O Primeiro Compromisso
Parte III
Violeta nem pôde esconder a vergonha que sentia, por causa das traquinagens do Flecha, mas Toninho soube encobrir o tal embaraço. Helena fez questão de que ele entrasse, mas Violeta interveio:
– Mãe, o filme tem hora para começar. Daqui a pouco, vai ter um montão de gente lotando as filas para os ingressos.
– Peguei o horário - Toninho falou, ao remexer o bolso do casaco de couro preto. - Inclusive comprei os ingressos. Começa às seis e vinte.
Ele entregou os dois ingressos para a Violeta. Seus olhos se arregalaram ao ver qual filme iam assistir.
– "O Hobbit" - ela leu. - "A Desolação de Smaug".
"Com toda certeza, ele acertou", pensou, mas ela parou a leitura bem na parte em que Bilbo e os anões estavam fugindo das masmorras dos elfos da floresta dentro dos barris até chegarem à Cidade do Lago. Mas ela sabia muito bem que o filme, em algumas vezes, não chega a ser fiel ao livro.
– Bem - Helena continuou com a conversa. - Não tem problema algum, pode ser da outra vez com calma, tudo bem?
– Sem problemas - Toninho concordou. Violeta também.
– A que filme vocês vão assistir?
– Um filme do mesmo nome do livro do qual estou lendo - Violeta respondeu, enigmática e astuciosa.
– O Hobbit - uma voz grave veio da cozinha. Era Beto, que segurava um jornal em uma das mãos. - Você deve ser o que Flecha o denomina como "namorado da minha filha".
– Pai - Violeta ralhou, com a voz quase inaudível.
– É um prazer conhecer o senhor, sr. Pêra - Toninho se apresentou, trocando apertos de mão com o Beto.
– Pode me chamar de Beto - retrucou.
– Bom, Beto, quero que o senhor saiba que a sua filha estará em boas mãos - assegurou Toni.
– Sem sombra de dúvidas. - Beto concordou.
Violeta, satisfeita com as apresentações de sua família com o seu futuro namorado, pegou a bolsa tiracolo do cabide da parede da sala de jantar e acompanhou o Toninho até a porta.
– Vamos nessa - ela disse.
– Aonde vocês vão? - Flecha indagou.
– Ao cinema - Violeta estava bem na soleira da porta. - Você não ouviu?
Flecha hesitou e por fim, respondeu de imediato:
– Claro, foi só curiosidade.
– Divirtam-se - Helena acenou para os dois. - Ah, voltem antes das dez!
– Deixa comigo - Toninho assegurou. - Boa noite pessoal!
•••
Vinte e cinco minutos depois, o filme começou. A sala estava escura e todo mundo usava óculos 3D. Violeta cumpriu o seu acordo: pagou uma pipoca grande para dividir e dois refrigerantes para cada um. Os dois estavam tão atentos no filme, que na cena em que Bilbo e os anões, com os elfos, lutavam contra os orcs na corredeira do rio, cada um em seu barril, o momento chegou à tona: uma mão segurou a outra. Violeta estranhou o tato, quando virou o rosto. Era o Toninho propriamente dito, que também a encarava. Parecia que as almas gêmeas se encontraram. Era o fim da linha.
Encabulada, Violeta, delicadamente, tirou a mão dali.
– Desculpa - ela sussurrou.
– Tudo bem - Toninho termina.
Violeta voltou a se concentrar no filme. Agora Legolas ficava em cima de cada cabeça dos anões em barris, enquanto atirava nos orcs.
•••
Alguns minutos depois, o casal saía do cinema, ambos encostados um no outro.
– Puxa, quem diria? - Violeta puxou um papo. - Tauriel não está no livro e Legolas só aparece em O Senhor dos Anéis.
– É - Toninho assentiu. - Imagina a Galadriel.
Os dois riram. Lembrando do que a mãe lhe dissera sobre a hora de voltar, ela conferiu o relógio de pulso: Oito e dez. Ainda era cedo.
Violeta entrelaçou os dedos com os de Toninho, quando viu uma senhora que atravessava a rua, quando um carro em alta velocidade estava avançando, sem nenhum controle. "Eu não posso revelar a minha identidade", pensou, em meio ao pânico. "Não posso". Mas ela era uma super-heroína e era o seu dever em ajudar as pessoas. E o momento chegou.
Ao ver que a sua companheira estava paralisada com aquilo, Toninho cutucou, começando a ficar preocupado:
– Violeta, está tudo bem?
Sem olhar para trás, Violeta sussurrou:
– Espera só um pouco.
Imediatamente, se soltou dele e saiu correndo em direção àquela senhora que atravessava a rua devagar, apoiando-se sobre uma bengala. As pessoas gritavam aflitas, enquanto o carro avançava o sinal. Mas o motorista estava afilto com isso, pois o freio não estava funcionado, à medida que pisava nele. Ele gritava para a senhora fugir, mas Violeta chegou a tempo de se jogar sobre ela e de parar no outro lado da rua, ambas sãs e salvas. E o carro deu uma curva leve à esquerda e acabou colidindo com uma árvore do outro lado do cruzamento.
Para a sua sorte, o air bag foi acionado do volante e o motorista saiu ileso. Todos ficaram assustados com o impacto e, principalmente, com o salvamento da senhora da morte, o que se tornou surpreendente.
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