— Oi grandão!- era a voz que ele ouvia sempre que estava furioso. — O sol já vai se pôr.- a mesma que o fazia ficar calmo.

Depois de entrar pros Vingadores, Bruce passou a se controlar mais quando estava transformado em Hulk, passou a guardar as pessoas e vozes na memória. Principalmente a dela.

Ainda ofegante, ele a viu se agachar e estender a mão pra ele, como um incentivo para que ele chegasse perto e a tocasse. Com a atenção presa em si, sem dizer nada, ela fazia uma trilha de carinho com seus dedos do pulso dele até a palma da mão, sempre com o olhar fixo no seu.

Aquele toque suave e aqueles olhos verdes afetuosos, era o que o faziam voltar ao normal.

Voltar a ser humano doía por um breve momento, mas sempre que voltava, ela ia até ele com um casaco.

Ele sempre ficava sem jeito, pois quase sempre voltava nu, agora felizmente a calça permanecia.

A canção de ninar passou a funcionar bem, e era sempre ela que ficava com essa parte. Parece que todos do grupo sabiam que apenas Natasha o acalmava.

Não só o acalmava, como o deixava extremamente sem jeito. Depois de uma missão parcialmente bem sucedida em Sokovia, Tony deu uma festa, e pra ser sincero, nunca a viu tão bonita. Seu coração talvez tenha batido mais forte.

Ela estava no bar preparando uma bebida, e não soube de onde tirou coragem para descontrair com ela.

— Como uma garota legal como você veio trabalhar num buraco como esse?

Seus lábios cor de carmim se moveram lentamente para dizer enquanto preparava mais uma bebida.

— Um homem me tratou mal.

— Você tem um péssimo gosto pra homens.

— Ele não é tão ruim assim.- lhe estendeu a bebida e continuou. — Tem um mal temperamento…- ele sentiu o impacto dessas palavras. Ela estava falando dele? —... mas lá no fundo ele é fofo.- sem jeito, ele só deu um gole na bebida, mas ainda ouviu sua doce voz dizer mais coisas. — O fato é que ele não é como ninguém que eu conheço.

Havia verdade em cada palavra. Bruce causava nela algo que não sabia explicar. Ele tinha aquele jeito inseguro, e ao mesmo tempo confiante tratando-se de seu trabalho como cientista e médico. Sempre que olhava pra ele, se fascinava com seu jeito doce de falar, mesmo sendo autoritário. Ele era fofo até quando estava sem um pingo de paciência. Mexia com ela como nenhum outro já mexeu. Não soube o que deu nela pra se expressar assim do nada. Deve ter sido a bebida.

— Todos os meus amigos são lutadores… e acontece que esse cara… passa a vida evitando lutas porque ele sabe que vai vencer.

Ela era assim. Sempre lhe colocando pra cima, lhe dando palavras de conforto quando ele estava se culpando, se martirizando por algo que Hulk causou em seu modo descontrolado.

— Parece incrível.- ele desconversou.

— Ele também é um bobão.- sorriu ao ver que ele ficou sem graça com a fala. — Garotas adoram isso.- garantiu. Após um gole e nenhuma palavra dele, ela prosseguiu em seu flerte sutil. — O que você acha? Eu devo esquecer… ou devo investir?- o olhar sedutor o estudando de cima a baixo rapidamente o fez gaguejar mais do que o normal.

— Ér… investir né?! O-o… ele… o que ele fez que foi… assim tão mal?

— Ainda não fez nada.- satisfeita com a resposta, ela sorriu, mas concluiu ao ver Steve chegando. — Mas nunca diga nunca.- deu uma última olhada nele, e se retirou.

Steve achou bonitinho, e disse algo a Bruce que o fez pensar em possibilidades.

Nat não se abria com facilidade, exceto com Banner. Com ele, ela ficava à vontade. E apesar de desconversar e dizer que ela só gostava de flertar, sabia que não era verdade. Nat o olhava diferente. Mesmo com todos aqueles deuses galãs musculosos, era pra ele que ela olhava assim. Que ela falava assim. Mas quando Steve disse que eles mereciam ser felizes, juntos, a ideia no momento definitivamente parecia impossível.

