Mal dormi a noite inteira, turbilhões de pensamentos pairaram pela minha cabeça a madrugada toda, eu olhava para minha barriga e não conseguia acreditar que daqui a uns meses ela já estaria visível, me arrepiava só de imaginar meu bebê se mexendo dentro de mim.

O tempo que consegui cochilar foi quase nada, mal fechei os olhos e o despertador já tocava para ir trabalhar. Saco. E o pior é que eu com sono, é sinônimo de eu com mau-humor. Me arrumei o mais rápido que consegui, peguei meu celular na esperança de ter alguma mensagem de Bruno. Nada.

.

– Ih que cara amassada hein. - Allan falou ao me ver entrando no estúdio. - Nem pra passar uma maquiagem, credo. Dormiu sem o insuportável foi?

– Dormi! - Respondi seca.

– Ah não Jéssica, pode mudando seu humor agora. Exercícios já. - Ele falou sentando-se na posição de lótus acenando para que eu fizesse o mesmo.

Por mais irritada que eu estivesse, meditar yoga com Allan mudava meu humor de verdade. Ele era o tipo de fotógrafo-amigo, com ele eu tinha liberdade pra falar sobre tudo. Era meu 2º confidente.

– Allan. - Falei interrompendo o silêncio que havia entre nós.

– Diga. - Ele falou ainda concentrado na yoga.

– Não vou conseguir trabalhar de alma leve sem te contar. - Falei baixo.

– O que foi que você aprontou borboleta? - "Borboleta" era como ele me chamava na maioria das vezes, Allan dizia que eu era como uma, frágil no início, porém, bela e forte na caminhada da vida. Achava lindo isso.

Me levantei respirando fundo. Eu tinha que contar pra ele.

– Senta porque lá vem bomba. - Falei séria.

– Credo, tá me dando medo do que vem por aí. - Ele falou sentando-se numa poltroninha.

– Espero que você não fique bravo comigo, isso não atrapalha em nada meu trabalho, talvez um pouco mais pra frente, mas agora, em nada. - Falei enquanto trancava a porta para ninguém ouvir.

– Af mulher para de enrolar e conta logo o que é que já tô aflita. - Allan cruzou as pernas de um jeito tão engraçado, que não segurei a gargalhada. - Não vi graça nenhuma.. - Ele resmungou ainda com as pernas magras cruzadas.

– Tá, parei. - Falei ainda segurando um riso que insistia em sair. - Como vou contar isso de forma sutil?! Ah já sei!

– Conta menina!!! - Allan falou curioso.

– Digamos que daqui a nove meses você vai conhecer seu ou sua futuro (a) modelo. - Falei com uma expressão sapeca.

– E você me diz isso assim, na lata?! - Allan falou meio... irritado (?) - Borboleta, você vai ficar uma baleia! Quem vai ser minha modelo de bíquinis agora? Essas meninas daqui são tudo umas barangas, tem dó né.

– PARA ALLAN! - Falei gargalhando.

– Para nada, não é você que vai ter que passar madrugadas e madrugadas pondo photoshop nas celulites e estrias delas. Você nem tem isso, o que já é um milagre, porque cá entre nós, você come MUITA besteira. Ai meu Deus do céu, eu joguei purpurina na cruz pra merecer isso foi?! - Allan falou um tanto quanto desesperado. Meus risos pra ele.

– Ah que legal você só pensa em você né? Eu não vou ter trabalho nenhum. Não vou ter que trocar fraldas cheias de cocô. Não vou ter que passar madrugadas e madrugadas acordada, amamentando e etc. Nada disso é difícil né? você só pensa em você, sempre foi assim, desde que eu te conheci é só você. VOCÊ quer as fotos perfeitas. VOCÊ pode comer várias porcarias durante as sessões de fotos. Sempre VOCÊ né gazela saltitante.

– NÃO ME CHAMA DE GAZELA SALTITANTE. - Allan revoltou-se com meu último comentário. O termo "gazela saltitante" era usado por Bruno, só pra irritar Allan. - Tá ficando insuportável igual seu marido. - Ele resmungou.

– Tô mesmo, gazela. - Falei marrenta.

