Edward

Brigar com Bella foi... Um inferno. Esperei que sua raiva passasse, eu era seu Lumni, pelo amor de deus, se eu não conseguia ficar longe dela por mais que algumas horas, ela também não poderia. Mas eu estava errado. Ela não me deixou tocá-la naquela noite. Nem nas seguintes. Um dia depois de sua fuga, ela desceu para o café pronta para ir à faculdade, mas eu a impedi. Simplesmente não conseguia imaginá-la fugindo de mim novamente. Não, ela tomaria aulas online. De todo modo teríamos que viajar em breve e seria difícil para ela conciliar uma faculdade presencial, acabaria perdendo muitas aulas e reprovando. Não havia a menor possibilidade de eu não a levar comigo. Ela ficou furiosa, me olhou com as bochechas tingidas de vermelho, obviamente me achando um bastardo por impedi-la de sair, se levantou rígida da mesa e se trancou no quarto.

Tentei animá-la trazendo as coisas de seu dormitório; e pareceu funcionar até Alice chegar.

“Isso é tudo o que trouxe?”, Alice perguntou horrorizada vendo Bella desfazer as malas.

“Bem, sim. Eu nunca precisei de muito”, Bella deu de ombros.

“Isso não é possível! Nós precisamos ir ao shopping”. A princípio eu achei boa a ideia. Alice estaria com ela o tempo todo e meus seguranças iriam também, ela poderia se distrair e, quem sabe, voltar a me olhar menos magoada. Mas então ela perguntou para Alice se elas podiam passar em uma sorveteria que eu sabia que James ia quase todas as tardes. É claro que eu investiguei tudo sobre a vida dela, incluindo o maldito primeiro escolhido. Infernos, eu provavelmente saberia mais sobre ambos agora do que eles mesmos.

Será que ela queria ir lá de propósito? Para vê-lo? E ainda tinha o descaramento de arranjar o encontro na minha frente, bem debaixo do meu nariz.

“Ela não vai, Alice”,soltei rígido.

“Mas... por quê? Eu estarei com ela o tempo todo...”

“Ela quebrou minhas regras”, olhei para Bella que me encarava boquiaberta. “Considere isso como o seu castigo”.

“Ora, o que sou agora? Uma criança?”, Bella questionou indignada.

“Você não vai”, afirmei categoricamente. Ela olhou para Alice buscando por apoio, mas Alice apenas desviou o olhar, sabendo pelo meu tom que não haveria discussão. Bella travou o maxilar, seus olhos se enchendo de lágrimas. Então passou por nós dois correndo, revoltada. Eu também estaria, no lugar dela. Mas o inferno teria que congelar antes que eu a deixasse chegar a qualquer lugar perto daquele cachorro desprezível.

Alice me encarou perplexa “Edward! O que deu em você? Ela realmente não é uma criança, não pode tratá-la assim”. Eu apenas a olhei com uma sobrancelha erguida. Diabos, sabia que ela estava certa, mas não poderia explicar meus motivos, então simplesmente saí.

Depois desse episódio, tudo pareceu desmoronar ainda mais. Bella somente zanzava pela casa, encarando as janelas ou lendo algum livro. Se isolou de todos, até mesmo de Alice, respondendo sempre monossilábica quando insistíamos em falar com ela. A noite se deitava o mais afastada possível de mim, mesmo quando eu a obrigava a me abraçar em nossa cama, ela ficava tão imóvel como uma pedra, em uma tenção que a impedia de dormir, seus lábios em uma linha fina e seus olhos com tanto desprezo e nojo que eu me sentia pior que um inseto.

Seu olhar estava distante, triste. E meu toque, que deveria ajudá-la, parecia piorar tudo. O único momento em que esboçava alguma reação, era quando descia à academia. Bella treinava com afinco, descontando em sacos de pancada toda a raiva que acumulava contra mim. Eu via pelas câmeras e sentia cada golpe e rugido no meu estômago, sabendo que ela estaria batendo em mim se pudesse. Droga, talvez eu preferisse. Qualquer coisa era melhor que a frieza com a qual ela me ignorava. Por duas vezes ela teve acessos de fúria durante o treino, não mais apenas fazendo os movimentos previstos, mas descontroladamente chutando e gritando. Em ambas ela caiu no chão chorando no final, exausta. Na primeira tentei me aproximar para consolá-la mas, quando me viu, ela imediatamente sufocou o choro, seu rosto vermelho e banhado em lágrimas me olhou em cólera antes que ela se levantasse e passasse como um raio por mim, como se meu toque a tivesse queimado. Não tentei novamente.

