei, ei, ei. Que é isso aí? Podem para agora - repreendeu um dos guardas apontando seu machado para eles desde o lado fora da cela.

– Ah, vai cuidar da sua vida - respondeu o primeiro rinoceronte.

– Como é que é aí? - O guarda abriu a cela e justo nesse momento, Mei Ling retirou a chave de sua pata e o mandou voando par ao fundo da cela com um chute.

– Traidora! - Gritaram os outros guardas partindo para cima da felina.

Então surgiu Mestre Xiaoxi junto a seu aluno javali. Atrás deles, os rinocerontes e Mei Ling, todos em posição de batalha.

– Ha! Vocês nunca vão escapar - desafiou um tigre.

– Você quer ver? - Responderam os irmãos.

Alguns segundos de silêncio foram o suficiente para desencadear uma luta rápida. Os felinos caíram desacordados ao receberem golpes vindos de várias partes.

– Depois viremos libertar vocês, não podemos levar todos agora porque não conseguiremos fugir - disse Mei Ling aos outros prisioneiros, tanto da reeducação quanto os reféns.

– Não se preocupe, ficaremos bem - respondeu Sr. Ping - se achar meu filho, peça a ele ajuda. Eu não consegui chegar até lá.

– Vou fazer o possível, Sr.

Ela virou-se para correr seguida pelos outros. Parou na saída para olhar o movimento. Era hora da troca de guarda, o único momento para que pudessem fugir de lá.

Ela saiu correndo na frente para olhar a escadaria. Alguns soldados de Hui Nuan estavam subindo, então teriam que sair pela parte de trás do palácio.

Ao correrem para a ala dos estudantes, os rinocerontes trancaram a porta que dava acesso e saíram correndo. Os soldados de lá ficariam presos por algum tempo, com certeza. A parte de trás da montanha era muito íngreme, havia apenas alguns pontos de pedras pontiagudas e vegetação onde eles poderiam se segurar.

– Vão vocês primeiro, eu fico aqui.

– Mas mestre... - disse o javali.

–... o senhor vai ficar aqui sozinho? - Mei Ling terminou por ele.

– Vão! - Ordenou Xiaoxi.

Os alunos obedeceram sem cerimônia alguma. Desceram a montanha de lado apoiando alguma coisa, ou mesmo suas patas na superfície rochosa. Se apoiavam nas pontas de pedra ou nos galhos e pequenas vegetações que apareciam para não descer direto.

Mestre Xiaoxi esperava que seus alunos descessem, quando se virou, viu seu ex aluno.

– Você não vai a lugar algum.

– Ah, não? - Mestre Xiaoxi o olhou com falsa surpresa e saltou - tchau!

Chao chegou até a beirada do precipício e não viu nenhum de seus ex-colegas, apenas Xiaoxi caindo no meio da floresta, ao pé da montanha atrás do Palácio de Jade.

– Droga. Como vou contar à Hui.

– Senhor, o que faremos agora? - Perguntou um dos soldados que se aproximavam.

– Vocês são uns incompetentes! Vocês deveriam ter segurado esses idiotas! Droga.

O lince saiu batendo os pés de volta ao pátio. Enviaria uma carta à Hui Nuan imediatamente. Com certeza ela chegaria mais rápido do que eles.

Lá embaixo, estavam Mestre Xiaoxi e seus alunos, sentados tentando respirar normalmente.

– O que faremos agora, mestre? - Perguntou Mei Ling.

– Temos que correr para Gongmen, não podemos mais perder tempo, temos que encontrar Mestre Shifu, os Cinco Furiosos e o Dragão Guerreiro. Vamos...

– Sim - disseram todos em uníssono.

Começaram a correr em direção a seu destino. Esperavam chegar sem ser pegos por algum dos bandos de Hui Nuan espalhados pelo caminho, por cada vila.

Demorariam algum tempo para chegar, mas isso não importava mais.

Eles não sabiam da farsa da batalha que ocorreu próximo à Gongmen e sabiam que Hui Nuan ainda reinava.

