O Sexta Feira

Cena Extra - Bônus


M - Bom dia meu amor.

... Como está hoje o meu pequeno grande caçador?

W - Mamãe ... Mamãe ... Quê saí.

M - É claro que você quer.

... Me admira que ainda não tenha saltado, já aprontando.

William, agora com aproximadamente 1 ano e 5 meses, já andava e falava, ainda um tanto atrapalhado, devido a pouca idade, mas nada o impedia de fazer, agitava-se em seu berço, pulando animado e todo sorridente, quando a viu entrando no quarto tratou de estender os pequenos bracinhos e a chamando para tirá-lo de lá. Hoje ele não havia escapado, ou saltado como Marguerite esperava.

A herdeira havia acordado há pouco tempo, sozinha em sua cama e quarto, imaginou que John estivesse brincando com o garoto, afinal era domingo, nenhum deles aos finais de semana costumavam ir para o escritório, além disto, o relógio marcava 10horas e quando abriu as janelas pode constatar que o dia estava ensolarado, quente, simplesmente convidativo, mas lá fora nenhum sinal dele também.

E para sua maior surpresa, ele também não estava no quarto do William como imaginou, bem verdade, se o garoto não havia tentado saltar do berço, era porque muito provavelmente tinha acordado não fazia tanto tempo, assim como ela mesma.

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Mãe e filho de mão dadas atravessaram o corredor e após degrau por degrau da escadaria, embora nesta parte do trajeto, Marguerite sempre o pegava no colo, envolvendo em seu abraço protetor.

W - Mamãe, o que aquilo?

Apontava para sala, que por sinal parecia irreconhecível, vários tecidos escuros um amontoado sobre o outro, desde a porta principal, algumas pedras e plantas na entrada também e até onde sua visão alcançava, nenhum dos móveis estavam no lugar, assemelhava-se a entrada de uma caverna, como tantas que viu no platô, como aquela que encontrou O Sexta Feira.

W - Mamãe, não espondeu.

M - Aquilo, parece uma caverna, ou pelo menos a entrada de uma.

W - Obaaaa ... Papai deve tá lá ... vamo ... vamo ...

Mais do que depressa, ele desprendia-se de sua mão e corria em direção e para dentro daquela “estrutura” montada.

M - O que será que está aprontando dessa vez Lorde Roxton?

Marguerite prendeu os barrados de suas vestes de dormir em suas mãos e o seguiu, de fato, o lugar tinha sido montado e definidamente planejado, inacreditavelmente o chão havia sido coberto por uma espécie de carpete escuro, o lustre iluminava a “tenda”, bem como algumas outras luminárias espalhadas pelo chão que a deixavam totalmente clara, embora o sol que atravessava a outra saída para varanda contribuía, deixando o ambiente mais vivido e causava um ar de aconchego.

J - Achei que café fosse uma necessidade, não vai se juntar a nós?

Lá estava ele, com suas roupas de caçador, parado do outro “lado da caverna”, a aguardando, encarando-a, como se estivesse admirando cada detalhe seu, nunca conheceu um homem como John, ele a decifrava em um olhar, não era necessário sequer uma palavra pronunciar.

Lembrava-se que no começo ela o temia justamente por esta qualidade, mas depois e hoje, só a preenchia de amor e varria suas incertezas e inseguranças.

Ela o acompanhou, se juntou a mesa do café da manhã como ele pediu, ainda mais quando ele era tão cavalheiro, oferecendo-lhe a mão tão carinhosamente, estampando aquele sorriso que lhe aquecia o coração.

M - Está “caverna”, parece aquela que encontramos o ... Aiiiii

Alguém ou alguma coisa a mordia por baixo da mesa, enquanto William ria de sua nova travessura compartilhada com o pai.

M - Mas o que? Ele é igualzinho ... Você?

J - Sim minha Marguerite, está “caverna”, tudo o que fiz e montei, é como se fosse aquela que encontramos O Sexta Feira, inclusive ele, é o mais parecido possível do seu estimado Sexta.

... Eu achei que faria bem para todos nós um novo animal de estimação, com algumas mudanças é claro.

M - Mudanças?

J - Sim, olhe você mesma, na coleira, no pequeno detalhe azul envolto do pescoço do animal.

Marguerite abaixou-se, pegou o pequeno gatinho que William lhe oferecia sorrindo alegremente, verificando detalhadamente o “acessório” que o animal trazia junto de si, “Nome Sexta Feira, número de registro 270224, Pertence à Lady Marguerite Roxton”.