Suas rejeições estavam lentamente minando minhas forças. Eu me sentia partido ao meio. Precisava que ela me quisesse para poder marcá-la sem risco de que seu corpo não aceitasse bem a transformação, mas quaisquer expectativas de relacionamento que tive quando a encontrei estavam desesperadamente caindo por terra.

Bella ainda não havia descido para jantar e eu fui procurá-la. A encontrei lendo em um dos divãs da biblioteca. Suas olheiras fundas, sua postura abatida. Parecia ter encolhido. “Não gosto de vê-la tão triste”, soltei sem pensar e me encolhi quando a vi retesar sob o som da minha voz. Era suposto que almas gêmeas confortassem uma a outra, mas com Bella...

Ela me olhou pela primeira vez em dias antes de responder, seu tom pingando ironia, “E como você quer que me sinta hoje, Alteza?”. Esse era outro ponto que me matava. Ela havia parado de me chamar pelo meu nome, me respondendo sempre como uma subalterna, transformando tudo o que eu falasse em uma ordem a ser seguida.

Suspirei frustrado, “Vim chamá-la para o jantar”.

“Não estou com fome”.

“Precisa comer”, insisti. Ela desviou o olhar muda e começou a se levantar, guardando o livro para sair da biblioteca. Deuses, eu gostaria tanto que ela discutisse, que brigasse e me desrespeitasse... Qualquer coisa era melhor que essa desistência muda. “Bella...” tentei novamente, ela parou de pé, a meio do caminho antes de sair da sala, sem se virar. “Por favor... podemos... podemos só...”, eu não encontrava as palavras.

Ainda sem me olhar, ela me interrompeu “Você disse que quer que eu coma”, falou simplesmente; e então continuou seu caminho, rígida, indo direto à sala de jantar.

Eu servi seu prato tentando buscar qualquer olhar dela, mas ela seguia apenas encarando a mesa a sua frente. Começou a mexer em sua comida como sempre, dando pequenas bocadas aqui e ali, sem comer realmente. Soltei o ar derrotado.

Emmett e Alice nos observavam com cada dia mais pesar. Estava óbvio para todo mundo que em algum momento, cada vez mais próximo, ela iria me rejeitar. E eu simplesmente não conseguia aceitar isso. É claro que percebia que quanto mais tentava prendê-la, mais ela se afastava. Mas a besta irracional dentro de mim estava cada vez mais arredia e a cada dia mais perigosamente perto de sair completamente de controle.

Alice era a única em casa que ainda tinha algum ânimo para tentar puxar conversa; hoje tentava chamar a atenção de Bella contando histórias de almas gêmeas que fortaleceram a outra.

“...Isso me dá esperança... Quem sabe a minha alma gêmea não esteja por aí também”, Alice disse com um suspiro sonhador.

“Eu nunca quis a minha e agora tenho duas. Onde é que fica a justiça?”, Bella disse resmungando para si mesma, todos congelaram com seus garfos a meio caminho da boca, incluindo ela, que aparentemente não havia se dado conta de que respondera em voz alta.

Alice, se recobrando, respondeu gentilmente, “E o que há para não querer, querida?”.

E foi aí que uma chavinha pareceu virar na mente de Bella. Era como se Alice tivesse aberto uma compota e agora as palavras saíam em uma torrente.

“Bem, olha só, nem sempre encontrar sua alma gêmea vai te fazer feliz. É mais como uma droga. Cria uma dependência tão grande que te obriga a ficar com ela mesmo quando isso não te faz bem. Caramba! Na verdade, as pessoas ficam mesmo quando isso faz da vida delas um inferno completo. Quantas vezes a mulher não é obrigada a largar a própria vida e anular todas as próprias vontades para pertencer ao parceiro dela e atender apenas as vontades dele? Por que é que eu desejaria que uma mulher jovem, bonita e independente como você fosse amarrada a um homem que não vai fazer a menor questão de conhecer você? Minhas almas gêmeas apenas me rejeitaram ou tentaram me possuir como se possui a um troféu. Nenhum dos dois deu a mínima para quem eu sou”.

