Seis

Sou obrigada a admitir que subestimei o John, nos últimos dias ele tem conseguido aguentar bem nosso treinamento corpo a corpo depois das sessões de treinamento com o Cêpan doido do Nove. Tenho que admitir que no início achei que não iria precisar tanto assim treinar minha destreza por causa dos meus Legados, mas Sandor me fez acreditar no contrário.

Já estamos no penúltimo dia de treinamento com as geringonças e os tiros e confesso que não irei sentir saudades delas. Essa última sessão Sandor fez metade da sala começar a desaparece e nos obrigar a pular para o outro lado ou então iríamos cair em algum buraco que havia alguma coisa pegajosa e que provavelmente as máquinas iriam lá dar choque em quem ficasse preso. Ele era um cara sádico demais.

Todos nós conseguimos passar mais um desafio com méritos, agora tenho que admitir. Desde o dia que John resolveu jogar um farol e no chamar para lutar tudo mudou. Todos começaram a querer colaborar mais uns com os outros e deixar as implicâncias para depois, devemos ser como uma equipe se quisermos vencer essa guerra.

Troco alguns golpes com John ele os bloqueia bem. Mal posso acreditar que ele tem conseguido evoluir desse jeito. Ou estou ficando cansada com os treinos, mas parece que em cada sessão ele está ficando realmente cada vez melhor, é um aluno dedicado. Claro que eu ainda consigo derrota-lo quase todas as vezes, mas a melhora dele foi algo espetacular.

— John, tente mante suas pernas mais juntas. – eu falo. – Isso evita que tentem te desequilibrar.

Eu me preocupo com o que eles falaram de ter essa parte de combate corpo a corpo uns com os outros, quer dizer, nos incentivam a ter trabalho em equipe para depois não sermos mais uma equipe? Eu quero dizer que é idiota, mas estou gostando da ideia.

John tenta me acertar dois socos. Um direto que eu bloqueio usando minha mão e depois ele me dá um cruzado de esquerda que eu me esquivo, eu tento torcer o braço dele, mas John trava meu braço e nós ficamos próximos por um breve momento. Eu sorrio para ele, ele sorri e eu o bando. Começo a rir.

— É muito fácil tirar sua concentração. – eu falo estendendo a mão para ajudá-lo a se levantar. – Vem que eu te ajudo...

Demoro para perceber que ele estava me olhando com o mesmo sorriso de quem iria fazer alguma coisa suja que eu fiz para ele. John me puxa para o chão usando a perna dele para me fazer tropeçar e depois prende usando as mãos dele para segurar os meus braços. Eu fico imobilizada enquanto ele está sob mim e nossos olhares se encontram. Meu coração dispara.

— É muito fácil tirar sua concentração. – ele fala e sua voz sai meio áspera.

Noto que nossos rostos estão se aproximando cada vez mais, só que de repente ouço outro barulho na sala e paramos. Tinha mais alguém.

— Eita! – Nove fala com um sorriso largo de alguém acabou de pegar duas pessoas fazendo besteira. – Johnny seu safado, eu acabei de ganhar vinte pratas.

John se levanta e me ajuda levantar estamos os dois completamente constrangidos com a situação. Estou com raiva de mim mesma por ter me deixado ficar tão vulnerável assim e ainda mais por ter ficado assim e ser vista por Nove, eu sei que ele é tagarela se fosse a Um eu poderia conversar com ela, mas o Nove é outra história.

— Não tem nada Nove. – John fala tentando ficar sério, mas ele está mais constrangido que eu. – Estávamos treinando...

Nove dá uma gargalhada que me dá vontade de esmurrar a cara dele por isso, com certeza eu quero ter uma chance de enfrentar ele numa das lutas se tiver a oportunidade.

— Sério Nove, quanto anos você tem? – eu pergunto revirando os olhos.

— Foi mal galera. – ele fala tentando se conter respirando fundo. – Eu juro que não foi de propósito, mas eu apostei com a Um que vocês vinham pra cá se darem uns pegas e ela dizia que não tinha nada a ver, que a Seis não era dessas coisas que ela vinha fazer o John de saco de pancadas.

— Nossa... – John tenta falar alguma coisa inteligente. – Que legal saber que você e Um estão se dando bem agora, não sabia que era as custas de tentar apostar na minha vida pessoal e na de Seis.

A expressão de Nove muda, agora ele é quem está constrangido. Quero dizer que ele perdeu a posta, mas isso implicaria que John é meu saco de pancadas – o que não é inteiramente mentira, já que quando começamos a treinar ele realmente não estava tão em forma quanto.

— Okay, tá legal Johnny. Acredito em você. – Nove joga as mãos drasticamente para o alto e arrasta um dos mogadorianos que usamos para treinar para uma área e começa a treinar socos e chutes neles. – Afinal você já tem a loirinha lá né.