Antes que ela pudesse demonstrar qualquer sinal de gratidão, o garoto pulava em seu colo, a abraçando fortemente, o mais forte que seus bracinhos permitiam.

W - Mamãe ... vamo ficar com ele, vamo?!

... Ele faz miau, papai falou que é o Sexta pequenininho, igual eu.

M - Sim meu amor, ele faz miau.

... Este será o nosso Sexta, meu e seu está bem, vai me ajudar a cuidar dele?

W - Siiiiiiiiiiim!!! Meu e seu, nosso Sexta!!!

William ajeitava-se no colo dela, segurando o gatinho, o acariciando com aquela docilidade que apenas uma criança é capaz de expressar, os dois juntos de si.

John sentou-se seu lado, servindo-a de uma xicara com café, “aquela bebida divina”, como costumavam chamar e brincar, enquanto a abraçava por detrás, depositando uma de suas mãos em sua cintura e a outra tirando de seu bolso duas pequenas caixinhas aveludas.

M - Duas?

J - Uma para você e outra para o William, para o futuro dele.

... Vamos, escolha uma delas e te conto uma história.

M - Hahaha ... como faz com ele quando vai dormir?

J - Quase, sem interpretações e encenações.

Ela escolheu aquela do lado direito, que guardava uma pulseira regulável, percebia-se que na sua confecção os traços eram mais arrojados e menos delicados, sem dúvidas era um item de uso masculino, feita de ouro, com o nome William gravado.

J - Muito bem, como percebeu, este é para o William.

... Uma vez, conheci um rapaz, que dividia do mesmo nome do nosso pequeno grande caçador, um filho dedicado, amado por seus pais e irmão, que por seus méritos graduou-se, assumiu todos os negócios da família e o título também de lord, ele era muito além do que aquele título.

... Mas devido um acidente e se foi, antes mesmo de viver, mas algo no destino, nos permitiu algo reescrever, um dia, eu o vi de novo, e depois de dois corações disputarem por um, aquele de uma cantora desconhecida, conhecida por ambos, nos acertamos.

... Naquele dia, ele me concedeu dois presentes, o seu perdão, o mais valioso de todos que podia dele desejar, ainda que soubesse o que ia enfrentar. E algo para dele sempre me lembrar, o teu relógio, meu irmão ganhou este objeto quando graduou-se e um dia, quando merecer e o seu destino escrever será do nosso William.

John tinha conquistado sua atenção, como o próprio garoto, ela sentia que poderia ouvi-lo por horas sem fim, sua voz era calma, sensata e ponderada, diria que até mesmo cada palavra calculada, algumas vezes rimada.

A deixava mais perto de si, pensava que nunca soube e nunca saberia explicar, o que era aquela sensação e emoção, quanto mais e mais a tinha para si, mais a desejava, muito além do mero desejo carnal, do aqui e agora. Se antecipou e revelou o conteúdo da outra caixa. E antes que ela pudesse se manifestar, ele voltou a história contar.

J - Além do perdão do irmão, também houve aquele outro coração que os dois disputavam por sua atenção, antes e depois que ele partiu, todos os pedaços quebrados estraçalhados, conseguiu juntar.

... Então, aquela cantora, que era muito mais do que se deixava demonstrar, também permitiu-se amar e seu coração entregar, ela permitiu-se voar, mas não mais solitária.

... As bodas de papel simbolizam a construção de algo maior, que começa delicado e vai se firmando com o passar dos anos, como o próprio papel que é um material frágil e, ao mesmo tempo, produto de um material forte e resistente, a madeira. Sendo representado por um pedaço de dobrado, um origami às vezes.

... O qual um aluno empenhado pode levar dias para aprender corretamente um papel dobrar e, mais ainda o papel em ouro branco tornar, o mais semelhante deixar, só para neste um ano de casados te presentear.

John havia aprendido a fazer a dobradura do origami com Liu Hang, passou dias dedicando-se, até que fez alguns que poderia usá-los como pingentes e após tiveram os cuidados de “eternizá-los” com ouro branco derretido, equilibrando a temperatura do mesmo até que fosse possível fazê-lo sem nada estragar. Ele também tratou de ensaiar a história, decorar cada palavra, que a sua mãe o ajudou escrever, inclusive algumas rimas introduzir.

Marguerite o beijou, o amou, perdendo-se em seus lábios e braços, risos e sorrisos, naquela promessa feita há um ano atrás e refeita hoje, ela tinha o seu presente guardado também, mas no aqui e agora o que planejava e estava disposta, era algo dedicava só ao William, ou não mais.

M - Feliz um ano de casamento para nós meu amor, meu John.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.