Mesmo assim, gostava de conversar com ela, e aproveitaram pra fazer isso naquele momento raro de tranquilidade. Só interromperam o papo, pois todos decidiram tentar erguer o martelo de Thor. Ninguém conseguiu, obviamente, e de repente, Ultron os atacou. Vários robôs partiram pra cima, e depois de pular pelo balcão para se protegerem, e sem querer cair de cara nos seios dela, Bruce pôde dizer que, ah, seu coração com certeza bateu mais forte por ela. Pediu desculpas, porque foi sem querer, mas não se arrependia.

Depois daquela batalha, e de mais uma, onde tudo deu errado, onde toda a equipe caiu manipulados pela feiticeira escarlate e o Hulk causou um desastre gigantesco na cidade, os dois estavam destruídos.

Nat estava totalmente desestabilizada e Bruce, culpado mais uma vez, com medo do que mais poderia destruir se ficasse com eles. Loki já tentou usá-lo, e agora Ultron.

Clint os levou a um refúgio, sua casa, com sua família. Eles eram uns amores e claro que Nat já os conhecia.

Um lugar tranquilo, no meio de um campo isolado, cheio de alegria de crianças. Mas somente de crianças.

Gentilmente, cederam um dos quartos para que eles tomassem banho e se vestissem. Bruce e Nat ficaram por último e ela esperou que ele saísse pra poder entrar.

A visão que teve foi das boas. Bruce só de calça, cabelos molhados, peito nu úmido e o vapor saindo do banheiro. Ficou meio boquiaberta, mas logo se recompôs.

— Não percebi que estava aqui fora esperando.

— Eu teria entrado aí com você.- ok, não estava sob o efeito de bebida nenhuma dessa vez, então foi sua extrema coragem e certeza de que ele sentia o mesmo por ela. — Mas não parecia a hora certa.

— Acabaram com a água quente.

— Eu deveria ter entrado.- brincou.

— Perdemos a chance.

— Você acha?- o choque foi breve, mas só teve mais certeza de que aquilo era um sinal verde. Sem trocadilho.

Ele estava abalado, e mudou de assunto, suspirando.

— O mundo acabou de ver o Hulk. O Hulk de verdade dessa vez.- andou até uma cadeira e pegou uma camisa pra vestir. — Você sabe, eu tenho que ir embora.

— E você acha que eu tenho que ficar?

Ela precisava falar sobre o que viu, e ninguém melhor que ele pra isso.

— Eu tive um… um sonho, do tipo que na hora parece normal, mas quando você acorda…

— Sonhou o que?

— Que eu era uma vingadora. Que eu era nada mais do que a assassina que me ensinaram a ser.

— Está pegando pesado com você mesma.- ele se aproximou só um pouquinho, mas ela venceu a distancia ficando colada nele.

— Esperava que você fizesse isso comigo.

Bruce não achou que aquilo era sério. Jurou que era só flerte, uma brincadeira pra quebrar climas tensos. Ela estava mesmo querendo investir nele? Era loucura.

— O que você está fazendo?- estavam tão perto que ele sussurrou.

Aquilo a fez ficar mais maluca por ele, além do cheiro delicioso do recente banho.

— Eu estou investindo… em você.- sussurrou de volta tocando o rosto dele. — Já que… investir é o plano.- sentiu a mão dele segurar seu pulso, com delicadeza. — Se você quiser também.

— Você ficou maluca?- ele tirou a mão dela de onde estava e se afastou.

Seu coração deu uma leve falhada, pois não achou que ele fosse rejeitá-la depois de tudo.

— Eu quero que você entenda que…

— Natasha.- ele a interrompeu. — E pra onde eu vou? Onde no mundo eu não sou uma ameaça?

— Você não é uma ameaça pra mim.- garantiu, dando mais um passo a frente.

— Tem certeza? Mesmo que eu não…- ela sabia o que ele queria dizer. — Não existe futuro comigo.- e ela entendia os motivos dele. Naquele momento ela soube que não se tratava dos sentimentos dele por ela, mas os dela por ele. Ele achava que não podia fazê-la feliz por ser quem era. Mas era justamente isso que Natasha queria. Que ele fosse ele mesmo, com ela. — Eu não posso ter isso. Filhos.

Estavam em um dos quartos das crianças, Bruce viu o que Clint tinha. Não podia dar aquilo a ela.

— Pensa, eu sou fisicamente incapaz.

— Eu também sou.- seus olhos lacrimejaram e foi um choque pra ele aquela revelação. — Na sala vermelha onde eu fui treinada, onde eu fui criada… eles tem uma cerimônia de formatura, e nos esterilizam.- era horrível lembrar daquilo, e doía. Doía muito lembrar. — É eficiente. Nada pra se preocupar…- sua voz falhou um pouco e o coração dele doeu ao vê-la assim. — A única coisa que pode importar mais do que uma missão… torna tudo mais fácil, até matar.- ele não sabia o que dizer, era comum quando estava perto dela. — Ainda acha que é o único monstro na equipe?