A expressão de John se fecha, percebo que ele não estava pensando em Saara nesses últimos dias e isso me deixa com mais raiva ainda de Nove. Não sei o que está dando nele hoje para ser tão idiota assim, geralmente ele é meio mala, mas está passando dos limites.

John se vira para mim com uma cara melancólica e tenho vontade dar um murro na cara dele também por isso.

— Acho melhor encerrarmos o treino hoje, Seis. – ele fala pegando uma toalha e a colocando atrás do pescoço indo para o elevador.

Fico observando ele ir embora e depois me volto para Nove. Estou pensando se vou querer terminar meu treino com ele ou se irei esperar para o dia oficial com os Cêpans. Ainda não decidi então o observo lutar contra os mogadoriano imaginário.

Tenho que admitir, os socos de Nove são potentes. Ele tem pouca técnica, mas compensa com agilidade e força. Cada soco que acerta faz o mog recuar vários centímetros para trás e algo me diz que ele está se contendo. O garoto percebe que estou olhando e me dá um sorriso que me faz revirar os olhos para ele entender.

— Acha que o Adam fez esses moldes com a cara dele? – Nove fala quando para de socar o mog e dá um peteleco no nariz do boneco.

Eu ignoro a pergunta e começo a caminhara para o elevador deixando nove sozinho na Sala de Treinamento quando ele grita fazendo a voz dele ecoar por todo o local.

— Hey Seis, me desculpa. – percebo que há um tom de culpa na voz dele. – Não queria ter agido como um babaca com vocês, é só que eu estava há tanto tempo naquela merda de prisão mogoadoriana que acho que esqueci direito como agir com as pessoas, sei lá. Eu não sei direito, entende? Eu não gosto de admitir isso, mas acho que fiquei meio doido.

— Eu sei como é esse sentimento. – falo sendo sincera para Nove. – Também fiquei presa naquela base mogadoriana e vi minha Cêpan ser morta na minha frente.

Um silêncio mortal surge entre nós dois até que eu finalmente falo novamente.

— Deveria pedir desculpas ao John.

— É. – ele fala e dá um murro na cara do mogadoriano. – Acho que fiquei meio ressentido por ele ter acabado virando nosso “líder” e essas coisas, mas é bom sabe? Eu só preciso me preocupar em saber em que bater.

Quatro

Meu ódio por mim mesmo do futuro só aumenta, eu não acredito quais foram as lembranças que ele me mandou. Isso é quase uma lavagem cerebral, por mais que eu tente lembrar de Sarah, de algo bom entre nós que tenhamos passado no futuro. Eu só lembro de coisas que ele e Seis passaram e fico perguntando o porquê disso?

O sonho dessa vez foi eu e Seis passeando invisíveis e fazendo justiça salvando uma mulher do seu ex agressivo que queria invadir sua casa para matá-la com uma arma. Seis tirou a arma do coldre dele usando a telecineses e começou a assustar o homem até fazê-lo se urinar e depois a jogou longe, o homem jurou nunca mais vê-la, depois disso nós dois caminhamos até a cabana onde estávamos nos escondendo e quando íamos nos beijar tudo começou a explodir.

Eu acordo com um pulo e vejo que já estava de manhã. Já tem um dia que não falo com Seis, desde aquele episódio com Nove. Por um momento eu tenho vontade de checar o meu celular antigo e ver se Sarah me mandou uma mensagem, mas isso seria uma loucura e provavelmente o FBI rastrearia ela. Me sinto horrível por isso, mas não estou conseguindo evitar esses sentimentos que estão aflorando por Seis.

E para piorar eu não tive meu último dia de treinamento com ela e agora teremos que enfrentar uns aos outros em lutas corpo a corpo.

A manhã inteira passou agitada a percebo que todos se encaravam engraçado, houveram alguns protestos quanto a isso. Principalmente vindo de mim e de Maggie, mas quando se tem malucos competitivos como Um, Seis e Nove não tem muita escolha. Nós teríamos que no enfrentar.

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— As regras são simples. – Conrad é quem explica dessa vez. E não estou surpreso por ser ele quem irá explicar esse tipo de coisa para a gente. – Vocês irão ser selecionados contra oponentes aleatórios e poderão usar apenas um Legado, e a telecinese conta como um, se a escolherem, não irão poder usar outro. Não irão poder usar uma Herança da Arca.

Ouço Nove protestar, mas ele para quando Conrad levanta a mão. Agora sim fico surpreso isso.

— A intenção disso é vocês aprenderem a dominar seus Legados em combate individual e não se matarem – ele fala olhando para Nove e Um – e tenho minhas dúvidas que se colocarmos Heranças e Legados juntos vocês não irão conseguir manter isso de pé e não temos uma pessoa que saiba curar na casa.