Tigresa ficou um tempo onde tinha falado com Po, tentou meditar. "Isso vai mantê-lo fora de perigo, porque não acho que Dishi tenha sido aceito tão facilmente", pensava ela. Desconfiava de que algo estava errado. O que fez não era algo que a agradou mas era a única maneira de afastá-lo dela, já que ela era a filha de Hui Nuan e sentia que um perigo se aproximava. Pareceu tudo fácil demais para Dishi, então definitivamente ele estava aprontando alguma coisa e ela iria descobrir. Empreendeu caminho de volta à casa, precisava escrever para o príncipe, logicamente que sem revelar sua verdadeira intenção de averiguar algo ruim, mas também queria perguntar o que foi feito de seu pai e acabar de uma vez por todas com tudo o que estava acontecendo para poder ficar em paz e se achar de vez no mundo.

"Hm, do jeito que Po saiu daqui... será que eu deveria me preocupar? Espero que esse panda ele não seja teimoso o suficiente pra ficar atrás de mim e que não faça coisas estúpidas."

Quando chegou próximo à casa, viu do lado de fora, sentados em cadeiras em volta de uma mesa armada ali fora para o almoço, seus amigos, mestre com cara de espanto e Po com um sorriso amarelo, acompanhados de Jing-Quo, Ju e Fa Huo e esses dois últimos sorriam até quase rasgar a boca. Todos já estavam comendo.

Se aproximou para almoçar também e os saldou antes de se sentar.

– Olá, Mestre Tigresa, aproveite e coma conosco - disse o pai de Po com um leve sorriso.

– Claro, obrigada.

Sentou-se entre Shifu e Víbora. Ambos perceberam algo de errado na expressão da felina, tão séria como há tempos não estava.

Shifu pousou uma pata sobre o ombro da filha que apenas o olhou, não o impediu, já era um avanço.

– Mestre, depois eu preciso falar com o senhor.

– Claro, filha.

Os olhos da felina se abriram mais. Ainda não estava acostumada a ser chamada assim por ele. Ela apenas assentiu.

"Bem, talvez agora eu vá me entender com ela", pensou o Grão-Mestre feliz.

– Tigresa, aconteceu alguma coisa?

– Não foi nada de mais.

– Eu sei que foi sim.

– Ah, está bem - suspirou Tigresa - depois eu falo.

Víbora apenas assentiu, estava por falar alguma coisa mas Fa Huo abriu o focinho e começou a tagarelar.

– Mestre Tigresa, você perdeu um importante anúncio que fizemos agora a pouco.

– E o que seria?

Po então esboçou uma expressão triste, mas já não importava. Tigresa não era mais do que novamente uma amiga, ou menos até, dependendo do que restou dos sentimentos dela pra ele.

– O grande Dragão Guerreiro vai se casar...

Os olhos de Tigresa se arregalaram mais uma vez de surpresa. Mas como assim? Tão rápido? Mal haviam se separado e ele já estava se amarrando com outra? A felina rapidamente voltou a sua expressão séria para não demonstrar nada do que sentia.

–... com a minha filha - completou Fa.

Tigresa respirou fundo para não deixar escapar um rugido e disse com a melhor voz que pôde sem que ficasse rasgada pela vontade de chorar. "Não era bem essa estupidez que eu estava pensando, mas também faz parte."

– Espero que sejam felizes.

Foi a vez de todos os outros furiosos e o mestre se surpreenderem. Mas eles não estavam juntos?

– Tá bom, eu não sei o que tá acontecendo aqui agora... - disse Garça

– Alguém pode explicar pra gente? - Perguntou Louva-a-Deus - eu pensei que...

– Calado, inseto - ordenou Tigresa.

– Eu também estou com a mesma dúvida... perdemos alguma coisa? - Perguntou Macaco.

A única que não questionava era Víbora, seria a primeira a saber a verdade mais tarde e desconfiava que tinha não só um dedo, mas a pata inteira de um certo príncipe e mal sabia que se estivesse mais correta, poderia ser adivinha.

Shifu limpou a garganta e disse:

– Nós vamos partir assim que o casamento for celebrado.

– Sim, mestre - disseram todos os estudantes.

– Bom, não estou com fome, vou meditar - disse Tigresa.

Tigres cumprimentou todos e saiu para seu quarto e todos voltaram sua atenção apara ela, sem perceber dois sorrisos maldosos à mesa.

– Estou satisfeita por hora, vou acompanhar Tigresa na meditação - disse Víbora.

