O Sexta Feira

Capítulo 17 - Reencontros


Os exploradores retornaram, sentiam-se extasiados, mas certos do que viam, era Avebury, Challenger e Marguerite foram os que mais sofreram com os reflexos da viagem, o cientista obrigou-se a sentar em uma das cadeiras próximas, sentiu vertigens e sua visão embaralhar, a herdeira por sua vez segurou o barrado do vestido e correu até o toalete, as náuseas foram mais fortes do que as outras vezes, Verônica e Malone cuidaram de Challenger, enquanto Roxton, Anne e Elizabeth socorreram Marguerite.

J - Marguerite o que está acontecendo? Você não está bem? Precisa de algo?

M - Não John, está tudo bem, eu ficarei bem. Preciso me deitar um pouco, deve ter sido por conta do esforço da viagem, é apenas isso.

J - Eu irei com você.

L.R - Não John, você fica aqui em baixo com seus amigos e família, acredito que Anne pode fazer a gentileza de acompanhar Marguerite, não é nada sério, apenas sintomas da gravidez. Ela ficará bem.

A herdeira prevendo que John não se contentaria ou ficaria satisfeito com aquela explicação, interviu.

M - Isso mesmo John, não é nada demais, fique aqui com eles.

Logo eu estarei de volta, só preciso de alguns minutos, vamos Anne.

A - Claro minha menina, estarei ao seu lado.

Assim Marguerite e Anne retiraram-se, John desejava correr atrás dela, não era nada grave, mas ele gostaria de estar ao seu lado, presente, mas antes que pudesse, Lady Roxton o tinha entrelaçado o braço e seguia até os demais presentes.

Verônica e Malone, mantinham a “guarda” sobre o cientista, que parecia ter se recuperado rápido, bastou um copo com água e descansar por alguns instantes, o homem até então não havia viajado por meio do Oroboros, era compreensível o seu mal súbito. Contudo algo mais forte o atingiu, deixando-o sem reação, petrificando-o, ao lado do casal, segurando suas mãos junto do copo, lá estava Jessie, que correu em sua direção quando o viu e desesperou-se quando parecia tombar.

Nenhum dos dois acreditava que seria possível um reencontro como este, que um talvez havia esperado pelo outro, juntos se levantaram, as mãos se esbarravam suavemente, Jessie tinha algumas lágrimas que escapavam, e Challenger parecia incrédulo, quieto, como se palavras faltassem, ainda tremulo tocou o rosto da mulher, que levou a sua mão sobre a do cientista, então verdade e não uma ilusão causada por um de seus experimentos, era de fato sua esposa.

Jessie - Challenger ... Você voltou, voltou pra mim.

C - Ora minha querida Jessie, não poderia ser diferente.

... Eu sei que tenho sido ausente, por toda a minha vida de casado com você, espero que possa me perdoar. E se me permitir uma nova chance, quero recompensar todo o tempo perdido. Nunca, nunca mais a deixarei, nem mesmo pela a minha ciência.

... Ahhh Jessie, eu tenho sentido tanto a sua falta, você

O cientista já não aguentava mais, a dor da saudade, da culpa e a felicidade de reencontrá-la o tomaram por completo, ele abraçava a mulher, sua voz embargada de tanta emoção, sentimentos misturados, e mesmo algumas poucas lágrimas escapavam.

Jessie - Challenger seu velho teimoso, não poderia viver sem você.

... Acredite mesmo, que se eu não estivesse lhe dando uma segunda chance eu estaria aqui?! Claro que não George. Mas agora, me prometa que vai parar com essas suas loucuras de procurar coisas e lugares que não podem ser achados ou que parecem não ter saída?

C - Eu prometo Jessie, por tudo o que mais sagrado.

... E daqui em diante seremos nós dois, se eu decidir partir para algum lugar assim, chega de você passar dias me esperando sem uma notícia, você irá comigo, sempre.

Jessie ainda assimilava que tudo o que acontecia era verdade, a cada dia que passou sozinha, desejou e esperou por isso, mas nada acontecia, até aquele momento, sentia-se mais emocionada que o dia em que se casou, ambos pareciam atordoados, permaneceram mais um tempo abraçados, trocando carícias e confidencias de amor e carinho entre eles, Challenger por dentro deseja que aquele momento nunca acabasse, ou se acabasse, que fosse por outros iguais ou melhores.

