- Porque, na minha opinião... Eu fiz a coisa certa, que foi continuar como antes...
Apenas levantei uma sobrancelha olhando para ele, ainda de braços cruzados.
- Não tenho culpa se você não se satisfaz com apenas uma mulher... – resmunguei.
- Bem que eu queria... Mas não consigo, você mexe com tudo...
- Isso depende apenas de você – sorri.
- Depende de todos...
- É. Mas quer saber? Acho que você e minha mãe combinam tanto...
- Por que?
- Os dois são chifrudos... – disse sem pensar.

Coloquei a mão na boca rapidamente. Eu havia falado demais, falei muito, e com a pessoa errada.
- O que você disse? – olhou pra mim, franzindo o cenho.
- Nada nada... – me virei de volta.
- Agora eu quero explicações. Que história é essa de ‘os dois são chifrudos’?
- Não estou conversando com você...
- Mas eu sim – pausa – Por acaso sua mãe anda me traindo? – ele levantou uma sobrancelha, desviando sua atenção do transito.
- Presta atenção na rua, sem perguntas, sem palavras – me virei e fiquei olhando a janela.
- Julia!
- You're turning heads when you walk through the door (8) – comecei a cantar, num sinal de ignorância.
Ele se calou. Chegamos, e eu me sentei na sala de espera. Graças ao apressadinho do menino, eu ficaria 10 minutos mofando e esperando, e ainda por cima, olhando na cara dele.
- Ju? – ouvi a voz do Gabriel. A porta da sala do dentista se abriu, e ele saiu de lá de dentro.
- O que tá fazendo aqui? – perguntei indo abraça-lo.
- Uai, eu vim no dentista. E você? – sorriu.
- Eu vim me livrar desse peso metálico nos dentes – sorri.
- Boa sorte então...
Olhei pro lado, Emilio estava encarando nós dois.
- Então... Vai sair depois? – ele perguntou.
- Não, vou pra casa...
- Vamos passear – pausa – na verdade andar e levar meu irmão na aula de natação... Quer ir comigo? – sorriu.
- Quero sim. Que horas?
- Três e meia.
- Ok, te encontro na sua casa – sorri e dei um beijo na bochecha dele. Ele retribuiu, e se virou.
- Julia Wood? – a secretária perguntou.
- Sim – sorri.
- Vamos? – ela abriu a porta. Passei por Emilio sem dar nenhuma palavra e entrei.

Entrei, e conversei com a dentista. Depois fui pra outra sala, e ela tirou pecinha por pecinha do meu aparelho de metal. Nem doeu, mas parecia que minha cabeça – minha mandíbula no caso – dava uns estalinhos. Era tão bom. E depois de um longo tempo que ela foi tirar os resíduos de cola que restavam sobre meus dentes, acabou. Primeiro sofrimento terminado.
Ela me deu um espelhinho, e eu olhei meu reflexo. Dei um sorriso, meus dentes estavam impecáveis.
- O que achou? – ela perguntou, sorrindo.
- Perfeito! – exclamei, me levantando.
- Boa sorte com o novo sorriso – ela riu e me guiou até a porta – Vou marcar, para você poder vir tirar o molde do seu novo aparelho móvel, senão você perde o tratamento todinho, ok?
- Sim, lógico – sorri e sai.
Me despedi da secretária, e sai sem dar nenhuma palavra com Emilio.
Abri a porta do carro com força, e fechei com mais força ainda. Eu gostava de brincar com a “Petúnia”.
- Você podia tratar os carros com mais carinho – ele resmungou, colocando o sinto.
- Não mesmo – puxei meu sinto, e me virei pro lado da janela.
O restante do caminho, fomos em silencio, até chegar em casa.
- Obrigada Emilio Eric – me virei e abri o portão.
- Ah sim, obrigada, eu aceito entrar! – ele se direcionou a mim.
- Oi? Quem te convidou? – levantei uma sobrancelha.
- Um passarinho passou aqui me chamando – ele sorriu.
- Ah, então vai procurar a casa dele – sorri e entrei em casa, fechando o portão na cara de Emilio, como hoje mais cedo.
- Julia! Cadê a educação que você recebeu? – ele gritou, batendo no portão de leve.
- Vê se tá no seu bolso – gritei de longe. Entrei na porta da cozinha, e bati com força, na intenção de mostrar para Emilio que eu não estava disposta a abrir o portão e nem deixar ele entrar em casa.

- Beleza então, te vejo mais tarde – ele gritou.
- Avá – falei sozinha, subindo as escadas.
Cheguei no meu quarto, e me sentei na escrivaninha, ligando o notebook. Procurei alguma coisa para fazer, mas nada. Nem a Rafaela estava online no msn, o que é um milagre.
Peguei um livro, e fui me sentar na sacada da janela. Me recostei no pequeno espaço que tinha lá, e comecei a ler.