– Sei o satisfeita... depois que terminarem, me chame, Tigresa e eu vamos conversar.

– Sim, mestre - a serpente cumprimentou o mestre e saiu da mesa.

– Po, você tem certeza do que está fazendo? É um passo muito sério, além de abdicar o seu posto de Dragão Guerreiro.

– Certeza não tenho, mas vou fazer isso pelo meu pai. Quem sabe encontrem outro Dragão Guerreiro melhor do que eu... Tigresa merece o título.

O Grão-Mestre levantou-se e foi ao lado do guerreiro branco e preto, fez o mesmo que com sua filha. Pousou uma pata em seu ombro, Po não decepcionaria nunca nenhum dos que acreditavam nele.

– A decisão é totalmente sua. Nunca haverá um Dragão Guerreiro melhor do que você. Você é o primeiro e único.

– Talvez só depois que você se for, Po - disse Macaco - porque... a China sempre vai precisar de um Dragão Guerreiro, certo amigão?

– Mas enquanto você viver... - disse Louva-a-Deus.

– Ninguém vai poder te substituir, nem mesmo Tigresa, aposto que até ela sabe disso.

– Obrigado, pessoal - Po sorriu melancólico, sabia que não estava sozinho independente da decisão que tomasse, podia contar com seus amigos, pai e mestre.

Shifu partiu do jardim, esperaria Tigresa na sala da casa de Jing-Quo. Sabia que a "meditação" das duas não passaria de uma conversa de Víbora e sua filha.

No quarto de Tigresa, a felina estava sentada em sua cama olhando para a pintura e a nota que Dishi deixou, mostrando-as à Víbora, ela até mesmo tirou o colar para mostrar a semelhança do pingente. A serpente estava calada, pensativa. Como sua amiga, sabia que havia algo errado, mas não sabia exatamente o que e porque.

A única pessoa que sabia os reais motivos, estava ouvindo a conversa atrás da porta, duvidando se deveria contar o que sabia ou não.

Examinou mais uma vez o que tinha à sua frente e concordou com a certeza de Tigresa e contou tudo o que já ouviu do príncipe e da leopardo.

– Sabia que Dishi estava aprontando algo. Song e ele estavam andando muito juntos. Sei que ela está por trás disso também.

– Eu vou descobrir isso.

– Mas pense... não quer dizer que você não possa continuar como guerreira do palácio e nem que você não pode estar com Po.

– Víbora, eu sou filha do inimigo do Dragão Guerreiro e do seu povo. Seria errado estarmos juntos.

– Claro que não, você sabe.

– Também acho que não seria errado - disse Song entrando no quarto sem bater. Grande erro.

Tigresa levantou-se e mostrou suas garras junto a um ameaçador rugido.

– Ouvindo conversa, Song? - Repreendeu Víbora.

– Me desculpem, mas eu vi como Tigresa e Po ficaram... eu tenho, sinto que tenho que contar uma coisa a você, Tigresa.

– O que?

– Sente-se, será melhor - Song disse se sentando também na cama assim como Tigresa e Víbora foi mais para o lado para ficar próxima às duas - eu sei porque Hui Nuan fez tudo isso, aliás, suspeito que seja a verdade.

– Por quê? - Perguntaram a felina e a serpente em uníssono.

– Porque há muitos anos, você, seu pai e sua mãe foram ameaçados de morte pelo pai do Po, mas quem estava em seu lugar nesse dia era Fa Huo e deu a ordem de Jing aos líderes dos clãs presentes - Song explicou toda a história para as duas que escutávam atônitas. Jing-Quo não parecia ser ruim, mas como Mestre Shifu já disse á Tigresa quando enfrentaram Ke-Pa, as aparências enganam.

– Você foi levada por sua mãe e seu tio e Hui achou que vocês tinham morrido, mas você tá aqui - disse Song, por fim - esse era o motivo da vingança dele contra os pandas, especialmente contra Jing-Quo. Sabendo da profecia do Guerreiro Prometido que viria em seu povo para parar a maldade ele cometeu crime contra o próprio povo para não ser derrotado e culpou os outros e ganhou a razão dos tigres. Dishi ouvia seu pai falando disso com Akame, a mãe dele. E ele quer você com ele.