Verônica e Malone também compartilhavam da felicidade do casal, mas em contrapartida sentiam-se um pouco deslocados, com o cientista ocupado, Marguerite se recuperando, e John dançando e conversando com a mãe, não restava muitas opções com que conversar, foi Bryan que de certo modo os “socorreu”, com uma taça de vinho para cada, procurou puxar assunto e discussões agradáveis, o rapaz era de fato simpático, ainda que novo, carregava certa bagagem de aventuras e experiências, os três falavam sobre vários assuntos, Verônica ainda impressionada com o tamanho do salão, com os detalhes, nunca tinha visto algo assim, enquanto Bryan ao contrário de muitos, não se importava com às vestes da mulher e também mantinha a cordialidade e respeito que era esperado, o que permitia que tanto Malone, como Verônica permanecessem a vontade próximo dele.

Lady Roxton aproveitou a brecha para ter um momento a sós com o filho, enquanto dançavam juntos, no entanto, era inegável que John estava disperso, a todo momento tinha sua atenção voltada para entrada do salão, conversava trivialmente com sua mãe, mas seus pensamentos pareciam direcionados para outro lugar, outra mulher, o que incomodava a Lady, a mulher mais velha era rígida e observadora também, sabia que tinha algo de errado com Marguerite, e que havia muito mais seu filho desconhecia, sobre si e sobre a herdeira.

L.R - John, pare de olhar tanto. Logo ela estará aqui dançando com você.

... E pelo visto e infelizmente não somente hoje.

J - Não mãe, não só hoje. Acho que terá que se acostumar, mesmo parecendo não carregar muita afeição por Marguerite.

L.R - Não se tratar de afeição John. Mas eu sou macaca velha, e sei bem que existem certas coisas que eu deveria saber ou ser comunicada, mas não fui até o momento.

J - Existem muitas coisas que a senhora deveria saber minha mãe, mas acabamos de chegar, nos dê um tempo. Não acredito que hoje seja o dia mais adequado para isso. Se lembra do que o papai sempre falava?

L.R - Hummm... Que paciência é uma virtude?! Besteira, seu pai às vezes era um homem de pouca fé, e você também é assim, eu nunca acreditei nesses ditados e provérbios, acredito no que está a minha frente e ...

J - E amanhã nos conversamos Lady Elizabeth Roxton

L.R - Está falando igual a ele. Até parece que esta mulher conseguiu colocar um pouco de juízo na sua cabeça John.

J - Hahaha ... Quem sabe minha mãe.

... Mas deixamos isso para amanhã, certo?

L.R - E eu tenho outra escolha John Richard Roxton?

J - Eu lamento dizer, mas não, a teimosia é algo da nossa família, principalmente do seu lado mãe, portanto, não há saída. É pegar ou largar.

L.R - Que assim seja.

... Contudo, quero que entenda que você é o meu único filho e, se existir algo que possa comprometer nossa família, a honra de seu pai ou do seu irmão, eu não aceitarei essa união e tão pouco admitirei que permaneçam sob esse teto, não na mesma cidade que construímos a fama e a fortuna da família Roxton.

John conhecia a matriarca da família por toda a sua vida, seus pensamentos, posturas e desconfiava de suas exigências e das próximas que aconteceriam, a mulher diante de si não aceitaria facilmente Marguerite, nem que existisse a possibilidade. E com todos os segredos e passado obscuro da herdeira, era uma guerra perdida, mais cedo ou mais tarde, ele teria que escolher entre as duas mulheres, era inevitável que acontecesse.

As cobranças e consequências só estavam começando, e ele já se preocupava com o futuro incerto que Marguerite tanto evitou, perguntava-se o quão correto tinha sido a decisão que tomaram e temia se seria capaz de protegê-la como sempre prometeu, perdido em seus próprios pensamentos, John só teve sua atenção capturada quando voltou seus olhos para entrada do salão e pode vê-la aguardando-o, recuperada e disposta, olhando em sua direção.

J - E eu entendo Mãe.