Eu estava petrificado ao lado dela, mortificado com o meu comportamento. Mas ela já não prestava mais atenção nas reações a sua volta, e seguiu falando em um tom melancólico e perdido.

“Eu fui a um casamento uma vez, de duas pessoas que haviam desistido de encontrar suas almas gêmeas e resolveram se marcar apenas porque se amavam. Sabe o que eles falaram, Alice? Sabe qual foi o voto deles? Fazer um ao outro feliz. Apenas isso. Eles não estavam criando uma ligação por poder, e não estavam se casando para ser feliz. Mas sim para viver em função da felicidade do outro. Nenhum dos dois estava fazendo exigências. O que culminou no casal mais bonito que já vi. Não há a menor possibilidade de você passar uma hora em volta daqueles dois e não se apaixonar pelo amor deles também”.

Ela agora tinha um meio sorriso e voltou a olhar para Alice “Já imaginou, um amor assim? Forjado no coração, por livre vontade, desprendido e altruísta? Não por uma magia estúpida. Alguém com quem você fica porque quer ficar, porque confia, respeita e admira. É o que eu queria para mim Alice. E é a sorte que desejo a você.”

Ela finalizou encarando suas panquecas, todos estavam imóveis e em silêncio depois de seu pequeno discurso. Por fim ela se desculpou e saiu da mesa. Foi Emmett quem quebrou o silêncio jogando o garfo com força.

“Isso não está certo”, eu o encarei confuso, “estamos vendo essa menina se desfazer nas últimas semanas e você não faz nada! O que está esperando Edward?”

“Ela não me quer por perto”.

“Mas ela precisa. E você sabe disso”, jamais havia presenciado Emmett tão irritado, especialmente comigo. “Você está há semanas acabando com o espírito dela dia após dia, completamente irresponsável em seus cuidados com ela. Ela é sua Luna e nossa futura rainha. Agora seja o homem que foi criado para ser e resolva isso, droga!”

“Eu não posso marcá-la. Ela pode não aguentar”, disse desesperado.

“Não estou falando de marcá-la. Seria menos arriscado se tivesse feito isso no dia que a conheceu, agora ela obviamente não está pronta. Mas você e eu sabemos que conexões são forjadas na alma, não na pele. Engula a porra do seu orgulho e dê aquela garota um pouco da felicidade que ela deveria ter quando encontrou seu Lumni”.

Ninguém falou mais nada, mas também ninguém conseguiu terminar o jantar. Algumas horas depois eu estava em meu escritório enquanto ainda remoía as palavras que ouvi mais cedo. Em seu desabafo, Isabella revelou mais sobre si mesma do que jamais consegui descobrir em minhas pesquisas sobre sua vida. Começava a entender que o problema dela não era James. O desgraçado podia ter pavimentado o caminho que ela percorreu até chegar em mim já frágil, mas eu era o responsável pela dor que via constantemente em seus olhos nos últimos dias. Ela não estava se conectando comigo por minha culpa. Rezando para que não fosse tarde demais, fui a seu encontro no quarto.

Bella

Olhava distraidamente a janela quando Alice interrompeu meus pensamentos.

“Vim trazer um prato para que comesse um pouco”, eu apenas acenei para ela e voltei a encarar a janela.

Alice suspirou, “precisa se esforçar Bella, está me matando vê-la sumindo diante de nossos olhos... Está matando Edward também”. A olhei com o cenho franzido. E por que é que eu deveria me preocupar com Edward? Ela ergueu as mãos em sinal de paz, “sei que está brava com ele. Tem razão de estar. Mas lembre-se de como se sentiu quando James a desprezou”.

“Não se atreva a comparar”.

