O Sexta Feira

Capitulo 25 - Lobos


Era a primeira vez em dias que todos os exploradores se reuniam a mesa do café da manhã, acompanhados de Jessie, Anne, James e Leopold, era evidente a alegria, ainda que houvesse preocupações futuras, que muitas surpresas ainda os aguardavam, naquele momento desfrutavam da companhia uns dos outros, além disto, o retorno da herdeira contribui para que sentissem mais aliviados, os temores por sua vida, agora não passavam de lembranças.

M - George, você manteve a data da reunião na sociedade de Zoologia?

C - Na verdade não minha cara, deveria ocorrer hoje, mas adiamos para daqui dois dias. Jessie quem cuidou dos preparativos, junto do jovem Bryan.

M - Bryan? Achei que ele estaria em Avebury.

Jessie - E ele está Sra. Krux.

... Após a sua internação, percebi que todos estavam preocupados demais com o seu estado, não tinham como pensar no evento, portanto, tomei a liberdade de contatá-lo e pedir que me ajudasse com as datas, como ele também é conhecido no meio e a influência da família Roxton, logo tudo foi remanejado.

... E ele pelo que sei retornou para a sua casa.

Challenger admirava orgulhosamente a esposa sentada ao seu lado, mal continha os seus ânimos, mas Marguerite sentiu algo dentro de si, que chamou sua atenção e não era a primeira vez, a mulher era dócil e atenciosa isso era inegável, porém a proximidade que carregava com a família de John, pareceu estranha, Jessie e Elizabeth simpatizaram de imediato, passaram horas juntas conversando, tomando chá, como se conhecessem anos, ainda que fosse improvável, o fato da postura que a Lady mantinha, não dava brechas para uma amizade recente ser tão próxima.

M - Ótimo, até lá podemos organizar como tudo irá funcionar.

... Até porque nenhum de nós poderá sair de casa, teremos bastante tempo para isso.

J - Marguerite no que está pensamento?

Não passou despercebido pelo caçador o tom que a herdeira usou, não era agressivo, mas também não era totalmente amigável, tinha um certo ar de preocupação.

M - Ainda nada John, mas irei pensar, não tenha dúvidas sobre.

... Por enquanto, acho que é melhor nos mantermos todos juntos.

C - Muito bem posicionado Marguerite.

... Mas é claro, não posso deixar de esclarecer também que a casa é sua John, meu amigo, isso esta em suas mãos, é mais do que podemos pedir.

J - E não precisa pedir, faço questão que fiquem, a casa tem mais cômodos do que todos nós juntos. Serão sempre bem vindos.

... Só uma pergunta Challenger.

C - Claro meu amigo, qualquer uma.

J - Você escolheu um quarto com janelas para o seu laboratório?

Jessie - Não se preocupe Lord Roxton, isso eu mesma fiz, e de preferência distante dos automóveis também, odiaríamos ter mais algum explodido.

Todos olharam incrédulos para o cientista.

M - Porque isso não me surpreende?!

O comentário da herdeira fez com todos caíssem aos risos, principalmente com as lembranças do cientista explodindo o laboratório tantas e tantas vezes.

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Durante as próximas horas cada um seguia com seus afazeres, Challenger coletou algumas amostras de sangue de Marguerite, para verificar o quanto a toxina havia infectado o seu sistema imunológico e ainda insistia em permanecer em sua circulação.

Quase anoitecia, quando Verônica bateu na porta do quarto da herdeira, na verdade o quarto de John, mas que ambos estavam dispostos a dividir, aproveitou a brecha que o caçador finalmente havia descido e conversava com Malone.

V - Marguerite, posso entrar?

M - É claro verônica.

A garota ainda se sentia culpada, sentia que precisava daquela conversa, Marguerite tinha acabado de sair do banho, tentava incansavelmente fechar o fecho do vestido.

V - Quer ajuda?

M - Acho que seria bom, parece que engordei ainda mais, não tenho uma roupa que me sirva, se continuar assim, até o nascimento dessa criança, estaria mais redonda que um ovo de dinossauro.

Verônica olhava os vestidos jogados sobre a cama e a comparação que a morena havia feito, era impossível não rir.

V - Pronto, aí está. Só tinha emperrado.