... Assim como desejo também que, compreenda que durante todos esses anos eu não sou a mesma pessoa que a senhora viu partir. Eu estou voltando junto com uma família e com responsabilidades que demorei mais tempo do que deveria para aceitar. Mas saiba, irei assumir de uma vez por todas o título que herdei e tomarei a frente dos negócios da família.

... Agora se me der licença, minha futura esposa e sua nora me aguarda.

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J - Será que a bela dama me concede a próxima dança?

Marguerite olhou para o caçador, encarou os seus olhos e a mão que estendia a sua frente, ainda estava um pouco pálida por conta dos enjoos, mas também parecia incomodada com algo mais, como se medindo as próximas palavras.

M - Então... Só agora você viu que sou bela? Não sei se devo aceitar o seu convite Lord Roxton.

J - Marguerite, você só pode estar brincando, está brava porque não a elogiei?

M - Não, eu estou brava com o Challenger que não notou ou percebeu nada de diferente ... É claro que é porque você não me elogiou John!

... Eu me arrumei toda para ir buscar você naquele maldito platô, até o vestido de casamento de sua mãe eu peguei e você não falou absolutamente nada, deveria ter esquecido você lá por mais alguns dias.

John sentia-se como tivesse enfrentado um T-Rex e perdido, a resposta inesperada da herdeira o surpreendeu mais do que imaginava, não esperava isso dela, Marguerite nunca se importou tanto com elogios ou esse tipo de coisa, na verdade a maioria das vezes que ele tentava alguma proximidade semelhante, era rechaçado, ainda mais se fosse público. No entanto, algo lhe dizia que isso era relacionado a gravidez, e que muitas outras surpresas viriam e ele acompanharia cada uma delas com diversão e amor.

J - E quem disse que eu não reparei Marguerite?!

... Eu olho e observo você desde o momento que eu acordo até quando vou dormir, isso quando não sonho com você também. Eu apenas não falei antes o quanto está bela, fascinante, encantadora, parecendo um anjo que desceu para terra, só para ficar ao meu lado, porque pretendia falar isso só entre nós dois.

M - John está flertando comigo?

J - Certamente que estou. Me concede a próxima dança?

M - E o que você está esperando?

J - Hahaha ... Marguerite, me pergunto quando você irá parar de me surpreender dessa forma

M - Acho que posso pensar sobre isso. Mas por enquanto, prefiro manter o costume.

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Madrugada a fora e todos ainda conversavam, dançavam, riam, a casa toda iluminada, a música soava pelos quartos, a alegria preenchia o vazio, que tanto teimou em permanecer na propriedade Roxton e em alguns ali, presentes. Por alguns momentos Lady Roxton esqueceu de suas diferenças quanto a herdeira, e conversava com ela normalmente como qualquer outro naquela sala, Jessie além de ter o marido de volta, sentia como se tivesse ganho uma nova família, a qual tanto sonhou em construir um dia, os casais era notório que um parecia mais feliz que o outro, entre sorrisos e brilhos no olhar, Anne junto de James era a mais animada, dançava divertidamente com o homem, sua risada ecoava longe e mais ainda quando Marguerite a compartilhava, Leopold se juntou a mesa, contava algumas histórias e experiências divertidas e embaraçosas de um certo integrante da família Roxton, até Bryan se identificava com eles, foi o que sempre procurou, e agora parecia ter encontrado.

O sol quase apontava no horizonte quando cada um se retirou para o seu respectivo quarto, Challenger e Jessie dividiam o mesmo quarto, assim como Malone e Verônica, no entanto, sobre a responsabilidade do cientista, conforme acordado mais cedo com Lady Roxton, Marguerite continuaria no quarto que ocupava a dias e John no que sempre lhe pertenceu.

A Lady cumpriria com a promessa de manter às rédeas e a vigia sobre o filho e a sua futura nora, não permitindo brechas entre os dois, nem mesmo para que pudessem se despedir apropriadamente, carregava consigo que ainda restava muito tempo para isso, se tudo o que juravam fosse verdade, referente ao amor que sentiam um pelo outro, quem sabe teriam a vida toda para desfrutar de momentos mais “íntimos”.