O País dos Doces

A exploração


Passei pelo corredor novamente e me deixei levar pelas luzes cintilantes. Passara ali em algumas horas atrás e mesmo assim não me cabia aceitar tanta beleza. Dessa vez, me demorei mais diante da porta deslumbrante. Abri com fervor e agora estava preparada pela alta exposição de luz. Sorri com amor, era tudo que eu precisava. Estava mais que preparada para prosseguir com minha aventura para desvendar cada segredo desse lugar.

Corri pela grama que uma vez deitara, e assim, sujara todo o meu vestido. Percebi que grudava no sapato e assim como a terra que parecia chocolate, também. Respirei aquele ar limpo e açucarado e desejei ficar presa para sempre naquele lugar. Era tão especial ter o prazer de poder frequentar tal lugar! Eu não suportava mais o clima da minha casa, não como se eu me divertisse muito. Sempre estavam brigando e ainda era julgada caso usufruísse de minha única escapatória, a imaginação. Claro que agora eu tinha ambas as coisas, imaginação e o país dos doces, mas eu não saberia o que fazer caso perdesse um deles.

Eu não sei exatamente como chamam esse lugar, se é que mais alguém frequenta, mas tomei a liberdade de chamá-lo de o país dos doces. Desde a minha primeira visita, eu me perguntei qual seria o nome mais apropriado para finalmente nomeá-lo. Eu não tinha ciência da imensidão do lugar, mas tinha conhecimento de alguns doces em que eu podia encontrar, por isso, chamá-lo de país parecia mais apropriado. Afinal, um país é maior que uma cidade, mas é menor que um continente. Espero que seja um nome apropriado, pois já me acostumei com a ideia de nomeá-lo assim. Também, haviam histórias que diriam que uma vez houve um outro país, mas nele só tinham maravilhas. Acho que cada um tem o que deseja, embora, que eu ache doces as coisas mais maravilhosas de todas.

Por isso, me deleitei observando cada pedacinho do lugar. Escalei as montanhas, subi em árvores, e fui reconhecendo cada doce que formavam o lugar. O riacho eu havia confirmado que seria uma calda de frutas vermelhas. Tive certeza quando vi algumas delas descendo junto pelo pequenino declive que havia perto da árvore em que eu subira. As árvores eram feitas de chocolate, ao menos o troco delas. As folhas pareciam chicletes de sabores que podia ser melancia ou kiwi. Observei também que haviam maçãs em algumas das árvores, mas não tinha certeza se eram realmente o fruto, ou se tratava de algum doce com a forma da mesma.

Esbarrei com algumas flores engraçadas, sabia que aquelas eram tulipas, e que, em vez da flor, eram marshmallows no lugar. Achei-as verdadeiramente belas, mas não tive coragem de estragar nenhuma. Acho isso que mais me detinha de sair experimentando tudo, era tudo perfeitamente lindo do jeito em que estava, se eu mudasse qualquer coisa que fosse do lugar, iria estragar a sua harmonia. Acho que também me contive pelo fato de estar de dieta agora… Minha madrasta havia dito aquilo no jantar, e eu deveria seguir a risca, mesmo não compreendo muito o motivo de ter que seguir uma. Ainda mais, que meu pai havia dito sobre remédios, mas até agora não tomei nenhum… Também, acho que não tiveram muito tempo para o remédio, com tanta empolgação que estavam na briga. Enfim, não quero pensar nisso, preciso explorar!

Subi em uma árvore e consegui pegar uma maçã dela. Não pude fazer isso com as tulipas, mas com a maçã da árvore acredito que não teria problemas; é que fiquei curiosa demais para saber se era mesmo o fruto ou se tratava de algo diferente. Não tive outra escolha senão degustar. Com hesitação, lasquei uma mordida singela. O barulho foi o mesmo que sempre fazia em maçãs comuns, mas não era a única coisa que permanecia igual, o gosto era sem dúvida o mesmo. Não entendi muito bem, pois aqui somente havia encontrado coisas que eram feitas de doces, encontrar uma fruta no meio delas, que não estejam no caldo do riacho, foi muito interessante. Ainda mais que essas maçãs davam numa árvore feita de chocolate e chiclete.

Saí com minha maçã mordiscada em busca de novas coisas para experienciar. Mas fui surpreendida quando de longe avistei uma casa. Precisei correr para saber como ela era e se alguém vivia lá. Corri até chegar na porta de entrada. Visualizei bem cada detalhe, e sabia que assim como todo o resto, essa casa não era feita de materiais de construção. Entrei mesmo sabendo que aquilo era errado e me deparei com uma decoração simples, mas ainda assim, linda de se ver. A porta dava de cara com uma sala de estar muito colorida e aconchegante. Atravessei a sala e entrei na cozinha, que para minha surpresa, continha panelas cozinhando coisas em cima do fogão. Naquela casa residia alguém! Precisava conhecê-la!

Voltei na sala, para que assim pudesse subir as escadas que ficavam perto do sofá. Pisei no primeiro degrau e hesitei em chegar no segundo quando ouvi um barulho. Esperei para entender o que havia acontecido, mas não ouvi nada. Subi mais dois degraus e o barulho voltou a acontecer, agora muito mais alto do que antes.

‘Você não pode fazer isso comigo!’

Procurei ao redor e não conseguia ver de onde esse barulho saía. Não sabia quem estava produzindo aquele som, muito menos onde estava se escondendo. Terminei as escadas e encontrei um corredor que, ao fim dele, havia uma porta que se destacava entre as outras comuns. Tinha uma cor bonita, eu não sabia nem descrevê-la. Ansiava saber o que havia atrás dela, já que sou totalmente curiosa. Peguei na maçaneta e abri, observei um quarto cheio de doces em potes de vidro transparente. Ao centro havia uma cama de casal enorme. Subi nela e comecei a mais divertida brincadeira de todas, pular até cansar. Na verdade, toda brincadeira era a mais divertida para mim. Pulei algumas vezes, quando novamente ouvi uma voz feminina.

‘Não, você não vai entrar!’

‘Se afaste, agora!’

Fiquei completamente assustada, quem morava ali estava totalmente furiosa com a minha presença. Desci da cama o mais rápido que pude, mas quando cheguei perto da porta do quarto, houve um apagão e eu não consegui enxergar nada. Somente quando voltou a luz é que tive conhecimento de quem morava naquela casa. Ao final do corredor, havia uma mulher com um vestido repleto de cerejas. Ela sorriu e começou a andar em minha direção, o que eu não retribui a ação, pois estava completamente paralisada.

‘Já chega, vou entrar!’

Olhei melhor para ver de onde vinham aquelas palavras, já que a mulher que se aproximava não pronunciou nenhuma. Ignorei e observei melhor a mulher, que agora estava consideravelmente perto. Instintivamente, ergui minha mão para entrelaçar a dela, mas quando estávamos quase tocando nossas mãos, o apagão voltou. Agora, levando consigo toda a maravilha do mundo mágico.

Abri o olho e agora quem pegava minha mão era minha madrasta que estava desesperada.

‘Não vou deixar que você a leve. Não! Você vai ficar, Roberto! Não pense em sair daqui.’

‘Largue da mão dela, eu preciso levá-la!’ disse meu pai, possesso de raiva.

‘O que está acontecendo?’ perguntei em completo desespero.

‘Eu vou sumir dessa casa!’ respondeu meu pai.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.