Eu estava prestes à entrar no nono mês de gestação e mais feliz que nunca. Havia pedido um distanciamento da agência para cuidar apenas da gravidez e Allan me concedeu isso, desde que eu o deixasse me visitar pelo menos umas três vezes por mês. Bobo.

Bruno estava mais focado que nunca no projeto de seu novo álbum e isso me deixava feliz, apesar de não passar mais um dia inteiro com ele, como antes era possível. Minha saída era Lili que estava de férias e sempre vinha me fazer companhia com as crianças.

– Opa, mexeu de novo. - Falei sorrindo ao sentir um chute de Marie, ela se remexia tanto que às vezes nem dormir eu conseguia.

– Ela quer é sair daí de dentro. - Lili disse sorridente.

Aquele dia estávamos só nos cinco: eu, Lili, Britt, Brendon e claro, minha Marie. Fizemos várias guloseimas e eu comi de quase tudo, claro. Foi uma tarde baseada em risos, risos e risos. Ah, e também em broncas de Lili nas crianças que curiosas queriam mexer em tudo.

– Preciso ir. - Ela disse quando ia anoitecendo já. - Vai ficar bem?

Assenti com a cabeça e me despedi dos três. Permaneci sentada na sala por não sei quanto tempo esperando Bruno, mas depois de umas duas horas de espera resolvi deitar e dormir.


[...]


Acordei na manhã seguinte com o toque irritantemente irritante de meu celular. Olhei no visor, mas por conta do sono nem enxerguei o que havia escrito nele.

– Alô?! - Falei sonolenta.

– Olá Jessie. - Uma voz feminina soou do outro lado.

– Quem é? - Mantive os olhos fechados.

– Nanny, como vai querida? - Ela questionou com uma voz sarcástica.

Rapidamente abri os olhos e sentei-me na cama. Olhei para o visor e nele havia o nome de Bruno.

– O que você quer e por que está com o celular de Bruno? - Falei alterando o tom de minha voz.

Ela soltou um riso sarcástico e continuou.

– Você nem imagina? - Ela disse irônica.

Senti uma pontada de raiva atingir meu peito, tive vontade de tacar meu ceular contra a parede mas continuei na linha, sem dizer nada.

– Ele não dormiu aí, não é mesmo? - Ela questionou mais uma vez irônica.

– O que você quer dizer com isso? - Falei tentando manter a calma.

– Você sabe, não se faça de sonsa. - Ela riu. - Bom, é isso, tenha um bom dia, querida.

E desligou.

Fechei os olhos e senti uma pontada em minha barriga que dessa vez não me causou alegria. Levantei lentamente e fui até o banheiro fazer minha higiene matinal ouvindo mentalmente a voz daquela mulherzinha insinuando coisas nas quais eu não queria acreditar.

Foi no meio do caminho até o banheiro que eu senti a pior pontada que eu poderia sentir na vida. Soltei um grito abafado e minhas orbes quase saltaram de meus olhos quando senti um líquido escorrer por minha perna.

Minha bolsa havia estourado.

E eu estava sozinha.

Andei, ou melhor, me rastejei até minha cama e liguei pro primeiro número que apareceu na tea.

– Que foi amiga? - Ouvi a voz de Lili.

– Vai nascer. - Falei quase sem voz. - Vem pra cá tô sozinha.

E desliguei o telefone por impulso.

Eu sentia pontadas tão fortes, que parecia que meu útero estava rasgando-se por completo. Em alguns minutos me vi sendo carregada pelo porteiro até o carro de Lili e de lá ao hospital.

Eu achava que as dores e os gritos que as mulheres dos filmes encenavam fosse exagero, mas não, não era e eu estava sentindo na pele a dor que é entrar no trabalho de parto.

Eu sentia como se à cada contração meu corpo amolecesse e eu pudesse morrer à qualquer momento.

– Aguenta, está vindo mais uma. - A enfermeira me avisou enquanto olhava para um aparelhinho que controlava minhas contrações.

– Cadê Bruno pelo amor de Deus que não atende esse celular? - Lili disse caminhando ao meu lado.

– Não quero saber. - Falei apertando as mãos dela. - Não me deixe sozinha.

Ela assentiu preocupadamente e seguimos até a sala de parto.

– Você está sangrando. - Lili disse ao meu lado.

Olhei desesperadamente para baixo mas não vi sangue algum, só então percebi que era a minha boca, eu havia mordido-a e acabei machucando.

– Não vou conseguir fazer isso. - Falei sentindo mais uma pontada em meu ventre.

– Claro que vai, eu tô aqui. - Ela disse segurando minha mão.

Naquele momento a ligação de Nanny nem me importava mais. O que eu queria era que Marie nascesse logo e acabasse com meu sofrimento.

– Tira ela, tira! - Eu dizia impaciente mordendo cada vez mais meus lábios.

Senti algumas pontadas uns minutos depois.

De novo?

E lá estava mais uma contração, mais dolorosa e demorada que as demais. Dessa vez eu não consegui me conter e soltei um grito apavorado de dor. Lili me olhava apavorada, naquela hora eu me perguntei como, COMO ela conseguiu ter gêmeos.

