Quando eu acordo, não me lembro de muita coisa. Sinto cheiro de lixo, animal morto e, principalmente, sangue. É nauseante, e sinto que vou vomitar. Sento abruptamente e solto muito líquido. É uma água velha e esverdeada que sai de dentro de mim. Ela deve ter mais de quatro anos. Solto mais um pouco disso e limpo minha boca no vestido. Sinto gosto de sangue. Logo percebo que o cheiro vem de mim.

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Eu estou no lixão coletivo de alguma cidade da Flórida. Correção. Três, Dois e eu estamos em um lixão na Flórida. Eu me sentiria mais contente em saber onde exatamente estamos, mas isso é tudo o que minha bussola interna pode informar. Agora é quase 19:00 horas da noite. Eu arrasto a maca carregada por alguns minutos, e quando percebo que andei apenas alguns metros, uso a telecinese para flutua-la até a entrada do lugar, antes que alguém saia da nave mogadoriana.

Ando por algum tempo até perceber que estamos muito afastados na entrada. A nave está encoberta pelas arvores que ladeiam o lugar, então parece só um galpão abandonado se vermos a coisa de longe. Quando a maca chega ao lugar destinado, resolvo que é hora de me adiantar e tiro meus pés do chão. Voar - o segundo legado que me apareceu depois dos terremotos, embora os antigos anciões dissessem que seu último legado diria muito sobre você... Te mostraria quem você é de verdade.

Eu tento não pensar nos outros, então me concentro no lixão que se estende abaixo de mim. Há todo tipo de coisa ali. Desde tecnologia humana à comida extraterrestre.

— Adam... ­— eu suspiro, pensativa. Lembro dos seus olhos me observando enquanto surfava. Do modo como se preocupou comigo. Do jeito como lutou contra seus ideais para salvar os meus. Adam... — Ai não! — eu paro abruptamente, flutuando a pouco mais de 10 metros do chão. — Por que estou pensando no Adam? Argh... Ele é... Um mog! Não, não, não! Pare de pensar nele, Um! Pare agora mesmo! Ele deve estar com aquele amigo dele e o pai caçando alguém da Garde. — eu digo de um jeito reprovador dando pequenos tapas na minha cabeça. Quando tiro a mão da cabeça, descubro de onde vem boa parte do sangue.

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Sei que estou perdida quando percebo que estou dentro de um pântano mal cheiroso com água barrosa até a cintura. Uso toda a força que me resta na telecinese, sempre mantendo Três e Dois meio metro acima da água. Me sinto cansada. O ferimento na minha testa parou de sangrar, mas o corte no meu abdômen ainda sangra um pouco. Me animo um pouco quando vejo a margem à poucos metros de onde estou. Começo a dar passadas mais longas, quando de repente, algo desliza ao meu lado. Já é noite, as arvores impedem que a luz da lua ilumine onde estou, então não posso ver muita coisa. Sinto algo roçar minha canela, então viro de costas e começo a andar até a margem, encarando o rio com cautela, tomando cuidado enquanto caminho de costas. Então eu vejo. Um par de olhos amarelo me encarando. Eu me viro e aperto os passos. Tento voar, mas estou cansada demais. Tudo o que consigo é fazer a maca perder alguns centímetros de altura.

Eu me viro bem a tempo de ver uma cauda escamosa deslizar pela água. Crocodilo. — Droga! — eu grunho, irritada.

Alcanço a margem. Uma arvore tem seus galhos voltados para baixo, encostando na água. Agarro um dos galhos, impulsiono meus pés e enlaço minhas pernas ao redor do galho. Ganho três metros. Ajudo minha telecinese e puxo a maca bem a tempo em que um crocodilo imenso coloca sua cabeça para fora e tenta abocanhar meus amigos.

— Oh meu Deus! — eu digo lentamente quando o crocodilo gigante abre um terceiro olho amarelo na testa. Ele olha em minha direção com olhos desfocados, me procurando. Perde alguns minutos com isso, balançando a cabeça de um lado para o outro levemente. Quando não encontra nada, seu olho se fecha e ele mergulha discretamente dentro da água. É como se nunca tivesse estado ali. — Ufa!

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Alguns minutos depois, decido que é hora de ir. Desço a maca e a flutuo alguns metros longe dali. Depois é minha vez. Escalo a arvore até o topo e vejo uma casinha com um ponto de luz brilhando à menos de um quilometro de onde estou. Isso me deixa um pouco animada, mas só o suficiente para fazer com que eu me atire da arvore e flutue até a maca.

Eu a arrasto dessa vez. Minha cabeça dói e evito pensar. Eu só quero um banho. Talvez uma cama e roupas limpas. E ir para a cidade, com certeza. Mas tudo isso parece pouco provável levando em consideração que andei pelo caminho oposto. Isso me frustra rapidamente e fico irritada só de pensar em ter que voltar tudo que andei, e andar mais ainda para chegar a cidade.

— Parabéns Um! — eu me parabenizo sarcasticamente. O que só enfatiza mais ainda que preciso dormir ou vou acabar me matando.

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Passo por uma arvore que parece ter sido derrubada recentemente. O único som dessa noite é o zumbido dos mosquitos e alguns animais noturnos. Evito pensar que talvez esteja indo para um grupo de mogadorianos, porque eu teria que matá-los e incinerar o acampamento deles. Isso faria com que eu perdesse alguns minutos do meu precioso tempo.

Os insetos são substituídos por um som irritante que sempre odiei: música country.