“Não estou comparando. Sei que não o rejeitou e que não anda por aí esfregando na cara dele um outro parceiro, mas... Bella, como se sentiu quando James te disse que não era boa o suficiente pra ele? Quando ele te desprezou vezes seguidas e deixou claro que queria outra?”, eu podia entender onde ela estava querendo chegar, mas me recusava a abrir mão da única coisa que ainda era minha. Meu orgulho. “Bella, esse é o seu destino. E é grande. Não se trata de apenas um laço entre almas, mas de ser também nossa futura governante. Ele é um Cullen, Bella, a linhagem real que governa todos os povos há milênios. Vocês estão destruindo um ao outro e aí... o que acontecerá com todos nós?”

“Isso não é justo Alice”.

“Não, não é. É muita responsabilidade e você certamente não está preparada. Mas, eu sei que você acredita que Selena tem um plano para todos nós; e se ela escolheu você para governar ao lado dele, então é porque seu papel na história importa. Edward é teimoso, orgulhoso e um bastardo arrogante”, levantei a sobrancelha para ela... Era essa a defesa que ela tinha a fazer? Ela suspirou exasperada se acalmando. “Mas ele está tentando... Do jeito dele. Se você aprendesse a dobrá-lo, Edward faria tudo o que quisesse, ele pode até parecer muito forte Bella, mas é ele quem está inseguro e morrendo a cada dia na incerteza de ser correspondido. Sabe há quantos anos eu não vejo Edward conseguindo domar sua fera? Muitos! Me arrisco a dizer que nunca. Ele é um Príncipe Bella. Na verdade, ele é O príncipe. Não está acostumado a ser contrariado. Passou séculos procurando por você e quando a encontra... Bem, a situação toda já é muito difícil sem ambos serem os cabeças duras que tenho visto”. Alice deu uma pausa como se reorganizasse os pensamentos antes de continuar, “eu entendo o seu lado. De verdade. Não acho que Edward esteja correto... Mas também não vejo nenhum esforço de sua parte para que construam um relacionamento. Nos primeiros dias, quando o enfrentava de volta... Não acho que era a forma mais sábia de lidar com ele; mas pelo menos você fazia algo. Agora... bem, de certa forma, você é o troféu na estante de Edward porque também se permite ser enquanto fica por aí se esquivando com pena de si mesma”.

*~

Edward

Fiquei surpreso ao ver Alice saindo pelo corredor que levava ao meu quarto, ela parou insegura em minha frente. “Edward...”, eu parei esperando pelo que viria, “tente ser gentil com ela”. E saiu parecendo derrotada.

Entrei no quarto para encontrar Bella contemplativa sobre o parapeito da janela. Ao contrário dos outros dias, ela me seguiu com o olhar, parecendo realmente notar minha presença pela primeira vez. Puxei uma poltrona para perto de onde ela estava e me sentei inclinado para frente, mexendo nervosamente em minhas mãos. Tentando encontrar uma forma de falar.

Não fazia ideia do que dizer para aplacar a fúria dela comigo, ou para diminuir o abismo entre nós. Me desculpar pelo meu comportamento abominável? Com certeza. Justificar meus rompantes com a dificuldade que é controlar uma besta Lycan? Talvez surtisse efeito. Mas, no fim, tudo o que consegui dizer foi a única coisa que vinha em minha mente cada vez que eu a via nas últimas duas semanas: “Por favor, não me afaste”. Bella pareceu hesitar por um segundo enquanto escaneava meu semblante. Deve ter visto sinceridade ali, porque desceu do parapeito e, surpreendentemente, se ajoelhou em minha frente. A olhei confuso.

“Acho que está na hora de começar a cuidar do meu destino”, suspirou e buscou minhas mãos antes de continuar, “não acha? Quer dizer, olhe só para o que aconteceu comigo e James... Obviamente existem planos maiores que nós; e coisas que acontecem fora do nosso controle, mas nós precisamos lidar com isso. Ainda assim temos que encarar as consequências de nossas escolhas... Mesmo que essa escolha seja desprezar as bençãos que Selena envia para nós”.

Ela falava baixinho, quase para si mesma. Um medo gelado me atravessou. Era isso. Ela iria me rejeitar. E, por deus, eu morreria.

