Amaterasu parou em alerta,como muitos cães fazem quando sentem algo errado,olhou para trás e depois para os lados,não sentindo a presença da pequena,começou a latir e a uivar preocupada... “Estou com um mal pressentimento,Ammy!” Issun pareceu dizer depois de pular duas vezes na cabeça da loba,que sentindo o perigo começou a rosnar,farejou o chão rapidamente,tomou posição de como estivesse prestes a atacar,aumentou as chamas e correu em alta velocidade,refazendo seu percurso de minutos antes.

Uma mansão se encontra solitária entre cerejeiras nas montanhas esquecidas da província japonesa,localizava-se logo a frente,perto de um penhasco,não se ouvira som algum além de pássaros cantando e o vago som do vento,a carroça na qual os homens prenderam a pequena raposa já diminuíra a velocidade,pelo fato dos cavalos estarem visivelmente cansados e feridos devido as fortes chicotadas que recebiam ao longo do caminho.

A menina olhava assustada por uma pequena brecha do pano que cobria toda a jaula,observou os homens abrirem a porta e dialogar com um senhor de cabelos grisalhos que mantinha uma expressão satisfeita,sentado em sua poltrona no alto da escada,em seguida encaminharam a jaula para uma espécie de porão,que ao abrir das portas,fizera a pequena se assustar: Se encontravam várias jaulas,enfileiradas e empilhadas de todas as maneiras,a raposa observara que também se encontravam várias crianças,mas assim como ela,possuíam características de algum animal...

– Raposas...Essas valem uma fortuna. – Um dos homens disse enquanto fitava a pequena com seus olhos maliciosos...

– São de fato raras,ficaremos ricos! – O segundo homem disse após uma risada e saíram batendo a porta do porão....

A raposa,assustada olhou para os lados ofegando,e notara as várias crianças semelhantes a ela,todos emitiam sons dos animais na qual representavam,mas naquele momento,todos gritavam e se agitavam implorando por ajuda.

Dentre as colinas de cerejeiras,Amaterasu corria,colocando toda sua velocidade ali,ficou assim durante meia hora,até parar em uma espécie de campo aberto,olhou para os lados atenta enquanto rosnava,Issun se mantivera da mesma forma o tempo todo.

O sol enfim desaparecera naquele dia,nuvens dando lugar as primeiras estrelas no céu,a brisa fria levemente na pequena abertura da parede alta do porão,onde encontrava-se as jaulas,a pequena raposa encolhera-se no canto,envolvendo-se com sua própria calda,lembrando-se de como eram aconchegantes os pêlos de Amaterasu. Já não pensava tanto em casa,a única coisa que a pequena raposa queria saber,era o paradeiro da mamãe branca,ela pensava.

A menina então se silenciou,estava prestes a fechar os olhos,mas um roçar de garras na jaula ao lado chamou sua atenção,levantou-se em uma fração de segundos e olhou na direção da menina presa ao seu lado,tinha cabelos brancos,longos e cacheados,orelhas e rabo semelhantes a um gato,acompanhados dos discretos bigodes de felino em seu pequeno rosto,os olhinhos azuis vidrados nas próprias garras pequenas e frágeis,que arranhavam a tampa da jaula,curiosa,a pequena raposa começou a emitir seus sons ansiando chamar a atenção da gata que imediatamente olhara em sua direção...

“O que está fazendo?”, a raposa tentava gesticular enquanto emitia seus sons.

“Tentando fugir!” , a menina gata miou em resposta.

“Mas como?” , a raposa gesticulou.

“Não sei,mas estou tentando!” , a gata miou.

Do lado de fora,o inconfundível faro de Amaterasu havia identificado o cheiro da raposa,a loba então uivou e nos confins do escuro porão,as orelhas da pequena raposa se levantaram,ela de imediato segurou com suas pequenas mãos nas grades...