— A... Não vale nem sequer mandar os coleguinhas para a enfermaria? – Um fala fazendo cara de inocente.

— Não! – Conrad fala perdendo a calma com a pergunta. – Tentem ao máximo mandar menos gente possível para enfermaria, vocês estão do mesmo lado.

Já não estou prestando muita a atenção para o que Conrad fala e os protestos sem noção de Um e Nove, estou olhando para Seis mexendo o cabelo enquanto espera ele terminar de falar. Acho que ela não está me observando e quando vejo que vai olhar para onde estou finjo que estou prestando atenção na conversa.

— Temos Cinco Gardes. – Maggie fala fazendo a primeira pergunta com sentido do dia.

— Exato. – Conrad fala e vejo que está ficando mais calmo por isso, acho que ele estava ficando perplexo de tantas perguntas toscas. – Por isso convidei outra pessoa para participar.

Nessa hora o Adam do nosso tempo começa a se aproxima. Fico tenso com isso, não é uma boa ideia você chamar um mogodoriano para um combate corpo a corpo, tendo em vista o histórico de duas pessoas aqui. Muito provavelmente vai acabar dando confusão, ainda mais porque Adam está vestido como um mogadoriiano tradicional, com o sobretudo preto, pistolas, mas nenhuma arma branca.

— As armas são tasers. – ele explica. – Nada de munição de verdade ou armas brancas.... As armas serão meus Legados.

— Digamos que se eu me empolgar e transformar o mogadoriano em pó... – Nove fala levantando a mão. – Vai ser falta?

— Aí você vai parar no núcleo da terra, mermão. – Um fala de um jeito irônico, mas mortal.

— Vocês têm certeza que querem mesmo fazer esse tipo de treinamento com eles? – Conrad fala se voltando para a cabine de comando. Acho que estou sentindo pena dele, se um juiz de alienígenas com superpoderes não deve ser a coisa, mas superdivertida do mundo.

Como não foi cancelado, fomos orientados a seguir para um banco e ficarmos sentados lá e esperarmos a vez de cada um ser convocado para ir no centro da sala e ir ao combate. Iria ser simples, porém não tão indolor, mas Conrad iria ficar conosco para ser o juiz e garantir que não aja uma pancadaria real.

Do meu lado estão Nove e Um, e agradeço por Seis não estar e eu quero muito não lutar com ela. Seria constrangedor e ainda mais se Nove ficar gritando coisas constrangedoras sobre o que viu, no meio da nossa luta.

Conrad está selecionando os números olhando para um tablet está passando o dedo na tela pelo que deve ser um aplicativo bastante simples para fazer esse tipo de serviço e finalmente fala.

— Dois e Seis. – Eu acho que ele não queria essa luta porque ao falar o nome de Seis a voz dele fraqueja um pouco.

Seis e Maggie que estavam sentadas uma do lado da outra em se olham quando levantam. Sinto um pouco de pena da menina, Maggie é a menor de nós e talvez a que menos pareça com vontade de lutar aqui conta a gente. Acho que pelo contrário, ela queria que nós fossemos todos amigos do tipo grupo que tira fotos juntos, põe em redes sociais, dar festas.

Elas se aproximam até o centro da sala e Conrad explica novamente as regras.

— Quais são os Legados que cada uma irá usar? – ele pergunta. – Usar outro Legado fora o que vocês disserem que vão utilizar resultará na perda imediata. Entendido? Se eu vi que a outra não tem mais chances de vencer eu irei parar a luta.

— Irei usar a minha Invisibilidade. – Seis fala com confiança, eu já sabia que ela iria usar esse.

— Irei usar minha Manipulação da Luz. – Maggie anuncia, agora eu fico espantado com isso. Achei que ela iria usar seus raios.

Seis



Quando Conrad avisa para começarmos eu fico invisível na mesma hora. Não sei o que esse legado de Maggie faz, para ser sincera não esperava que ela fosse usar ele e nem sabia que possuía um Legado desse manipular a iluminação do ambiente.


Tenho que tomar cuidado, me afasto dela e a estudo. Maggie é a menor de nós e deve ter a mesma idade de John uns 16 anos e sua compleição física não parece ser muito avançada como a de Nove e Um, acho que ela não deve ser um desafio.


Percebo que ela não a menina está meio perdida me procurando e avanço contra ela com meu Legado, preparo para derruba-la e acabar com isso rápido quando os olhos de Maggie brilham de modo intenso e me engolem nas sombras. Estou presa num breu total e me sinto uma idiota por só entender o Legado da garota agora. Ela pode controlar a luz ao seu redor - isso é assustador.

— Não é fácil quando não pode ver o inimigo, não é Seis! - a voz de Maggie soa me provocando entre as sombras e me surpreendo. Não sabia que ela era de tripudiar. - Não queria ficar lutando com vocês, mas se serei obrigada a fazer isso. Não perderei.