Então ela parou e me encarou, mais firmeza em sua voz. “Aquele dia... quando fui visitar meus pais”, acenei indicando que sabia do que ela estava falando, “você pensou que eu havia fugido, não foi?”

“Sim... Quando vi suas malas empacotadas eu... surtei”, confessei.

“Não confia em mim”, constatou inclinando a cabeça; não era uma pergunta.

“Não se trata disso”, ia começar a contrariá-la, mas ela não deixou.

“Não confia, Edward... E não tem razão para fazê-lo”. Ela me olhou com os olhos apertados, me desafiando a negar. Não neguei. “Bem, confie nisso: Não sou burra”; a encarei com a sobrancelha erguida, sem entender. “Caso eu fugisse”, rosnei baixo, mas ela continuou, “Caso eu fugisse... Há algum lugar no mundo em que você não me encontraria?”.

“Não há um lugar na terra ou no inferno em que você possa se esconder de mim”, respondi feroz.

“Eu acredito nisso”, ela acenou com um sorriso compreensivo. “Vamos começar por aí então. Eu confio plenamente que jamais me deixaria fugir, e você, portanto, confia que não sou estúpida de perder meu tempo tentando”.

A olhei ainda sem compreender muito bem onde ela queria chegar, “o que quer dizer com isso?”

“Quero dizer, Edward”, ela começou acariciando minhas mãos, parando por um momento para depositar um beijo casto nelas, e então me olhando de volta nos olhos, “que aceito o meu destino”, disse por fim num sussurro. Eu soltei a respiração que nem sabia que estava prendendo. “Farei o melhor que puder dele. Não acho que você queira me ver infeliz e estou tão, tão cansada da forma como estamos vivendo” ela soltou frustrada. “Preciso que se esforce também”, seu tom ficando mais firme e urgente agora, “Preciso... Preciso... Por favor, por mim, tente me entender. Pelo menos um pouco”.

Acenei rouco, “é só o que eu desesperadamente quero”, respondi. “Aquele dia... você... Você pareceu tão... infeliz e brava ao me ver chegar que eu só... Eu perdi a cabeça, me desculpe”.

“Eu não estava infeliz em vê-lo” e, notando minha expressão de descrença, acrescentou, “na verdade me lembro que quase perdi o controle da minha loba quando você chegou, simplesmente porque ela queria te ver”, ela riu tímida. “Sempre ficamos felizes ao te ver”, continuou mais séria.

“Mas?”

“Mas... Edward, quantos anos tem?”

Estranhei a mudança abrupta de assunto, mas decidi não interromper a linha de raciocínio dela, “403”.

Choque passou por todo o seu rosto. Achei que ela faria algum comentário, mas ela apenas acenou para si mesma, processando o fato. Por fim me olhou de volta tomando fôlego, “Eu tenho 18”, o que eu sabia. “Edward, eu sou apenas uma menina, entrando na faculdade. Uma ômega. Ao menos, era isso o que eu era até te conhecer”. Ela mordeu os lábios parecendo indecisa em continuar ou não, por fim continuou com certa melancolia, “depois de James... Eu passei por muita coisa no colégio. Victoria era a garota mais popular e ela reuniu todo mundo pra me atormentar; você sabe como lobos podem ser competitivos e crueis. Meus últimos meses foram... infernais. Eu sei que isso pode parecer bobo pra você e, olhando agora, é bobo mesmo pra mim. Mas eram os problemas que eu tinha. Eram os únicos problemas que uma garota da minha idade deveria ter”. Ela desviou de novo o olhar, ficando tensa antes de seguir com a sua narrativa. “James não completou a rejeição”, disse baixinho. “Ele apenas disse a parte dele e não esperou que eu aceitasse de volta, finalizando o encantamento. Então, tecnicamente, por todos os meses em que ele esfregava seu relacionamento com Victoria na minha cara e permitia que ela fizesse todo tipo de bullying comigo, nossa conexão ainda estava intacta. Eu sentia toda e cada uma das vezes em que ele era íntimo com alguém, e ficava cada dia mais fraca”. Meu maxilar estava travado para o seu relato, mas eu via pela sua postura que ainda havia mais. “Quando ele a marcou, não era noite de lua cheia. Eu ainda não havia me transformado para a minha forma lobo nem uma vez e nosso laço ainda não estava mais fraco”. Ela fechou os olhos com força, pensando nas lembranças doloridas, “Fiquei fora de controle. Corri para a floresta e passei a noite toda sozinha. A noite toda meus ossos estavam sendo quebrados e recolocados no lugar numa transformação defeituosa e incompleta. De novo, e de novo, e de novo”. Eu prendi o fôlego. Estava decidido, eu mataria James. Ela havia sido torturada, sozinha, por uma noite inteira; e por meses antes disso. “Depois daquela noite”, ela continuou, sua voz terrivelmente vazia, “pensei que a havia perdido... minha loba... ela... sumiu, por assim dizer. Não a ouvia, não a sentia”. Piscando as lágrimas que começavam a brilhar em seus olhos, ela respirou fundo e voltou a me encarar. “Eventualmente eu recobrei alguma normalidade. Minha loba não estava morta, mas estava fraca, terrivelmente machucada... Nunca completei a transformação” ela finalizou baixinho.

