Violeta nem pôde esconder a vergonha que sentia, por causa das traquinagens do Flecha, mas Toninho soube encobrir o tal embaraço. Helena fez questão de que ele entrasse, mas Violeta interveio:

– Mãe, o filme tem hora para começar. Daqui a pouco, vai ter um montão de gente lotando as filas para os ingressos.

– Peguei o horário - Toninho falou, ao remexer o bolso do casaco de couro preto. - Inclusive comprei os ingressos. Começa às seis e vinte.

Ele entregou os dois ingressos para a Violeta. Seus olhos se arregalaram ao ver qual filme iam assistir.

– "O Hobbit" - ela leu. - "A Desolação de Smaug".

"Com toda certeza, ele acertou", pensou, mas ela parou a leitura bem na parte em que Bilbo e os anões estavam fugindo das masmorras dos elfos da floresta dentro dos barris até chegarem à Cidade do Lago. Mas ela sabia muito bem que o filme, em algumas vezes, não chega a ser fiel ao livro.

– Bem - Helena continuou com a conversa. - Não tem problema algum, pode ser da outra vez com calma, tudo bem?

– Sem problemas - Toninho concordou. Violeta também.

– A que filme vocês vão assistir?

– Um filme do mesmo nome do livro do qual estou lendo - Violeta respondeu, enigmática e astuciosa.

– O Hobbit - uma voz grave veio da cozinha. Era Beto, que segurava um jornal em uma das mãos. - Você deve ser o que Flecha o denomina como "namorado da minha filha".

– Pai - Violeta ralhou, com a voz quase inaudível.

– É um prazer conhecer o senhor, sr. Pêra - Toninho se apresentou, trocando apertos de mão com o Beto.

– Pode me chamar de Beto - retrucou.

– Bom, Beto, quero que o senhor saiba que a sua filha estará em boas mãos - assegurou Toni.

– Sem sombra de dúvidas. - Beto concordou.

Violeta, satisfeita com as apresentações de sua família com o seu futuro namorado, pegou a bolsa tiracolo do cabide da parede da sala de jantar e acompanhou o Toninho até a porta.

– Vamos nessa - ela disse.

– Aonde vocês vão? - Flecha indagou.

– Ao cinema - Violeta estava bem na soleira da porta. - Você não ouviu?

Flecha hesitou e por fim, respondeu de imediato:

– Claro, foi só curiosidade.

– Divirtam-se - Helena acenou para os dois. - Ah, voltem antes das dez!

– Deixa comigo - Toninho assegurou. - Boa noite pessoal!

•••

Vinte e cinco minutos depois, o filme começou. A sala estava escura e todo mundo usava óculos 3D. Violeta cumpriu o seu acordo: pagou uma pipoca grande para dividir e dois refrigerantes para cada um. Os dois estavam tão atentos no filme, que na cena em que Bilbo e os anões, com os elfos, lutavam contra os orcs na corredeira do rio, cada um em seu barril, o momento chegou à tona: uma mão segurou a outra. Violeta estranhou o tato, quando virou o rosto. Era o Toninho propriamente dito, que também a encarava. Parecia que as almas gêmeas se encontraram. Era o fim da linha.

Encabulada, Violeta, delicadamente, tirou a mão dali.

– Desculpa - ela sussurrou.

– Tudo bem - Toninho termina.

Violeta voltou a se concentrar no filme. Agora Legolas ficava em cima de cada cabeça dos anões em barris, enquanto atirava nos orcs.

•••

Alguns minutos depois, o casal saía do cinema, ambos encostados um no outro.

– Puxa, quem diria? - Violeta puxou um papo. - Tauriel não está no livro e Legolas só aparece em O Senhor dos Anéis.

– É - Toninho assentiu. - Imagina a Galadriel.

Os dois riram. Lembrando do que a mãe lhe dissera sobre a hora de voltar, ela conferiu o relógio de pulso: Oito e dez. Ainda era cedo.

Violeta entrelaçou os dedos com os de Toninho, quando viu uma senhora que atravessava a rua, quando um carro em alta velocidade estava avançando, sem nenhum controle. "Eu não posso revelar a minha identidade", pensou, em meio ao pânico. "Não posso". Mas ela era uma super-heroína e era o seu dever em ajudar as pessoas. E o momento chegou.

Ao ver que a sua companheira estava paralisada com aquilo, Toninho cutucou, começando a ficar preocupado:

– Violeta, está tudo bem?

Sem olhar para trás, Violeta sussurrou:

– Espera só um pouco.

Imediatamente, se soltou dele e saiu correndo em direção àquela senhora que atravessava a rua devagar, apoiando-se sobre uma bengala. As pessoas gritavam aflitas, enquanto o carro avançava o sinal. Mas o motorista estava afilto com isso, pois o freio não estava funcionado, à medida que pisava nele. Ele gritava para a senhora fugir, mas Violeta chegou a tempo de se jogar sobre ela e de parar no outro lado da rua, ambas sãs e salvas. E o carro deu uma curva leve à esquerda e acabou colidindo com uma árvore do outro lado do cruzamento.

Para a sua sorte, o air bag foi acionado do volante e o motorista saiu ileso. Todos ficaram assustados com o impacto e, principalmente, com o salvamento da senhora da morte, o que se tornou surpreendente.