O Sexta Feira

Capítulo 12 - Desejo estranho


Roxton não esperou por outro chamado, correu o mais rápido que pode, sabia qual direção seguir e também, de quem era aquela voz, era Marguerite, só podia ser ela, Verônica havia confirmado, ela também escutou, ou seja, não era sua imaginação pregando peças, como aconteceu em alguns sonhos, noites passadas.

Poucos degraus, próximos ao topo da escada lá estava ela, subindo, com a mesma pressa que ele e estava linda, o vestido que usava, era como se tivesse sido feito para ela, somente ela, seus olhos brilhavam ainda mais do que ele se lembrava, a herdeira parou quando viu de quem se tratava.

O mundo parou, o chão faltou, o coração de cada um acelerou e o ar parecia ter escapado, John a abraçou, a beijou no rosto e nos lábios, a apertou, como se sua vida dependesse disso, quase a esmagava. Marguerite por sua vez se agarrou em seu pescoço, retribuía cada beijo, cada olhar, todos os dias que se passaram foram como uma tortura, um dia a menos para se amarem.

Quando finalmente o caçador a soltou, pode ver que um belo sorriso atravessa os lábios da herdeira, tão cego, preocupado com Marguerite, que nesse momento não havia mais nada, nem ninguém ao seu redor.

J - Porque não voltou? O que aconteceu? Eu pensei que tinha perdido você.

... Marguerite escute aqui, não pense mais em fazer isso ou eu, eu.

... Não sei o que seria caso não voltasse, não sei mesmo.

Marguerite admirava o homem a sua frente, olhava com carinho para aqueles olhos verdes escuros, tão sinceros, como ela sentiu falta daquele olhar, do seu toque, beijo e até mesmo de suas brigas.

M - Nunca vai me perder, quantas vezes tenho que falar isso para você. Se eu não voltei antes, foi porque tive problemas durante a viagem, algumas coisas não aconteceram como havíamos planejado.

J - Não, como assim? O que houve?

Marguerite colocou-se de lado, para que John pudesse ter conhecimento de quem estava atrás de si própria. Se com a morena sentiu que o mundo tivesse parado, agora, diante de sua mãe, sentiu-se contraditório, surpreso, todo o mundo girou, não acreditou no que via, era mesmo a sua mãe, a sua frente e também no platô. A própria Lady Roxton parecia petrificada, mal piscava ou acreditava no que acontecia, desde o momento que viu John descer às escadas.

Os dois permaneceram por mais um tempo assim, apenas um olhando para o outro, até que o caçador não aguentou mais e a abraçou fortemente, chorava como uma criança, assim como a Lady, ela ainda não acreditava que depois de quatro anos estava abraçando seu filho, seu maior bem, assim com John não pensou que um dia poderia voltar a sentir aquele abraço depois de tudo. Após alguns instantes, a mulher acariciava o rosto de seu filho amado, que há tanto não via, assim como John a olhava com tanto amor e admiração.

J - Mas mãe, como a senhora pode estar aqui, espera, o que está acontecendo?

L.R - Uma longa história meu filho, mas não importa, estou tão feliz, se soubesse o quanto senti sua falta meu filho. Já estava perdendo às esperanças de encontrá-lo, começava achar que...

J - Me perdoe minha mãe, íamos voltar em breve, mas ... tivemos algumas complicações... Ahhh mãe, senti tanto sua falta, não irei mais abandonar a senhora, nunca deveria ter feito.

Enquanto isso Marguerite abraçava cada um dos exploradores, conversava, ria alegremente, estava feliz em vê-los novamente. John subiu junto de Lady Roxton, braços dados, todos os aguardavam ansiosamente.

J - Challenger, Malone, Verônica quero que conheçam minha mãe, Lady Elizabeth Roxton. Mãe esta é a minha família, são mais do que amigos, cada um deles me deu motivos para me manter vivo durante todo esse tempo, em especial Marguerite, mas pelo visto, vocês duas já se conhecem muito bem.

M - É... Pode-se dizer que sim, como toda boa relação de sogra e nora quem sabe. Tudo bem que quase nos matamos, mas aqui estamos não é mesmo Elizabeth?

A mulher mais velha tinha um sorriso nos lábios, de tamanha a felicidade, que não podia esconder.

L.R - Talvez, talvez Marguerite. Senhores Challenger e Malone, Senhorita Verônica, serei eternamente grata a cada um de vocês, cuidaram do meu filho. Imagino, pelo o que Marguerite contou do quão dura é a vida neste lugar, agradeço a cada conselho, cada vez que salvaram a vida dele, senão fosse por vocês, não creio que hoje estaria aqui ao seu lado dele. Muito obrigada a todos.

C - Lady Roxton não é preciso agradecer por nada que tenhamos feito, como John falou, depois de todos esses anos, aprendemos quais as nossas diferenças, o jeito de cada um e acredito que família como a nossa não há, tudo o que queremos é ver o bem um do outro, é o que basta.

...E ver tal felicidade em seu rosto já nos serve como agradecimento. Agora, junte-se a nós a mesa, vamos todos almoçar.

M - Finalmente, pensei que nunca ia dizer isso, estou faminta, seria capaz de comer um trice-raptor inteiro.