Fechei os olhos com força e apertei a mão de Lili na outra contração aterrorizante que senti. Ela não reclamou nem um pouco, e olha que o aperto foi bem forte..

Quando vi o Dr. Dereck entrar no quarto meia hora depois senti um certo alívio invadir meu peito.

– DR. FAZ ISSO PARAR!!! - Ele riu.

Como ele conseguia rir numa situação daquela?

– Marie está pronta pra nascer. - Ele disse após conferir minha dilatação. - Isso é o que eu chamo de sorte.

– Sorte? - Falei sarcástica.

– Algumas mulheres sofrem de doze a catorze horas Jessie. - Ele explicou.

Ok, então eu definitivamente tinha sorte.

– Vamos lá... - Ele disse pondo as luvas. - Eu vou contar até três, aí você empurra o mais forte que você conseguir. - Ele disse concentrado. - Um... dois... TRÊS.

Fechei os olhos e empurrei com toda a força que eu possuía em meu corpo.

– De novo, um... dois... TRÊS.

E mais uma vez eu empurrei, com toda a força que eu conseguia.

– Pense em Marie, em como você quer vê-la. - Lili murmurou em meu ouvido.

Inspirei o ar com os olhos fechados e mordi os lábios empurrando novamente.

Eu simplesmente não aguentava mais buscar forças para empurrá-la. Estava quase chorando quando de repente seu choro fininho soou por toda a sala.

E então, eu chorei. Mas não por dor e sim por vê-la ali, tão inocente nas mãos da enfermeira. Vi o Dr. Dereck esboçar um sorriso por debaixo daquela máscara e fazer os primeiros testes nela.

– Bem vinda ao mundo, Marie. - Ele sorriu com aquele pacotinho no colo e me entregou-a em seguida.

Sorri involuntariamente quando vi minha filha em meu colo, enrugadinha e amassadinha, porém, perfeita.

– Oi princesa. - Lili falou toda boba ao meu lado.

Algum tempo depois a enfermeira disse que precisaria levá-la para que pudessem fazer uns testes mais aprimorados e logo a traria de volta para sua primeira amamentação.

Fui encaminhada para um quarto e Lili ficou ao meu lado como uma verdadeira irmã.

– Obrigada. - Disse assim que os enfermeiros saíram e nos deixaram à sós.

– Eu te prometi que sempre estaria ao seu lado. - Ela disse sentando-se ao meu lado. - Jessie... queria te perguntar uma coisa...

– Fale. - Respondi já sabendo o que ela queria.

– Cadê Bruno? - Senti meus olhos marejarem e não pude esconder meu desapontamento.

– Ele... é... ele não dormiu em casa. - Falei baixando o olhar.

– Mas ligou ao menos? - Ela continuou.

– Sim. - Vi uma expressão aliviada surgir em seu rosto. - Nanny ligou do celular dele.

– Nanny? - Ela perguntou surpresa. - O que aquela vagabunda estava fazendo com o celular do Bruno? - Perguntou irritada.

Contei palavra por palavra que havia escutado de manhã e Lili pareceu não acreditar em nada do que ela havia me dito.

– Ele não faria isso com você. - Ela disse meio inconformada. - Eu mato o Bruno se ele tiver feito essa sacanagem com você.

– Jessie, seu marido está completamente exautado na recepção, mando ele entrar? - Uma das enfermeiras que acompanharam o parto me anunciou.

Senti meu coração acelerar no mesmo instante. Eu não sei se estava pronta para vê-lo depois do que ouvi pela manhã. Olhei para Lili confusa e ela balançou a cabeça afirmativamente.

– Pode sim. - Respondi forçando um sorriso.

– Vou estar lá fora se precisar. - Lili disse levantando-se e saindo do quarto.

Senti minhas bochechas queimarem, eu não sei se o que Nanny insinuou era verdade, não poderia chegar com sete pedras na mão para atirar em Bruno.

– Como você está? E nossa filha? - Ele entrou meio desesperado no quarto e veio me dar um beijo, beijo esse que com muita dificuldade eu neguei.

– Estou bem e nossa filha melhor ainda. - Respondi seca.

– Aconteceu algo que eu não estou sabendo? - Ele perguntou confuso.

– Não sei, diga-me você. Aconteceu algo que eu não estou sabendo? - Repeti num tom irônico.

– Por que você está agindo assim? - Ele perguntou tentando segurar minha mão, mas eu a desviei.

– Onde você passou a noite Bruno? - Perguntei já sentindo meu sangue ferver.

– Na minha casa. - Ele respondeu num tom meio óbvio (para ele)

– Não foi isso que Nanny deu a entender hoje de manhã. - Respondi com uma frieza que nem eu mesma sabia que tinha.

– Nanny? - Ele arqueou uma sobrancelha.

– SIM BRUNO, NANNY, A VAGABUNDA QUE INSINUOU TER DORMIDO COM VOCÊ. - Falei alterada, já sentindo meus olhos marejarem novamente.

– Do que você tá falando? Eu dormi em casa, na minha casa! - Ele disse olhando-me nos olhos.