“Bella” A olhei como se a enxergasse pela primeira vez “Ah, Bella. Eu sinto tanto”.

Ela sorriu terna para mim. “Melhorou depois que você apareceu”, senti meu peito inchar com a declaração dela. “Minha loba tem estado bem melhor”, ela inclinou a cabeça um pouco para o lado, “mas não o suficiente para reconhecer o seu”, completou com dor nos olhos. “Sinto tanto, Edward. Gostaria que fosse diferente. Eu sei que deveríamos ter nos atirado nos braços um do outro e que nunca, jamais, deveriam haver dúvidas, mas... eu simplesmente não consigo”, ela fungou, chorando livremente agora. “Me sinto tão culpada. Você não merece passar pelo que eu passei e, ainda assim, eu não consigo evitar machucá-lo.”

“shiiii” soprei baixinho a pegando no colo, ninando como faria a uma criança. “Não repita isso Bella”. Ela escondeu o rosto em meu pescoço e seguiu soluçando. “Isabella. Minha Isabella, olhe pra mim”, quando ela se recompôs o suficiente para me encarar, reafirmei, “Não repita isso. Pra começar, eu jamais passei nem pela metade do que você sofreu. Pensar em perdê-la... Infernos, seria a morte para mim, mas eu sei que você jamais seria tão cruel. E não se culpe, se há alguma culpa aqui, é daquele bastardo irresponsável, não sua. Jamais sua. Eu fui um asno ao não ouvi-la, ao não procurar conhecê-la. Sabia que havia passado por algo traumático e, ainda assim, fiquei apenas olhando enquanto esperava que você se remendasse sozinha para poder seguir em frente comigo. Jamais considerei que talvez, o meu papel nesse momento, fosse ajudá-la a se curar e, por isso, peço que me perdoe. Eu sinto tanto Bella”.

Encostei nossas testas e fiquei esperando a respiração dela se acalmar.

“Não quero que se culpe, Edward. É só que... bem, nós nunca nos esforçamos para nos conhecer. Você não responde às minhas perguntar e é tão intimidador o tempo todo... Naquele dia, eu estava feliz em vê-lo, mas também estava amedrontada, e isso me deixou brava. Não era para ser assim. Almas gêmeas são iguais. O laço sagrado garante isso. Você sabe que eu não sou obrigada a me submeter a você como um lobo comum”, ela me olhou com a sobrancelha erguida esperando que eu confirmasse. Eu acenei; é claro que eu sabia. “Mas aí você fica sempre me tratando como se eu fosse uma criança, colocando limites que eu jamais tive, apontando erros que eu nem sei que cometi. Você ameaçou meus pais, Edward! E eles só queriam me proteger”. O olhar dela era repreensivo e eu me envergonhava, abri e fechei a boca várias vezes tentando encontrar algo que a fizesse me desculpar, mas não podia. Fungando, contei a ela como me senti da maneira mais honesta possível.

