Bella

O som de alguém insistentemente batendo o punho à porta me faz acordar assustada e imediatamente ficar de mau humor. Odeio a sensação de acordar de supetão, como se estivesse flutuando há um segundo e então cair de volta em meu próprio corpo de repente. Percebo que estou anormalmente quente e que há um braço possessivamente em torno de minha cintura.

É quando me lembro do que se passou entre nós. Aquela noite toda, desde o momento em que Ângela me encontrou até eu acordar com a suave respiração de Edward em meu rosto, me parecia um sonho, mas quando acordei no meio da noite em um quarto que não era o meu com esse homem deslumbrante, desconhecido e, ainda assim, estranhamente reconfortante, percebi que não era.

Me sentia oprimida por tantos sentimentos e mudanças acontecendo ao mesmo tempo. Levantei tentando não acordá-lo para ir até a janela. Abri um pouco as grossas cortinas para revelar uma enorme janela e grossos parapeitos que davam pra uma vista panorâmica incrível da cidade a noite. Sentei ali tentando ordenar os pensamentos, tentando me conectar com a loba em mim e aceitar meu destino. Edward podia ser desconhecido e até perigoso, se quisesse, mas eu sabia que não tinha intenção de me machucar e obviamente me queria ao lado dele. Não fora isso o que pedi para a Lua há apenas algumas horas? Uma segunda chance.

Perdida em pensamentos, tentando apaziguar meu coração para poder encarar o meu destino, não ouvi quando Edward acordou e se aproximou. Deus! O que aconteceu depois disso... Ainda sentia-me dolorida em vários pontos em que ele me tocou com mais força, com certeza haviam alguns hematomas essa manhã. Sempre ouvi falar sobre o poder de sedução de um vampiro, do quanto eles podem encantar suas vítimas e até iludi-las para atraí-las ao sexo. Fui ingênua ao pensar que Edward, um Lycan muito mais poderoso que um simples vampiro, não usaria de tal artimanha comigo.

O encarando agora, enquanto dormia tranquilamente com um semblante pacífico, não se parecia em nada com o demônio que se apossou de mim ontem a noite me fazendo implorar por mais até que me levasse aos extremos do prazer. Me senti segura e confiante em sua promessa de que não me tocaria sem minha permissão. Uma lágrima solitária correu por minhas bochechas. Eu realmente tive esperanças de manter algum controle sobre mim mesma ao menos nesse aspecto. Burra! Burra! Burra!

As batidas na porta soaram novamente e dessa vez Edward expirou exasperado, enquanto seu corpo finalmente se separava do meu. Seus passos duros pelo chão enquanto caminhava até a porta para abri-la com rudeza, enquanto eu aproveitava que ele estava de costas para limpar a lágrima traidora que havia caído.

“O quê?” Edward praticamente rugiu para quem quer que fosse que estivesse interrompendo nosso sono enquanto eu me sentava na cama, desistindo de vez de esperar que esse fosse apenas um sonho.

“Eu já soube das boas novas!!” Cantou melodiosa uma voz de sinos na sequência, sem demonstrar a menor intimidação com o mau humor de Edward.

“Me deixe vê-la. Oh, por favor, por favor, por favor! Apenas para dizer oi. Eu não vou...”

Podia ver Edward bloqueando a passagem da garota e impedindo que ela visse atrás dele. Ele não abriu a porta completamente e usava seu corpo como uma barreira entre o que ela podia ver e eu.
“Não”. Ele rosna pra ela essa única palavra e bate a porta com força antes de clicar a trave da fechadura. Ele gira em seus pés para caminhar de volta para a cama enquanto seus olhos encontram os meus.

“Okay, eu a verei no café da manhã” A voz soa abafada atrás da porta, mas Edward a ignora enquanto chega mais próximo a cama. Seus olhos estão fixos nos meus enquanto eu aperto os lençóis mais perto do meu peito, inconscientemente me espremendo mais contra a cabeceira da cama. Não leva nem seis passos para que ele esteja de volta a cama, se impondo sobre mim, ambas as mãos em punho o apoiando em cada lado dos meus quadris.