Em uníssono todos olharam para a herdeira, nunca a tinham visto com tanto apetite assim, era algo novo e surpreendente, menos Lady Roxton, que a acompanhou nos últimos dias e viu o apetite “foraz” da morena, portanto, não demorou para cair aos risos com este último comentário de Marguerite, deixando a todos sem entender nada do que estava acontecendo.

L.R - Sabe Marguerite, senão estivesse no estado em que se encontra atualmente, certamente lhe daria uma bronca, afirmando que está sendo mal educada. Mas nesse caso, só digo que, por mais estranho que seja seu desejo, de comer um ... um dinossauro, não deve ser negado.

O comentário de Lady Roxton deixou a todos confusos, em especial Jonh, que tinha toda a sua atenção voltada para Marguerite, sentada ao seu lado.

J - Marguerite, será que pode nos explicar que estado é este, que minha mãe se refere?

A herdeira sorria de ponta a ponta dos lábios, sentia-se feliz por seu retorno, mas ainda insegura, sabia que John a amava, mas uma criança, um filho não planejado, temia que tudo mudasse.

M - É claro John, eu posso e eu vou explicar tudo, a todos vocês, mas eu gostaria de antes, conversar com você, a sós, podemos?

J - Claro Marguerite, acho que tudo bem.

Os exploradores apenas sinalizaram, concordando com a retirada do casal, que seguia por Marguerite a diante, guiando Roxton até a lavanderia, que não era tão distante da cozinha, mas ainda poderiam ter um espaço e momento reservado.

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Os dois olhavam para aquela paisagem lá fora, Marguerite respirava fundo, perdida em meio seus medos e preocupação, como se tomando um tempo, enquanto John se mantinha ao lado, segurando a sua mão firmemente.

M - Você sabe que está apertando-a não é mesmo? Não irei fugir Roxton, lhe disse há poucos segundos.

J - Você falar e você fazer, são coisas bem diferentes.

Marguerite apenas sorriu de lado, mas não olhou o caçador, alguns segundos de silêncio penduraram entre o casal ...

J - Eu não sei o que está preocupando-a, mas sou eu quem irei repetir agora, seus segredos estão seguros comigo.

M - É mais difícil do que isso John, você se lembra quando falei que minha alma precisava ser lavada, o que respondeu?

J - É claro que sim Marguerite, que talvez fosse por isso que eu sempre estivesse ao seu lado. Mas o porque disso agora?

Ele se lembrava, sempre fazia, a herdeira não falou uma só palavra, seus gestos demonstravam muito, mais que qualquer uma que poderia ser pronunciada, ela segurou as mãos de John, ainda trêmula e incerta, mas tinha que contar para ele, de um jeito ou de outro. Colocou suas mãos sobre seu ventre, esticou um pouco o vestido, para que ficasse mais justo, e assim mais aparente os primeiros sinais da gravidez, a pequena barriga estava mais perceptível a quem olhasse para Marguerite, assim como a criança, que se movimentava com mais frequência.

J - Você... Eu ... Nós? É verdade?

M - Sim, sim e sim ...

... Eu estou grávida John, estou esperando um filho, nosso filho.

John aproximou-se lentamente da herdeira a sua frente, diferente de minutos atrás que corria em sua direção, apertando-a em seus braços, sentia tonto com tudo o que já tinha acontecido naquele dia e agora mais essa notícia, que encheu o seu coração de alegria, de uma alegria imensurável, que nunca pensou sentir, “Pai... Sim, ele seria Pai, e de uma criança junto da mulher que jurou dar sua vida, nunca imaginou que um dia isso aconteceria”, não podia desejar mais nada naquele momento, Marguerite, sua mãe junto dele, e agora seu filho, que não esperava, mas que já amava mais do que a si mesmo, sem dúvidas era o dia mais feliz da sua vida.

O caçador ajoelhou-se a altura da barriga de Marguerite, depositando carinhosamente um beijo sob seu ventre, continuava ali, acariciando-a, enquanto Marguerite tinha uma de suas mãos em seu próprio rosto, enxugando as lágrimas derramadas, e a outra involuntariamente brincava com os cabelos de John, que parecia como encantado, e surpreso também, ainda mais quando o bebê se mexeu um tanto mais forte, como antes tinha percebido, ele parecia reconhecer o seu pai ou sentir o que Marguerite sentia.

J - Esta... Está mexendo.

M - Sim, está.

J - É nosso filho Marguerite?! Nosso.. Eu... Eu vou ser pai. Vou ser pai...

M - Sim John, você será pai, Lord John Roxton pai, quem imaginaria.

J - Hahaha ... Minha Marguerite, ninguém, ninguém... Nem mesmo eu.

Roxton levantou-se, de frente para Marguerite, acariciava o seu rosto, limpando às lágrimas que teimavam em cair, quando subitamente a envolve em um abraço terno, a pegou em seu colo cautelosamente, a girando sobre seus pés, beijando-a, deixando o seu corpo mais próximo que pode ao da mulher, alegre, surpreso também, mais feliz do que jamais esteve, sua risada ecoava por toda a casa, seu amor por Marguerite, por aquela vida que carregava dentro de si, transbordava

J - Marguerite... Eu... Sou o homem mais feliz do mundo, hoje é o dia mais feliz da minha vida, eu vou ser pai.