... Será que podemos conversar um pouco?

M - Obrigada.

... Que pergunta Verônica, depois de tudo que fez. Vamos até a sacada, teremos mais privacidade. Principalmente quanto a um certo Lord.

As duas sentaram-se lado a lado na varanda coberta, os últimos raios de sol se escondendo, o ar da noite dando às graças, a neve mais severa, mas independente tudo parecia calmo demais para ser verdade.

V - Sobre o que aconteceu, será que algum dia pode me perdoar?

M - Te perdoar, Verônica foi o seu sangue que salvou minha vida, perdeu o juízo.

V - Marguerite eu falhei com você, me deixei levar e esqueci dos perigos que ainda corremos, se eu estivesse prestando atenção, nada disso teria acontecido, você nunca teria se ferido.

M - Pode parar por aí. Você deve ter passado muito tempo com Roxton, para se achar minha protetora, como se eu precisasse de proteção, às vezes talvez.

... Mas quero que me escute, nada disso que aconteceu é culpa sua ou de qualquer um de vocês, se existe uma pessoa culpada, essa pessoa sou eu, fiz escolhas no meu passado um tanto incomum e agora estou pagando por elas.

... Sempre soube de tudo o que me esperava, de todos os perigos, sabíamos que não seria fácil. Você não deve se responsabilizar por nada.

V - Mas Marguerite...

M - Não, eu sei o que vai dizer.

... E de novo, você não é a culpada. Agora podemos de mudar de assunto?

Verônica sentiu verdades nas palavras da herdeira, ela não a culpava de fato, e não estava disposta a aceitar o seu pedido de desculpas, entendia que nada tinha que ser desculpado. Mas as feições dela se tornaram sérias e reflexivas quando lhe pediu para mudar de assunto, algo a incomodava, algo que sentia que não gostaria muito de ouvir.

M - Bem, se demorou para responder, imagino que seja porque reconsiderou o seu pedido de desculpas, pedido sem motivos por sinal.

... Preciso conversar com você sobre algumas suspeitas, imagino que esteja mais bem informada das últimas movimentações que eu.

V - Eu ainda insistiria mais um pouco, senão fosse a sua recuperação.

... Quanto as últimas movimentações, o que quer dizer?

Marguerite em seu íntimo agradeceu pela garota não insistir, com os últimos acontecimentos não se sentia bem o suficiente para uma discussão, e ainda havia muito o que pensar e se preocupar, precisava de Verônica ao seu lado, como amiga, irmã e aliada também, não seria a primeira vez que ambas percebiam algo que os rapazes se mantiveram “ausentes”.

M - Nós sabemos que John e sua mãe não tiveram uma boa conversa, por assim dizer, caso contrário ainda estaríamos em Avebury.

... Mas não notou nada suspeito enquanto esteve aqui, como se tudo tivesse sido planejado?

V - Marguerite está dizendo que o seu ferimento, que tudo o que aconteceu foi planejado por Lady Roxton?

M - Não, pelo menos não o ferimento. No entanto, não é estranho para você como as coisas tomaram um rumo diferente?

... Ela não me aceitar e mãe e filho terem esse tipo de discussão é normal, diria que é passageiro, mas não é só isso que me incomoda.

... Pelo que sei, desde quando vieram para a mansão, Leopold organizou todos os cômodos, recepção e outras coisas mais, o que não passa de suas obrigações como mordomo. Só que tudo com envolvimento de Jessie, inclusive a ideia do laboratório, remarcar as datas.

V - Acho que ela só está tentando ajudar, porque essa implicância?

M - Não é bem uma implicância, eu não gosto do modo como ela criou afinidades com a Lady Roxton, ambas são de classes sociais diferentes, e a mãe do Roxton está mais para uma erva espinhenta do que flores, mas parece que se conhecem há anos, são mais íntimas do que eu e você.

... E tudo isso da noite para o dia, não Verônica, não acredito nisso.

V - Eu também havia percebido algo, principalmente por ela tomar a dianteira de tudo. Já conversou com Roxton sobre suas suspeitas?

M - Não, temos outras coisas para se preocupar por enquanto. Estou confiando em você para me ajudar com isso, até porque ela parece ter adotado você como filha e não eu.