Ele enterra sua cabeça no meu pescoço, respirando o meu cheiro, e minha pele se arrepia nos pequenos pontos onde sua barba por fazer arranha. Mesmo tendo apenas acabado de acordar, ele é malditamente sexy enquanto eu provavelmente pareço que fui atropelada. Seu cheiro é divino também, e eu não consigo resistir a urgência de me aproximar, sendo recompensada com um gemido profundo em seu peito antes que ele se afaste para me olhar.

“Bom dia” Sua voz em um tom profundo e rouco de barítono, e eu posso ver a besta que ele tenta controlar através de seus olhos quando eles se mudam para um tom dourado brilhante e incomum. Me sinto intimidada sob a intensidade do olhar dele, olhando para baixo como se os lençóis tivessem algo incrivelmente interessante.

“Bom dia” respondo em um murmuro.

Percebo, então, que estou de volta a sua camisa, e me sinto grata por minha nudez não ser mais um motivo para corar essa manhã.

“Olhe para mim” Ele pede gentilmente em um sussurro, e eu me obrigo a encará-lo novamente. A cabeça dele lentamente se inclina para a minha, e eu entro em pânico quando percebo que ele mira meus lábios.

“Tenho aula” Falo abruptamente o interrompendo, enquanto coloco as duas mãos em seu peito para pará-lo. Ele fica rígido sob a minha palma, e acho que o senti tremer por um segundo, me fazendo me afastar dele. Quando percebe meu receio, ele se afasta um pouco, mas ainda não deixando muito espaço entre nós.

“E...?” Ele pergunta com seus olhos se estreitando para mim.

“E... Eu devo me arrumar para ir.”

Uma sombra parece se apoderar de suas feições quando eu falo e ele se levanta bruscamente indo para o closet, voltando apenas alguns segundos depois, já totalmente vestido, me deixando boba com o quão rápido ele foi.

“Não.” Ele finalmente responde, impassível.

Minha língua fica presa por alguns segundos antes de reencontrar minha voz.

“Mas eu tenho que ir. É apenas o meu primeiro ano e...”

“Eu disse que não” Ele me corta novamente e minha raiva emerge enquanto levanto pronta para encará-lo.

“Você não pode me controlar. Eu tenho uma vida, sabia?! Antes de você aparecer e perturbar todo o meu caminho” Resmungo a última parte

Ele estreita seus olhos para mim em aviso, mas eu me mantenho firme e o encaro de volta.

“Eu posso e eu vou se você continuar agindo como se pudesse continuar sua vida como se nada tivesse mudado; e eu teria cuidado com esse tom antes que você fique do lado errado da minha ira. Não é fácil para um Lycan manter controle sob o temperamento da besta que habita em nós e, como você pode imaginar, tê-la encontrado e não poder marcá-la já está me levando ao limite o suficiente. Você não vai gostar das consequências se seguir esse caminho.”

Sua aura dominava todo o quarto e ele me olhava como um falcão, me lembrando que ele era um príncipe e que poderia me aniquilar como a uma mosca se assim o desejasse. Desvio meu olhar e mordo minha língua para não continuar a discussão. Edward suspira depois de um momento.

“Se você precisa ir as aulas, então eu preciso de garantias” Ele anuncia me surpreendendo, seu tom se suavizando.

“Garantias?” Eu pergunto confusa, ele sorri de canto com aquele olhar libertino.

“Sim. Eu preciso garantir que você estará de volta aqui. Algo para me manter calmo enquanto você está longe”.

Ainda o olho confusa com o cenho franzido. O que ele quer?

“Um beijo servirá” Ele diz com um sorriso malicioso cruzando seu rosto.

Meus olhos se arregalam em horror ao seu pedido e eu dou um passo atrás.

“Não vou beijá-lo”

“Fizemos muito mais que isso ontem” Ele diz lento, brincando comigo e, ainda assim, parecendo um pouco magoado.

“Exatamente!” respiro exasperada “você disse que não me tocaria e então me induziu ao sexo” falei ressentida. Antes que eu me desse conta estava presa a parede, suas mãos me segurando pelo ombro. A expressão em seu rosto furiosa.