Ele suspirou por um segundo. Ela não merecia passar por tudo aquilo, ela merecia ser feliz.

— E aí… vamos desaparecer?

Ela sorriu quase que imperceptivelmente.

— Não é má ideia.

— Está mesmo falando sério?

— Quando foi que eu menti pra você?

— Quando nos conhecemos.- ele nem titubeou, erguendo a sobrancelha.

Ela se surpreendeu com a resposta, mas sorriu.

— Essa vez não vale. Eu fui recrutar você, fiquei com um pouco de medo, não sabia o que esperar.

— Você só tinha ouvido falar do monstro verde né… Não me conhecia.

Nat deu um passo em direção a ele.

— Mas agora eu conheço.- deu mais um passo ficando perto dele novamente. — Deixa eu gostar de você, Bruce…- sua mão tocou o rosto dele de novo, e sorriu ao vê-lo fechar os olhos. — Deixa eu amar você…- ele abriu os olhos e mesmo com medo de Hulk estragar tudo… ele gostava de tê-la por perto, queria tê-la por perto.

Seus olhos verdes lhe atraíram para mais perto, mas infelizmente foram interrompidos pela filha de Clint que entrou no quarto chamando pela tia Nat.

Achou que não teria outra chance como aquela, e ficou com medo de perdê-la quando Ultron a sequestrou enquanto tentavam recuperar o berço.

O vilão a levou para Sokovia, onde tudo começou. Tinham que salvá-la, e ele fez questão de ficar com essa parte do plano.

Nat estava sozinha. Tinha mandado um sinal para Clint, em código morse, e estava sentada esperando a sorte aparecer. Ultron a assustou mais do que ela gostaria. Sabia que a salvariam, que salvariam o mundo mais uma vez, e foi com emoção que ouviu seu nome ser chamado por quem ela mais desejava.

— Natasha? Natasha!

— Bruce!- ela levantou e correu até a grade apoiando uma das mãos enluvadas no ferro.

— Você está bem?- ele se aproximou da cela em que ela estava e tocou sua mão.

— Estou.- sorriu ao vê-lo ali para salvá-la.

Estava começando a achar que ficaria ali presa enquanto Ultron destruía tudo, ainda bem que não. Só o que os separavam era o portão grosso de metal, mas mesmo de luva, Nat sentiu o calor dele com aquele toque.

— A equipe está na cidade, vai começar o combate.

— Eu aposto que encontrou uma chave dando sopa por aí.

— Ah, encontrei.- ele deu um passo pra trás empunhando uma bazuca.

Nat se afastou, ficando fora do alvo para que ele pudesse arrombar a fechadura. Com isso feito, ela abriu a cela e saiu.

— Qual o nosso plano?

— Vou deixar você em segurança.

Ela ficou confusa.

— O trabalho não acabou.

— Podemos ajudar com a evacuação, mas não posso estar numa luta próximo ao civis. E você já fez muito.- concluiu ao se aproximar dela. — Nossa luta acabou.

Era bom demais pra ser verdade. Ele também queria investir!

— Então vamos desaparecer?- tentou conter sua felicidade ao perguntar.

— Não é má ideia.

Ao notar que foi a frase que ela usou numa conversa anterior, seu sorriso se abriu e ela o abraçou.

— Vamos sair daqui.- ele pegou na mão dela e fez o mesmo caminho por onde veio.

Na metade, houve um leve terremoto e as paredes começaram a ruir, o teto começou a cair, como se a cidade estivesse desmoronando. Nat parou. Sabia que as coisas tinham ficado piores, que não podiam fugir e deixar a equipe na mão.

— Temos que ir.

— Você não vai ficar verde?

— Eu tenho uma boa razão pra não perder a calma.

Foi a coisa mais fofa que já disseram pra ela em toda a sua vida. Seu coração se encheu de amor e por um momento esqueceu do perigo que corriam.

— Eu adoro você!- num movimento rápido, ela o puxou pela nuca e o beijou, sendo correspondida de imediato, sentindo as mãos dele em sua cintura. Há um tempão estava querendo fazer isso. Mas só assim para conseguir o que queria no momento. Parou o beijo e o empurrou no abismo que se formou ali, para que ele ficasse com raiva. — Mas eu preciso do outro cara.