V - Isso porque ela não te conhece ainda muito bem, quando fizer, tenho certeza que fará.

M - Eu não tenho ciúmes disso, tenho medo e me preocupo.

... Não estamos mais no platô e garanto que sobreviver aqui pode ser mais difícil do que pensa, mas essa proximidade entre vocês duas pode ser útil, nos ajudará a descobrir se existe algo mais.

... Enquanto me ocupo com os Roxton’s, você se ocupa com ela.

V - Não gosto da sua ideia, não me agrada nenhum pouco. Mas você também nunca errou sobre suas suposições no platô, digamos que eu aceite tudo o que me falou, o que terei que fazer, eu não sei driblar ou enganar as pessoas.

M - E não vai precisar, só seja você mesma, observe tudo o que puder e como puder, siga os seus instintos, e a qualquer sinal de perigo ou algo errado, me avise.

V - Está bem, feito.

M - Sabia que poderia contar você.

Ambas apertaram as mãos alegremente, já de pé, Verônica não se segurou e a abraçou, tinha que admitir, suas personalidades eram diferentes, as vezes não se misturavam, suas visões e experiências de vida não se comparavam, a não ser pelo fato de serem sobreviventes, cada uma a sua maneira, mas ainda assim desde jovens aprenderam a sobreviver em qualquer lugar, sozinhas, não dependiam de nada ou ninguém, entretanto, os anos no platô lhes mostraram que nem sempre precisava ser assim.

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Marguerite mantinha toda sua concentração em organizar os documentos sobre o móvel próximo a varanda, papéis e mais papéis, neles estavam depositados quase toda a sua história, sobre o seu passado um tanto incomum, os olhava como se fossem seus próprios demônios. Não notou ele se aproximando.

J - Pensei que já estivesse deitada.

M - Acho que era o que eu deveria ter feito.

John questionou-se quanto a resposta da herdeira, havia uma entonação de chateação e frustação, mas bastou pousar os olhos sobre os documentos, que imaginou os motivos de seus sentimentos. Ele estava encostado na lateral do móvel a observando, era tarde, no dia seguinte a ajudaria com o restante da organização.

Como um gesto de carinho e para tirá-la daquelas lembranças desagradáveis, estendeu-lhe a mão e tratou de estampar um sorriso convidativo, para que ela se juntasse a cama, passava da hora costumeira de dormir.

Se ele queria toda a sua atenção, de certo havia obtido sucesso, John vestia roupas para dormir, diferentes daquelas do platô, o tecido da alta costura, um pouco mais justas ao corpo, em tons escuros, o que parecia realçar toda sua beleza masculina, bem verdade ela não se recordava de tê-lo visto anteriormente com vestes assim, e aquele sorriso, era um convite que talvez não conseguiria recusá-lo, ainda que por vezes tentasse.

J - O que está te preocupando Marguerite?

... Porque será que eu acho que você não quer dormir.

M - Você está certo, eu não quero dormir, mas vamos para cama, estou me sentindo um pouco cansada ainda.

... Precisamos conversar, eu preciso conversar com você.

Os dois sentaram na cama macia, mas Marguerite ainda parecia confusa, perdida em seus pensamentos, como se medindo às próximas palavras, quais as adequadas ou não, mesmo o seu olhar estava distante, pairava sobre os papéis sob a escrivaninha.

John não quis pressioná-la, havia lhe prometido mais cedo que tudo seria ao seu tempo, ainda que isso custasse a sua própria paz, ele aguardaria pacientemente, se conteve em apenas admirar a sua beleza, olhando-a agora, ocorreu que seu corpo havia sofrido mudanças.

M - Sabe John, minha vida nem sempre foi assim, nem sempre eu tive respostas calculadas ou imitações de sentimentos que um dia eu soube expressar.

Ele a aguardou, haviam mais palavras não faladas naquela frase.

M - Já tem algum tempo que ouço você dizer que no momento certo, meus segredos estarão seguros, se confessados a você.

... Pois bem, acho que esse é o momento.

Marguerite o viu surpreso, mais do que qualquer outra vez, ele parecia dividido entre sentimentos opostos. É claro que desejava vê-la sem nenhuma reserva, mas a iniciativa, o caminho que tinha escolhido traçar, poderia ser mais incerto do que muitos outros.

