– Ah, uma surpresa... – pausa – o que é? – hesitei, esperando que ele me desse uma resposta.
– Surpresa, não posso falar... – seu rosto poderia ser comparado com o de um anjinho nesse momento.
– Mas eu quero saber, não gosto de ficar curiosa! – fiz biquinho, tentando ser o máximo convincente possível.
– Dica, só isso...
– Então fala logo ou! – apertei suas bochechas
– Tá... A dica é... – pausa
– FALA! – elevei meu tom de voz.
– Tá tá, calma... Me espere amanhã, as seis e meia, aqui no portão da sua casa... – pausa – agora sem mais palavras!
Continuei com meu bico, mas definitivamente sem conseguir esconder a felicidade de poder vê-lo amanhã, e principalmente por causa de meus pensamentos e meu raciocínio lógico.
Se ele me veria amanhã, na porta da minha casa, em plena seis e trinta da manhã, eu só conseguia imaginar ele e escola. E eu não conseguia imaginar a possibilidade de ele, Gabriel, na mesma escola que eu.
Gabriel, Emilio e Eduardo, debaixo do mesmo teto – não é bem teto, mas vale – , depois do que aconteceu? Eu posso me preparar, mesmo.

– Então tchau – ele se aproximou e me deu um selinho.
Fiquei em choque
– Tc-tchau – tentei sorrir.
Ele saiu andando, e eu entrei dentro de casa. Estava tudo tranquilo e silencioso, e isso apontava para minha mãe não ter chegado.
– Mãe?! – falei alto.
Nenhuma resposta, portanto fui até a cozinha pegar sorvete.
Abri o congelador e peguei um copo. Depois subi tranquilamente para meu quarto.
Fiquei atoa assistindo algum canal de filme chato, até minha mãe chegar.
– Oi Ju, cheguei – ela disse ao abrir a porta.
– Oi mãe – mandei um beijinho.
– Hum... Eu liguei pra Dra. Maria, e ela marcou pra você amanhã seis da tarde, ok?
– Já?
– Eu tenho meus contatos – ela riu, e eu a acompanhei.
– Tudo bem então...
– Ah filha! Deixa eu te contar, você já tá sabendo que... – pausa – o Gabriel, aquele seu amigo, vai estudar na sua escola? – ela sorriu.
Não, eu não ouvi isso.
– Serio mãe? – minha boca já estava aberta nesse momento
– Aham, eu conversei com a mãe dele hoje no salão. – pausa – somos amigas – ela sorriu de novo.
– Grande novidade você amiga de vizinhos... – o sarcasmo na minha voz era inconfundível.
– É, é mesmo. – pausa – Vai comer o que?
– Eu, nada. Não estou com fome
– Então tá – ela segurou a porta – acho que boa noite ne – ela riu.
– Boa noite – respondi me ajeitando na poltrona. Olhei no relógio, eram 20:45.
Fiquei o resto da noite vendo TV, e pensando no Gabriel. E involuntariamente no Emilio, até dormir e sonhar com... o Emilio. De novo.

And turn away when I look into your eyes... (8)”
Acordei com o despertador tocando. Desliguei dando um pulo da cama e fui direto para o banheiro.
Tomei um banho rápido, e vesti meu uniforme. Coloquei uma calça jeans, e um Nike sb vermelho. Tentei arrumar o cabelo, e ficou terrível, portanto deixei ele solto mesmo.
Escovei os dentes e desci, eu tinha que estar no portão ás 6:30.
– Bom dia mãe! – disse pegando uma maçã na geladeira.
– Bom dia Ju – ela sorriu – já está indo?
– Estou, já são 6:25 – olhei no meu relógio.
– Tá bom então... Boa aula – ela sorriu.
– Obrigada – sai comendo minha maçã pelo portão, enquanto minha mãe continuava tomando seu café da manhã.
Me sentei na calçada, em cima da minha mochila, e fiquei esperando.
– Dormiu bem? – ouvi a voz do Gabriel, e levantei a cabeça. Ele estava á minha frente, vestindo o uniforme do Rio Branco. Não posso acreditar nisso.
– AH! – gritei me levantando, e pulando em cima dele.
Ele se desequilibrou, e caímos no meio da rua. Eu, deitada em cima dele no meio da rua e rindo.
Nada mal. Parei parei.
– Louca, bebeu? – ele perguntou, ainda rindo, e eu nem me movi pra sair de cima dele.
– Não, e você? – sorri.
– Não mesmo – ele riu, segurando na minha cintura e me levantando – Antes que a gente seja atropelado, vamos nos levantar – ele disse, rindo.