— Nem eu! - grito para as sombras.

Tento algo desesperado. Corro o máximo que consigo ainda invisível para testar essa habilidade de Maggie. Quando eu corro uma distância que eu chutaria uns 15 metros consigo voltar a enxergar de novo a Sala de Treinamento.

Observo o Legado de Maggie. Ela não me enxerga então o está usando em si mesma para poder me impedir de chegar até ela. Se eu pudesse usar outros Legados poderia facilmente tira-la dali com telecinese ou usando um vento forte ou raio.

Consigo achar uma solução. Encontro um pedaço de um dos robôs de Sandor caídos no chão e quando encosto nele fica invisível. Tento memorizar a localização exata de Maggie e corro com toda minha velocidade invisível para cima dela com o objeto na minha mão, de repente tudo começa a escurecer e eu arremesso contra ela.
Meu plano deu certo. À iluminação começar a ficar normal, mas não consegui acerta-la. Maggie se jogou bem na hora que a peça do robô iria atingi-la e ela ficou no chão.

Aproveito enquanto ela está tentando se levantar e preparo um cruzado para atingi-la bem na barriga, mas Maggie já levanta com seus olhos brilhantes e seus olhos ativam seu Legado novamente.

Entro direto para o universo negro que ela cria e só percebo ela armando um soco e desferindo para frente que me acerta bem no rosto. Sinto o gosto do meu próprio sangue na Boca. Tento não deixar o sangue cair da minha boca, mas percebo algo óbvio. Maggie está deixando tudo escuro ao redor dela, então ela está se privando também. Pode ser loucura, mas terei que arriscar isso.

— Acho que descobri seu segredo Maggs - falo.

— Então o que está esperando, Seis? - ela pergunta, imagino um sorriso nela.

Deixo de ficar invisível e avanço no escuro. Soco as sombras e erro. Fecho os olhos e tento sentir o vento, sou atingida na barriga por um chute e dou um gemido. Consigo resistir a dor e seguro a perna de Maggie, poderia quebrar ela agora se quisesse, mas não é esse o objetivo.

Puxo a perna com força até perto de mim e direciono meu punho onde eu acho que deve ser a barriga dela e ouço um gemido de dor, a perna começa a se contorcer e a solto, acho que Maggie foi derrotada, mas ela me chuta na perna e eu perco um pouco o equilíbrio.

Algo está fazendo barulho e se mexendo não consigo ser rápida o suficiente e Maggie me agarra pelo cabelo e me esforço para não gritar. Consigo me desvencilhar disso e tento apertar com força a mão que tinha me segurado, mas ela conseguiu escapar de mim escorregando, pelo menos está próxima de mim. Posso ter certeza disso, ambas queremos acabar logo com essa batalha.

Tento engatinhar até onde acho que Maggie possa estar e consigo achar as suas pernas, eu as seguro e as levanto tirando do ar ouvindo um baque e prendo a perna dela usando meus braços e minhas pernas até fazê-la gritar de dor. Finalmente a escuridão some. E eu volto a respirar e sinto que quase engasgo com o sangue do golpe que levei de Maggie na boca.

— Acho que já posso acabar a luta. - Conrad fala e vejo uma preocupação quase paternal nisso. Sinto um pouco de inveja. - Seis venceu!

Tento me levantar e estou um pouco zonza. Olho para John e ele está colocando as mãos no joelho como se estivesse pensando em levantar. Se fizer isso vou dar um soco nele. Me forço a levantar e estendo a mão para ajudar Maggie a se levantar. Ela lutou muito bem, eu me surpreendi e seu Legado é impressionante.

— Bela luta! - falo tentando sorrir, mas ao fazer isso pinga sangue no chão da minha boca.

— Seis! - Maggie fala ao se levantar com minha ajuda e toca meus lábios. - me desculpa, eu não via o que tinha feito, vou pegar uma pedra da cura e curativo.
Jogo minhas mãos para o ar como se isso fosse um sinal de que estava tudo bem, não preciso disso.

— Somos soldados Maggie, só preciso de um pouco de gelo.

Ela me abraça e juntas saímos para fora do centro da sala para recebermos primeiros socorros e descansarmos antes de saber quem vai se enfrentar depois.

Olho para John enquanto estou pondo gelo na boca e vejo que o atrito que ele teve com Nove parece ter diminuído um pouco e me sinto um mais aliviada. Ainda acho ele meio idiota, mas precisamos de todos unidos e vê-los sorrindo e apertando as mãos ajuda bastante.

⁃ Nove e Quatro! - Conrad fala e está sorrindo para os dois apertando as mãos. - Que bom que estão sendo amigos, assim não preciso me preocupar que ninguém vá se matar.