- Não sei. Só sei que não vou conseguir dormir de novo
- Então vamos conversar - Ele disse, e puxou ela. Olhei com um olho, ela estava distante de mim. Aquele vagabundo tirou a Julia de mim agora. Não não, não vai ficar assim.
- Ju... – lá vem merda. Essa eu não deixo de ouvir nem a pau.
- Hum – ela resmungou.
- Queria te falar uma coisa... não sei direito. – Uma coisa? Espero que não tenha nada a ver com sentimentos, não mesmo.
- Diga, estou aqui – A Julia sempre é seca.

- Sei lá... Eu queria...
- Queria... ? – Queria? Queria o que?
- Tá, eu gosto de você, mas você já sabe ne? – Gosta? Espero que seja só de amizade, porque se não... Nem sei, mas, eu espero que não tenha a ver com gostar de gostar.
- Bom, sei, eu também gosto de você – Isso mesmo dona Julia, eu também espero que da sua parte seja só amizade.
- Mas, eu não gosto.... sabe, eu GOSTO mesmo de você. – Viado, a Julia é minha.
- Eu também – Ok, acabo de tomar um fora sincero e anônimo nesse instante. Não acredito que a Julia falou isso.
Não vai ficar por isso mesmo.
Coloquei uma mão na cintura dela, fingindo ainda estar dormindo. Ela olhou pra mim, e ignorou. Bom, pelo menos não tirou a mão ne.
- Sei lá... eu queria... ficar com você – Gabriel vagabundo, você nem conhece a Julia direito. E ela gosta de mim, eu sei disso. Não que ela não goste de você ne, mas, ela também gosta de mim.
Apertei a cintura dela de raiva, sem querer. Sujou. Espero que ela não desconfie de nada, não mesmo.
Ela ignorou de novo.
- Ficar comigo? – Isso Julia, duvide.
- É...
- Olha Gabriel. Eu também. Mas, sei lá. Tá muito cedo não? – É senhor Gabriel, está muito cedo.
- Não. B-bom, pra mim não ne. Não sei pra v-você, você t-tem que se deci-dir e tal...
- Eu já me decidi – que não ne Julia?
- Já?
- Já. Mas, não vamos ficar agora... – Isso, nem agora nem nunca.
- Por que?
- Porque tem muita gente aqui. – muita gente? Então isso quer dizer que ela vai aceitar?

- Amanhã?
- Quem sabe – ela respondeu. Ah, meu mundo desmoronou. Depois dessa vou até dormir. Amanhã eu resolvo com a Julia, não acredito.
Fim da narração de Dudu


- Quem sabe – respondi meio sem jeito. Senti o Dudu me soltar.
- Tá bom... – ele sorriu
- Quantas horas? – mudei de assunto.
- Acho que são três... ou três e meia, sei lá.
- Que tal a gente...
Seus olhos brilharam
- O que? – continuavam brilhando.
- O que será que minha mãe e o Emilio estão fazendo? – apontei pro forro da barraca. Dei um risinho maligno, ele também.
- Espionar? – ele sorriu, maliciosamente.
- Eles não devem estar fazendo nada demais... – peguei a lanterna que estava no meu pé, sorrindo maliciosamente pra ele. Ele também.
Pegou a lanterna e apontou pro forro da barraca, sem ligar.
- Vamos saber? – ele se virou pra mim.

- Liga essa porcaria logo – mandei ele ligar, e rimos baixo.
Ele ligou a lanterna. O reflexo clareou o forro da nossa barraca e o da minha mãe que estava logo ao lado.
- Hum, vejamos...
- Movimentos, olha – ele apontou.
- O que será que esses movimentos são? – perguntei dando uma gargalhada baixa.
- Roncos que não ne!
- Eu prefiro nem imaginar! – exclamei, e começamos a rir.
- Ah, eu também não... - ele riu junto comigo.
- Cacete, desliga isso! – Rafaela se sentou tirando seu protetor de olhos.
- Ih, volta a dormir aí vai – apontei pra ela e desliguei a lanterna.
- Hum, abraçadinhos a essa hora né? – ela olhou pra gente, sorrindo maliciosamente.
- Você está com sono, volte a dormir – apontei pra ela, e ela se deitou novamente.
- Vamos dormir também – Gabriel sussurrou e me abraçou mais forte no corpo dele.
- Boa noite – sorri, e dei um beijo na sua bochecha.
- Boa noite – ele fechou os olhos. Apoiei minha cabeça sobre seus ombros novamente, e fechei os olhos.
Dormi rapidamente.

Acordei com algum individuo infeliz pisando no meu pé.