Tigresa e Víbora se entreolharam.

– Eu... sabia.

– Pois é, Víbora. E Tigresa, não precisa desistir de Po por isso, Dishi já tomou conta de tudo, não há mais riscos e você não é obrigada a ficar com ele - completou a leopardo que realmente pensava isso.

– É, tá certo - respondeu a felina depois de um longo silêncio, já calma - posso não ir embora, mas agora Po está de casamento marcado com aquela Ju. Não posso voltar atrás depois de tudo o que disse à ele.

– Você o magoou de verdade... mas quem sabe possa consertar as coisas, logo...

– Acho que é tarde.

– Hm, está bem, mas de qualquer forma, tente - disse a serpente.

– Ouça a Víbora, sei que ele vai te perdoar e entender porque você disse o que quer que tenha dito.

Ela não respondeu. Para Tigresa, o assunto havia acabado ali e as três ficaram no quarto sentadas esperando que algo acontecesse. Nenhuma delas se importava com o que os pandas celebrariam dali a uns dias.

– Você vai ficar pro casamento?

– Vou sim, Song. Não posso voltar atrás no que disse e vou ter que aguentar, até porque ele vai ficar aqui e vamos voltar para o Vale da Paz.

– Ah, Tigresa, Tigresa... como você é teimosa... - disse Víbora e a felina rosnou - você não me intimida, você sabe - acrescentou ela saindo do quarto - e mestre Shifu quer te ver. Você vem Song?

– Claro.

Ambas saíram do quarto e Tigresa ficou parada ainda sentada. Ela era o motivo da vingança de seu pai e seu nome era Lin. O que falaria para Shifu agora? Antes, estava decidida a partir, mas depois de saber que Dishi a quer a qualquer custo, depois de saber sua origem e que talvez o príncipe ainda esteja tramando algo, não iria mais partir.

Desceu e encontrou Shifu na sala, pediu a ele que a acompanhasse até os limites do jardim de Jing-Quo, onde haviam conversado da última vez.

– O que é, filha?

– Mestre, eu... - hesitava em falar suas descobertas e o motivo de ter desistido do único que a libertou de sua própria prisão.

– É sobre o que aconteceu com Po? - Perguntou Shifu com uma sobrancelha levantada

– Sim... também, mas não... não é só isso.

– Bem, você pode me contar.

– Tenho um pedido a fazer antes - anunciou Tigresa e seu mestre assentiu - não faça nada.

– Está bem - o panda vermelho aceitou a única condição da filha.

– É que... eu descobri uma coisa sobre mim - ela achatou suas orelhas contra a cabeça e olhou para as coisas que trazia em suas patas.

Nesse momento Shifu congelou. Será que ela descobriu que era a Guerreira Prometida? Ela o odiaria por não ter contado, mas tinha seus motivos para esconder.

– Isso... - mostrou ao mestre.

Shifu observou a pintura e leu a nota, não sabia se ela iria atrás de Hui por ele ser inimigo, mas poderia ir, afinal, era seu pai. Ela explicou tudo que Song contou a ela.

Muito do que o Grão-Mestre pensava sobre Hui, caiu por terra. Havia um motivo para que ele buscasse poder, não era apenas por capricho. Ambos agora sabiam o motivo do massacre de recém-nascidos.

"Diga a ela, Shifu, não esconda mais", disse uma voz conhecida na mente do panda vermelho.

– O que você pretende fazer agora? - Foi tudo o que ele conseguiu dizer.

– Antes, pensei em pedir permissão pra partir, mestre, mas... não estava certa disso. Sei que Dishi está aprontando alguma coisa e não quero fazer parte disso, por mais que Hui Nuan seja meu... pai.

Quando ouviu Tigresa dizendo a palavra "pai" o coração do panda vermelho se encolheu.

– Bem, se você está decidida a ficar, não temos mais nada a fazer. Fico feliz por sua decisão. E, não é por isso que você deve deixar que Po se afaste de você.

– Mestre, é tarde.

– Eu compreendo o que está sentindo... - disse Shifu a abraçando, o que deixou a felina surpresa - mas como dizia Mestre Oogway, nada é impossível e você só vai saber se acreditar.

– Não sei... - respondeu ela se afastando.