J - Marguerite, eu não quero que se sinta pressionada, você terá o tempo que quiser, eu estarei...

M - Shhhhh ... Eu sei, mas eu quero.

Ela depositou suavemente sua mão sobre os lábios do caçador, antes que fosse capaz de concluir a frase, o acariciou o rosto, seguido do cabelo, gostava de enrolar seus dedos no cabelo dele enquanto dormia, aproximou-se o beijando carinhosamente, foi um beijo rápido, como sinal de que tudo estava bem, que ela estava finalmente pronta e disposta a fazer isso.

M - Muito bem, agora seja um bom cavalheiro e pegue todos os documentos para nós, por favor.

Assim ele o fez, em instantes já com os documentos depositados entre os dois.

M - Eu quero que saiba John, se iremos nos casar e trabalhar juntos como sócios, você deve saber sobre o meu passado, além disto, não estamos mais no platô e talvez aqui eu corra mais riscos do que lá, e eu odiaria morrer e você não saber nada sobre mim, só talvez o que a sua mãe pode ter obtido.

J - Você não vai morrer, eu não vou permitir que isso aconteça, não irei te perder.

M - Você não sabe e nem eu, e você tem o direito de saber com quem está se envolvendo, assim como essa criança deve saber quem é a sua mãe de verdade.

... Agora, prometa que irá me ouvir e sem interrupções.

J - Eu prometo.

Os dois se entreolharam por mais alguns segundos, o tempo parou, os corações acelerados, o quarto os engoliu, o ar pesou, Marguerite fechou os olhos, respirou fundo e o encontrou ali diante de si, aguardando-a.

M - Eu ... Eu ...

A voz falhava, as palavras não se encaixavam, como um nó na garganta, há anos não tocava nesses assuntos, há anos não olhava para o que tinha deixado para trás, mas quando sentiu suas mãos entrelaçadas, como aconteceu mais cedo, e entre elas o seu relicário, tudo pareceu mais claro.

J - Está tudo bem, estou aqui com você.

... Ninguém disse que seria fácil, vá com calma, porque não tenta me levar de volta ao começo.

M - Ao começo, certo, acho que é o melhor.

... Bem, como você sabe eu não sei o meu nome, pelo menos não o meu sobrenome e não ideia de quem seja minha família. Mas sei que fui encontrada por algumas freiras, estava vagando pelas ruas de Londres, uma criança de aproximadamente 03 anos, contaram que eu não falava absolutamente uma palavra e estava coberta de fuligem e sangue, roupas rasgadas, como trapos, mas quando me levaram para o convento constataram que eu só tinha alguns pequenos arranhões, nada mais e o relicário com o nome Marguerite.

... Elas procuraram por meus pais durante um ano, na época houve uma série de acontecimentos suspeitos no bairro próximo que eu vagava, mas ninguém sabia de nada ou como elas descreveram, pareciam ter medo de alguma coisa, como se ameaçados, tudo o que encontraram foram os registros de uma casa incendiada na região, onde moravam um casal e uma criança, filho ou filha deles, só que morreram, aparentemente os três corpos foram localizados carbonizados, e a possibilidade de serem algum parente meu, foi descartada.

... Também nesse período eu fiquei sem falar, não pronunciava uma palavra sequer e acreditaram inclusive que eu era muda, talvez o choque, o trauma, eu não sei, eu não me lembro de exatamente nada antes de encontrá-las.

... Depois vieram as tentativas de adoções, eu passei por tantas famílias e por tantos lugares diferentes que perdi às contas, dos 04 anos de idade até os meus 16 anos, uma seguida da outra e todas com a mesma desculpa “senão podemos saber a sua linhagem, como esperam que ficássemos e a criássemos como nossa filha”, acho que nunca irei entender isso, porque a grande maioria das crianças eram como eu, abandonadas a própria sorte, e mesmo assim eu vi uma por uma obtendo um lar, alguém disposto a amá-los.

J - Marguerite eu sinto muito, eu ...

M - Sem interrupções lembra?!