“Eu estava louco Bella, pensei que havia fugido, pensei que seus pais a estavam ajudando a fugir de mim”, bufei. “Você não reagia a mim, à nossa conexão. Parecia sinceramente incomodada com a minha presença, e não só ali, mas praticamente o tempo todo. Eu acabei de te encontrar, passei séculos procurando... Pensei que quando a encontrasse não tiraríamos as mãos um do outro por meses... E ali estava você. Fugindo, se escondendo, me evitando”. Não consegui conter a mágoa em minha voz. “Seus pais não estavam felizes com o seu destino também, era visível. Você parecia ter medo de mim, isso quando não tinha raiva de mim. Eu só...” respirei fundo tentando encontrar as palavras, por fim a encarei implorando mentalmente que ela fosse compreensiva comigo, “Há um limite para o quanto posso suportar sem perder a compostura Bella”.

Ela deu apenas um aceno curto, indicando que entendia. Voltamos ao silêncio por alguns minutos.

“Edward”, a olhei em expectativa, “eu sei que nossa situação não é a que você esperava. Certamente não é o que sonhei pra mim também”, minha expressão deve ter denunciado a decepção com o que ela disse porque ela colocou ambas as mãos em cada lado do meu rosto, “não se sinta ofendido. Como disse, tenho apenas 18 anos. Esperava ter mais algum tempo para concluir a faculdade e viver um pouco antes de encontrar minha alma gêmea. Eu certamente não esperava encontrar duas. Nem passar por todo o sofrimento que isso trouxe. É óbvio que estou intimidada com o que significa ser sua Luna, Edward. Você é o futuro rei. Tem mais regras e obrigações do que eu posso imaginar e eu terei que aprender a lidar com isso. Eu era apenas uma menina até umas semanas atrás; e agora...” Ela se perdeu tentando se explicar, mas eu entendia. É uma tarefa árdua até para quem foi criado no meio da realeza e preparado para isso a vida toda, é claro que não seria mais fácil pra ela.

“Eu entendo. Acredite”, disse simplesmente. Ela me olhou grata antes de continuar.

“E você é... Bem, não ajuda que você não me explique nada, não responda minhas perguntas, ameace meus pais, não tente ter um relacionamento normal comigo”. Ela foi enumerando minhas falhas, cada vez mais frustrada.

“Bella... De certa forma, isso também é novo pra mim”, ela piscou incrédula. “Eu jamais me envolvi com uma mulher antes. Demorou séculos, mas eu nunca me permiti abandonar a esperança de encontrá-la”. Ela sorriu novamente para mim. “Meus pais formam um casal muito apaixonado, Bella. Ser um rei... Mesmo enquanto sou apenas o herdeiro dele, traz muitas responsabilidades e obrigações. A carga que meu pai carrega é sempre... pesada, para dizer o mínimo. E ele não tem o direito de perder o controle. Ele não pode esbravejar ou desmoronar. Muitas vezes eu questionei como ele conseguia suportar tanta pressão com tanta classe, e ele sempre respondeu que era graças a minha mãe”, contei pensando com carinho nas duas criaturas que mais admiro no mundo. “Ela sempre estava ali. Firme, elegante, governando ao lado dele, sendo a referência que precisa ser para todas as pessoas, mas, principalmente, cuidando dele. Transformando qualquer lugar em que estivéssemos em um lar, o apoiando e acalmando”, ri sincero dessa vez. “Meu pai tomou muito mais decisões baseadas nas opiniões da rainha que de todos os seus conselheiros reunidos”. Bella mal respirava prestando atenção e me dei conta de que era a primeira vez que eu revelava qualquer coisa sobre mim para ela.

“Jamais permiti que outras mulheres ocupassem qualquer lugar de importância em minha vida, Bella. Esperava por você. O seu lugar sempre foi sagrado para mim, mesmo quando ainda não a conhecia”. Ela sorria terna. “Mas temo que isso também tenha me tornado incrivelmente inadequado quando se trata de construir um relacionamento. Não sei como agir. Sei como possuí-la, mas não como entendê-la. Eu quero, quero muito que me ame independente de seu lobo me reconhecer como o seu Lumni, os deuses sabem que morreria se me deixasse. Mas não faço ideia de como conquistá-la”.