“É ela! Ela veio!”, a raposa pareceu feliz e imediatamente emitiu o som que as raposas fazem quando estão em perigo. Amaterasu rapidamente seguiu o som até encontrar a pequena abertura do porão,ao avistar a raposa,latiu dengosa, Issun rapidamente pulou de jaula em jaula,as abrindo,todas as crianças gritaram e pularam em agradecimento, a gata dos olhos azuis apertara Issun o deixando aconchegado,como se agradecesse a ele por tê-la tirado daquela jaula,o brilho verde do pequeno passou para vermelho. As crianças saíram enfileiradas e apressadas seguindo Amaterasu,em alguns segundos,todos encontravam-se do lado de fora.

– Algo está errado... – O chefe dos seqüestradores disse desconfiado.

Levantou-se e caminhou pelos corredores com seus olhos atentos,andando descalço sobre a madeira,enquanto a mesma rangia,parou por uns minutos e escutou os vários sons do lado de fora,como uma manada fugindo de um ataque...

– Eles fugiram! Rápido seus imprestáveis! Mexam-se! – O homem mais velho disse enfurecido,invadindo o cômodo onde os outros bandidos dormiam,os mesmos rapidamente se levantaram,mal notando a fúria nos olhos de seu superior.

Do lado de fora,todos seguiam a loba,já desciam a colina,quando os bandidos,montados a cavalo os alcançaram,Amaterasu rosnou encarando os homens parados a sua frente.

– Onde pensam que vão? – Um dos bandidos disse e os outros riram de maneira maliciosa...

Amaterasu rosnou em resposta,contendo seus impulsos de avançar nos homens,as crianças logo atrás olhavam apreensivas para a loba,se perguntando o que ela faria a seguir.

– Vamos! Não temos o dia todo!

“Ammy,o que faremos?” Issun pulou parecendo dizer...

Amaterasu o olhou,apenas através do olhar da loba,Issun entendeu o que ela queria... “Corra com eles! Eu irei distraí-los!”

Issun de imediato emitiu seus sons as crianças que não hesitaram em correr,atropelando os homens a sua frente...

– Droga! Vão atrás deles,eu distraio essa cachorra! – Um dos homens ordenou...

Os outros então seguiram,Amaterasu dera início a uma luta contra o líder dos bandidos a sua frente,ele tentara de diversas maneiras acertar Ammy com uma espécie de taco de madeira,enquanto ela desviava de todos os golpes,até conseguir acertá-lo fortemente com o rosto em uma árvore,fora tão forte que fizera o homem perder a consciência. Amaterasu não pensou muito,estava prestes a perseguir os outros homens quando foi pega de surpresa por um chicote que é entrelaçado em volta ao seu pescoço,fazendo a mesma cair no chão...

Enquanto corria,a menina raposa parou subitamente,levantou as orelhas e olhou para trás.

– Não incendiei aquela aldeia para ficar sem aquela raposa,elas valem uma fortuna e um mero cão como você não vai me impedir de ficar rico... – O chefe dos bandidos dizia enquanto apertava cada vez mais o chicote em volta ao pescoço da loba a fazendo ganir se sentindo sufocada...

“O que vai fazer!?” , a menina gato que horas atrás conversara com a raposa no porão gesticulava,mas a outra nada disse,abaixou as sobrancelhas se mostrando furiosa e refez todo o percurso em uma velocidade insana,fazendo com que os outros bandidos não vissem nada além de um grande rastro de poeira...

– Vamos acabar logo com isso... – O homem disse olhando Amaterasu de forma ameaçadora...

Mas no mesmo instante,ele é surpreendido pela ferocidade da menina raposa,que abocanha sua perna e crava suas unhas em suas panturrilhas,o homem gritou de dor e caiu no chão devido a enorme força da menina,começou a rolar pelo chão,numa tentativa em vão de fazê-la desistir,rolaram em direção ao penhasco e vendo o que aconteceria,Amaterasu levantou-se subitamente e correu apavorada e latindo na direção de ambos,mas ao se aproximar ainda mais,vê a menina desaparecer com o homem penhasco abaixo. Amaterasu uivou inconsolada,indo imediatamente até a ponta,olhou apenas para a névoa densa abaixo de si e começou a uivar,mas agora era diferente,era um uivado de choro...

