– O que houve aqui? Por que o Eduardo tá com a boca roxa e sangrando? – Lucas perguntou.

– Uma longa história... – afirmei.

– Uma longa história não, simplesmente o Emilio deu uma crise de ciúmes aqui, só porque eu estava pegando a Julia – ele disse – mas, ciúmes? O que ele tem com a Julia?

– Emilio, o que você tem com a Ju? – Rafaela perguntou.

Olhei pra ela com os olhos arregalados, e ela mexeu a boca numa espécie de “ah”. Aquela lerda deve ter se esquecido do pequeno incidente entre eu e Emilio na porta da escola segunda feira.

Luiz me encarou. Emilio me encarou. Encarei os três ao mesmo tempo – não tenho 3 olhos – e ninguém falou nada.

– Bom... nada, só acho que... – Emilio começou gaguejando – ela não devia estar fazendo... essas coisas porque... – to vendo que vai dar merda, ele toda hora para pra pensar – porque ela é minha enteada, e eu não permito essas coisas – ele arregalou os olhos, num tipo de “acho que consegui” olhando pra mim.

– Huum, acho que não cola... – Lipe falou lá atrás de todo mundo.

– Se vocês não acreditam, tudo bem, mas eu falei a verdade – ele gaguejou de novo.

– Tá bom... Mas, então, o que faremos com os dois? – Larissa perguntou.

– Bom, eu preciso de um hospital – Emilio disse, rindo.

– Nossa Emilio, credo, só por um chutezinho? Exagerado, vira homem. – Lucas disse, e Leonardo começou a rir.

– Claro, quer ver como tá doendo? Eu dou um chute com a mesma força no seu com prazer ainda por cima...

– Não obrigada. – ele se encolheu no canto de volta.

– Eu preciso de um dentista, urgente, senão vou perder meu sangue todo pela boca – Eduardo falou, com a mão na frente da boca pra não cuspir mais sangue no chão.

– Vamos levar o Eduardo no dentista então... Mas como? - Leonardo perguntou.

– Toma – Emilio jogou a chave pra Leonardo – eu sei que você sabe dirigir, eu estou impossibilitado de me sentar – Emilio gemeu de dor de novo.

– Que confusão... Mas e se a policia parar? – Leo perguntou.

– Vai á merda pra policia – Eduardo disse – eu to sentindo dor, muita dor, então, anda logo – ele se levantou e foi até o banheiro pegar a toalha. Saiu com ela na boca, e foi catar os dois pedacinhos de dente no chão.

– Vamos Dudu, eu, Julia, Emilio e Larissa. O resto fica – Leonardo disse, com voz de comando. Todo mundo começou a rir.

Eles seguiram, e eu fui atrás.

– Gente, será que podem ajudar uma pessoa impossibilitada ou é muito difícil? – Emilio berrou.

Olhamos pra ele, e eu e Larissa fomos até lá. Ele segurou em nossas mãos e se levantou, dando mais um gemido de dor. É, coitado.

Fomos até o carro apoiando ele, e nos sentamos no banco de trás. Ele se sentou no meio, e deitou em cima de nos duas. Ficou mexendo no meu cabelo o tempo inteiro, e Eduardo segurando a toalha com sangue, e a outra mão os pedacinhos de dente.

– Agora, pra onde a gente vai? – Leonardo perguntou.

– Pro pronto socorro – Larissa disse e riu.

– Tudo bem – ele ligou o carro, e fomos em silencio até lá.

Chegamos lá, e fomos com o Dudu até a enfermaria. Emilio tinha parado um pouco com o escândalo por causa do seu amiguinho machucado, e nos acompanhou.

– Cara, o que a gente fala? – Larissa perguntou – somos menores de idade.

– Sei lá... Fala que ele escorregou, e bateu a boca eu... E o Emilio, se ele parar com esse escândalo por causa do seu acidente, senão eles vão falar que VOCÊ agrediu o Eduardo, e você vai ser preso – Leonardo falou. Todo mundo ficou calado, credo, ele estava parecendo um adulto falando.

Eduardo fez uma cara de mal.

– Eduardo! Para com seus planinhos malvados, você não vai dizer que o Emilio te bateu ne? – Larissa olhou pra ele assustada.

– Não, claro que não... – pausa – eu não iria querer ver meu irmãozinho preso... – ele sorriu, mas maliciosamente.

Seguimos até a urgência, e levaram o Eduardo e o Emilio, que estava reclamando de dor, até aquela salinha com cortininhas separando os pacientes. Ficamos esperando na porta.