Bella pegou novamente minhas mãos, “Podemos começar nos comprometendo Edward”, ela pausou me olhando, “eu posso ser paciente com você... Se você esforçar para ser mais... flexível comigo”. Eu acenei uma vez.

“Compromisso... Gosto disso”. Respondi concordando. Sabia o que precisava fazer, tinha que libertá-la, mas era tão difícil. “Darei o meu melhor para não interferir em sua liberdade Bella, poderá voltar a ir aonde quiser”, disse com alguma dificuldade, superada assim que vi o brilho voltar aos olhos dela. “Há um compromisso, porém”, a lembrei, “Você não deve sair por aí sem seguranças, deve me avisar onde está e, por tudo o que é mais sagrado, atenda o seu celular quando eu chamar”, ela se manteve serena enquanto me ouvia.

“Está certo, eu prometo” disse levantando um dedinho numa brincadeira infantil. Arqueei uma sobrancelha para ela. “O quê? Nunca viu uma pink promise?” Disse indignada, e eu a olhei ainda mais confuso.

“Esclareça, por favor”, ela deu um suspiro teatral.

“400 anos e não aprendeu nada. Levante a mão assim”. Disse levantando novamente o punho fechado com a penas o dedo mindinho levantado. “Qual é, não seja chato, brinque comigo, vamos” Não consegui mais segurar o riso e entrei no jogo dela, levantando o meu dedinho também. Ela enrolou o seu dedinho no meu, me disse “eu juro, juradinho”, e então soltou simplesmente; “pronto, viu”.

“E quais são, exatamente, os termos desse contrato que acabamos de assinar?”.

“Não pode quebrá-lo. Uma pink promise é uma promessa pra vida, selada por Selena, a deusa da lua e mãe de todas as criaturas mágicas em pessoa. Se quebrar, as consequências serão terríveis”. Declarou com o máximo de seriedade que conseguiu imprimir, o que resultou em uma sonora gargalhada da minha parte.

Quando me acalmei, vi que ela me olhava com muita intensidade. “Nunca o vi rindo assim. É muito bonito”. Fui inundado de repente por uma emoção desconhecida, reconhecendo a magnitude que era ter finalmente encontrado minha Luna. Ela ainda não tinha me aceitado completamente, mas já estava cumprindo para mim o mesmo papel que Esme cumpria para Carlisle. Há anos eu não ria assim. Isso era o que poderia ser o meu relacionamento com Bella.

“Obrigado”, disse colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.

Ela apenas mordeu os lábios tímida. “Estou feliz que conversamos”, disse baixinho. Não era exatamente por isso que eu estava agradecendo... não só por isso. Mas não contaria agora, não havia necessidade. Tínhamos tempo.

“Parece que ainda há algo que queira falar”, ela ficou ainda mais vermelha e desviou o olhar, ainda com os lábios presos entre os dentes, o que enviava uma onda de desejo direto em minha virilha. “Diga-me”, pedi colocando um dedo no queixo dela para trazer de novo o seu olhar para mim.

“É que... bem...” Ela escondeu novamente a cabeça no meu pescoço e, maldição, mordiscava minha pele. Contive um gemido. “Eu pensei que podíamos nos comprometer com outra coisa também, já que estamos tão compreensivos hoje”. Suas mãos passearam pelos botões da minha camisa, abrindo os de cima com facilidade, mesmo sem olhar.

“Eu com certeza posso me comprometer com sexo”, ri lascivo, “sequer preciso de condições”.

Ela levantou me encarando, ainda com aquele delicioso tom de vermelho tingindo suas bochechas, pegou o meu punho, desabotoando minha camisa ali também, um depois do outro.

Saiu do meu colo apenas para se ajoelhar na minha frente de novo, removeu minha camisa de dentro das minhas calças e foi para os meus sapatos, removê-los também.

“Não estou falando sobre sexo”, disse, por fim. “Não só sobre isso”.

Eu já estava descalço e ainda a olhava em dúvida. Se isso não era um convite, então o que era?

Ela parou tomando folego. “Edward”, disse tão tímida que me estava a botar louco, “quer namorar comigo?”.