– Só não te dou uns tapas porque agora você é gestante. - Ele deu de ombros. - Vem cá me dá um abraço.

Me aproximei e deixei ele me abraçar, tão terno.

– Tô feliz por você borboleta, de verdade. - Ele falou já emocionando-se. - Lembra quando você chegou aqui?! Eu me encantei logo de cara. - Allan falou com um sorriso nos lábios.

– Lembro. - Respondi sorrindo.

– Ele já sabe? - Allan perguntou referindo-se à Bruno.

– Ainda não. - Respondi.

– Quando vai contar?

– Ainda não sei. - Respondi sentindo uma agonia no estômago.

– Tá pálida. Tá bem? - Allan falou pondo uma de suas mãos em minha testa.

.

.

– JESSIE!!! - Senti alguém bater de leve em meu rosto.

– O que houve?! - Falei abrindo vagarosamente os olhos.

– Você desmaiou. - Allan falou preocupado. - Você tomou café borboleta?

– Não. - Resmunguei sentando-me.

– Você tá louca borboleta? Lembre-se que agora você tem um ser dentro de você para alimentar. Fica aí, vou buscar algo pra você. - Allan falou todo prestativo.

– Jessi?! - Ouvi uma voz feminina ecoar pela sala.

– Oi Joanna, entra. - Falei ajeitando-me na poltrona.

– Allan disse que você desmaiou agora a pouco. O que houve?! - Joanna, recepcionista-assistente da agência e de Allan falou meio preocupada.

– Mal estar matinal, nada demais. - Respondi sorrindo.

– Estou aqui do lado, se precisar de alguma coisa já sabe né?! - Ela falou sorridente dando uma piscada com o olho esquerdo.

Assenti com o polegar e virei-me para uma pilha de revistas que ficavam na mesa de Allan.

– Baba, só não se acostuma. - Allan entrou com uma bandeja enoooorme cheia de delícias.

– Pra que isso tudo?! Exagerado. - Respondi sorrindo.

– Você acha mesmo que eu ia ficar olhando você comer e não trazer nada pra mim? Ah tá né Jessie. - Gargalhamos juntos e ficamos conversando enquanto eu me esbaldava no pão integral com geleia.

– Comendo desse jeito você vai passar de borboleta à baleia em menos de 5 meses. - Allan falou rindo depois de um tempo.

– Mas você vai continuar me chamando de borboleta. - Respondi gargalhando.

Ouvimos o telefone tocar e eu já me 'comportei' caso fosse alguém importante pra agência.

– Que que é insuportável? - Allan falou no telefone, já me olhando. Pelo insuportável já imaginei que era Bruno. - Ela não veio trabalhar. - Olhei horrorizada para ele. - Não sei, deve estar arrumando alguém melhor que você, se bem que isso nem é difícil.

Tomei o telefone bruscamente das mãos de Allan, antes que ele falasse mais besteiras.

– Vim trabalhar sim, não liga pra ele. - Resmunguei dando língua para Allan, que retribuiu o gesto.

– Me deram folga, tô indo pra casa. Queria você lá. - Bruno falou manhoso.

– Tô cheia de coisas pra arrumar aqui. - Falei mais manhosa ainda. - E o Allan não me deixaria ir pra casa sem fazer nada. - Fiz cara de cão sem dono para Allan, que por sua vez, debochou do meu gesto.

– Deixa eu falar com ele. - Bruno falou já rindo.

– Olha o que vai falar. - Respondi rindo também. - Toma, ele quer falar contigo.

– Diga. - Allan falou seco. Me encostei ao ouvido dele, na tentativa dele deixar eu escutar a conversa, mas nada. - Ai como você é nojento, não sei como ela te suporta.

– O que ele disse? - Falei ao ver Allan desligar o telefone depois da última frase.

– É nojento. Eca. - Allan resmungou. - Pode ir borboleta.

– Sério?! Ai te amo. - Falei beijando o rosto dele. - Mas o que ele disse? - Perguntei ainda curiosa.

– Vai logo antes que eu me arrependa. Não interessa o que ele disse, mas eu acho nojento. - Allan parecia mesmo indignado com o que Bruno disse à ele, seja lá o que foi.

Peguei minhas coisas e segui até o carro. Feliz.