“Eu disse que não a forçaria e você não foi forçada” cada uma de suas palavras saíam em cadência pausada, entre dentes, quase cuspidas, como se controlasse para não gritar. “Eu não a induzi! Você sentiu a atração natural que temos um pelo outro porque, goste você ou não, nos pertencemos. Posso tê-la seduzido e incentivado, mas você sempre teve a escolha de me afastar.”

Seu rosto tempestuoso se aproximava do meu até que eu pudesse sentir sua respiração na minha. Esperei que me tomasse o beijo que me pediu, mas ele parou antes que encostasse seus lábios nos meus.

“Melhor para mim. Mais tempo para passar com você se não for a faculdade. E eu honestamente ficarei mais tranquilo se você não sair por aí enquanto não estiver ostentando minha marca”.

Meu peito estava disparado e não era de medo. Eu gostaria de poder negar, de teimar com ele e de mandá-lo ao inferno por ter me induzido a ir para cama com ele, de ter com ele a minha primeira vez ainda que ele não significasse nada para mim. Gostaria de lhe dizer que jamais teria conseguido se aproximar de mim se não tivesse lançado mão dos encantamentos de sua espécie, que jamais permitiria que bebesse de mim novamente, que foi vil e que me causava asco como era quando James tentava se forçar a mim. Mas não podia. Porque seria uma tremenda mentira.

Eu queria correr. Fugir. Não queria ser obrigada a ceder a cada um de seus caprichos e, pior, à minha própria luxuria. Mas se eu não entrasse nesse jogo, eu ficaria presa aqui e não poderia sequer ir para a faculdade. Não era burra de pensar que poderia simplesmente desaparecer. É claro que ele teria como me rastrear e colocar qualquer lobo na cidade atrás de mim. E mesmo que eu conseguisse deixar a cidade, e até mesmo o país; outras matilhas seriam avisadas. E eu teria que passar a vida fugindo. Bem, até que ele eventualmente me encontrasse, porque ele iria. Ele é um príncipe. O próximo na linha de sucessão. Tem influência em todo o mundo. E eu sou apenas a fêmea sem sorte que se enfiou em um enlace ruim seguido do outro. Então, por enquanto, qualquer pequena oportunidade que eu tivesse de me manter longe dele, mesmo que apenas por pequenos períodos, eu precisava aproveitar. Mesmo que isso significasse que teria que beijá-lo e arriscar que ele incendiasse tudo dentro de mim novamente.

Eu me precipitei para ele, fechando o espaço entre nossos lábios, metendo minhas mãos em seus cabelos, colando por completo nossos corpos. O ouvi gemer sob meus lábios enquanto fechava os braços ao meu redor como se sua vida dependesse disso. Suas mãos desceram para a minha bunda e me levantou para que eu colocasse as pernas ao redor do quadril dele, me fazendo sentir toda a extensão de sua necessidade. Nossas línguas duelavam e quase nos engolíamos enquanto tentávamos pegar tudo um do outro. Graças aos céus ele me tinha no colo enrolada em sua cintura porque, deus me ajude, eu não tinha mais forças pra me manter de pé enquanto derretia em seus lábios. Eletricidade percorria todo o meu corpo, um desejo e uma fome que me consumiam. Busquei por ar mas suas mãos no meu pescoço não me deixavam afastar, ao invés disso, expuseram meu pescoço para ele que prontamente moveu seus lábios para o ponto onde um dia estaria sua marca e passou a mordiscar e lamber ali.

“Você disse um beijo” eu ofeguei, tentando recobrar alguma coerência. Satisfeita, vi que ele também parecia ter corrido uma maratona com sua respiração acelerada.

“Eu menti” Ele respondeu antes de se afastar do meu pescoço apenas para capturar meus lábios mais uma vez. Dessa vez, impossivelmente mais duro e mais possessivo, me reivindicando. E eu não podia fazer nada a não ser aceitar. Meu corpo todo queimava e eu já estava tonta de desejo, surpresa que apenas um beijo pudesse me deixar desse jeito.

Era assim que todo mundo se sentia quando beijava? Eu duvidava. Isso me parece... diferente. Muito diferente.
Soltando um rosnado frustrado, Edward se afasta e me firma novamente no chão. Agressivamente corre a mão pelos cabelos enquanto eu tenho um estranho sentimento de perda e frio com o subto afastamento.