Issun,juntamente com as outras crianças,venceram os outros bandidos e o amarraram,enquanto estavam atordoados e imediatamente retornaram para o lado de Amaterasu,mas ao chegarem viram a loba chorando perto do penhasco,se aproximaram dela com olhos tristes e confusos,Issun entendeu que se tratava da menina raposa e logo perdeu seu brilho verde ofuscante...

Amaterasu havia falhado,não apenas em seu objetivo,mas também em seu dever como Deusa, a pequena raposa havia significado tanto pra ela,mesmo em seus curtos períodos juntas,Amaterasu pela primeira vez sentia como era ser uma amiga e mãe,não se perdoaria nunca por deixar tal desastre acontecer...Pensara em tudo isso,até escutar um grito distante de uma raposa,no mesmo instante,levantou as orelhas e começou a olhar pelos lados,ansiosa,até uma das crianças apontar para baixo, a deusa viu e lá estava a raposa,sorrindo enquanto se segurava na ponta de uma rocha,mas começou a chorar ao ver que a pedra não a agüentaria,Amaterasu começou a trotar e a latir de um lado para o outro desesperada. Uma das crianças se aproximou dela,era um garotinho de aparentemente sete anos com um uma longa calda anelada,ergueu-a para a deusa,pedindo que o abocanhasse,Amaterasu entendeu o recado e o fez,o garoto,por ser habilidoso nas árvores,conseguiu se apoiar facilmente nos poucos galhos que saiam das rochas no penhasco,desceu até a raposa,a segurou com calma e retornou.

A menina mal conteve sua felicidade e alívio e abraçou Amaterasu como se não fosse soltar nunca mais,a loba por sua vez,ficou tão feliz que latiu aumentando as chamas de suas costas,Issun começou a pular alegre e as outras crianças começaram a gritar e a comemorar suas liberdades.

Amaterasu e Issun caminharam um dia inteiro com as outras crianças após fazerem os outros bandidos desistirem de prendê-los e assim os deixando livres.

Chegaram em um vilarejo grande e próspero,as crianças foram logo recebidas e bem cuidadas pelos aldeões e seus filhos pequenos,corriam e brincavam alegremente,para a felicidade da Deusa do sol e seu pequeno companheiro verde...

– Fuyuca? É você,minha querida? – Uma senhora de idade e cabelos grisalhos aproximou-se e a menina raposa, imediatamente correu para abraçá-la,sobre o olhar confuso da loba...

– Ah minha querida! Achei que estivesse morta! – A senhora a abraçava calorosamente...

“Deve ser a mamãe dela...” Issun gesticulou.

A raposa chamada então Fuyuca,puxou a mão da senhora até a loba...

– Muito obrigada,por salvar minha filha... – A senhora sorriu e colocou sua mão trêmula na cabeça de Amaterasu,que abaixou vagamente a cabeça...

Fuyuca correu até a loba com um olhar triste perguntando se ela iria embora,Amaterasu ganiu e lambeu o pequeno rosto da menina,que com lágrimas nos olhos a abraçou pedindo que ficasse,Amaterasu deu outra lambida e se virou,a senhora pegou a raposa no colo,sorriu para a loba e se virou. A deusa a observava e depois de alguns minutos uivou para ela,que com lágrimas nos olhos,gritou de volta.

Adeus,pequena...”

“Adeus,mamãe branca...”

A deusa Amaterasu voltou a seguir com sua jornada ao lado de seu inseparável companheiro,Issun...A Sagrada loba nunca esqueceria sua experiência e com certeza,as feições do rosto da menina raposa que encontrara por acaso,estariam sempre em suas memórias e toda vez que fosse dormir,sonharia com sua filhinha adotiva,dormindo aconchegada em seus pelos e sorrindo para ela.

FIM.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.