– Não mente pra mim. - Falei já chorando. - Ela ligou do SEU celular, era SEU número.

Então eu vi os olhos dele encherem-se de compreensão.

– Eu PERDI meu celular no restaurante que jantei com os meninos ontem. - Ele disse sério. - Depois de lá fui pra minha casa, estava cansado e não queria dirigir quase duas horas, sendo que poderia chegar lá em trinta minutos.

Permaneci calada.

– Ela provavelmente encontrou meu celular e por pura falta de caráter não fez nem questão de devolvê-lo. - Ele disse andando de um lado paa o outro. - Eu liguei lá de casa pro seu fixo, deixei recado na caixa postal e tudo, acredita em mim.

Aquelas palavras foram como um tapa bem no meio da minha cara. Eu estava me sentindo uma idiota. Bem tipinho dela fazer isso mesmo.

– Desculpe. - Falei encarando minhas próprias mãos.

– Eu te amo. - Ele disse sentando-se ao meu lado. - Quantas vezes eu vou precisar te provar isso?

Senti uma lágrima escorrer por meu rosto, mas logo ele a secou com o polegar e me beijou. O beijo que eu senti falta na hora do parto.

– Desculpa por não ter presenciado esse momento. - Ele disse segurando minha mão. - Quando eu cheguei lá e o porteiro disse que você havia entrado em trabalho de parto nem subi para trocar de roupa, vim direto para cá.

Eu ia falar algo, mas fui interrompida pela cena mais maravilhosa da face da Terra.

– Olha quem veio mamar. - A enfermeira veio trazendo aquele pacotinho lindo de novo.

Vi os olhos de Bruno praticamente saltarem para cima dela quando a viu em meu colo.

– Parabéns papai Mars. - Ela disse completamente sorridente.

Ops, parece que uma enfermeira ali gostava do Mars hein.

Sorri com a cena.

– Papai Mars. - Repeti as últimas palavras dela, esboçando um sorriso. - É engraçado.

– Oi filha. - Ele disse incrivelmente meigo, pegando na mãozinha pequenina dela.

– Ela se parece com você. - Eu disse olhando ele e depois olhando ela.

– Eu não tenho cara de joelho. - Abri a boca horrorizada. Ele disse que nossa filha tinha cara de joelho? - É brincadeira. - E então gargalhamos.

Olhei para Marie e uma lágrima vazou de meus olhos novamente.

– É por você, mãe. - Sussurrei baixinho e a aconcheguei na posição correta para amamentá-la.

Eu nunca havia feito aquilo, mas de tanto ver Lili fazendo isso com os gêmeos, acho que aprendi. Ter minha filha ali, em meus braços era algo indescritível. Nada poderia resumir a felicidade que explodia em meu coração. Tê-la comigo me fez parecer completa, realizada e muito, mas muito feliz. Sua pele era macia e delicada, seus cabelinhos para uma recém-nascida até que estavam em grande quantidade, sua boquinha era perfeita, tudo nela me encantava.

– Minha Marie, minha princesinha, obrigada por tornar a vida da mamãe a mais perfeita possível. - Murmurei enquanto sentia suas leves sugadas em meu seio.

– Obrigado por ter entrado em minha vida. - Bruno interviu tocando em meu rosto.

Minha felicidade finalmente havia se completado.


[...]


Mesmo após três anos o meu amor por Bruno conseguia se tornar cada vez maior, pois nossa filha estava ali conosco, completamente saudável e feliz.

Lilian e Bryan se separaram, mas calma, não foi definitivo e nem por brigas! Como quase todo casal tem um tempo de crise (graças à Deus comigo e com Bruno esse tipo de coisa não havia acontecido) eles não poderiam ser diferente, mas se eu contar será no mínimo engraçado: eles ficaram "separados" dois dias.

Os dois dias mais loucos da minha vida!

Tive que acolher Bryan lá em casa, agora pensa na bagunça?! Marie é com-ple-ta-men-te doida pelo padrinho e os dois juntos foi uma bagunça total lá em casa, sem contar as vezes em que Bruno também resolvia participar das guerrinhas de travesseiro e do esconde-objetos, minhas coisas sumiam e eu só conseguia encontrá-las horas depois.

Acontece que a vida tem seus altos e baixos.

Na minha então nem se fala. Em pensar que eu me sentia uma total derrotada há alguns anos atrás... ai ai como o tempo passa.

A vida é uma caixinha de surpresas, seu destino é você quem faz e bla bla bla...

E Nanny?

Essa aí se casou com um milionário e se mudou graças à Deus.

Eu não me arrependo de nada que fiz em minha vida. Me droguei, me mutilei, me embebedei e me envolvi com um idiota, mas se não fosse esses erros talvez eu não seria a mulher que sou hoje: batalhadora, guerreira e acima de tudo, feliz.

Hoje eu sou feliz, tenho a melhor família do mundo, a melhor amiga do mundo, os melhores afilhados do mundo e é isso aí. A nossa história quem faz somos nós. Depende de você ser ou não ser feliz, sempre haverá barreiras, cabe à você decidir se vai ou não querer encará-las.


O mundo dá voltas e voltas, ele nunca para.

Nunca.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.