Passei os outros três horários em silencio. Afinal, a Rafaela estava num tititi com o Lucas que só se vendo... O Luiz, numa conversa que parecia muito seria com a Larissa, porque nem olhar pra mim ele olhou hoje ainda, e o Dudu... Bom, o Dudu decepcionado. Eu acho.

O sinal tocou, e eu sai correndo pro recreio.
– Me procurando? – ouvi a voz de Gabriel, atrás de mim.
– O que acha?
– Não sei... – ele me abraçou.
– Bobo – ri, e fomos andando. Nos sentamos debaixo da arvore para conversar.
Não posso me esquecer dos olhares dessa vez, ciumentos vindos principalmente do Dudu.
– Não podem se divertir sozinhos – Luiz disse, chegando, SOZINHO, e se sentando só nosso lado.
– Oi Luiz – Gabriel sorriu.
– Oi delic... – pausa – oi Gabriel. – ele disse, nervoso.
Comecei a rir do descontrole do Lu.
– O que foi Julia, to com cara de palhaço? – ele me encarou, tentando não rir.
– É pra ser sincera? – dei uma gargalhada, e ele começou a rir junto comigo.
– O que tá acontecendo que eu num sei? – Gabriel perguntou.
– É o Luiz... Resolveu virar homem, só por causa de uma menina...
– Não é por causa dela... – ele abaixou a cabeça.
– Não?
– Não, desisti dela... Sei lá, depois que ela conversou direito comigo e tal... E também ela tá gostando de outro, e, disse que, acha que eu não consigo mudar, não por ela e que... – pausa – ela disse para eu ser feliz com o que eu gosto...
– Uau – abri a boca – e você gosta de...?
– Dela! – ele levantou a cabeça.
– Nossa Luiz, tão rápido assim? – Gabriel perguntou.
– É, sei lá... Ela é tão diferente... – ele resmungou.
– Mas... fica assim não, se você realmente quiser mudar, você muda... Se não quiser, nós vamos te amar mesmo assim – dei um abraço nele.
– Tá ne... – pausa – mas eu ainda amo ela, e eu quero ficar diferente, pra ela poder ver que eu sou capaz...
– Isso aí! – disse rindo.
– Nossa, que deprê é essa?! – Rafaela chegou, abraçada com o Lucas.

– Depre nenhuma Rafa – Gabriel disse, sorrindo.
– Hum, - pausa – amor, vou ali, depois te encontro, ok? – o Lucas disse, sorrindo pra Rafaela.
Amor? Hm, tenso.
– Ok – ela o abraçou, e trocou um beijo, um pequenino beijo.
Nem acredito no que vi.
– Mas então... – ela estalou a boca – qual o assunto?
– Nenhum – olhei pra ela.
– Hum, que paia – pausa – e então Gabriel, em que turma está? – ela se sentou junto a nós debaixo da arvore.
– Cento e um – ele sorriu.
– Nossa... E já arranjou turma, panelinha? – ela riu – lá só tem favela.
– Nossa, eu que o diga... Mas já arranjei sim – pausa – e é bem favela mesmo – ele riu.
– Espera mais uma semana que já tá andando e falando igual a eles – ela revirou os olhos.
– To não – ele me abraçou.
– Aham, sei – ela riu, e o sinal tocou logo em seguida.
Nos levantamos, e Gabriel me abraçou, passando seu braço direito por minhas costas e segurando na minha cintura do outro lado. Estava engraçado, vamos dizer assim.
Passamos na frente de Emilio enquanto íamos pra sala e sua expressão não foi das melhores.
– O Emilio viu a gente – eu disse rindo.
– E dai?
– Imagina o que ele não pensou quando viu essa mão – olhei pra mão dele, e começamos a rir.
– O que tem minha mão – ele me apertou – nada demais.
– Para de me apertar – comecei a rir.
– Já te disseram que é bom te apertar? – ele riu.
– Não, acho que você é o primeiro – sorri.
Ele me deixou na porta da sala, e o professor passou arrastando toda a multidão de alunos pra dentro da turma.
– Fiquem em dupla, hoje temos um trabalho pessoal – o professor disse, com um aspecto estressado em sua voz.
Todos da sala começaram a gritar, querendo ir para o lado oposto.
– POR FAVOR! – o professor gritou com o alvoroço – cada um com sua dupla de mapeamento, perdi a paciência! – se é que ele tinha alguma

– Vamos fazer juntos – ele disse, desanimado.
– Vamos sim – sorri.
O professor entregou as folhas, etc etc etc, e eu não tinha entendido nada do trabalho.
– Tá mesmo afim de fazer? – perguntei, com cara de deboche.
– Tá precisando de nota? – ele olhou para mim, parando de mexer com a régua.
– Bom, eu não... E você?
– Não, - ele franziu os lábios.
– Vamos conversar então...
– Se você quiser – ele sorriu.
– Hum... não sei o que conversar...
– Hum, vou numa festa sábado... Na verdade, é aniversário do Lipe, e ele mandou te chamar... tá afim de ir? – ele me encarou.
– Lipe?
– É... Ele vai fazer uma festa na casa dele. – pausa – tudo liberado! – ele começou a rir.
– Opa, então partiu – comecei a rir.
– Sério? – ele sorriu.
– Sério... – respondi.
Até lá a Julia seria outra. Bom, eu pretendo ne...
– Então você vai ser meu par...
– Par? – franzi o cenho.
– É. Ele já me avisou que só entra se tiver casal – ele começou a rir.
– Então tá bom... E eu... – parei de falar.
– Você...?
– Nada não, esquece! – sorri de canto.
– Fala...
– Espere e verá – sorri.
Quem sabe assim, consigo provar pra ele que gosto dele?
Não sei como, mas vou conseguir.

– Que horas vai ser a festa? – perguntei quebrando o silencio.
– Sábado, a partir das oito – ele sorriu
– Nossa... vai ser bom, a partir das oito – dei uma risada.
– Você nem imagina... – ele sorriu de canto.