Em segundos, ele voltou pra onde ela estava, duas vezes maior do que antes, e verde. Hulk sorriu pra ela, por sua audácia.

— Vamos terminar o trabalho.

Pra dar o troco, ele a colocou em suas costas, sem delicadeza nenhuma, e escalou todas as pedras que estavam caindo, até uma floresta da metade de Sokovia que agora estava suspensa no ar, cada vez mais alto. Ouvia os gritos dela pelos baques que dava com satisfação. Ninguém mandou lhe empurrar praticamente de um penhasco. Na hora de aterrissar, não calculou bem e os dois rolaram na terra.

Ela colocou a mão na coluna ao tentar ficar de pé, com leves pontadas de dor, mas como era uma vingadora, levava porrada direto, então aquilo não era nada. Ofegante, ela o olhou.

— Acho que com isso ficamos quites.- ele resmungou. — Vai lá ser um herói.

Sorriram e se dividiram.

Na hora da evacuação com a ajuda da Shield, depois de lutarem com Ultron e seu exército, Hulk não precisava mais esmagar nada, era melhor já manter Bruce em segurança e entrar na nave antes que a cidade caísse.

— Oi grandão!- ela foi até ele e percebeu que ele ainda estava puto, mas não tinha razão para não perdoá-la. Ainda o queria, ainda mais depois do que ele disse. — O sol já vai se pôr.

Ainda resmungando, ele se virou e se aproximou dela enquanto ela lhe estendia a mão. Ultron infelizmente ainda não estava morto e disparou contra eles, impedindo a transformação.

Nat foi arremessada e Hulk ficou mais nervoso ainda, gritando ao ver Ultron fugir. Porém, ao olhar pra ela inconsciente, se preocupou. A pegou nos braços e saltou da cidade até a nave, para deixá-la em segurança, enquanto ia atrás de Ultron arrancando-o do jato. Wanda acabou com ele e por pouco não houve uma extinção global. O mundo estava salvo de novo.

Com cuidado, Hulk deu meia volta com o jato, sob a orientação daquela voz suave que tanto conhecia e amava.

Levou o jato até a nave, desceu dele e ao vê-la indo ao seu encontro, sorrindo e bem, sem lesões graves, e segurando seu casaco… ele simplesmente voltou a ser o Bruce.

Grunhiu com a dor por um momento, e a sentiu debruçar-se sobre ele, preocupada e surpresa.

— Bruce!- ela achou que ele não voltaria depois do que fez, mas lá estava ele. Segurou seu rosto com as duas mãos e o fez olhar pra ela. — Você não precisou… não precisou da canção de ninar…

Bruce viu os olhos verdes brilhantes pelas lágrimas tentando ser contidas, mas também conseguiu ver orgulho neles, orgulho dele. E ele explicou.

— Só precisei olhar pra você.

Nat sorriu.

— Já disse que adoro você?

Quem sorriu foi ele dessa vez e recebeu mais um beijo. Esperava que aquilo virasse rotina, pois nunca se sentiu tão bem nos braços de alguém. E aqueles lábios macios lhe causavam coisas que jamais sentiu antes.

Nat se afastou, o ajudou a vestir o casaco e lhe deu um abraço forte pedindo desculpas, mesmo após já estarem quites.

— Está tudo bem…- ele respondeu e ficaram em silêncio por poucos segundos até ela chamar sua atenção, tocando seu cabelo e fazendo um leve carinho.

— Bruce… o sol já vai se pôr.- sorriu. — Literalmente.

A visão que tinham da nave era privilegiada e Bruce se virou, seguindo o olhar dela. O céu ganhou uma cor diferente. O azul se juntou com o amarelo e o laranja, com o branco das nuvens, e a visão ficou ainda mais perfeita.

— Quer assistir? Podemos desaparecer depois.

A viúva sorriu, acariciou o rosto dele, coisa que também queria que virasse hábito, e assentiu.

Sentaram lado a lado, Nat deitou a cabeça em seu ombro e eles passaram a apreciar o sol se pondo.

Não notaram que estavam sendo observados até Steve chamá-los.

— Hey, pessoal!

Viraram os rostos em direção a voz do amigo.

— Isso foi fofo pra caramba.

— Capitão, você quase falou um palavrão!

— Ah, Banner, até você??

Com o riso de todos, tudo parecia certo.

E estava.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.