– E tem uma coisa que eu preciso te dizer que já deveria ter dito, assim que descobri. É você a Guerreira Prometida.

Tigresa olhou para o mestre com as patas nos quadris e uma cara de puro cinismo.

– Sério?

– Claro que sim. Não brincaria com uma coisa dessas.

– Mas então, por que eu ainda não derrotei Hui Nuan?

– Isso eu não sei, mas você é a guerreira da profecia.

– Bom, tá, mas... o pergaminho está com Dishi, ele derrotou meu pai, então, isso é um pouco duvidoso.

– Tem algo errado, mas confie em mim, filha. Tudo vai se acertar - sorriu.

Tigresa assentiu.

– Eu queria pedir mais uma coisa...

– Qualquer coisa, Tigresa.

Ela parou por mais um tempo hesitante. Seria tarde pra isso também? Ela estaria fazendo a coisa certa? Possivelmente, Hui era um pai que a amava e fez coisas horríveis e erradas em nome desse amor, mas... e esse pai que estava a seu lado, que a tirou de um pesadelo que vivia acordada? Talvez ele merecesse seu perdão.

– Me desculpe por ser tão mal agradecida - sussurrou ela. Shifu abriu a boca pra responder, mas ela continuou - eu poderia... te chamar de pai?

Shifu se chocou mais uma vez. Esses últimos acontecimentos estavam modificando levemente sua filha. Um sorriso surgiu no Grão-Mestre e ele novamente estendeu seus braços para ela, sendo correspondido dessa vez.

– Claro, filha. Pode me chamar de pai sempre que quiser.

Shifu não pôde conter as lágrimas, mas Tigresa fez de tudo para segurá-las. Ao se soltar, ambos sorriram e voltaram para a casa.

Apesar de todos esses anos e de todas as tentativas falhas de conquistar Shifu, ela já o tinha conquistado, mas ele tinha medo. Tigresa compreendia agora o que esse o medo de perder alguém, independente de qual seja a ameaça e enfim, pôde perdoá-lo.

– O que?! - Hui Nuan se levantou de seu lugar a mesa e acabou derrubando seu almoço no chão e o copo de água em cima dos alimentos.

– Por que esse grito, tio?

– Os guerreiros da academia de kung fu Lee Da escaparam.

– E agora? - Dishi se exaltou - se eles chegarem à Gongmen, todos vão saber que você está no poder e nosso plano vai por água abaixo!

– Acha que eu não sei? Bem, temos que adiantar o ataque...

– Sério? Não podemos esperar que o meu plano com Lin funcione?

– Não há tempo, em menos de uma semana os guerreiros vão chegar á Gongmen e contar tudo. Estão exaustos e machucados, mas ainda assim são guerreiros e provavelmente velozes.

– Ah, se é assim... vamos adiantar.

– Excelente.

– Vou preparar minha armadura e a espada... e descansar - disse o príncipe se levantando de seu lugar.

– Está bem, vamos partir ao amanhecer. Estamos mais perto, com mais soldados e vamos chegar antes e acabar com a palhaçada.

Dishi deu as costas à Hui e foi para seu quarto.

Hui Nuan voltou a se sentar na cabeceira da mesa, era hoje que teria certeza de tudo, para saber de quem se livrar. Esfregou suas patas uma contra a outra, seu trabalho aqui está terminando.

Chegando a seu quarto, Dishi abriu um armário e nele estava uma armadura que protegia o tronco, os ombros ia até o quadril. Era prateada, mas estava velha, pertenceu à seu pai e Hui Nuan lhe deu quando chegou. Deu passos para trás para admirá-la um pouco e olhou para a espada que escolheu para si.

"Será que estou fazendo a coisa certa? Está tudo saindo do meu controle... não era pra ser assim, não era pra eu estar servindo meu tio. Ainda quero minha vingança", pensou ele agora sentado na cama.

Olhando para o chão, viu uma caixa, a mesma na qual estavam guardados os pergaminhos e a tomou. A abriu e pegou o seu.

"Danem-se as tradições, já está tudo errado mesmo"

Rompeu o celo de seu pergaminho, deixando lá o pertencente ao Guerreiro Prometido e por fim, começou a ler.

A cada linha, tomava consciência de que deveria fazer a coisa certa.