... E apesar de qualquer coisa, eu não quero que sinta, os anos que passei nos conventos ou orfanatos, fizeram com que gastasse todo o meu tempo estudando, lendo, aprendendo algo novo e par ganhando alguns serviços com as freiras ou instrutoras, o que me rendeu uma certa quantia como economia, não precisava de uma família, de uma data de aniversário boba com bolo e velinhas como todas as crianças ganhavam, ou de alguém, eu seria o suficiente, independente e se tivesse sorte me casaria com um bom marido, que me acompanharia lado a lado, quem sabe me amaria e daria o seu sobrenome, eu era jovem, tola e sonhava demais, sentia demais.

... Aos 16 anos foi a última tentativa de adoção, o que era quase impossível acontecer, principalmente devido a minha idade, um homem chamado Isaac Evans, aristocrata, influente da alta sociedade inglesa, viúvo e sem filhos, mais velho do que eu pelo menos 20 anos, surgiu no orfanato, ele não preenchia nenhum dos requisitos para o procedimento, mas sua conta bancária fazia por si só e ele me levou embora para a sua casa, eu não fui adotada, fui comprada.

... Sua casa não era um lar, era uma prisão e ele o carcereiro, nos dois anos seguintes contratou professores particulares, eu estudava 12 horas por dia, todos os dias, todos os tipos de disciplinas que você pode imaginar. Também haviam as festas, dois finais de semana por mês, a casa toda era tomada por nobres cavalheiros e algumas damas também, das quais hoje duvido que alguma delas era uma dama de fato. Me mantinha ao seu lado na mesa do jantar, fazia questão de me apresentar como sua pupila a todos os presentes.

... Não vou mentir eu tentei fugir, mas quando se é jovem, a gente apenas age por impulso e não pensa, não importava o que eu fizesse, como fizesse, era descoberta, pega e presa no meu quarto, sem comer ou beber água por um dia no mínimo, além da surra que as governantas me davam, usavam uma vareta, semelhante a um graveto de bambu e batiam no meio das minhas pernas até que eu ajoelhasse e não fosse mais capaz de sustar meu próprio peso.

... E como se as coisas não pudessem piorar, logo depois de completar 18 anos eu vi os olhos dele caírem sobre o meu corpo, mais maliciosos, incisivos e agressivos, me sentia desesperada para sair daquele lugar, ansiava por uma fuga, mais do que qualquer outra vez e agora conhecia melhor a propriedade também e os horários dos empregados. Em uma das festas eu conheci um rapaz, Ethan era o nome dele, nos tornamos bons amigos e foi a ele que entreguei meu primeiro beijo, os seus modos gentis e carinhosos, me cativou, eu nunca tinha recebido tanta atenção e carinho de alguém, e outra ele parecia ser uma pessoa descente, honesto, sua companhia era o mais perto de um cavalheiro que eu poderia desejar.

... Era a oportunidade que tanto esperei e me agarrei naquela expectativa que ele ofereceu, confiei nele, prometeu que eu estaria sobre sua proteção e que nada de ruim me aconteceria, que me ajudaria.

Ele me jogou aos lobos...

... Na noite que combinamos fugir, tudo parecia correr conforme planejamos, ele quem me conduzia pelo corredor, de um modo tão despretensioso e carinhoso, que não percebi o quanto estava sendo enganada, afinal eu estava apaixonada por ele. Pediu para que eu o esperasse no escritório, com a afirmação de que ninguém se lembraria de negócios naquela noite, todos estavam ocupados, festejam a despedida de solteiro de um dos convidados, seria o tempo necessário para ele preparar a nossa partida e certificar-se que não haviam nos seguido. Ele dizia que logo voltaria para me buscar e me levaria embora para sempre daquele lugar medonho, não imaginava que tramava pelas minhas costas, que ele havia arquitetado um plano junto ao Sr. Evans.

... Quando entrei na sala, me deparei com o meu carcereiro, foi o sorriso mais eloquente que vi em toda minha vida, o homem tinha a camisa entreaberta e as calças também, era nítido que se tocava, mas para o meu desespero, Ethan que jurou me proteger, cuidar e amar, que fugiria comigo para onde quer que eu fosse, trancou a porta por detrás do meu corpo, jogando as chaves para um dos empregados que espreitava o local do lado de fora, como um cão de guarda fiel ao patrão, foi o dia que eu quebrei e que me afundei em mim mesma, pela primeira vez.